«O miúdo [Felicíssimo] é muito bom. Obviamente, até fisicamente se vê que não é um jogador acabado. Enquanto o Sporting se abastecer na formação, com dificuldades é certo, está no seu caminho para o sucesso. Aqueles que pedem reforços para todos os postos e a qualquer preço ou não sabem do que falam ou são adeptos dos nossos adversários.»
Viktor Gyökeres: mais dois golos com garantia de futebol-espectáculo em Alvalade
Foto: António Cotrim / Lusa
Depois de três empates consecutivos no campeonato, uma vitória. Que nos soube a goleada. Em casa, contra o Estoril, uma das equipas-sensação da prova. Há oito rondas que eles não perdiam. Tropeçaram agora, em Alvalade. Mas merecem elogio por terem dado boa réplica, sobretudo na segunda parte.
Nos primeiros 45 minutos, não lhes demos qualquer hipótese. Domínio total, pressão constante com as nossas linhas subidas. Rui Borges, rendido às evidências e confrontado com imparável vaga de lesões, retomou há duas jornadas o 3-4-3 popularizado no Sporting por Ruben Amorim e que tão bons frutos rendeu - dois campeonatos, o de 2021 e o de 2024.
Valeu a pena. Mesmo com uma inédita linha de médios interiores composta por Debast e o jovem Felicíssimo em estreia absoluta como titular. Deram ambos conta do recado, o belga até com brilhantismo: esteve nas assistências aos dois golos do primeiro tempo. Primeiro na marcação de um livre lateral que parecia míssil teleguiado à cabeça de Gonçalo Inácio. O jovem capitão leonino não perdoou: deu o melhor caminho à bola.
Estavam decorridos apenas cinco minutos.
Esta foi a primeira boa notícia da noite de segunda-feira, dia 3. Outra, que também muito cedo se detectou, foi o regresso de Gyökeres à sua melhor forma. O sueco voltou a "fazer piscinas", baralhando os defensores estorilistas, incapazes de acertarem as marcações naqueles rápidos ataques às suas costas.
Num deles nasceu o segundo golo do Sporting, aos 36'. Em lance de futebol-espectáculo, com o craque sueco dando a melhor sequência a um magnífico passe longo desenhado em diagonal pelo pé direito de Debast. Correu com ela dominada, sentou dois centrais e perguntou ao guarda-redes para que lado a queria, enviando-a para o lado oposto.
Celebração no estádio. Mais de 36 mil adeptos aqueciam na fria noite de Inverno.
Assim chegámos ao intervalo. A vencer 2-0, sem consentir um só remate enquadrado do Estoril, que enfrentava duas sucessivas linhas defensivas nossas, sobretudo no lado direito, onde a parceria Esgaio-Fresneda funcionava como relógio suíço. Dois quase renegados que Rui Borges, em urgente carência de recursos humanos, sabiamente recuperou.
A etapa complementar decorreu em toada menos veloz. Mas o Sporting continuava a controlar o jogo: concedia iniciativa ao adversário mas sem abdicar do contra-ataque, quase sempre em iniciativas protagonizadas por Gyökeres. Aprendemos com erros cometidos em partidas anteriores, sem nunca recuarmos demasiado as linhas.
Funcionou quase na perfeição. Pena um deslize momentâneo aos 84', quando o ex-Leão Gonçalo Costa, progredindo na ala esquerda e já com ângulo muito apertado, conseguiu marcar o tento de honra do Estoril. Em lance de que Rui Silva não está isento de responsabilidade: a bola passou-lhe entre as pernas.
Instalou-se o nervosismo nas bancadas: não faltou quem imaginasse um descalabro mesmo à beira do fim, como sucedera nos embates com o FC Porto no Dragão e o AVS em Vila das Aves. Aconteceu ao contrário: fomos nós a marcar, fechando a conta. Pelo suspeito do costume: Viktor Gyökeres, marcando um penálti que ele mesmo conquistou ao levar o antigo benfiquista João Carvalho a desviar a bola com o braço em zona proibida.
Foi aos 90'+6 que a bola se anichou pela terceira vez nas redes estorilistas. A noite fria aqueceu ainda mais, a massa adepta celebrou com gosto o reforço da nossa liderança a dez jornadas do fim e Viktor voltou a fazer jus ao nome.
Vitórias é com ele. Para bem de todos nós.
Breve análise dos jogadores:
Rui Silva (4) - Confirma-se: tem presença na baliza. E joga bem com os pés. Pena ter falhado intervenção na única vez em que foi posto à prova (84').
Esgaio (7) - Exibição muito positiva. Como central adaptado, à direita. Eficiente nos cortes. Grande arrancada aos 30': ofereceu golo a Viktor, que desperdiçou.
Diomande (6) - Regressou ao onze após castigo. Contido nas palavras de protesto e nos gestos. Cumpriu a missão, bem articulado com os colegas.
Gonçalo Inácio (7) - Capitão da equipa e patrão da defesa. Marcou de cabeça o primeiro golo (5'). Actuação quase sem falhas.
Fresneda (6) - Começou à direita, passou para ala esquerdo aos 58'. "Assistiu" Trincão aos 18'. Batido em duelo defensivo aos 76'.
Debast (8) - Alto nível, adaptado a médio de construção. Marcou livre que deu golo e assistiu com excelência no segundo. Mandou petardo ao ferro (63')
Felicíssimo (6) - Compôs eficaz duo com o belga no meio-campo nesta estreia a titular. Processos simples, notória qualidade técnica.
Matheus Reis (6) - Subiu ocasionalmente no corredor esquerdo: grande centro aos 15'. Muito concentrado: bons cortes aos 26' e 29'.
Trincão (5) - Acusa excesso de utilização: é o nosso jogador com mais minutos nesta época. Isolado, falhou golo cantado aos 18'.
Quenda (4)- Talvez por cansaço, esteve muito apagado, falhando passes e revelando escasso compromisso defensivo.
Gyökeres (8) - Melhor em campo: marcou dois golos, em bola corrida (36') e de penálti (90'+6). Sempre apontado como seta à baliza adversária.
Geny (4) - Substituiu Matheus Reis aos 58'. Sem influência. Mantém a irritante tendência de passar demasiado tempo no chão.
Harder (5) - Saltou do banco só aos 79' (substituiu Trincão). Com intervenção no lance que daria penálti sobre Gyökeres - e o terceiro golo.
Arreiol (5) - Rendeu Fresneda aos 79'. Ajudou a dar consistência ao nosso meio-campo interior, aproveitando para se mostrar.
José Silva (5). Entrou aos 79', substituindo Quenda na ala direita. Estreia absoluta na equipa A. Mostrou-se combativo.
Do nosso triunfo incontestável da noite de ontem. Vencemos o Estoril em casa, por 3-1. Pondo fim a uma sequência de oito jogos da equipa adversária sem perder: a última derrota dos canarinhos havia sido a 23 de Dezembro. Deram boa réplica, valorizaram o espectáculo em Alvalade, mas só conseguiram uma ocasião de golo - precisamente a que foi concretizada. Porque, excepto nesse lance, os jogadores leoninos souberam bloquear o acesso à nossa baliza. Bateram-se com agressividade bem doseada, combatividade, capacidade de luta e vontade de ganhar segundas bolas, sem dar nenhum duelo como perdido. Quando foi preciso gerir, em períodos da segunda parte, soubemos agir com inteligência e competência.
De Gyökeres. Quem disse que ele já tinha rebentado e havia perdido a capacidade goleadora? Enorme disparate. Foi o melhor em campo, a grande figura do encontro: marcou dois golos, o segundo e o terceiro, e desperdiçou outros tantos. Mas é justo que seja distinguido como obreiro maior destes três pontos no nosso estádio. Golaço aos 36', sentando dois defesas e ludibriando o guarda-redes Joel Robles com forte remate rasteiro. Fechou a contagem aos 90'+6, num penálti também conquistado por ele e convertido de modo irrepreensível. Já tinha marcado a todas as equipas da Liga portuguesa, excepto uma: o Estoril. Acaba de fazer o pleno. Reforça o comando na lista de artilheiros do campeonato 2024/2025: já marcou 25. E 37 no total da época, em 39 jogos. Números impressionantes.
De Debast. Médio de construção improvisado, dada a ausência simultânea de Morten, Morita e Daniel Bragança. Deu muito boa conta do recado, sobretudo no capítulo do passe longo, com pontaria calibrada. Duas assistências - a primeira na marcação dum livre lateral, para a cabeça de Gonçalo Inácio, logo aos 5'; a segunda num soberbo passe à distância, traçando uma diagonal perfeita para a desmarcação de Gyökeres. E ainda mandou um petardo ao ferro, na ressaca de um canto, aos 63'. Exibição de grande nível.
De Gonçalo Inácio. Com braçadeira de capitão, assumiu desta vez a liderança da defesa, impondo-se na orientação dos colegas sempre que tinha início um movimento defensivo. Regressou aos golos, fulminando de cabeça o guardião do Estoril, aos 5', em notável exibição de jogo aéreo após conversão dum livre lateral muito bem batido por Debast. Evidenciou segurança e confiança nesta partida em que foi distinguido pela sua participação em 200 desafios de Leão ao peito como profissional de futebol.
Da estreia de Felicíssimo como titular. Bom jogo do jovem médio defensivo, suprindo a ausência de todos os titulares do nosso meio-campo e até também a do jovem João Simões, que o precedeu na ascensão à equipa principal. Seguro, sem complicar, movimentando-se bem sem bola, não acusou nervosismo após ter sido amarelado aos 33'. Tem atitude, boa presença em campo e inegável destreza técnica.
De José Silva, também em estreia. Entrou só aos 79, substituindo Quenda, mas teve tempo suficiente para mostrar qualidade. Veloz, combativo, sem fugir aos duelos na ala direita. Poucos diriam que era este o seu primeiro jogo na Liga portuguesa de futebol. Outra aposta de Rui Borges na formação: merece aplauso.
De ter começado a ganhar cedo. Concretizámos na primeira oportunidade disponível - e logo num lance de bola parada, algo pouco frequente. Isto ajudou muito a tranquilizar a equipa e os próprios adeptos.
Da primeira parte, com domínio absoluto nosso. Chegámos ao intervalo a vencer 2-0. Sem dar hipótese aos estorilistas de fazerem um só remate enquadrado. E poderíamos ter goleado, tantas foram as falhas defensivas do Estoril.
De vencermos com sete jogadores da formação. E também com nove - em 15 - jogadores sub-23: Diomande (21 anos), Gonçalo Inácio (23), Fresneda (20), Debast (21), Felicíssimo (18), Quenda (17), Harder (19), Arreiol (19) e José Silva (19).
Da presença de mais de 36 mil adeptos em Alvalade. Apoio entusiástico e sem desfalecimentos do princípio ao fim. Foi a melhor maneira de aquecer numa noite fria de Inverno.
Da nossa liderança reforçada. Concluídas 24 jornadas, vamos isolados em primeiro. Com 56 pontos. Conseguimos 17 vitórias nestas 24 rondas. Só faltam dez para concretizarmos o maior sonho: a conquista do bicampeonato que nos foge há 74 anos.
Não gostei
Do golo solitário que sofremos, aos 84'. Único momento de descoordenação da nossa defesa, bem aproveitado por Gonçalo Costa para a meter lá dentro - em lance validado por apenas 5 cm. O lateral esquerdo não festejou, em respeito pelo Sporting: esteve 12 épocas na Academia de Alcochete, onde percorreu todos os escalões de formação, chegando a jogar na equipa B. Saiu, sem oportunidade de subir à equipa A, mas demonstrou não ser ingrato. Merece toda a sorte na profissão.
Da longa lista de lesões. Nove jogadores impedidos de ser convocados por motivos de ordem física. O mais recente? O jovem Alexandre Brito, recém-estreado como médio na equipa principal: também ele já está fora de combate. Parece uma maldição que se abateu nesta época sobre Alvalade.
Da ausência de Maxi Araújo. Impedido de actuar nesta recepção ao Estoril por acumulação de cartões, o jovem uruguaio fez-nos falta nas movimentações junto à linha esquerda. Quenda, ali titular à frente de Matheus Reis, esteve vários pontos abaixo, perdendo bolas e pecando por falta de compromisso defensivo. Atravessa claramente um período de menor fulgor.
Das oportunidades falhadas. Umas por inépcia no momento da decisão, outras goradas devido a boas intervenções do guarda-redes adversário. As quatro na meia hora inicial de jogo. Duas protagonizadas por Gyökeres, aos 22' e aos 30' - a segunda após impressionante corrida de Esgaio, que galgou cerca de 40 metros para assistir o craque sueco. Outras duas por Trincão, em noite pouco inspirada, aos 23' e aos 30', no primeiro caso desperdiçando o facto de só ter Joel Robles pela frente.
Quem foi a Alvalade, como eu fui, deu por muito bem empregue o seu tempo.
O Estoril a jogar no campo todo sem truques nem palhaçadas contra o Sporting com um onze "remendado" mas com Gyökeres de regresso ao seu melhor. O 3-1 acaba por ser o resultado perfeito para descrever o que se passou nos 90 e picos minutos de jogo.
Pelos vistos Rui Borges, com todas as lesões que foram acontecendo, meteu o seu 4-4-2 na gaveta e regressou ao 3-4-3 de Amorim. E fez muito bem. Sem tempo para treinar, a equipa defende com outra segurança, seja quem for que integre a linha de 5. Porque há muito treino anterior que possibilita a um Esgaio fazer de defesa direito em bom nível, Diomande fica como legítimo sucessor de "El patron" e Inácio no seu melhor lugar também. Fresneda perde um pouco a ala direito, mas está cada vez mais um defesa direito de selecção, Matheus Reis é o jogador mais polivalente do plantel, joga onde quiserem.
No meio-campo, Debast está a tornar-se num médio de luxo, e Felícissimo só surpreende quem não o veja jogar na Liga 3 (pela inteligência de jogo e capacidade de comando merecia ter chegado mais cedo do que os outros médios da B, mas com idade de júnior ainda vai muito a tempo).
No ataque, os muito desgastados Trincão e Quenda correm kms e kms a suportar o Gyökeres de sempre.
E assim foi. Ataques contínuos dum lado e doutro o jogo todo.
Na 1.ª parte o Sporting soube definir melhor os lances atacantes, marcou dois e podia ter marcado três ou quatro, com oportunidades flagrantes desperdiçadas por Trincão e Gyökeres.
Na 2.ª parte muito mais Estoril, com o desgaste das correrias a fazer-se sentir. Se a primeira substituição de Matheus Reis por Catamo fazia todo o sentido, com Fresneda derivando para a esquerda para fechar um flanco em que o Estoril ameaçava, e Quenda assumindo a ala direita, a tripla substituição que se seguiu foi um pouco temerária.
Sairam Quenda, Trincão e Felícissimo, este devido ao amarelo, entraram José Silva, Arreiol e Harder. Mudanças a mais que fragilizaram a equipa. Nenhum dos três melhorou fosse o que fosse no desempenho da equipa.
E com isso o Estoril conseguiu marcar. Felizmente Gyökeres arrancou mais uma vez para o penálti e o golo.
Muito sofrimento no final nas bancadas de Alvalade, mas já estamos habituados. Só assim nascem os campeões.
Um orgulho ver a formação de Alcochete, que parte pedra na Liga 3, chegar à primeira equipa e a entrar em campo como se estivesse a jogar contra um Atlético qualquer na Tapadinha. Felicíssimo, Arreiol, José Silva hoje, Alexandre Brito ontem, Quenda e João Simões mais atrás. Não existem tremedeiras nem passes disparatados, o futuro é deles.
Melhor em campo? Debast, a jogar assim, meu amigo, não voltas mais para defesa. O teu seleccionador que veja o jogo.
Arbitragem? Começou bem mas perdeu-se completamente com a ajuda do VAR no caso da patada ao Felicíssimo que lhe podia dar cabo da perna e da temporada.
E agora? Descansar a cabeça e o corpo, e ir a Rio Maior ganhar. Conto voltar lá.
PS: À tarde ouvi o Augusto Inácio a menosprezar a Liga 3, que o lugar da equipa B era na Liga 2, que assim é que os jogadores se desenvolviam. Isto do director desportivo que recebeu a melhor equipa B de sempre do tempo do Godinho Lopes e a afundou com Dramés, Sackos e Gazelas, que despediu ou deixou despedir o Abel Ferreira na pré-época, e que agora observa o Porto B depois da auditoria ao regabofe Pinto da Costa a afundar-se na zona de descida da Liga 2. A nossa equipa B repleta de juniores compete onde pode e faz sentido competir para os recursos que tem. E não é por isso que o Felicíssimo de 18 anos não salta da Liga 3 para a Liga 1 como se nada fosse.
De perder dois pontos fora de casa. Em Vila das Aves, frente ao antepenúltimo da classificação - uma "coisa" que nem é clube: é uma SAD, praticamente condenada à descida. Deixámos seis pontos a voar nas últimas três partidas. Inadmissível.
De nos deixarmos empatar a minuto e meio do fim. Repetiu-se quase ao segundo o que já sucedera no nosso empate (1-1) no Dragão. Equipa incapaz de segurar a bola em linhas avançadas, perdendo-a em zona proibida, acometida por tremideira geral. Cada lance de bola parada defensiva parece semear o pânico nos nossos jogadores, algo incompreensível.
Da segunda parte. O onze leonino veio irreconhecível do intervalo. Com vantagem confortável mas sempre arriscada (vencíamos 2-0 nos primeiros 45 minutos), deixámos deliberadamente a turma anfitriã assumir a iniciativa do jogo, recuámos a linha média em cerca de 30 metros e apenas mantivemos um solitário Gyökeres lá na frente, na vã esperança de que alguma bola lhe fosse despejada de chutão. Comportamento de equipa que luta para não descer - nada a ver com uma equipa que sonha conquistar o bicampeonato nacional de futebol. Neste período fomos incapazes de fazer um só remate à baliza adversária.
De Diomande. Comportamento calamitoso do nosso defesa, que até foi um dos heróis da primeira parte ao inaugurar o marcador, de cabeça, na sequência de um canto. Infelizmente, descarrilou no segundo tempo. Aos 67', agride à chapada um adversário dentro da área - o que nos custou um penálti e o primeiro golo do AVS, aos 71'. Abusando da sorte (o marfinense devia ter visto o vermelho, e não apenas o amarelo), Rui Borges manteve o central em campo. Deu asneira: aos 77', junto à linha do meio-campo, Diomande volta a cometer falta absolutamente desnecessária: um pisão que lhe valeu o segundo cartão - e consequente expulsão. Volta a ficar de fora: outra baixa importante na nossa equipa. Actuámos só com dez durante meia hora.
Da ausência de Morten. Ausente por castigo, pela primeira vez neste campeonato, fez-nos falta. Sem ele, o nosso meio-campo não tem, nem de longe, a mesma eficácia. Aliás toda a nossa linha média interior era adaptada, com Debast e Alexandre Brito nos lugares habitualmente ocupados pelo internacional dinamarquês ou pelos lesionados Morita e Daniel Bragança.
Da ausência de Biel. Sentou-se no banco, mas não calçou. Estranhamente, parece que o treinador não conta com ele. Como se não tivesse sido o mais propalado "reforço de Inverno" do Sporting.
De outro lesionado. Não há jogo do Sporting sem vermos sair um futebolista mais cedo, rumo à enfermaria de Alvalade. Desta vez foi Eduardo Quaresma, que só durou 45 minutos. Já não regressou para a segunda parte, sendo substituído por Matheus Reis. Novo período de lesão, ainda incerto, para o jovem central, tão combativo quanto azarado.
Da infeliz estreia de Felicíssimo. O jovem médio defensivo, presença habitual na Liga 3 como titular do Sporting B, foi promovido por mérito (e devido à extensa onda de lesões) à equipa principal. Mas não lhe correu bem este "baptismo de fogo". Nervosíssimo, perdeu a bola no início da construção, dando origem ao golo do empate do AFS. Assim deixámos fugir mais dois pontos.
De Rui Borges.Quinto jogo seguido sem ganhar. Muito passivo no banco, incapaz de dar resposta aos problemas em tempo útil e até de antecipá-los. Assistiu impávido ao recuo das linhas, pairando a sensação de que os jogadores obedeciam a insólitas instruções suas. Fez quatro alterações no onze: nenhuma melhorou a equipa. Esperou até aos 90'+2 para mandar Harder saltar do banco, talvez esquecido de que o dinamarquês tinha sido o melhor em campo no desafio anterior, contra o Arouca. E não esgotou as substituições no longo tempo extra (9 minutos da etapa final), nem sequer para queimar tempo. Algo também incompreensível.
De termos perdido a liderança isolada. Após este terceiro empate (2-2), vimos o Benfica igualar-nos na pontuação da Liga 2024/2025. A onze jornadas do fim.
Gostei
Do primeiro tempo. Bom futebol, dinâmico, veloz, com os flancos a funcionarem e a bola a sair dominada ao primeiro toque. Pressão alta sobre a saída da equipa da casa, que raras vezes se libertou para a manobra de construção e dispôs apenas de uma oportunidade de golo neste período - grande defesa de Rui Silva, aos 14', a remate de Zé Luís.
De Gyökeres. Recuperou a boa forma e voltou a exibir os dotes de goleador, que não demonstrava há cerca de um mês. Protagonizou duas arrancadas, aos 18' e aos 21', desposicionando por completo a defesa, na segunda culminando em remate com selo de golo que só uma enorme defesa do internacional mexicano Ochoa impediu. Meteu-a mesmo lá dentro aos 33', coroando brilhante jogada colectiva. Na segunda parte ninguém o serviu: não teve culpa. Cada vez mais isolado na lista dos artilheiros deste campeonato: são já 23 golos a seu crédito. Melhor em campo.
De Trincão. Jogador mais utilizado do plantel, continua a ser útil. Esteve nos dois golos. No primeiro, aos 8', é dele o passe certeiro para a cabeça de Diomande. O segundo começa a ser construído por ele: soberba variação de flanco para Maxi assistir o sueco. E ainda foi ele a isolar Gyökeres no lance que quase deu golo aos 21'. Líder das assistências na Liga: são já 12.
De Maxi Araújo. Cada vez mais útil, cada vez mais acutilante, cada vez mais imprescindível na ala esquerda. É dele o passe para o segundo golo. Foi dos poucos que não naufragaram no segundo tempo.
De continuarmos no comando. O Benfica conseguiu igualar-nos, dois meses depois, mas mantemos a liderança da Liga devido ao critério de desempate. E o FC Porto - que ainda não ganhou em casa neste ano de 2025 - mantém-se seis pontos atrás de nós após ter empatado no Dragão (1-1) com o V. Guimarães.
Custa muito perder assim dois pontos. Foram muitos e muitos anos a ver jogos como este, em que ao intervalo estava ganho, mas que uma sucessão decisões arbitrais infelizes, erros próprios, golos improváveis dos adversários, ditam a perda de pontos, senão a derrota.
Outra primeira parte de grande qualidade, com a equipa num 3-4-3 "Amorim" em que Quenda era a peça móvel que possibilitava as maiorias nos diferentes espaços, a equipa pressionava alto, atacava em combinações bem conseguidas pelas alas, Gyökeres sempre muito apoiado, o 2-0 era curto para o domínio do jogo registado. O segundo golo resulta duma grande jogada colectiva, digna do melhor Sporting dos últimos anos.
A segunda parte começa estranhamente com a defesa alterada em todas as posições, de Quaresma-Diomande-Inácio para Diomande-Inácio-Matheus Reis. Isso foi determinante para o que se passou a seguir. Com o adversário a fazer pela vida, carregando no acelerador e provocando o contacto, a equipa foi baixando linhas, os alas passaram a ser defesas laterais, deixando Gyökeres e Trincão bem longe lá na frente.
Mesmo assim, normalmente isso seria suficiente para conquistar os três pontos.
Se não fosse... o Diomande insistir em usar os braços de forma que os adversários podem aproveitar para simular agressões, e sofrermos um golo de penálti escusado. Borges não o ter substituido de imediato pelo perigo de acontecer o que aconteceu a seguir, ou pelo menos o ter mantido a defesa direito na linha de três muito mais propenso ao choque do que na posição central. Depois, com o jogo a ferver, ter mandado para o terreno dois jogadores pouco utilizados, Esgaio e o Felicissimo, que nada acrescentaram. Este último, que eu muito aprecio, entrou pilha de nervos e falha o alívio, o adversário ataca e surge o canto fatal. Depois... o golo improvável, se tentar aquilo dez vezes, acerta na bancada em nove.
O desgaste da Champions está a fazer-se sentir, no corpo e na cabeça, os jovens e muito jovens predominam, e faltam experiência e voz de comando dentro do campo. Com o decorrer do jogo, cada um vai ficando mais preso ao seu lugar de conforto, e cada vez menos a equipa tem capacidade para controlar a partida. Os choques vão acontecendo e as faltas também perto da nossa área, cantos contra também, lances sempre perigosos em que tudo pode acontecer como aconteceu hoje.
Agora pouco há a fazer do que ganhar os dois jogos da próxima semana, e entrar numa nova fase da temporada menos intensa, com mais tempo para recuperar e treinar.
Melhor em campo? No tempo todo talvez Quenda. Na primeira parte todos estiveram num plano elevado.
Arbitragem? O VAR morcão Manuel Oliveira esteve em grande, até conseguiu fazer expulsar um jogador chamando o árbitro a ver aquilo que ele não viu e que não aceitou que existisse.
E agora? Recuperar, focalizar e ganhar. Conviria recuperar a figura do assessor de arbitragem, porque o plantel tem de estar informado e precavido não só sobre as regras do futebol mas também sobre as "modas" da APAF. Não podem os jogadores dar o flanco da maneira que Diomande fez hoje ou o que Hjulmand fez contra o Arouca.
SL
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