Arrefecidas as emoções, dissipada a azia, se calhar é altura de evidenciar o evidente, nomeadamente:
1. Que João Pinheiro, que anda a ser levado ao colo pela APAF, juntou mais um episódio ao já vasto cadastro de roubos ao Sporting, quer como árbitro quer como VAR. A lista de roubos de que A Bola dá notícia hoje peca apenas por defeito.
2. Que Frederico Varandas, ao contrário de intervenções anteriores sobre a arbitragem onde quis dar confiança a um APAF Fontelas Gomes sempre disponível para lhe enfiar uma faca nas costas, esteve muito bem naquilo que agora disse sobre o tema. E é exactamente nesse registo que o Sporting deve continuar, sem "ladrar ao vento" sem quaisquer consequências como fazia Bruno de Carvalho, mas sem deixar de passar em claro, sem calimerices, apontando factos evidentes, a parcialidade deste CA / APAF e o ressabiamento de determinados árbitros e ex-árbitros agora VAR ou comentadores relativamente ao Sporting. Isso inclui denunciar quaisquer tentativas desta gente de montar esquemas potencialmente ainda mais mafiosos do tipo Organismo Autónomo de Arbitragem ou lá o que seja. Frederico Varandas teve o pleno do Sporting com ele, incluindo até aparentemente a JuveLeo, tenha ou não tido mais uma cena canalha e caricata de mandar tochas para a área do Adán com o Sporting a ganhar.
3. Que Rúben Amorim tem de medir muito bem o risco antes de ir atrás da vitória num jogo desfavorável em vez de segurar o empate. O campeonato é longo e todos os pontos contam, é pela segurança do controlo do jogo e não pelo risco do descontrolo que o Sporting lá irá, quem não gostar de ver o Sporting a jogar por vezes para trás e para os lados que mude de canal para o campeonato inglês. E a equipa ter isso bem presente também. Sim, mas o Sporting foi campeão a arriscar no final dos jogos e a apostar na anarquia criativa? Realmente foi mas duvido que volte a ser. Se for ao casino, arriscar e sair de lá rico, o melhor que tenho a fazer é jogar com calma na próxima vez que lá voltar.
4. Que Hugo Viana, de acordo com Amorim, precisa de reforçar o plantel no mercado de Inverno a começar pela linha média. Pretender que nesta época St. Juste seria um Diomande, Bragança um Matheus Nunes e Essugo um Ugarte, se calhar foi mesmo sonhar acordado. Pretender que Trincão seria um novo Sarabia também. Em vez de dois altos e louros, deviam ter vindo três ou quatro. O melhor onze do Sporting continua a ser o melhor onze da 1.ª Liga. O problema é quando deixa de poder estar em campo.
PS : Comentários de papagaios azuis, assumidos ou travestidos de sportinguistas ou tasqueiros, seguem directamente para a ETAR.
Não faltam adeptos indignados com o seleccionador nacional de futebol considerando inadmissível que Fernando Santos tenha excluído jogadores do Sporting da mais recente convocatória.
Eu não me excluo deste filme. Cheguei a agradecer ironicamente a Santos ter mantido Pedro Gonçalves à margem da lista que divulgou, enquanto chamava "craques" como João Félix e Pedro Neto.
Devo, porém, reconhecer que neste preciso momento nenhum dos jogadores portugueses que integram o plantel leonino merece alinhar na selecção A. Até Pedro Gonçalves - que teve prestação medíocre frente ao Santa Clara e um desempenho calamitoso contra o Marselha em Alvalade - está muitos furos abaixo da excelente prestação revelada na época em que fomos campeões.
Morita (pelo Japão), Coates e Ugarte (pelo Uruguai) são convocados com regularidade para as selecções dos seus países. E até Sotiris, suplente no Sporting, vem comparecendo na equipa nacional grega. Mas isso é outra história.
Mais depressa se justificaria hoje a chamada de Edwards à selecção inglesa e de Porro (fora as frequentes lesões) à selecção espanhola do que a convocação de portugueses.
As coisas são o que são e não aquilo que gostaríamos que fossem. Lamento muito.
Nos últimos doze títulos e troféus de futebol profissional disputados em Portugal, desde que Frederico Varandas ascendeu à presidência do Sporting, vencemos cinco. Tantos como Benfica e FC Porto somados. Os restantes dois são do Braga.
Fica a lista, indesmentível:
Sporting,5 - Campeonato 2021, Taça de Portugal 2019, Taça da Liga 2019, Taça da Liga 2021, Supertaça 2021
FC Porto, 3 - Campeonato 2020, Taça de Portugal 2020, Supertaça 2020
Benfica, 2 - Campeonato 2019, Supertaça 2019
Braga, 2 - Taça de Portugal 2021, Taça da Liga 2020
Pode ser surpreendente para alguns, até para uns quantos adeptos leoninos, mas nas últimas três épocas futebolísticas o Sporting é o clube português com mais títulos - a par do Porto e perdendo apenas um troféu na comparação com os azuis-e-brancos.
Em títulos, no mesmo período, o Benfica segue empatado com Aves e Braga.
Fica o inventário, para evitar certas inverdades que vou lendo e ouvindo por aí, até em órgãos de informação que tinham a obrigação de perceber um pouco mais de futebol:
- FC Porto: 3 títulos e 1 troféu (campeonato 2018, Supertaça 2018, campeonato 2020, Taça de Portugal 2020)
- Sporting: 3 títulos (Taça da Liga 2018, Taça da Liga 2019, Taça de Portugal 2019)
- Benfica: 1 título e 1 troféu (campeonato 2019, Supertaça 2019)
- Aves: 1 título (Taça de Portugal 2018)
- Braga: 1 título (Taça da Liga 2020)
Nestas coisas, o melhor é argumentarmos sempre com a linguagem dos números. Que não enganam.
Chegamos agora ao fim de mais uma década desportiva e, no capítulo do futebol, o balanço não podia ser mais desolador:
Campeonatos: zero.
Taças de Portugal: duas (2015 e 2019)
Supertaças: uma (2015)
Taças da Liga: duas (2018 e 2019)
Entre 2011 e 2020, portanto, apenas cinco troféus - nenhum deles o mais cobiçado - em 40 possíveis.
Só um por cada oito.
Nesta triste década tivemos cinco presidentes, um dos quais interino: José Eduardo Bettencourt, Godinho Lopes, Bruno de Carvalho, Torres Pereira e Frederico Varandas.
No mesmo período, passaram pela equipa principal do Sporting nada menos do que 16 treinadores: Paulo Sérgio, José Couceiro, Domingos Paciência, Ricardo Sá Pinto, Oceano Cruz, Franky Vercauteren, Jesualdo Ferreira, Leonardo Jardim, Marco Silva, Jorge Jesus, José Peseiro, Tiago Fernandes, Marcel Keizer, Leonel Pontes, Silas e Rúben Amorim.
Destes, apenas três inscreveram os nomes na galeria de vencedores: Marco Silva (uma Taça de Portugal numa só época em Alvalade), Jorge Jesus (uma Supertaça e uma Taça da Liga em três épocas) e Marcel Keizer (uma Taça de Portugal e uma Taça da Liga em dez meses). Todos foram despedidos após a conquista do último troféu - único, no caso de Marco Silva.
2
Campeonatos nacionais de futebol conquistados pelo Sporting por décadas, a partir dos anos 40:
1941/1950: cinco 1951/1960: cinco 1961/1970: três 1971/1980: dois 1981/1990: um 1991/2000: um 2001/2010: um 2011/2020: nenhum
Esta foi, portanto, a primeira década em que não conseguimos festejar sequer um título de campeões nacionais.
3
Enquanto não assimilarmos estes factos e estes números, extraindo deles as devidas conclusões, nada de significativo mudará no Sporting. Excepto para pior.
Cromo da série Salazar era lampião: o ditador, muito sorridente, posa com a equipa do "seu" Benfica em 1961. Entre outros jogadores, a imagem mostra Coluna, Costa Pereira, Germano, Cavém, José Augusto, Mário João, Cruz e Santana.
Vimos do Funchal com um empate: 1-1. O pior começo de campeonato do Sporting desde a época 2014/2015, quando sob o comando de Marco Silva empatámos pela mesma marca com a Académica em Coimbra.
Em Agosto de 2015, na jornada inaugural, vencemos fora de casa o Tondela por 2-1.
Nas últimas dez temporadas - sob as presidências de José Eduardo Bettencourt, Godinho Lopes, Bruno de Carvalho e agora com Frederico Varandas - o Sporting ficou sempre atrás do Benfica no campeonato português de futebol.
A última vez que ficámos à frente do velho rival foi na Liga 2008/09, quando o presidente leonino era Filipe Soares Franco.
Há que mudar isto: acredito que será nesta época prestes a começar.
O Observatório do Futebol da Universidade Europeia fez as contas às pontuações das equipas da Liga 2018/2019 antes e depois das oito "chicotadas psicológicas" já registadas na actual época futebolística.
Conclusão deste estudo, hoje revelado no jornal A Bola: cinco melhoraram a pontuação, uma ficou na mesma e três pioraram.
Em melhor posição está o Benfica: com Rui Vitória, o presente líder do campeonato tinha uma média de 2,13 pontos por jogo; com Bruno Lage, subiu para 3 pontos.
Seguem-se Boavista (0,89 com Jorge Simão, 2 com Lito Vidigal), Aves (0,71 com José Mota, 1,67 com Augusto Inácio) e Chaves (0,58 com Daniel Ramos, 1,09 com Tiago Fernandes).
A meio está o Marítimo: tinha só um ponto por golo com Cláudio Braga, manteve esta média com Petit.
Surgem enfim as equipas que, neste aspecto, mudaram para pior. E entre elas, lamento verificar, inclui-se o Sporting. Que com José Peseiro tinha 2 pontos em média por cada jogo e agora, sob a batuta de Marcel Keizer, baixou para 1,85.
Resta a fraca consolação de vermos duas equipas "chicoteadas" pior que nós: o V. Setúbal, que tinha 1,06 com Lito Vidigal e baixou para 0,8 com Sandro Mendes; e o quase despromovido Feirense (0,7 com Manta Santos e zero com Filipe Martins).
Marcel Keizer anda a decepcionar os adeptos leoninos desde os erros cometidos em Tondela, que nos valeram a derrota com a humilde turma local.
Não apenas por ter perdido dez pontos em nove jogos do campeonato, mas pelo abrupto abandono da "ideia de jogo" que proclamou ao chegar a Alvalade, quando fez a apologia do futebol de ataque, com a bola a rolar ao primeiro toque. E também por não acolher um dos princípios enunciados por Frederico Varandas na recente campanha eleitoral leonina, quando o então candidato assegurou que iria ser dada prioridade total ao futebol de formação: acabamos, pela primeira vez desde 2007, de entrar em campo sem um só elemento formado na Academia de Alcochete.
Não compreendo e dificilmente aceito a marginalização de Jovane e Miguel Luís, lançados no campeonato por José Peseiro e Tiago Fernandes.
Nem a contínua falta de aposta em Francisco Geraldes, que permanece sem calçar, limitando-se a aquecer o banco de suplentes.
Nem a persistente não-utilização de Luis Phyllipe, avançado que o holandês avalizou como reforço de Inverno.
Nem o recurso sistemático a Petrovic como suplente utilizado, até para posições em que o sérvio não revela qualquer rotina (caramba, não haverá um defesa na Liga Revelação com possibilidade de transitar para a equipa principal?).
Nem a insistência do técnico em não esgotar substituições com os jogadores claramente à beira da exaustão física.
Também o discurso conformista do treinador não cola com as legítimas ambições de sócios e adeptos.
É sem o menor agrado que deduzo isto: a presente "peseirização" do Sporting, a persistir, levará Keizer a ter um destino semelhante ao de Peseiro: já faltou mais para haver lencinhos brancos a esvoaçar nas bancadas.
Eu não gosto, mas quando se toleram comportamentos destes numa fase do campeonato, o mais provável é que tais gestos se repitam em fases posteriores. Tudo isto é tão previsível como os movimentos da nossa equipa na medíocre primeira parte que nos custou a perda de dois pontos frente ao V. Setúbal.
Quando José Peseiro foi despedido, entre manifestações de intensa euforia de muitos sportinguistas, incluindo aqui no blogue, seguíamos dois pontos atrás do FC Porto no campeonato e estávamos só um abaixo do Benfica (cumprido já o difícil desafio na Luz). Apesar de termos acabado de perder jogadores nucleares e atravessado um dos Verões mais conturbados de que há memória.
Hoje, após nove jornadas sob o comando de Marcel Keizer, vemos os portistas a dez pontos de distância e temos o Benfica cima pontos acima. Apesar dos reforços entretanto chegados a Alvalade.
Esta noite acompanhei na televisão a magnífica exibição do veterano Casillas, que defendeu um penálti aos 10', enchendo de confiança o onze portista, que a partir daí embalou para uma vitória folgada (por 3-1) frente ao Lokomotiv em Moscovo. Arrecadando 2,7 milhões de euros e qualificando-se praticamente para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões.
Enquanto via o jogo ia reflectindo na importância crucial de um guarda-redes na edificação de uma equipa com aspirações a títulos e troféus. E dei por mim a pensar que, embora tenhamos hoje quatro jogadores disponíveis para ocupar essa posição, todos somados não compensam a ausência de Rui Patrício.
Nas últimas nove temporadas - sob as presidências de José Eduardo Bettencourt, Godinho Lopes e Bruno de Carvalho - o Sporting ficou sempre atrás do Benfica no campeonato português de futebol.
A última vez que ficámos à frente do velho rival foi na Liga 2008/09, quando o presidente leonino era Filipe Soares Franco.
Leio com espanto, na blogosfera leonina e na própria imprensa, que o Sporting ficou "afastado do título" anteontem à noite. Não é verdade. O Sporting disse adeus ao sonho de reconquistar o campeonato nacional de futebol há dois meses, a 2 de Fevereiro, quando foi perder ao Estoril, com o último classificado da Liga 2017/18.
Chegou lá em primeiro, saiu em terceiro. Despedindo-se não apenas do título mas da hipótese, ainda que remota, de aceder à Liga dos Campeões.
As coisas são o que são, não adianta varrer os assuntos incómodos para debaixo do tapete. Manda a mais elementar honestidade intelectual reconhecer estes factos. E apontar os responsáveis em vez de, bem à portuguesa, empurrarmos os problemas com a barriga.
Aqui há um responsável principal: é o treinador mais bem pago de sempre do futebol nacional, Jorge Jesus.