Antes de repetir a repetição feita nas últimas horas, semanas, meses, e adnauseam; não começo o postal por bater no ceguinho, não repito que nos falta um matador, um gajo que precise de meia oportunidade para marcar dois golos. Tantos o repetiram, já: equipas tivemos com avançados assim.
Repito, sim, aquilo que sempre aqui me traz e que é, simplesmente, repetir os votos de devoção ao Sporting.
Na bancada, ontem, fi-lo do princípio ao fim do desafio. Alvalade estava estrondoso. A rebentar de alma leonina. Uma moldura humana que destruía as repetidas e estafadas previsões derrotistas.
E isto, a par da aposta no enorme Amorim, é aquilo que temos de repetir na próxima época. E sempre.
As análises às fraquezas e falhas do plantel estão feitas, repetidamente feitas, as exigências declaradas, mas, meus caros, mais do que isso, o nosso papel, grandioso papel, diga-se, é o de puxar pelos nossos. Querer ganhar sempre, claro, mas acreditando, alimentando a nossa grandeza. Alvalade, ontem, foi esse castelo. E as muralhas mantêm-se intactas, mesmo que nas "guerras" desta temporada tenhamos levado mais que dado.
Todos o sabemos - antes dos erros e más escolhas de quem decide os destinos das nossas cores -, a repetição maior de todas será sempre o nosso sportinguismo.
Conto já os dias para repetir a presença no nosso estádio electrizante, repleto de sportinguistas convictos de que podemos ganhar, esteja quem estiver do outro lado.
O ex-treinador português Fernando Santos, que esta semana deixou a selecção Nacional, vai dar entrada num convento.
A clausura a que irá estar sujeito prende-se com a quantidade de asneiras que foi originando enquanto responsável pela selecção. Assim e como assumido católico que é, só com esta penitência poderá um dia chegar às portas do Céu.
Depois é necessário saber se S. Pedro o convocará para entrar!
Chamem-lhe profissão de fé (a ver pelo nome do blog seria até o mais apropriado), mas estando nós em todas as competições e em todas elas com possibilidade de ganhar, acredito que vamos festejar conquistas esta época.
Nem tudo o que Amorim disse é criticável pela negativa.
Da conferência de imprensa pós-pesadelo Marselha guardo a máxima: "Nós somos bons nestes momentos. Quando está tudo muito difícil, eu sei que esta equipa pode dar a volta. Nós vamos dar a volta."
Com tanta prova dada do exímio líder que é e do seu contagiante espirito ganhador, Rúben Amorim, apesar desta sucessão de maus resultados, continua a inspirar-me confiança que com ele ao comando sairemos vitoriosos. Estou ainda muito longe de acreditar no contrário.
Faz agora dois anos, antes de começar a época que nos conduziria à reconquista do título de campeões nacionais de futebol após o mais longo jejum da nossa história, as caixas de comentários do És a Nossa Fé fervilhavam com centenas de leitores que aqui apareciam a rasgar a equipa, o treinador e o presidente.
Não faltava quem defendesse uma revolução no clube, mudando tudo de alto a baixo. Quando apenas tinham decorrido 22 meses desde o escrutínio que conduziu Frederico Varandas à presidência do Sporting e menos de cinco meses desde a contratação de Rúben Amorim.
No melhor estilo do pior adepto leonino, que antevê sempre hecatombes a cada início de temporada, traçaram-se aqui os mais negros prognósticos.
Vou lembrar apenas uma pequena parte do que foi publicado nos últimos três dias de Julho de 2020 - negro ano da pandemia por um lado, início da arrancada vitoriosa dos Leões comandados por Rúben Amorim rumo ao título, por outro.
Leiam e comentem, se vos apetecer.
«Quem fez este texto a defender Varandas deve estar muito contente com a contratação de Antunes com um contrato de 2M de euros por época. A culpa desta aquisição também foi da gestão anterior?» (anónimo)
«Para o Sporting não, mas essa foi uma boa contratação para a clínica do Varandas. E o Feddal, se vier, depois de chumbar por duas vezes os testes médicos, também será um bom cliente.» (anónimo)
«Até gostaria que algumas dessas notícias fossem verdade. Significaria que conseguiríamos despachar algum do entulho e, quiçá, se o Hugo Viana abrir os olhos, conseguir contratar reforços dos verdadeiros e não Feddais e Antunes ou Adans. Infelizmente, nem 1/3 dessas notícias são verdade, nem Hugo Viana alguma vez abrirá os olhos.» ("Rautha")
«Adan, Porro, Feddal e Antunes. Aí estão os "reforços"... Só me dá vontade dizer asneiras...» (Carlos Alves)
«"Quanto à saída de Acuña, parece lógica". Que lógica? Financeira? Só se for, porque desportivamente não se vislumbra lógica absolutamente nenhuma. "... o puto [Nuno] Mendes dá-lhe 20-0". Se é pra rir, objectivo alcançado.» (Mário Ferreira)
«Até acho que o Sporting tem jogadores que num Porto, Braga ou Benfica renderiam bem mais.» (anónimo)
«No Sporting vive-se, nos dias que correm, à luz do princípio da "navegação à vista". A todos os níveis.» (Mário Fernandes)
«Quem manda no clube [são] os jogadores e o Jorge Mendes.» (Ferreira)
«Vítor Oliveira seria uma grande aquisição. O problema é que não temos organização, a nossa estrutura está [um] caos.» (anónimo)
«Alguém tem paciência e vontade para aturar mais uma época de total incompetência? Esta gente não tem mais crédito nem apoio dos sócios para continuar. Se são sportinguistas, que ponham o lugar à disposição.» (anónimo)
«Desta gente só pedimos uma coisa: que se demitam. Mais nada. Se não o fizerem nós sócios destituí-los-emos.» (anónimo)
«Nós sócios temos que nos mexer e exigir a destituição. Quanto antes!» (anónimo)
«Quanto ao Amorim, eu até aceito pagar 10M por um treinador se for o resultado de uma aposta estratégica a longo prazo, não aceito é contratar sem ter os recursos para tal...» ("Schmeichel")
«Se é para colocar miúdos a jogar, que os produtos da centrifugação todos juntos não fazem um, contratem-me que levo baratinho, faço o mesmo e sou do Sporting.» (Miguel Correia)
«Para mim é evidente que no próximo ano [o] Braga vai ficar à nossa frente, e com muito mais folga do que este ano.» (João F.)
«Estamos mais perto de ser um novo Belenenses do que de nos aproximarmos dos dois clubes do topo.» (J. Melo)
«Perante tamanhos disparates, todos os sportinguistas sejam eles da JL, do Império do norte, do oeste ou de outro lado qualquer têm de ficar caladinhos? Não têm o direito de mostrar o seu descontentamento? Eu diria até que é um dever.» (Júlio Vaz)
«Cada vez mais acho que esta direcção nem composta por sportinguistas é. Pelo menos sportinguistas como se entende pelo amor a um clube.» (anónimo)
«O Sporting em toda a sua história nunca tinha batido tantos recordes negativos, calotes, calotes, cada vez mais calotes!» (Daniel Silva)
«Um líder incompetente não pode, nem deve, liderar gente competente por muito tempo, chega!» (anónimo)
«Ou saem já pelos próprios pés, ou quando saírem vão ser expulsos e após uma auditoria serão criminalmente acusados de gestão danosa.» (Ferreira)
«Je suis VarandasOut.» (anónimo)
«O titulo de campeão é impossivel para o SCP.» (anónimo)
Reitero: isto é apenas uma pequena amostra do que aqui tantos vieram bolçar em apenas três dias, de 29 a 31 de Julho de 2020.
Bem nos avisaram que este dia ia chegar. E nós, antes do alerta, sabíamo-lo. É assim há décadas. Tantas quanto as que sofremos pelo nosso Sporting que a canalha aldraba, apouca, falta ao respeito.
A coisa podre já começou a espalhar-se. Cada vez mais nauseabunda. Os ratos, que de águia nada têm e de dragão (por maioria de razão) menos ainda, abruptamente, deixaram de nos chamar campeões e - como sempre desejaram e de nós pensavam e pensam - passaram a colocar-nos de novo na posição de chacota.
Eles às vezes por aqui passam, tenho por isso a esperança que me estejam a ler. Para vocês, lampiões e andrades, sem as escrever faço minhas as palavras do Rúben Amorim. As mesmas que tantas vezes gritei do meu lugar em Alvalade para todos aqueles que alimentam o miserável sistema que domina o futebol português e que com ele ganham. E não nos deixam vencer.
Há semanas que não troco um dedo de conversa com lampiões e andrades sobre o percurso vitorioso do Sporting desta época. Há semanas que não lhes dou saída. Sinuosos, rasteiros, mentirosos, os nossos rivais foram dizendo-nos que íamos ser campeões. Aldrabões e dissimulados, sem um pingo de fair play e espírito desportivo, não conseguiam esconder o desconforto a cada vaticínio de glória leonina. Na tromba deles, sem que o controlassem, lá estava o incómodo disfarçado a cada sentença do tipo "está arrumado" ou "podem encomendar as faixas", que "nós (eles) não temos hipótese nenhuma" porque "este ano é vosso".
A estas investidas, diárias (várias ao dia), assobiei para o lado. Optei por entrar e sair do monólogo lampiânico ou andrade com a frase: "A mim não me vês a atirar foguetes antes da festa, nem sequer a comprá-los."
Empatámos duas vezes seguidas, perdemos 4 pontos, e mesmo que continuemos com 6 de vantagem sobre o segundo classificado, é vê-los já a rir alarves entre eles. Unidos na chacota contra o Sporting. Convictos que depois das duas escorregadelas, o Sporting vai estampar-se ao comprido e ficar mais um ano a vê-los festejar.
No entanto, fica-me a dúvida: qual deles fará a alegada festa?
"O Porto vai ser campeão", prognostica o primeiro, "não, o título é para o Benfica", remata o outro.
Levantando a cabeça constato que a conversa referida tem como interlocutores dois sportinguistas. E envergonho-me. Além disso fico com vontade de escrever este texto, misto de convocatória e pedido: não nos deixemos levar pelo sistema. Não deixemos que o sistema vença.
Como a canalha que tem tudo para nos tentar deitar abaixo - e disso tem feito uso sempre que pode dentro e fora das quatro linhas -, também nós temos tudo para sermos campeões. E vamos sê-lo.
Não há aqui precipitação nenhuma nem estou a atirar foguetes antes da festa. Opto por replicar aquilo que Rúben Amorim certamente dirá no balneário, a cada treino, antes dos jogos, no intervalo dos jogos, após cada jogo. Vamos ser campeões, leões. Dirá RA e nós devemos e temos de acreditar nele. Neles! O castigo de 15 dias aplicado ao nosso timoneiro não o calará, nem impedirá os jogadores de o ouvirem dizer que vamos ser campeões. E de o dizerem entre eles. Vamos ser campeões.
Mais uma vitória do Sporting. Faltarão ainda uma dúzia delas para sermos campeões.
Há quem procure aflitivamente razões para este repentino sucesso, mas a maioria daquelas nem se prende com competência leonina, enfim... o costume.
No entanto a equipa que vai evoluindo por esses relvados tem, entre muitas qualidades e um bom treinador, duas que farão, quiçá, a diferença deste ano para outros: quererganhar sempre até que o árbitro apite para o final e crer nas suas próprias capacidades.
Sabia-se de antemão que o jogo desta noite com o Paços seria difícil. Foi mesmo e a equipa dos castores vendeu cara a derrota. Entretanto na rádio Antena 1, e ainda antes do jogo começar, um comentador afirmava peremptoriamente que estavam no relvado de Alvalade as duas equipas que, nesta época, melhor praticavam futebol em Portugal.
Foi ele que afirmou... não fui eu!
Talvez possa parecer pouco, mas tenho consciência de que os dois verbos que intitulam este postal estarão a fazer a real diferença pontual para os nossos adversários.
Depois dum arranque de temporada muito marcado pelo surto viral que afectou meio plantel e a subsequente eliminação no acesso à Liga Europa, o Sporting conseguiu apoiar-se no excelente trabalho do final da época passada e num mercado de verão muito bem conseguido para alcançar, após sete jornadas decorridas, o primeiro lugar da liga, a uma distância clara dos restantes.
Mas como toda a gente sabe, isto não é como começa é como acaba, e é preciso saber se a equipa vai ter resistência, engenho e sorte para prosseguir na liderança e chegar ao final no podium, pelo menos assegurando o acesso à Champions do próximo ano.
Resistência desde logo para lidar com as armadilhas que lhe vão colocar pelo caminho. Os poderes mafiosos não dormem. Um destes dias vamos sofrer duma forma ou de outra. Resistência também para lidar com os inimigos internos que estão à espera do primeiro desaire para pôr cá fora toda a raiva que agora têm de engolir.
No que respeita ao engenho, nota-se que quase todos os jogadores estão a crescer neste modelo de Rúben Amorim, mesmo quando são colocados em posições a que estão menos habituados, e nalguns casos mesmo a ter explosões de rendimento surpreendentes como acontece com Pedro Gonçalves, Porro ou Nuno Mendes. Continua a faltar o tal ponta de lança mais posicional e artilheiro, Sporar faz um trabalho notável fora da área mas falha demasiado dentro dela. Na defesa, nota-se a falta dum Mathieu de pé direito, que limpe aquele lado da defesa e marque uns golaços de livre.
Concluída esta série de quatro adversários acessíveis, vem aí e até final de 2020 - assim o Covid o permita, e para além da eliminatória da taça contra o Sacavenense, e num ritmo semanal - outra série de quatro adversários mais ou menos equivalentes em termos de dificuldades, Moreirense (C), Famalicão (F), Farense (C) e Belenenses (F). Com os principais adversários ocupados também com a Champions e a Liga Europa, temos tudo para passar um Natal descansado e fecharmos o ano na liderança.
O nosso regresso a Alvalade e a nossa incontestável vitória reforçam o título deste texto, mas o que gosto de Rúben Amorim à frente da equipa, também. Convenço-me que finalmente temos treinador. Que de uma vez por todas preenchemos o vazio deixado pela saída de JJ (ganhou bola, sim, mas sabia bem o que fazer com ela).
Depois, comparando os dois, Rúben Amorim é mais... mais caro, sim, a sua aquisição foi muito mais cara, pois foi, mas ele é mais construtivo. RA dá-nos garantias - já certezas - de que vai construir uma equipa tendo por base aquilo em que o Sporting se diferencia e superioriza em relação aos rivais: as jóias da formação.
Rúben Amorim é consistente na aposta que faz nos nossos craques em crescimento. Diz que o faz e fá-lo. Isto tem um valor inestimável. O resultado é visível. Objectivo. Temos um treinador que, finalmente, volta a potenciar jovens em Alvalade. Jovane, Eduardo Quaresma, Matheus Nunes são disso exemplo.
É este o caminho. Estamos no bom caminho. Numa aparente contradição, esta certeza foi confirmada pelo erro logo assumido por RA, quando confessou ter errado ao tirar Matheus Nunes para dar lugar a Eduardo. É que foi mesmo quando entrou o entulho comprado sem critério no passado, e saiu uma das nossas mais brilhantes pérolas, que a equipa se foi abaixo.
Além da competência técnica que lhe reconheço, constato em Rúben Amorim liderança. A começar pela assunção da culpa, sem procura de bodes expiatórios, passando pela política em curso de que não há lugares cativos no 11, como o sabe, melhor que ninguém, Mathieu. Uma liderança que aposta nos seus. Como comprova a inclusão de Matheus Nunes ontem na equipa titular, depois de um jogo pouco promissor na jornada anterior.
Tendo por base a evidência matemática de não poder aspirar a mais, espero terminar a época no pódio, pelo menos. Mas tenho sobretudo esperança de que o caminho para alcançar esse lugar seja consistentemente a preparação da próxima temporada.
A melhor preparação possível, para a melhor época que possamos fazer. E podemos aspirar a muito!
Nada sabemos sobre o que irá seguir-se no futebol. Nem sobre o que será a época 2020/2021: estes são tempos inéditos para todos nós, à escala global.
Mas podemos extrair conclusões do que já passou. E concluir, sem reservas mentais de qualquer espécie, que a transferência de Bruno Fernandes para o Manchester United, concretizada a 28 de Janeiro, foi o último grande negócio feito entre duas equipas europeias até cair o pano devastador do Covid-19.
Durante os meses que vão seguir-se, se não mais de um ano, será mesmo o último grande negócio na Europa do futebol. Tiro o chapéu à administração da SAD por isso. E estou à vontade, pois em Novembro tinha defendido aqui a saída de Bruno só no final da época, convicto de que iria valorizar-se no Campeonato da Europa. Se alguém tivesse seguido o meu conselho, Bruno estaria hoje a desvalorizar-se todos os dias como principal activo do Sporting, sem jogar, sem perspectivas de retomar a actividade a curto prazo, vendo o Euro-2020 adiado por um ano que parecerá interminável.
Há que sublinhar esta evidência sem rodeios: vendemos Bruno Fernandes na melhor altura, por um excelente preço.
Como sabemos, foi a nossa melhor venda de sempre, superando largamente o anterior recorde, que durou três anos e cinco meses: a venda de João Mário para o Inter. E ainda salvaguardámos uma percentagem de 10% em futuras transferências do jogador para outros emblemas a partir de Manchester.
Este negócio seria hoje irrepetível. E só passaram dois meses.
Os preços dos jogadores estão agora inflacionados: nos dias que correm, não correspondem nem de longe aos actuais preços reais do mercado. Esta é uma excelente oportunidade para comprar, por isso mesmo. E uma péssima ocasião para vender.
Eis um efeito colateral do coronavírus, que está a alterar radicalmente a bolsa de valores no futebol. Espero que no Sporting haja gente atenta a isto. Dando prioridade à recuperação dos melhores que formámos: não pode haver melhor ocasião para trazê-los de volta a preços módicos. Com a esperança, claro, de um dia voltarmos a ver o próprio Cristiano Ronaldo a equipar novamente de verde e branco.
O que seria de nós sem fé no futuro em tempos de pandemia?
Capelinha das Aparições - Santuário de Fátima (fotografia de minha autoria)
Estávamos em Junho de 2019 e achei por bem acender uma vela (a que se vê na imagem, à esquerda) e o pedido que aqui reproduzo:
Por todos os que servem o Sporting Clube de Portugal. Que sejam dignos instrumentos para que a sua missão [do Clube] sirva a sociedade, e a robusteça.
Quando era pequenina, pintava velas de verde, acendia-as junto à imagem preferida do livro de catecismo, pedia vitórias (tipicamente, jogos contra o Benfica) e até a conquista do Campeonato.
Nem vitórias, nem pedidos latos.
Sigo, portanto, refilona em caixas de comentários e página principal do És a Nossa Fé, canais de contacto do Clube e, quiçá, manifestação (ões).
A partida começa às 17:55 da próxima quinta-feira e é para ganhar. O momento da equipa é o que todos conhecemos. Face ao vazio deixado pelo silêncio institucional na sequência daquela que é globalmente aceite como a pior exibição da época, pergunto, sentimo-nos com vontade de não ficar em casa?
Enquanto saio do posto de abastecimento olho o José Alvalade, atentamente, uma última vez. Conduzo agora ao seu encontro, à saída da Rotunda mergulho em direcção a casa.
É assim que gosto de deixá-lo. De luzes acesas. Talvez por conhecê-lo apenas e só, assim. Talvez por escolher guardá-lo assim. Fonte inesgotável de vida que se renova a cada visita. Que existe, apenas e só, para nos acolher. Imponente, intransponível, cheio de luz.
O palco dos sonhos, o confessionário de todas as amarguras, o purgatório de todos os dissabores. Aquele que, não nos conhecendo de lugar algum, acolhe todas as nossas idiossincrasias, por igual.
Conhece-nos… a voz. Mistura-a com mestria, devolve-nos a acção combinada de todas. Diz-nos quão alinhados estamos. Diz-nos, uma e outra vez, quão audíveis somos, quando somos um só.
A alegria que se exponencia, a desilusão que se dilui. A comunhão plena do que nos é comum. É a certeza da força comum.
É aqui que ao somarmo-nos, somos apenas e só, um. O um que se opõe verdadeiramente a quem e ao que defrontamos, muito para além dos atletas em campo. Muito para além do um que somos.
O um que é, afinal de contas, ilusório. Não existe, não pode existir. Somos Sporting. E o Sporting não é, nem foi nunca, um só. Dizem-mo. Di-lo, até e recentemente, quem se propôs fazê-lo. Torná-lo um só.
Desconcertante somatório de partes, aparentemente, inconciliáveis.
Desconcertantes palavras, as da voz de comando. Desconcertantes momentos, aqueles em que nos vimos… sem voz de comando.
Comanda-me, contudo, uma convicção pronfunda e inabalável. A voz de comando a que respondo, é aquela que habita em mim e que procuro pôr ao serviço do todo. O todo, que é somatório de todas as - aparentemente inconciliáveis - partes.
A minha voz, não é a de quem viu acabar-se-lhe a mama. A minha voz, não se calou quando obviou a existência do que parecia ser um conjunto de hienas apontadas às jugulares. Às jugulares, da voz de comando. A minha voz, não se calou, quando pedia uma aberta à vida, quando achou que havia uma improvável sucessão de azares, a dificultar a afimação da voz de comando. A minha voz, não se calou quando sugeriu que fosse dado devido enquadramento à voz de comando. Enquadramento amigo, familiar, que permitisse que a verdadeira voz de comando pudesse fazer-se ouvir. E afirmar-se, como voz de comando.
A minha voz calou-se há dias, no meio de muitas vozes. Escolhi calar a minha voz, no meio de muitas vozes, por desejar preservá-la como aquilo que é, a minha voz, coincidente com as de uns, diferente da de outros. Não me conhecem o timbre, seria muito fácil ser tomada por voz ao serviço de outra(s), que não a minha voz.
Fiquei sem voz, quando vi que a voz de comando, deu voz, àquele a quem tentei dar voz, a 8 de Setembro de 2018.
Ouvi-lhe a voz, compreendi-lhe o timbre.
Ouvi a voz daquele a quem, agora, gostaria de dar voz. Compreendo-lhe o timbre.
Oiço a voz, da voz de todos os sócios. Suspiro de alívio por constatar que não deu voz a quem queria tê-la, sem ter discernimento.
Peço, à voz de todos os sócios, que tenha discernimento e que estude, com a voz de comando, forma de nos ouvir a voz. A de todos. A de todos que faz o todo. O somatório de todas as vozes. Não só as que são abafadas pelos décibeis, ou pelas contra- vaias, mas as que, como eu, olham para o todo.
A minha voz, não se fez ouvir em Alvalade, no dia 9 de Fevereiro de 2020. A minha voz, acha, contudo, que é tempo de se assumir que a voz de comando não consegue, nem conseguirá, pôr-nos a uma só voz. Aquela que, soma da de cada um de nós, exponencia a alegria e dilui a tristeza.
Tem sido… uma tristeza.
Gostava que a imponência e intransponibilidade, fossem apenas as do betão que dá forma ao palco de todos os sonhos, confessionário de todas as amarguras, purgatório de todos os dissabores. Interessa, sim, a luz que lá dentro existe. A vida que lá existe e que quer renovar-se a cada quinze dias. Não agastar-se e desgastar-se a cada nova visita.
Às vozes que querem ser de comando, saibam que compreendo-vos o timbre. Mas que não serei voz de quem quer ser chamado a sê-lo, em vez de convictamente apresentar-se voz, no meio de todo o sofrível ruído. De ser convictamente voz, em detrimento de ser publicamente reconhecido enquanto possível voz de comando. A convicção, terá de ser vossa e à margem de todas as vozes. A vontade de ser interruptor, que nos devolve a luz, terá de ser afirmativamente vossa.
Enquanto saio do posto de abastecimento olho o José Alvalade, atentamente, uma última vez. Conduzo agora ao seu encontro. À saída da Rotunda do Leão, mergulho em direcção a casa.
É assim que gosto de lembrá-lo. É assim que gosto de vê-lo. De luzes acesas e a uma só voz.
Terá sempre um (infinito) final feliz. Por garantia conferida pela nossa matriz, que todos aceita, todos recebe, sem reserva de proveniência, ascendência ou militância. Obedece, a não outro, que ao princípio da existência. Na sua base, e espero que para sempre, Esforço. É, orgulhosamente, a base da nossa matriz.
No príncipio, foi e será sempre (espero), Esforço. Esforcemo-nos, pois, por ser ‘cal viva’ em contacto com água.
O infinito final da história que aqui vos trago? Depende não só de cada um dos que cá está, como de todos os que estarão para chegar.
O verdadeiro Sporting Clube de Portugal, é o do Johnny. O de Pedro Santana Lopes. O dos Leõezinhos EAS asiático e caucasiano. O do Senhor Felicidades. O dos sapatos Gucci, Sebago, e do chinelo de praia. O da cal. Da cal que se dilui, para absorver e assim conseguir aglomerar.
Ei-lo, na extraordinária – porque plural – A9. O verdadeiro Sporting Clube de Portugal.
Esforço, Dedicação, Devoção e Glória? Todos aceita. Todos recebe. Agrega. É a nossa argamassa.
Quiseram-nos, não circunscritos à sua realidade, económico-social e geográfica, mas mobilizados por todo o país e, sempre, com os olhos postos bem lá no alto. Ditaram, os nossos fundadores, os deveres fundamentais que se sobrepõem a qualquer direito natural, e que asseguram Glória terrena, ponte última para a eternidade.
Esforço, Dedicação, Devoção e Glória
Voltarei – sei agora – muitas vezes, à A9. Voltarei, não apenas para (tentar) estender a mão direita ao Senhor Felicidades. Voltarei de todas as vezes que precisar ou quiser sentir-me ‘cal viva’ em contacto com água. Ou, e se preferirem, arrebatada nano peça desta maravilhosa engrenagem. Desta tão grande engrenagem, que é afinal de contas, peça de uma engrenagem maior.
Interrogo-me muitas vezes como, ou por que razão, chegámos ao ponto a que chegámos. Sei que a massa de que somos feitos resiste incólume à erosão violenta de existências madrastas. Sei que o verdadeiro Amor, o nosso amor, é paciente, bondoso, tudo perdoa, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, nunca perece. Sei que já soubemos ser ‘cal viva’, misturada com água, quando nos sentimos perigosamente reféns. Sei que no princípio, está Esforço. E Dedicação. Devoção e Glória.
Interrogo-me muitas vezes como, ou por que razão, chegámos ao ponto a que chegámos. Nada se perde, tudo se transforma. Se calhar, transformações há que requerem o contributo da peça que somos.
Se calhar, Sabe, de que massa somos feitos. Se calhar, Sabe que somos importante peça da engrenagem maior.
Porque filhos de Amor. O de um avô pelo seu neto. Porque espelhamos a Vida tal como ela é, heterógenea. É na complementaridade dessa heterogeneidade, que a vida se cumpre. Outono, Inverno, Primavera, Verão. Porque a nossa matriz todos recebe, todos aceita, agrega. Porque nos Sabe visceralmente comprometidos com Esforço. Com Dedicação. Com Devoção. Porque Sabe - que sabemos - que no final virá a Glória, ponte última para a eternidade. Porque Sabe - que sabemos -, que nada se perde, tudo se transforma (eterna e única condição). Porque Sabe - que sabemos -, que com Esforço, e tempo, todas as peças caem no lugar certo. Porque Sabe - que sabemos - que somos importante peça, de uma engrenagem maior. Porque Sabe, que assumimos e honramos a nossa condição de importante peça de uma engrenagem maior. Que, necessária e inevitavelmente, se transforma. Porque nos Sabe visceralmente comprometidos com a criação de uma versão melhorada de quem somos, na nossa engrenagem, e enquanto peça de uma engrenagem ainda maior. Porque Sabe que soubemos ver, desde o primeiro momento, que a riqueza, está na diversidade que não exclui, mas que se complementa. Porque Sabe que nos forjámos na sua aceitação plena, sobreposta a qualquer direito natural. Porque Sabe, que sabemos, que ao forjarmo-nos na sua aceitação plena, garantimos a nossa perpétua renovação.
Porque Sabe que somos da raça que nunca vergará.
Não sei a que credo responderá Sabe. Não me importo de desconhecer-lhe a proveniência. Sou, afinal de contas, Sportinguista.
A história que aqui vos trago? É real, acontece ainda agora e terá sempre, um final feliz.
Saio da A9, enxotada pela temível (e odiosa) coluna de seguranças. Zarpam por ali acima à velocidade da luz, raios(partam). Persistem, sem esfarelar, perante os olhares mortíferos que lhes lanço. Verdadeiramente? São raios laser verdes que me saem pelos olhos. Começo por olhá-los de cima para baixo, na vertical, imaginando-os, qual fole desconchavado, a caírem às finas fatias, para os lados. Exaspero-me perante a constatação do meu falhanço, ziguezagueio o olhar, na esperança de lhes apanhar qualquer ponto nevrálgico com sucesso. Desço – invariavelmente – as escadas, (in)conformada, olhos semicerrados, extremidade do lábio superior esquerdo ligeiramente arqueada, a deixar ver o canino brilhante. Da próxima vez? Trago o Dodi. Quero ver só se se aproximam, ó carro vassoura do meu descontentamento.
Cruzo-me com muitas caras ao sair. Sorrio. Sorrio sempre. Desvio-me, desviam-se. Não me vêem – nunca me vêem – mas observo-vos. Carreirinhos de formigas apressadas, em todas as direcções. Não me vêem – nunca me vêem – mas vimo-nos há instantes. Somos as caras por detrás das luzes de telemóvel que se acenderam e que acenámos. Cruzo-me, sem saber quem é quem. Sei, contudo, o essencial: são Sportinguistas. Sabê-lo, é quanto basta para fazer-me sorrir(-vos).
Até à Rotunda do Leão, tento ainda perceber, sem sucesso, se seriam eslovacos ou eslovenos, alguns dos Leões de Ocasião. Os que nos devolvem a (prova empírica da) Glória (também além fronteiras) que somos. Viro à esquerda, passo pelo PJR, Loja Verde de luzes acesas e aquele Olha mãe! Está aberta! que me fez estremecer e enterneceu. Desejo, em silêncio, que a Mãe possa comprar-te o bocadinho de Sporting (físico) que a alegria da tua voz transporta já, pequenino. Chegou-te à alma, estou certa. Desejo, em silêncio, que a Mãe possa comprar-te o bocadinho de Sporting físico, que dará forma visível ao que te percorre a alma.
Enquanto saio do posto de abastecimento olho o José Alvalade atentamente, uma última vez. Conduzo agora ao seu encontro, à saída da Rotunda mergulho em direcção a casa, não sem antes passar pela casinha. Recuso-lhe maiúscula e olhá-la de frente. É na minha direita, colada à casa de todos nós, que concentro atenções. Constato-a menos povoada por capacetes, bastões e fardas azuis. Com o passar do tempo, todas as peças voltam ao seu lugar. Em retrospectiva, é sempre mais fácil perceber que somos todos peças de uma, e desta, engrenagem. E que todas as peças fazem parte da engrenagem maior. Volto à tona, recupero o sorriso momentaneamente perdido.
Voltámos à tona.
Faço a viagem de regresso à minha (outra) casa, sem a mais pequena suspeita de que dali a mais ou menos 12 horas, o João Carlos, vai (também ele) entrar a pés juntos ao meu coração. Sim, se o Senhor Felicidades no final do jogo pôs a mão no meu ombro direito e, sorridente, disparou um extraordinariamente doce Felicidades! que me deixou (dolorosamente) pregada à cadeira - quase sem reacção -, o João Carlos esmaga-me, ajuda-me a cada interacção (e sem sabê-lo) a colar os cacos em que todos ficámos. João Carlos. Ou JC. Ou Johnny. Prefere Johnny.
Prefiro JC. Talvez por sentir que Cristos terrenos, serão sempre a expressão mais fiel e digna, do Divino.
Interrogo-me muitas vezes como, ou por que razão, chegámos ao ponto a que chegámos. Sei, contudo, que o verdadeiro Amor, é paciente, bondoso, tudo perdoa, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, nunca perece. Sei, também, que a massa de que somos feitos resiste incólume à violenta erosão de existências madrastas.
A cal, também chamada cal viva, ou óxido de cálcio, em condições ambientes, é um sólido branco e alcalino.
O principal uso da cal viva é a produção de cal hidratada (hidróxido de cálcio). Para isto, dissolve-se a cal em água. A utilização da cal hidratada é difundida, principalmente em argamassas para alvenaria. Assim como o cimento, tem características aglomerantes. O endurecimento da cal ocorre pela absorção do dióxido de carbono presente no ar. Essa reação transforma a cal hidratada de volta em carbonato de cálcio (principal componente de rochas como os calcários).
[in Wikipedia]
Não sei o que diria de Carvalho (Galopim) mas creio que talvez tenhamos que ser todos – Sportinguistas –, um bocadinho ‘cal viva’ que se mistura com água. Parece que ao misturá-la com água (diluí-la?), absorve o dióxido de carbono presente no ar, o que, pasme-se, lhe confere características aglomerantes, tais como as do cimento.
Então e… se nos diluirmos um bocadinho? E se absorvermos um bocadinho (a parte útil d) o que nos envolve? Será que nos unimos? Talvez só assim consigamos ser argamassa que liga os tijolos da nossa comum edificação.
A nossa casa, Senhor Visconde de Alvalade, será sempre, primeiro, sua.
Disse-nos, no princípio, que queria que nos esforçássemos. Que nos dedicássemos. Que vivêssemos com Devoção. Seriam os passos para, enfim, alcançarmos Glória e sermos tão grandes como os maiores da Europa.
Pôs os olhos lá no alto, o Senhor Visconde. Pôs os olhos na eternidade.
Quis-nos, quiseram-nos na verdade, não circunscritos à sua realidade económico-social e geográfica, mas mobilizados por todo o país e, sempre, com os olhos postos bem lá no alto. Ditaram, fundadores do Sporting Clube de Portugal, os seus deveres fundamentais e que se sobrepõem a qualquer direito natural: Esforço, Dedicação, Devoção e Glória. É a nossa matriz.
A história que aqui vos trago? É real, acontece ainda agora, escrita pela mão de cada um de nós.
Olho uma vez mais com curiosidade para quem me rodeia. Ali, no lugar 14, fila 22, na (improvável) A9, no último jogo da época em Alvalade. Nunca tinha estado na A9. Sei agora que voltarei muitas vezes, e em breve, à A9. Voltarei em breve à A9 na (muito vã, eu sei) esperança, de (re)encontrar o Senhor Felicidades.
O Senhor Felicidades, sentado à minha direita, avô de (pelo menos) dois pequeninos a quem vestiu casacos verdes no final do jogo, entrou-me a pés juntos no coração. O Senhor Felicidades, teve-me no campo de visão o jogo todo mas apanhou-me, especial e perigosamente, as aflições da primeira parte. E o golo do capitão Fernandes. De Bruno Fernandes. E o golo dos outros, que sentenciou o resultado.
O Senhor Felicidades, seguramente mais de 70, ria-se, calmo, divertidíssimo, e completamente apaixonado pelo nosso grande Amor, já na segunda parte, quando falhámos golos atrás de golos. Amorosa descontração, a contrastar com minha incontida e sofrida incredulidade. Prova viva, e antiga, de como o (verdadeiro) Amor deve ser, o Senhor Felicidades. Paciente, bondoso, tudo perdoa, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, nunca perece.
O Senhor Felicidades, retirou o invólucro de plástico da caixa de pastilhas elásticas, guardou-o no bolso e distribuiu pastilhas pelos dois netinhos. O sabor? Melancia. Trident Senses, sabor melancia. Suponho que quando se aconchega e protege com casacos verdes – com tanto carinho - os netinhos (ali pelos 5 anos arrisco) e se tem um interior (visível) destes, pode-se, não se pode?
O Senhor Felicidades disse-me que já tinha muitos anos disto, que já sabe como é, andamos ali, a ameaçar, a ameaçar, não marcamos, olhe, e é isto, sofremos um golo logo a seguir. Com a maior das naturalidades e sem nunca deixar esmorecer o terno sorriso que tem marcado no rosto. É Sportinguista, o Senhor Felicidades.
Mentiria, se dissesse que foi só o Senhor Felicidades que marcou indelevelmente a minha primeira presença na A9 que (também) me levou ao João Carlos.
Ali, debaixo do mesmo chapéu e à minha direita, o elevado Senhor Felicidades, têxteis modestos; à minha esquerda, a muito audível Senhora, mãe de duas adolescentes, fã incondicional – e mesmo muito vocal – do capitão Fernandes, Bruno Fernandes, sapatilha Gucci (?) e, quiçá, pulseira Cartier. Atrás de mim, outra muito vocal Senhora, cujo pé/canela/joelho/perna esquerdos quase proporcionavam um encontro imediato com o meu nariz. Depois de Petrov/c, quase CALnarizvic? Uff… Linguarejar de difícil digestão, o da referida Senhora (Alfama? Alvor? Caxinas?) e que me fez virar para trás. Não volto a virar-me para trás, estejam descansados. Até porque a Senhora (farpela que não faria prever), saiu ao intervalo, para não mais voltar. Obrigada Visconde de Alvalade, foi o Senhor que a levou dali, não foi? Desconfio que sim, sabe? Todo o aspecto de ser – compreensível – iniciativa sua. Não nos esqueçamos que a nossa casa será sempre, primeiro, sua.
À minha frente, o Leãozinho asiático, aluno EAS Aurélio Pereira. Concentradíssimo no, estou certa, também seu grande Amor. O Sporting que veste e, simultaneamente, respira e vê dentro das quatro linhas. Nos meus sonhos? Nos meus sonhos, voltarei em breve à fila 22 da A9 para vê-lo dentro das quatro linhas e aplaudi-lo. Aplaudi-lo, com especial entusiasmo e emoção. A par do Leãozinho caucasiano e português, aluno da EAS Telheiras, das pequeninas, laçarote rosa nos cabelos, projectados pelos ares por ocasião do golo que filmei, são a prova viva do que sempre intuí, pese embora a ameaça, não tão longínqua assim, de PERes.
São a prova muito viva do caminho iniciado por Estela de Carvalho e a que Maria Serrano Sancho dá novo impulso. As muitas meninas. Pequeninas, pré-adolescentes, adolescentes, crescidas. Vocais, mais contidas, griffes, zaras, boho chiques, da cidade e da serra. Ali, na A9.
O que mais ver, se não Glória, e estar entre os maiores da Europa, na presença de inúmeros cidadãos não nacionais?
O presidente Santana Lopes? Chegou atrasado, é certo, e à pressa, esgar de cansaço típico desenhado pelos lábios, para rapidamente imprimir renovado impulso ao corpo, depois de desviar o olhar dos degraus, para o alto. Tinha a garantia da (sua) eternidade, lá no alto.
Atrás de mim, lá no alto, onde os nossos olhos devem sempre estar, um outrora presidente do Sporting. Podemos estar em atraso, cansados, mas, olhamos para o alto – onde os nossos olhos devem sempre estar, onde temos, afinal, a certeza da eternidade –, e continuamos a íngreme subida. Ou, se preferirem, continuamos, Dedicados a Esforçarmo-nos.
Obrigada, senhor Presidente. Obrigada, muitas vezes. Pela presença. Pelas mensagens. Ou pela prova de que até os Deuses, descem do Olimpo. Se calhar, só lá estão por saberem cá (em baixo) verdadeiramente estar. Obrigada, senhor Presidente. Obrigada, muitas vezes.
Contei-lhe que estive na Loja Verde, que toquei nas camisolas desta época. Enquanto o faço, espreito-lhe o rosto com redobrada atenção na expectativa de vislumbrar sinal de preferência por qualquer das actuais camisolas. Mostrei-lhas dois ou três dias depois do lançamento. Aquelas que têm os Xis? As desta época, têm a data da fundação em numeração romana, sim, JC.
Suspiro, confesso, já que a ideia de empregar 80€ numa camisola que acabará rapidamente roubada do estendal do acampamento onde mora (já aconteceu), me aborrece. Aborrecem-me, preço e o mais que expectável (novo) roubo.
Tem, não se pense, uma camisola preferida: época 2017/2018. A alternativa. A preta e verde néon. Adora o verde néon. Engoli em seco, há aqui semanas, quando partilhou a inusitada preferência. Procurei, em vão, a bendita camisola, agora, que sei que faz 50+3 dia 19 de Julho – é exactamente assim que comunica a sua idade, 50+3.
Macron.com, macron.pt, Loja Verde online, telefonema para o Porto – sede portuguesa da Macron –, telefonema para o Sporting, a pedir resposta ao e-mail enviado para a Loja Verde.
Nada.
Tenho imensa pena JC, mas essa, já só encontro em tamanho muito pequeno para criança, em Itália (de onde a Macron é), e nem sequer expedem para Portugal. Então mas do Benfica há aí por todo o lado. Ah! É que os Sportinguistas esgotam logo as camisolas não são como as galinhas! Ahahah!
Acaba-se-lhe o riso e acrescenta: Eu ainda pensei comprar uma na feira, mas depois, não estava a ajudar o Clube.
Não chegou a receber a camisola que diz ter conquistado numa (arriscada) aposta. Ganhou-a e não foi varrer a rua envergando uma saia. 8, Bruno Fernandes, nas costas, mas só se ele não sair. E acredita que nem o próprio Bruno quer sair, acredita que ele é Sportinguista e que quer ser campeão pelo Sporting. Perguntei-lhe porque não o seu nome e um número que seja importante para ele. Dia, ano de nascimento, por exemplo.
O meu nome!? Sousa? Ou Johnny? Naaaã, just leave it Bruno Fernandes.
O JC, que me corrige – zangado – sempre que o trato por senhor, educadíssimo, que nunca me pediu moedas ou cigarros, todo ele pudores na hora de perguntar quanto me custaram as peças de vestuário Sporting que visto, vive as minhas (poucas) idas a Alvalade com uma alegria à qual é impossível ficar indiferente. E, sim, está atento e informado. Sabe as medalhas que os atletas leoninos conquistam; acompanha as movimentações das janelas de transferências, comenta-as e estava, ao contrário de mim, absolutamente confiante de que íamos (Portugal) ganhar a Taça das Nações.
Não sei em que momento ou por que razão o João Carlos passou a viver, pelo menos parcialmente, à margem da sociedade.
Olho para o JC, e concluo o que as sucessivas conversas tidas ao longo destes dois meses deixam claro. A massa de que somos feitos? Resiste à erosão violenta de vidas madrastas. E fá-lo, com brio.
Interrogo-me muitas vezes como, ou por que razão, chegámos ao ponto a que chegámos. Não esqueço a indiferença que passou a marcar cruzares entre Sportinguistas, outrora alegremente cúmplices, na estação de serviço de Almodôvar. Não esqueço comentários, atrás de comentários, atrás de comentários, carregadinhos de fel, nas caixas de comentários por essa blogosfera fora. Sim, fel. Veneno endógeno que todos, sem excepção, carregamos.
Como é que o nosso grande Amor, nos trouxe tanto desamor? Uns pelos outros e ao ponto de a convivência tornar-se insuportável. Para não dizer insustentável. Foi a Senhora – consócia com 35 anos de vida associativa – que se apartou, ao conhecer-nos a orientação de voto. A minha e a de outra Senhora, conhecida também ali na fila de acesso ao PJR, favorável à expulsão mas assumida tia de um Sportinguista de 26 anos contrário à expulsão. Entreolhamo-nos, desconcertadas.
Pergunto-me se alguma vez voltaremos a conviver pacificamente.