Perdemos Porro em Janeiro. Perdemos Ugarte agora. Estamos na iminência de perder Coates - tentado pelos petrodólares da Arábia Saudita, para onde poderá ir ganhar quatro vezes mais. O mesmo destino que já seduziu Iuri Medeiros (saiu do Braga por 3 milhões) e Francisco Geraldes (saído do Estoril), dois jogadores formados em Alcochete mas que não vingaram na equipa principal do Sporting.
Precisamos, portanto, de um ala direito, um médio defensivo e um defesa central. Além de um ponta-de-lança, claro - neste caso para colmatar uma lacuna já com dois anos.
Apetece-me fazer esta pergunta à administração da SAD: estão à espera de quê?
Sigo sempre com atenção o percurso profissional dos futebolistas formados na Academia de Alcochete mesmo quando já se encontram longe do Sporting - longe do ponto de vista físico, não necessariamente do coração.
Por isso, é com satisfação que venho registando os bons desempenhos de dois jogadores que já foram nossos: Francisco Geraldes, considerado o melhor em campo no recentíssimo Estoril-FC Porto (1-1), e Iuri Medeiros, em alta agora no Braga, que tem vindo a ser grande atracção desta Liga 2022/2023 - os únicos pontos perdidos até agora foram com o Sporting, na jornada de abertura.
Desejo as maiores felicidades a ambos, porque merecem. Excepto quando defrontarem a nossa equipa, o que aliás já aconteceu neste campeonato - com vitória leonina no Estoril e empate na Pedreira.
Gostava de saber se os nossos leitores fazem como eu, acompanhando com interesse o percurso pós-Sporting daqueles que formamos. Tenho a convicção de que não serei o único.
É sabido que no futebol a memória tem rastilho curto e pavio húmido, tudo fica ignorado e esquecido em muito pouco tempo.
Há não mais do que 3 anos Francisco Geraldes era ansiado por muitos entendidos - que não bem entendedores - como o salvador do meio-campo do Sporting, mesmo sem nunca ter convencido os 3 treinadores que o observaram diariamente. Uns idiotas, Geraldes é que era, esse génio incompreendido.
Ter-se posto a ler Saramago durante um treino deu-lhe fama de intelectual, mas não obviou a que ontem se tenha apresentado em Alvalade com um penteado à mitra. Seria isto o menos se ferrado com um intrigante número 6 nas costas - então não era um mágico 8 quase um 10? - tivesse feito exibição capaz de nos fazer lamentar o que se tinha desbaratado. Pois nada. Ou tanto quanto a esperança de ver agora dar a mão à palmatória quem por ele reclamava com a veemência dos iluminados.
O Rio Ave esteve a um passo de entrar na fase de grupos da Liga Europa. Enfrentou em Vila do Conde, nesta noite chuvosa, o Milan - um dos gigantes do futebol europeu e mundial. Só caiu após a marcação de 24 penáltis, no termo do prolongamento: ao minuto 119 vencia por 2-1. Com dois golos marcados por jogadores da formação leonina dispensados por Frederico Varandas, Hugo Viana e Rúben Amorim. Este triste trio considerou que Francisco Geraldes e Gelson Dala não tinham qualidade para integrar o plantel leonino.
Erro crasso. Mais um, entre tantos outros.
Na mesma noite em que o futebol leonino naufragou às portas da mesma prova frente ao Lask Linz: desde 2005 que não saíamos tão cedo de uma competição europeia, ainda na fase das pré-eliminatórias da Liga Europa. Desta vez em clima de pesadelo, goleados em casa por 1-4 pela mesma equipa que tínhamos vencido à tangente há um ano, também em Alvalade, ainda sob o comando de Silas. Antes de Varandas ter sacado Amorim da cartola.
Parabéns, em qualquer caso, ao Rio Ave e aos vilacondenses. Parabéns aos "nossos" Geraldes, Dala - e Carlos Mané (que integrou o onze titular no estádio dos Arcos). Jogadores formados na Academia de Alcochete e que o Sporting despachou, em épocas diferentes, como se não prestassem. Enquanto íamos comprando inútil entulho (de)formado sabe-se lá onde.
Quanto ao Sporting, não é tempo para felicitar ninguém, muito pelo contrário. Excepto o benjamim da equipa, com apenas 18 anos e três meses: Tiago Tomás, marcador do nosso golo solitário nesta noite catastrófica. Único que merece nota positiva dos 14 que alinharam em Alvalade.
Não me admirava nada que um dia destes vá jogar para o Rio Ave...
Francisco Geraldes e Gelson Dala mereciam uma oportunidade a sério. Mas talvez (ainda) não tivessem os empresários certos. Só resta desejar boa sorte a ambos e que sejam muito felizes nas respectivas carreiras desportivas.
Os verdadeiros sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal agradecem o facto de terem acreditado que um dia podiam vestir a nossa camisola em termos definitivos. Saudações leoninas, até um dia.
Depois duma jornada em que não tivemos arte nem engenho para ultrapassar uma equipa típica do Vidigal, que tal como no Bessa contou com a ajuda duma arbitragem medíocre que permitiu o anti-jogo do adversário e reduziu drasticamente o tempo útil de jogo, entramos para a última jornada com 3 pontos de vantagem sobre o adversário directo ao 3.º posto.
Com o Porto e Benfica com a situação resolvida qualquer resultado será plausível, no final dos jogos ficaremos a saber, mas só no caso do Braga ganhar e do Sporting perder ficaremos fora do podium, e obrigados às eliminatórias da Liga Europa.
Pois eu continuo a acreditar neste treinador e nesta equipa, mesmo reconhecendo a enorme falta de qualidade nalgumas posições-chave. Com Rúben Amorim os jogadores sabem o que devem fazer em campo, defendemos bem, conseguimos esticar jogo com facilidade, mas pecamos tremendamente nos últimos passes e centros que raramente chegam ao destinatário, e assim marcamos golos pela inspiração individual dum ou doutro.
Por outro lado, o Rúben está a construir o seu plantel para a próxima época, testando alguns nas posições em que ele aposta e não naquelas em que o jogador se sentiria mais confortável. Por exemplo, ter o melhor jogador do plantel a defesa central só faz sentido a pensar na chegada de jogadores de outro nível e capacidade dos actuais para jogar na frente. O único remate perigoso contra o Setúbal foi do... Acuña, obviamente.
Francisco Geraldes ocupou a posição natural do Acuña, mas é um peixe fora de água nessa posição e neste sistema do Rúben. Que mais uma vez esteve muito bem na conferência de imprensa.
Voltando ao empate, que deixou os Sportinguistas tristes e frustados e os do costume muito excitados. O Man United, na véspera de visitar um concorrente directo pela Champions, recebendo em casa o 15.º classificado da Premier League e a precisar de ganhar, empatou. E não entrou em campo com seis sub-23... Entrou com o nosso Bruno, o Progba, o Martial e os do costume...
Mas mesmo assim empataram e por pouco não perdiam. O futebol é assim.
Mais uma vitória deste Sporting de Rúben Amorim perante uma equipa com a qual tinha perdido na 1ª volta, fruto duma superioridade evidente e por um resultado que apenas pecou por escasso.
A partir dum modelo táctico atípico no que ao futebol português diz respeito, bem diferente do utilizado na formação, estamos a conseguir ganhar os jogos ao mesmo tempo que preparamos a próxima época, lançando jovens e testando a sua adequação a determinadas posições. Percebe-se bem que os jogadores entram em campo para fazer determinadas coisas treinadas e não deixadas ao sabor do improviso, a equipa consegue avançar e recuar harmoniosamente no terreno, intervalar progressão apoiada com passes longos e variações de flanco, e ser eficaz nas bolas paradas defensivas e ofensivas. Depois, claro, acontecem aqui e ali erros por querer fazer bem que por vezes se pagam caro, falhas deste ou daquele, ou simplesmente falta de categoria dum ou doutro. Digamos que a orquestra ainda está em construção, a partitura é complicada e requer inteligência na interpretação, a qualidade de jogo está ainda longe de ser entusiasmente, e sendo assim a nota artística não pode ser famosa.
Mas a base da orquestra está encontrada. Ontem, 10 dos 15 utilizados são sub-23, muitos deles a beneficiar do processo de selecção levado a cabo por esta Direcção e que incluiu a sua integração no estágio de pré-época com Keizer. Alguns deles são simplesmente muito bons, não demorarão muito a impor-se nas Selecções A respectivas e a valer muitos milhões.
E que dizer dos outros? Coates, Borja e Ristovski beneficiaram imenso com este sistema. Sporar trabalha bem mais do que finaliza, mas isso não chega. Neto ficou na sombra de Coates. Os argentinos ressentiram-se imenso com a paragem. Renan, Ilori, Eduardo, Rosier e Mattheus Oliveira parecem definitivamente cartas fora do baralho. LP29, com as limitações decorrentes da lesão grave no joelho, também não sei se terá lugar. Quando tinha tudo para finalmente engrenar, o Francisco Geraldes... aleijou-se. Ou é mesmo falta de sorte ou trata-se daquilo que distingue as eternas promessas daqueles que chegam longe na profissão.
Com Luciano Vietto no "estaleiro", provavelmente até fim da época, quem é o seu substituto no onze do Sporting? Gonzalo Plata, como extremo pela esquerda, trocando com Jovane Cabral durante o jogo e baralhando as defesas? Francisco Geraldes, como organizador de jogo a partir da esquerda, um pouco como o argentino? Ou uma terceira opção? Qual a vossa opinião?
Teve que esperar pelo tempo de compensação da segunda parte para ser verdadeiramente posto à prova, evitando o contacto da bola com as redes com a mesma determinação do irmão mais velho de uma adolescente afoita. A estirada que desviou para canto um remate de fora da área que levava carimbo de golo de honra boavisteira serviu para recordar os compradores de bilhetes e recebedores de convites que o jovem guarda-redes é o único dos supostos suplentes da linha defensiva leonina aquando do início da temporada – todos eles titulares neste jogo – que se tornou titular indiscutível. Só precisa mesmo de melhorar o jogo de pés, como mais uma vez demonstrou, num jogo em que pouco mais fez do que encaixar escassos remates saídos à figura, para superar o actual guarda-redes do Wolverhampton nesta fase da carreira e dar início à luta pela baliza de Portugal.
Rosier (3,0)
A primeira intervenção do lateral-direito francês foi inaceitável num profissional de futebol, mas a verdade é que não demorou a carburar, combinando de forma muito positiva com o endiabrado Gonzalo Plata. Regressado à titularidade após prolongada ausência, tirou proveito da oportunidade e até chegou a rematar. Mas ainda tem hesitações na hora de avançar para a grande área adversária e sofre com as limitações físicas (já conhecidas aquando da sua contratação, e que conduziram à precoce titularidade e posterior entrada no carrossel de Thierry Correia) que aconselharam a sua substituição.
Neto (3,0)
Patrões fora, dia santo na loja? Acabou por assim ser, com a ausência de Coates e Mathieu a passar despercebida. Ainda que a ineficácia do ataque boavisteiro tenha dado uma ajuda, a experiência do central português contribuiu para o desfecho. Neto antecipou-se ao perigo, executou sem adornos e até procurou contribuir para a construção de jogo. Fossem todos os jogos assim.
Ilori (3,0)
Ainda teve uma hesitação e um atraso de bola arriscado, mas Luís Maximiano resolveu as duas situações sem problemas de maior. Posto isso... digamos que o central resgatado do esquecimento pela infinita generosidade de Frederico Varandas e Hugo Viana sossegou todos quantos temiam vê-lo lançar sete palmos de terra sobre a equipa. Intervenções certas e desassombradas, aqui e acolá merecedoras daquele tipo de aplausos que são reservados a quem supera (baixas) expectativas, contribuíram para manter o lado correcto do marcador a zeros. Se conseguir repetir o feito na Turquia é possível que lhe façam uma estátua equestre.
Borja (3,0)
Raras coisas são tão comoventes quanto o esforço do lateral-esquerdo colombiano para transcender as suas capacidades. Neste caso, ainda que se tenha remetido sobretudo a funções defensivas, prejudicado pela ênfase dada a Gonzalo Plata no lado contrário e pela tendência de Jovane Cabral flectir para o centro do meio-campo adversário, foram dos pés de Borja que saíram os bons cruzamentos com que Plata assinou o 2-0 e Jovane descartou o 3-0. Eis um caso paradigmático de um jogador que honra o Sporting mesmo que, pelo menos idealmente, possa não ter sequer lugar no plantel.
Battaglia (3,0)
Mais uma exibição positiva do médio argentino, mexido o bastante para fornecer linhas de passe aos colegas mais atrás e inteligente o suficiente para arranjar soluções aos colegas mais à frente. Acabou por não ser poupado para a segunda mão dos dezasseis-avos de final da Liga Europa, numa decisão que só pode ser aplaudida: além de melhorar o coeficiente na UEFA, já de olhos postos no regresso à Champions em 2021/2022, o Sporting tem de assegurar que para o ano poderá competir na Liga Europa. E alcançar o Sporting de Braga ou manter à distância Rio Ave, Vitória de Guimarães e Famalicão está longe de ser uma mera formalidade para este Sporting de pé descalço.
Wendel (3,0)
Terá feito um dos seus melhores jogos nos últimos meses, demonstrando sabedoria na condução de bola, ausência da recorrente e irritante displicência na movimentação e no posicionamento e vontade de conduzir os colegas ao “só mais um” que erros alheios mantiveram no registo “dois é bom, três é de mais”. Só não merece melhor nota pela forma infantil como viu o cartão amarelo que o afasta da deslocação a Famalicão, onde o Sporting tem demasiado em jogo para não contar com todos os melhores.
Gonzalo Plata (4,0)
No final do jogo, recomposto da tentativa perpetrada pelo central boavisteiro Ricardo Costa de lhe desatarraxar a perna (sem que o infame Nuno “Ferrari Vermelho” Almeida, um dos maiores escroques apitadores nacionais, discernisse mais do que um pontapé de canto apesar da insistência do videoárbitro), o jovem extremo equatoriano ouviu o mesmo treinador que lhe nega oportunidades de afirmação dizer que poderá encontrar-se em Alvalade um futuro caso sério do futebol mundial. Inequívoco homem do jogo, Gonzalo Plata fez mais do que cobrar de forma irrepreensível o livre que permitiu a Sporar inaugurar o marcador e do que rubricar o 2-0 num lance em que a execução do remate ficou em segundo plano perante a rapidez e inteligência com que se dirigiu para as “sobras” do cruzamento de Borja. Mais do que isso, devolveu alegria ao Estádio de Alvalade, que pela primeira vez em muito tempo teve momentos de comunhão nas bancadas, juntando “escumalha”, “croquetes” e milhares de convidados que ali estavam para a média de ocupação do estádio parecer menos desoladora. Quando Plata for o jogador que já acredita ser, apesar da taxa de sucesso nas iniciativas individuais ainda ter considerável margem de progresso, é possível que seja um dos pilares de um Sporting que conte para o Totoloto. Mas mesmo nestes dias sombrios pode e deve contribuir para a obtenção dos poucos objectivos que restam à equipa, o que passa necessariamente por mais do que 10 ou 20 minutinhos em campo, quase sempre numa fase em que o resto dos colegas já desmobilizaram.
Jovane Cabral (3,0)
Repetiu a titularidade sem repetir os resultados virtuosos obtidos no jogo com o Basaksehir. Voltou a mostrar-se mexido e a pôr os outros em movimento, mas pouco lhe saiu bem ao longo do jogo. O momento mais paradigmático da exibição foi o falhanço dentro da grande área, em posição frontal, após um bom cruzamento de Borja. Ainda assim, poderia ter mantido a série consecutiva de contribuições para o placard, isolando de forma perfeita Gonzalo Plata frente a frente com o guarda-redes do Boavista. Mas calhou ser o momento do jogo em que o equatoriano não esteve à altura.
Vietto (3,5)
Promovido a força tranquila da manobra ofensiva leonina, muito ele fez jogar, ainda que não tenha concretizado uma oportunidade flagrante de golo, servido com requinte pelo rompante Plata. Tem muito em si de futura referência leonina e cabe-lhe escrever um melhor futuro em que deixe de passar pela vida futebolística como uma esperança adiada.
Sporar (3,5)
Estreou-se a marcar na Liga NOS, dias após marcar na Liga Europa, com um toque oportuno que desviou da melhor forma o livre marcado por um equatoriano de que já talvez tenham ouvido falar. Mas também garantiu espaços para os colegas e continua a aumentar os níveis de confiança, o que vem mesmo a calhar numa altura em que se descobre que os bónus previstos na sua transferência podem fazer de si a contratação mais cara de sempre do Sporting. Lá seria mais um recorde batido pela presidência de Frederico Varandas...
Pedro Mendes (2,0)
Teve direito a 20 minutos pelo segundo jogo consecutivo, e pelo segundo jogo consecutivo padeceu de ter entrado numa fase em que o Sporting abandonara a nobre arte do ataque continuado. Voltou a fazer o possível por deixar boa impressão ao estádio, ainda que pouco mais tenha feito além de pressionar o início da construção de jogo dos adversários.
Ristovski (2,0)
Saltou do banco de suplentes para fazer face aos problemas físicos de Rosier e ajudou a manter uma rara ausência de golos concedidos. Segue-se a viagem à Turquia, onde viria a calhar repetir a proeza.
Francisco Geraldes (2,0)
A ovação que recebeu quando entrou para o descanso de Vietto é o tipo de fenómeno sportinguista que carece de estudo académico. Além de ser um futebolista com talento inato, “Chico” não se limita a ser o leão aspiracional, capaz de conciliar a bola com os estudos, mais dado a leituras do que a vídeos , como também simboliza na perfeição o Sporting dos nossos dias, com o seu potencial (ainda) por concretizar, em grande parte por culpas alheias (treinadores avessos à aposta na formação, péssima gestão de activos do clube) mas decerto também por culpa própria. Nos dez minutos que lhe couberam em sorte procurou e conseguiu mostrar serviço, lamentando-se apenas que num lance de contra-ataque não tenha sentido a confiança suficiente para rematar ou tentar irromper na grande área boavisteira, optando por assistir um colega que não entendeu o passe. Fica de fora na Liga Europa, mas pode ser que o castigo de Wendel leve a que Silas lhe dê uma hipótese de provar valor na deslocação a Famalicão. Embora seja mais provável que regresse a um daqueles meios-campos a tresandar de medo da própria sombra que juntam Battaglia a Idrissa Doumbia e Eduardo.
Silas (3,5)
Teve a inteligência de apostar numa táctica alicerçada no célebre princípio de jogo “metam a bola no miúdo e logo se vê”, retirando faustosos dividendos da aposta em Gonzalo Plata. Vendo-se a ganhar desde cedo, e a dominar as manobras no meio-campo, respirou de alívio e nem o facto de apresentar uma linha defensiva composta quase exclusivamente por suplentes trouxe um décimo das preocupações que esperaria. Numa semana em que exibiu dotes de comunicação quase tão fracos quanto os do responsável pela sua contratação, pondo em causa o empenho de um dos melhores jogadores de sempre do futebol leonino, Silas ganhou algum oxigénio. Para encher a botija terá de selar o apuramento para os oitavos-de-final da Liga Europa em Istambul e regressar de Famalicão com mais três pontos de vantagem em relação a um dos adversários directos na luta pelo terceiro, quarto ou quinto lugares. Mas para tal seria aconselhável que resolvesse a recorrente quebra que faz das segundas partes do Sporting o equivalente táctico de uma pessoa remediada que (sobre)vive de rendimentos.
O nosso cérebro é a mais espantosa criação. Sejamos crentes numa entidade acima de nós, ou crentes no acaso cósmico, é igual: nada é mais fascinante, complexo e capaz. O nosso cérebro processa 40 milhões de operações por segundo, é cinzento, gelatinoso e nunca dói (porque não tem terminações nervosas). Em certa medida pertencemos ao cérebro e não o contrário. A nossa mundivisão, o que vemos, cheiramos, sentimos, as afinidades, empatias e reações que mostramos com expressões, gestos ou olhares, têm o centro de comando no cérebro. O medo do futuro, a angústia, o que chamamos insegurança, é só mais uma criação genial do cérebro, uma arma no nosso longo e ainda não terminado processo de evolução. É fácil de perceber: entrar numa caverna escura a assobiar é um erro de avaliação se queremos continuar vivos. Pode lá estar um puma ou um urso que nos abocanha a carótida e a história acaba. O Francisco é uma pessoa especial, diferente e isso nota-se. Não tanto por aparecer a ler, mas pelo seu olhar, de um certo alheamento e de raras vezes parecer feliz. A ideia com que se fica é que tem pouco ou nada a ver com a tribo do futebol, os jogadores, as suas tatuagens, os seus carros, os seus penteados, piadas, partidas e outros ritos. Ou os misters, as suas pranchetas, os seus coletes, pinos, gritos, esquemas e demais instrumentos de motivação. Para não falar dos agentes, os seus telemóveis, handlers e gel no cabelo. Sucede que para sua fortuna, o Francisco tem futebol suficiente nos pés (e no cérebro) e é demasiado bom para ser posto fora. Você vê o jogo diferente, mais belo e sofisticado, mais lúdico, melhor. O que lhe queria dizer é que a sua diferença, sensibilidade e vulnerabilidade são parte fundamental da sua inteligência e, portanto, do seu futebol. Um futebol que você não tem conseguido impor quando sente as atenções em si. Um certo stage fright, diria. Há qualquer coisa em si, talvez no seu cérebro, que quer que você desista da bola e se remeta a um sossego maior, mais ensimesmado, mais seguro e recolhido. Acredito que já o tenha percebido e temo que tenha por inevitável que vá passar ao lado da carreira que o seu talento prenunciava. Só que ao longe, vendo-o como se viu neste domingo contra o Boavista, verifica-se depressa que há uma vontade ainda maior de estar ali em campo, a servir os outros. Nos passes, nas desmarcações, em especial na inteligência que o jogo acolhe como que por magia. Quando desata a correr, quem está atento nota os seus demónios a tentar apanhá-lo, mas deixe-me que lhe diga que é não é óbvio que o consigam apanhar. Só depende de si, de correr mais depressa do que os malditos. Não lhe estou a pedir a nada, a não ser que se conheça melhor e que ensine o seu cérebro de uma vez por todas quem manda no Francisco Geraldes.
Um abraço. Deixo-lhe esta sugestão de leitura: Pensar, Depressa e Devagar, de Daniel Kahneman (temas e debates).
Há coisas que são difíceis de entender. Fiquei completamente estupefacto quando me chegou ao conhecimento que Francisco Geraldes, jogador com 17 anos de contrato com o Sporting (entrou no clube com 7 anos), treinou, desde que que chegou da Grécia em Dezembro, fora das instalações do Sporting, em jardins, parques e frequentando ginásios de Lisboa. Como é possível uma situação destas, de um dos principais ativos e que só hoje foi completamente integrado em pleno, depois de andar 45 dias a treinar sem os colegas? Francamente não consigo perceber esta política desportiva do Sporting no que se refere ao futebol e Hugo Viana terá que um dia explicar muita coisa... ou não.
Sobre o preçário dos novos lugares de época no nosso estádio já se pronunciaram aqui - e bem - o Rui Cerdeira Branco e o Edmundo Gonçalves. É uma decisão incompreensível e inadmissível da Direcção leonina.
Nada tenho a acrescentar. Direi apenas que lamento ter visto, na anterior campanha para venda de gameboxes, a utilização de Francisco Geraldes, profissional oriundo da formação do Sporting, como isco para atrair adeptos. Sabemos o que aconteceu: o jogador acabou por ser mandado às malvas, sem oportunidades para mostrar o que vale perante aqueles que confiávamos e confiamos no seu talento.
Foi publicidade enganosa, afinal. Espero que não se repita.
Acho inqualificável que Francisco Geraldes - usado como rosto da SAD para apelar à aquisição da gamebox "segunda volta", no início de Janeiro - tenha sido utilizado até agora só 18 minutos durante esta época.
Porque é que não usaram antes o Gudelj ou o Diaby?
O Sporting vai poder emitir o empréstimo obrigacionista, tendo ultrapassado ontem a fasquia dos 19 milhões de euros em ordens subscritas.
Rui Patrício, William Carvalho, Nani, Carlos Mané, Raphinha, Wendel, Ristovski, Luís Maximiano, Adrien, Cédric e Carriço incluem-se entre os jogadores e ex-jogadores que compraram obrigações do Sporting.
Marcel Keizer estreia-se como treinador leonino depois de amanhã, no jogo Lusitano Vildemoinhos-Sporting, para a Taça de Portugal.
Receita do desafio de sábado será entregue, na íntegra, ao clube de Vildemoinhos por decisão da Direcção do Sporting.
Acho mal o Francisco Geraldes ser emprestado pois é melhor do que alguns que estão no plantel, que porventura vão ficar, e começamos a descaraterizarmo-nos sem jogadores da formação. E era mais que tempo para ter uma oportunidade a sério, até porque já é o 3.º ano em que enriquece a prestação de outras equipas (ao menos neste ano o mutuário não é do nosso campeonato). Mas já está e não tenho muito interesse em saber se se sentiu indesejado ou pouco desejado, ou o treinador não teve interesse nele. A diferença está em que nos 2 empréstimos anteriores ninguém se incomodou, quase não se viu uma linha a contestar essa política (quando havia um resultado menos conseguido do Sporting ou o jogador fazia um bom jogo, lá se ouviam umas vozes isoladas) e nem li nada do próprio como agora, que escreveu um texto cheio de mensagens. Porquê? Talvez por no Moreirense e no Rio Ave se ter sentido desejado ou o Presidente e treinador serem outros... o que é facto é que não teve a dimensão agora atingida em termos de “barómetro” de sportinguismo e crítica à SAD por parte dos entusiastas da discussão (chamar discussão é assim uma espécie de bondade...) nas redes sociais.
Na verdade, pressinto que isto é mais um episódio da divisão em que estamos. E, no fundo, é o Sporting que sai prejudicado pois começa a perder élan quanto ao tradicional aproveitamento de jogadores da formação. Vá la que deu para perceber que Jovane, por exemplo, deve ser acarinhado pois tem grande potencial. Mas a futura direção tem que fazer reflexão séria e profunda sobre o modelo de formação que temos, construir um percurso para os jovens em que não se cometam erros de avaliação, designadamente quando atingido o patamar competitivo mais elevado. Para isto há que ter colaboradores com elevado grau de conhecimento e profissionalismo, não nos devendo limitarmos apenas ao cv de quem foi jogador do clube há uns anos ou velha glória. São precisas equipas multidisciplinares, que façam o acompanhamento desportivo mas também escolar e acompanhem de perto a própria situação familiar dos miúdos. A Academia precisa de ser refundada através duma espécie de regresso às origens, formando jogadores e homens e dotando o Sporting de ativos, quer em termos de desempenho desportivo quer depois em termos de sustentabilidade do clube com a sua valorização e reconhecimento pelo mercado.
Por tudo isso desejo rapidamente o 9 de setembro, o regresso em definitivo à normalidade com nova direção democraticamente eleita e posto fim ao verdadeiro estado de exceção que vivemos há meses.
Plantel de 1981/82 - Jogadores utilizados formados no Sporting (10): Barão, Carlos Xavier (19 anos, 35 jogos), Bastos, Zezinho, Inácio, Mário Jorge (18 anos, 31 jogos, 5 golos), Virgílio, Ademar (22 anos, 40 jogos, 6 golos), Freire e Alberto (soma da utilização destes jogadores=258 jogos; golos=18, média=23 anos).
Plantel de 2001/2002 - Jogadores utilizados formados no Sporting (10): Jorge Vidigal, Beto, Santamaria, Paíto, Custódio, Diogo, Hugo Viana, Gisvi, Lourenço e Quaresma (soma da utilização destes jogadores=128 jogos; golos=9).
Malcolm Allison era um treinador "sui generis". dava muita liberdade aos jogadores fora do campo e não olhava a bilhete de identidade ou a estatuto aquando da escolha do melhor "onze". Era, também, muito corajoso: se Jordão "não estava bem da cabeça", estreava-se o miúdo Mário Jorge, mesmo que o jogo fosse contra o FC Porto. Como a sorte protege os audazes e as pessoas de firmes convicções, o ala açoriano acabaria por marcar o único golo nesse clássico, colocando o Sporting em posição privilegiada para ser campeão.
Lazlo Boloni tinha uma especial predilecção por lançar jovens jogadores. Nessa temporada, Hugo Viana e Quaresma foram as suas apostas mais consistentes. O romeno era fã da visão de jogo de Viana e da imprevisibilidade do Mustang (apodo criado por ele) e não teve nenhum rebuço em lhes dar a titularidade, apesar de haver jogadores consagrados no plantel. Assim, Hugo Viana viria a jogar sensivelmente o mesmo número de partidas que, por exemplo, Pedro Barbosa e Quaresma jogaria mais do que a soma dos confrontos disputados por Sá Pinto e Niculae.
Servem estes exemplos para provar, ao contrário do que por aqui e ali vou lendo, que a aposta nos jogadores da casa já deu bons resultados. Inclusivé, os números de utilização de jovens por parte de Allison são impressionantes, tendo em vista que se tratava de um plantel onde coabitavam Meszaros, Eurico, Nogueira, Oliveira, Manuel Fernandes e Jordão. Mais do que qualidade na Formação, o que nos tem faltado são treinadores carismáticos, convictos nas suas ideias, justos na selecção e corajosos na hora de defender o jovem jogador. Defendem-se mais do que defendem o clube. Por isso, preferem comprar um contentor de jogadores no mercado, portugueses ou estrangeiros, incluindo nessas aquisições segundas e terceiras escolhas para o plantel, imagine-se, bloqueando assim na totalidade a possibilidade de imposição dos jovens.
A situação actual é uma falácia. Não existe qualquer aposta sustentada na Formação. Tal reflecte-se na descida de divisão da equipa B, a qual se deveu à desmotivação que reina em Alcochete. Nem que nascessem 10 vezes, os nossos jogadores jovens sabiam que nunca teriam qualquer hipótese real de se imporem. A excepção que confirmou a regra foi Gelson Martins.
Com o caminho em cima tapado, é natural que os nossos jovens comecem a conjecturar o seu futuro fora do reino do leão. O caso de Francisco Geraldes é paradigmático. Vezes sem conta enviado para a equipa B ou emprestado a clubes menores da primeira liga, o médio conseguiu vencer uma Taça da Liga pelo Moreirense - depois de uma exibição de sonho frente ao Benfica - e ser um jogador muito influente no Rio Ave. Regressado a Alvalade com fortes expectativas, primeiro assistiu ao regresso de Bruno Fernandes (um excelente jogador com quem poderia talvez coabitar, jogando Bruno a "8") e depois viu o treinador apostar em Nani para a sua posição, algo inédito em termos de clube na vida do antigo jogador do Manchester United. Compreensivelmente, terá chegado à conclusão de que seria a terceira opção e iria jogar pouco, o que acrescido do facto de ser um dos mais mal pagos do plantel o terá levado a pedir para sair. Palhinha é um exemplo ainda mais revelador: barrado por uma invasão balcânica de "ic(s)" - Petrovic e Misic - , o nosso médio defensivo vê aparecer todos os dias nos jornais os contactos que o Sporting estará a desenvolver para adquirir Badelj ou Vukcevic (mais um) e para o regresso de Battaglia. Relegado para possível quinta escolha de Peseiro, que futuro no Sporting pode o jovem perspectivar? E ainda estou para ver qual o futuro de Matheus Pereira, agora que Acuña e Nani se juntam o Raphinha nas opções para as alas...
Há que ser claro e nos deixarmos de demagogias para com os sócios: ou seguimos uma política de mercado ou tentamos temperá-la com uma aposta real na Formação. A situação actual é que é insustentável. É que nem sequer estamos a meio caminho, mas sim a caminho de coisa nenhuma, pelo menos de algo que seja minimamente relevante. A política de mercado tem-se revelado desastrosa no clube. Aos pouquíssimos exemplos positivos, de simultaneamente rendimento desportivo e financeiro, contrapõem-se inúmeros exemplos de flops. Dir-se-ia que deficilmente se poderia ter tão má pontaria, mas esta é a história das últimas duas décadas do clube. Conhecendo-se este histórico de acção trágico, alguém no seu perfeito juízo quer dar mais latitude aos gestores do clube para perseguirem esta (não) estratégia? Vamos continuar a alimentar segundas e terceiras escolhas para o plantel à conta das nossas depauperadas finanças? Como tal, o único caminho possível, o único que pode conduzir à sustentabilidade desportiva e financeira, é ir preparando os jovens para entrar na equipa principal. Mais qualidade é necessária e temos de investir mais na pesquisa de novos talentos e no seu desenvolvimento em Alcochete. Simultaneamente, temos de criar oportunidades aos que já lá estão (na equipa principal). E uma oportunidade não é pegarem de caras na equipa principal. Nem peço isso. O que se recomenda é que alguns dos nossos jovens possam ser segunda opção para uma determinada posição. Depois, com o desgaste dos jogos, gestão do cansaço do jogador titular, lesões, castigos, abaixamentos de forma, et caetera, terem uma oportunidade de jogarem e de se afirmarem. Assim, como está, é que não, não é caminho e esta época será aquela em que teremos menos jogadores da nossa Formação. Em conformidade, temo pelo nosso futuro. Sinceramente. Não se trata só da nossa sustentabilidade, é a nossa cultura enquanto clube que está a ser posta em causa e já há alguns anos. Depois, quando já não houver mais nada, é que vamos entender o valor de tudo aquilo que deixámos para trás. Como aliás já reconhecemos abundantemente naquela camuflagem operada na segunda volta de campeonato 16/17. Aí, com os ânimos exaltados, a utilização dos miúdos permitiu fazer baixar a temperatura. É que pode haver quem tenha de nascer 10 vezes, mas treinador só vive uma (e tem de saber viver)...
A Comissão de Gestão, por deixar fugir um jogador que, sentimentalmente, diz muito aos adeptos (mais sportinguista do que o Figo), sobretudo depois dos murros no estômago dados pelas jóias da nossa formação.
O treinador e a sua equipa técnica, por deixar fugir um jogador com qualidade acima da média e, não menos importante, que contribui para um bom balneário (via no Xico um importante aliado de Peseiro).
Nós, adeptos, por vermos (desejarmos) em Francisco Geraldes o craque (e futuro capitão) que, afinal, não é, nem nunca será.
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