Pretende-se, como titulava há meses o ABC em Espanha, «declarar guerra ao fora-de-jogo milimétrico». Daí haver já experiências-piloto em curso nos campeonatos secundários da Suécia, da Holanda e da Itália.
Isto faz todo o sentido, em defesa activa e drástica do futebol enquanto espectáculo.
Ver sportinguistas - como tenho visto desde segunda-feira - sair em defesa do statu quo que a própria FIFA quer alterar, sabendo que colidem com a verdade desportiva de um jogo que o Sporting acaba de disputar, é para mim totalmente incompreensível.
É, no fundo, mais um exemplo da tal autofagia que tanto mal tem feito ao nosso clube nas últimas décadas.
Não imagino benfiquistas ou portistas concordarem com a anulação «por 5 centímetros» de um golo marcado por qualquer jogador deles. Fazem bem. Se procedessem ao contrário colidiam com a verdade desportiva. E estariam a ser péssimos adeptos das suas cores.
Não será agora o momento para muito elaborar sobre as características intrínsecas da FIFA - demonstráveis pela atribuição da organização do próximo Mundial à ditadura teocrática do Catar, ainda por cima ao invés de qualquer racionalidade desportiva. Mas a tíbia atitude face aos acontecimentos de agora, propondo-se mimetizar o comportamento do COI ao patrocinar a pantomina de uma representação russa desprovida dos seus símbolos, é o típico "nem sim, nem sopas". É inaceitável. Muito bem vão as federações da Polónia, República Checa e Suécia, que já anunciaram a sua indisponibilidade para jogarem com a selecção do país que fere deste modo a segurança mundial e que aventa, a níveis retóricos que desconhecíamos nas largas últimas décadas, a utilização de arsenal nuclear.
Face a esta mercenária atitude da direcção da FIFA será de exigir à nossa Federação que se demarque de imediato dessa via, defendendo publicamente a exclusão russa. E, se tal não acontecer, será de exigir ao nosso governo que execute todo o tipo de represálias legalmente disponíveis sobre a FPF e seus associados. Entre as quais, se tal for possível, uma simbólica: retirar-lhe a possibilidade de utilizar os símbolos nacionais.
Não pagamos seja a quem for, parece ser a divisa actual do SCP. A fazer lembrar perigosamente os tempos que vivemos na presidência de Jorge Gonçalves e que os rivais também experimentaram com Vale e Azevedo. Para já o caso Bruno Fernandes segue para a FIFA após queixa da Sampdória, veremos o que acontece, mas desde já manifesto o meu desagrado pelo estilo caloteiro que não se coadugna com a história do Sporting Clube de Portugal.
1 - Quais os próximos passos que estes processos podem seguir? - Partindo do princípio que a Sporting SAD não se conforma com as decisões em questão, os fundamentos deverão ser requeridos, correndo após a respectiva notificação um prazo de 21 dias para se intentar recurso junto do TAS, acrescido de outros 10 para se juntarem os fundamentos dos recursos [n.d.r.: o Sporting garantiu ter pedido à FIFA os fundamentos da decisão] . Posteriormente, e mesmo sendo difícil antecipar prazos, aponta-se para seis a oito meses até que as partes sejam chamadas ao TAS para uma audiência, contando-se pelo menos mais seis meses até que a decisão do TAS seja finalmente notificada - falamos num período total de aproximadamente ano e meio. Um último e eventual recurso para o Tribunal Federal Suíço versará meramente sobre questões formais, não se pronunciando tal Tribunal quanto a questões de facto ou de direito da decisão recorrida.
2 - Será difícil que o TAS possa reverter esta decisão? - É complicado falar sobre estes processos, uma vez que não são conhecidos os fundamentos das decisoes, pese embora na sua maioria, e pela experiência que adquiri ao longo das últimas duas décadas e, nomeadamente, cinco anos na FIFA, o TAS, na maioria dos casos, confirmar as decisões FIFA recorridas. Contudo, existem inúmeras excepções a esta regra.
3 - A FIFA deveria ter enviado os fundamentos ao Sporting - e às outras partes - junto com a notificação? - É um procedimento normal, este que foi aplicado - é a regra. A FIFA, por uma questão de economia processual, não redige de imediato as decisões dos seus tribunais. Envia, apenas, o corpo da decisão, um documento de três páginas onde resume o que foi decidido e, caso alguma das partes pretenda recorrer, então notifica os respectivos fundamentos, uma vez requeridos.
Estimo que Sporting Clube de Portugal, não se detenha, que pugne pelos seus interesses e que estes passem por levar ambos os casos até às últimas instâncias disponíveis.
Quase dois anos depois, como vários de nós já esperávamos, a FIFA pronunciou-se sobre o diferendo entre o Sporting e os jogadores Rafael Leão e Rúben Ribeiro, que haviam rescindido o contrato com o clube no rescaldo do assalto a Alcochete.
O rombo, no entanto, podia ter sido bem pior se tivesse sido mantida a via litigiosa "até ao fim", como muitos advogavam em relação aos nove que saíram na sequência da agressão sofrida no próprio local de trabalho, transformado em cenário do faroeste. Uma agressão que as câmaras registaram e que todo o País pôde testemunhar através de imagens que deram a volta ao mundo.
Sousa Cintra e Frederico Varandas acertaram, portanto, ao optarem pela via do acordo com os clubes envolvidos: Wolverhampton, no caso de Rui Patrício; Bétis, no caso de William Carvalho; Atlético de Madrid, no caso de Gelson Martins; e Olympiacos, no caso de Podence. O dinheiro recebido foi inferior ao que valem estes jogadores formados pelo Sporting: terá rondado os 60 milhões de euros. Mas muito mais substancial do que seria caso tivesse vingado a tese daqueles que clamavam «Vamos dar-lhes luta em tribunal até ao fim.» Como se tivessem a certeza antecipada do teor das sentenças judiciais.
O ditame da FIFA comprova - de novo sem surpresa para vários de nós - que Sousa Cintra defendeu os interesses do Sporting ao ter negociado o regresso de Bruno Fernandes, Bas Dost e Battaglia. Sem a oportuna intervenção dele, qualquer destes jogadores teria continuado longe de Alvalade - e um deles, pelo menos, talvez rumasse a um dos nossos rivais directos - sem um cêntimo de receita para os cofres leoninos.
Gerir um clube também é isto: saber ponderar, a qualquer momento, entre a solução óptima mas sem viabilidade e a solução possível mas garantida. Cintra e Varandas estiveram bem.
Conforme pode ser constatado abaixo pelo estudo do CIES ( Centro de Estudos Internacionais do Desporto - organismo criado e financiado pela FIFA em parceria com a universidade de Neuchâtel), o Sporting posiciona-se no sexto lugar dos clubes formadores no total das 31 ligas europeias estudadas, a par de Real Madrid e Estrela Vermelha. O FCPorto encontra-se na posição dez e o Benfica na posição catorze, com 47, 41 e 36 jogadores, respectivamente, a jogarem nestas 31 ligas observadas.
Nota 1- A classificação está ordenada de forma decrescente, sem considerar "empates", desconhecendo-se o critério de posicionamento na grelha.
Luís Figo apresentou hoje as principais linhas do seu programa, como candidato a presidente da FIFA.
Com esta apresentação ficámos a saber que um dos pontos principais do seu programa será o destino a dar a 50% das receitas da FIFA, qualquer coisa como 2,5 mil milhões de dólares, às diversas federações nacionais para o desenvolvimento do futebol de base, isto é, a formação. Ficou claro, mesmo que indirectamente, que a FIFA, sob a presidência de Luís Figo, irá combater a presença de fundos no futebol internacional, valorizando os clubes formadores e defendendo-os de aves de rapina que cirandam por aí. O contrário seria um paradoxo.
E de repente são entrevistas a rodos. Anda por ventura aflito. De homem discreto, implacável nos negócios, amigo do seu amigo, passou à versão descoberta. Fala dos fundos como os salvadores do futebol, esquece-se apenas de mencionar o porquê dos clubes cá do burgo que menciona, mesmo com vendas fabulosas de jogadores, estarem à beira da falência em contraponto com agentes e fundos que enchem cada vez mais a conta bancária. É milhão para aqui e milhão para acolá, num rodopio onde apenas os clubes ficam de fora.
O terreno está assim a ser preparado, ou minado. Há mesmo muitos milhões a serem ganhos no negócio do futebol. Aqui pouco interessa o clube ou o jogador, são meros instrumentos, usados para obter lucros astronómicos. Quando os clubes caírem, porque tudo tem um fim, estes auto-proclamados benfeitores do futebol luso, voltam as agulhas para outro lado.
Mas são condecorados e tudo. Gente fina é outra coisa.
Como já seria de esperar, a má prestação da selecção nacional no Campeonato do Mundo fez-nos cair na tabela classificativa da FIFA. Portugal, que antes do Mundial estava na quarta posição, cai sete lugares, sendo agora o 11º.
Uma queda semelhante à de Espanha, que recua do primeiro para o oitavo posto. Outra queda já aguardada é a da Itália, que cai do 9º para o 14º lugar. A Inglaterra desaparece também da lista das dez mais. E o Brasil abandona o pódio, sendo agora o sétimo nesta tabela.
A subir estão, naturalmente, a Alemanha - que acaba de sagrar-se campeã mundial e passa a liderar esta lista, o que não sucedia há 20 anos. A Argentina é agora a segunda (era quinta), a Holanda chega ao pódio (subindo 12 posições) e a França ascende de um modesto 17º lugar ao décimo da lista.
Como o Edmundo já salientou aqui, foi caricato o troféu entregue pela FIFA a Lionel Messi, como melhor jogador de campo do Mundial de 2014. Logo ele, que na final contra a Alemanha se revelou um dos mais apagados intervenientes.
Em termos individuais, não tenho a menor dúvida: Robben foi o melhor jogador deste Campeonato do Mundo (acabou por ficar em terceiro na escolha da FIFA, após Messi e Müller). Mas na própria Argentina não era nada difícil encontrar quem mais merecesse ser distinguido do que o capitão da equipa. O excelente médio defensivo Javier Mascherano, por exemplo.
Decisões destas só desvalorizam futuros prémios e desacreditam ainda mais o organismo presidido pelo senhor Blatter. Por uma vez Maradona acertou em cheio ao protestar: "Querem que Messi ganhe algo que não ganhou."
No decisivo confronto contra a selecção germânica, Messi voltou a vomitar. Como se já previsse que lhe dariam o mais imerecido troféu da sua carreira. Apetece seguir-lhe o exemplo.
Resta saber se a FIFA, no seu afã de promover as equipas americanas neste campeonato (o que, de resto, se viu no jogo com a Itália, com a incrível expulsão de Marchisio e a manutenção em jogo de Suárez), acrescenta mais uma camada de terceiro-mundismo à história não punindo severamente Suárez.
Imaginem só, por momentos, o que sucederia se Portugal tivesse feito em campo a triste figura que ontem fizeram os brasileiros, levados ao colo por um árbitro inepto na jornada inaugural do Campeonato do Mundo: logo certas aves canoras do torrão luso poisariam nas pantalhas a clamar contra tão clamoroso atentado à "verdade desportiva", com trinados em louvor das "novas tecnologias" que tardam em ser implantadas pelos sobas da toda-poderosa UEFA pilotada por monsieur Platini mas já perfilhadas pela FIFA do imarcescível senhor Blatter.
Como é São Brasil que está em jogo e os rapazes comandados pelos sargentão Scolari têm vindo a ser idolatrados cá na paróquia em reportagens da treta servidas ao domicílio de manhã à noite, entronizados como antecipados campeões da festa mundial do desporto-rei, as tais aves assobiam para o lado. Não se escandalizam com coisa nenhuma que vá além de Badajoz.
Eu sei que o escrete canarinho joga em casa, mas convém não abusar. O que ontem à noite aconteceu no Brasil-Croácia é um péssimo cartão de visita ao futebol. Se sonham com campeões antecipados, como parecem querer as nossas queridas televisões, elejam-nos por supremo decreto da sacrossanta FIFA. Ou por televoto, em honra e louvor das "novas tecnologias".
A Arena de São Paulo parecia um daqueles combates desiguais da velha Roma entre gladiadores e leões, com o juiz da partida - o japonês Nishimura Yuichi - investido da missão de virar o polegar para baixo. A traçar o destino dos gladiadores croatas.
Permitam-me a pergunta: desde logo, um japonês porquê? Alguém conhece os preciosos contributos do Japão para o desenvolvimento e prestígio do futebol à escala planetária?
A verdade é que Neymar, minutos antes do golo inaugural do torneio, devia ter sido expulso por óbvia agressão a Luka Modric, o melhor dos croatas. No entanto só viu o cartão amarelo, quase com direito a vénia pela conduta antidesportiva: foi fácil perceber que o moço está pronto a ser entronizado como vulto maior deste Mundial.
Nesse momento o campo estava apenas ligeiramente inclinado. Mas o apitador nipónico encarregou-se de facilitar ainda mais a vida aos brasileiros. Primeiro ao inventar um penálti mal viu Fred cair na grande área croata, como se respondesse pelo nome de Capela Yuichi ou Nishimura Xistra - um penálti que o craque Neymar esteve quase a falhar. Depois ao validar o terceiro golo, marcado por Oscar (o melhor brasileiro em campo), claramente precedido de falta - não assinalada, para evitar novos tumultos populares em São Paulo e no Rio.
A tecnologia de ponta chegou à Copa, com o novíssimo olho de falcão a vigiar as balizas. Nada a fazer, porém, perante a incompetência - velha como o mundo.
Tudo está bem quando acaba bem. Resultados à la carte, como este, são sempre preferíveis à angustiante incerteza da roleta do marcador, propícia a ataques de ansiedade.
Na tribuna central, sentado a poucos metros da esfuziante Presidenta Dilma Roussell, o senhor Blatter sorria. Tinha bons motivos para isso: tudo decorreu de acordo com o guião. Como escreveu acertadamente a Marca, "contra o caseirismo não há olho de falcão que valha". Estava escrito nos astros que a vitória caberia ao Brasil neste estádio do Corinthians. E assim foi.