Há sempre uma justiça poética nestas coisas. O mesmo treinador que ao chegar ao Benfica pela segunda vez prometeu «arrasar» e pôr a equipa a «jogar o triplo» mas acabou por sair ano e meio depois, de queixo no chão e sem título algum (52 vitórias, 17 empates e 14 derrotas; 182 golos marcados e 80 sofridos), acaba de conduzir o actual clube, o Fenerbahçe, a um primeiro desaire: afastado na segunda pré-eliminatória da Champions, pelo Dínamo de Kiev.
Foi o mesmo que ao vencer a Taça Libertadores pelo Flamengo se apressou a declarar, com a soberba que o caracteriza: «Daqui a 50 anos vão lembrar-se que foi um português que conquistou a Libertadores.» Como se fosse proeza que só ele pudesse conseguir. Azar: logo nos dois anos seguintes, o compatriota Abel Ferreira conseguiu o mesmo, ao leme do Palmeiras, clube com menos recursos financeiros e desportivos.
Só podia ser Jorge Jesus. O tal que um antecessor de Frederico Varandas, num desesperado e fracassado all in, trouxe do Benfica para o Sporting para «ganhar tudo» acabando por não vencer quase nada.
Uma coisa é certa: no campeonato da prosápia, ninguém bate este técnico que alguns tansos ainda parecem idolatrar em Alvalade. Já terá aprendido a dizer «teriam que nascer dez vezes» e «Palhinha não levou o guião certo» em turco?
Há mesmo uma justiça poética nestas coisas. Por motivos que me dispenso de sublinhar, alegra-me muito ver o Dínamo de Kiev na Champions, nestes dias tão dramáticos para o clube e os seus adeptos.
O Sporting iniciou hoje uma rápida sucessão de jogos na pré-temporada que realiza na Suíça. Teste muito positivo, saldado com uma vitória por 2-1 frente ao Fenerbahçe, equipa que ficou em terceiro lugar no campeonato turco e conta com várias estrelas nas suas fileiras, com destaque para Valbuena e Van Persie. Nota a destacar: ambos os golos leoninos resultaram de lances de bola parada.
Jorge Jesus fez alinhar, em estreia absoluta no Sporting, quatro jogadores contratados neste defeso: Fábio Coentrão, Mathieu, Doumbia e André Pinto. Nota mais positiva para o avançado da Costa do Marfim emprestado pelo Roma: foi dele o golo da vitória leonina, aos 75'. Jogou só a segunda parte mas foi quanto bastou para comprovar que estamos perante um verdadeiro reforço.
O nosso golo inicial, aos 32', foi apontado pelo suspeito do costume: Bas Dost, que promete repetir em 2017/2018 o excelente desempenho alcançado na época que passou.
Notas igualmente muito positivas para Iuri Medeiros - autor do livre directo de que resultou o nosso primeiro golo - e Bruno Fernandes, que na primeira parte funcionou como autêntico motor da construção ofensiva do Sporting. Já a posicionar-se como possível sucessor de Adrien na posição 8.
O colombiano Leonardo Ruiz, o marcador do golo no desafio anterior, disputado ainda em Portugal, frente ao Belenenses, desta vez ficou fora. Isto apesar de Jesus ter feito entrar nada menos de 22 jogadores. Só Azbe Jug - guarda-redes por ausência de Rui Patrício e Beto - se manteve em campo durante os 90 minutos.
Numa sucinta análise aos nossos reforços, além dos já mencionados, Battaglia e Piccini continuam a merecer apreciação positiva, enquanto Matheus Oliveira mantém nota insuficiente. André Pinto, só em campo a partir do minuto 62, foi demasiado discreto para justificar uma opinião fundamentada.
Mais: grande defesa a um disparo de Valbuena, fazendo in extremis a bola embater na barra.
Menos: deficiente jogo com os pés na reposição de bola.
Piccini (24 anos).
Mais: voluntarioso e destemido no ataque.
Menos: demasiado permeável no seu flanco defensivo quando os turcos carregavam no acelerador.
Coates (26 anos).
Mais: hoje capitão, tentou golo de cabeça nesta estreia na pré-época e quase marcou ao minuto 39.
Menos: abusou do jogo faltoso, o que lhe valeu um cartão aos 60'.
Mathieu (33 anos).
Mais: estreia absoluta no Sporting, demonstrando soltar a bola com crítério.
Menos: falha de marcação permitiu o golo turco aos 40'.
Coentrão (29 anos).
Mais: demonstrou vocação atacante nesta estreia de verde e branco.
Menos: não acompanhou extremo turco no lance do golo adversário, nascido no seu corredor.
Petrovic (28 anos).
Mais: entendimento pontual com os centrais para formar primeira linha do dique defensivo.
Menos: perdeu duas vezes a bola em zona perigosa, na zona que lhe estava confiada, concedendo todo o espaço ao adversário.
Bruno Fernandes (22 anos).
Mais: bom a cruzar, bom a abrir linhas de passe, bom no passe longo, serviu de forma magistral Doumbia aos 58'.
Menos: falhou golo em zona frontal aos 46'.
Bruno César (28 anos).
Mais: voluntarioso, procurou mostrar serviço.
Menos: exibição apagada: já não regressou do intervalo.
Iuri Medeiros (23 anos).
Mais: marcou muito bem o livre de que resultou o nosso golo inicial.
Menos: falhas pontuais no passe não ensombraram desempenho muito positivo.
Alan Ruiz (23 anos).
Mais: bom remate de meia distância aos 24'.
Menos: lento e previsível, sem dinâmica, saiu ao intervalo.
Bas Dost (28 anos).
Mais: demorou só 32 minutos a fazer o gosto ao pé, assinando o golo inaugural.
Menos: podia ter marcado logo no primeiro minuto, mas chegou tarde ao lance.
Battaglia (26 anos).
Mais: eficaz a recuperar bolas, revelando capacidade de construção num raio de acção muito alargado.
Menos: alguma falta de disciplina posicional.
Jonathan Silva (23 anos).
Mais: regressa ao Sporting com vontade de disputar a lateral esquerda com Coentrão.
Menos: demasiado impetuoso, pode cair com facilidade sob a alçada disciplinar.
Doumbia (29 anos).
Mais: entrou na segunda parte apostado em ter protagonismo: primeiro, um golo anulado aos 58' por fora de jogo; depois, um golo limpo que nos garantiu a vitória.
Menos: desperdiçou uma grande oportunidade de voltar a marcar, já no tempo extra.
Matheus Oliveira (23 anos).
Mais: marcou muito bem o livre que viria a originar o nosso segundo golo.
Menos: voltou a pecar por alguma falta de intensidade.
Tobias Figueiredo (23 anos).
Mais: Jesus confiou-lhe a braçadeira de capitão quando substituiu Coates, aos 61'.
Menos: demasiado contido de movimentos, sem esticar o jogo na primeira fase de construção.
André Pinto (27 anos).
Mais: estreia absoluta no Sporting, ocupando a metade direita do eixo defensivo.
Menos: falta-lhe entrosamento com os colegas, como se compreende.
Podence (21 anos).
Mais: espectacular lance individual aos 65', pouco depois de ter entrado, pondo os turcos em sentido.
Menos: falhou o golo no último minuto.
André Geraldes (26 anos).
Mais: jogou desta vez no flanco direito, sua ala natural, combinando bem com Podence.
Menos: falta-lhe alguma ousadia na subida para o ataque.
Gelson Dala (21 anos).
Mais: grande remate com selo de golo, aos 90', fazendo a bola embater no poste.
Menos: recebeu um cartão amarelo perfeitamente escusado, fruto de imaturidade.
Matheus Pereira (21 anos).
Mais: grande passe para Doumbia em zona letal, aos 91'.
Menos: agarrou-se demasiado à bola, talvez com vontade de impressionar o treinador.
Paulo Oliveira (25 anos).
Mais: quando já parecia que não, Jesus ainda apostou nele.
Estimo muito o patriotismo futebolístico. É por isso que estou de alma e coração com os portugueses que ainda jogam nas competições europeias: força Raul Meireles! Dignifica o nome dos jogadores portugueses. Eleva bem alto a qualidade dos nossos artistas. Ganha ao Benfica por nós: os apoiantes dos futebolistas portugueses. Tu sabes o que é ganhar aos jogadores estrangeiros do Benfica.
{ Blogue fundado em 2012. }
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