O factor casa continua a pesar - e de que maneira. Que o diga a feliz selecção inglesa: em seis jogos já disputados neste Campeonato da Europa, cinco foram em casa. No estádio de Wembley, em Londres.
É decisivo em absoluto? Não, mas ajuda muito.
Basta ver os números: em 15 edições já realizadas do Europeu, o país organizador figurou 13 como semifinalista. E chegou cinco vezes à final.
Há três dias, as bancadas londrinas encheram-se novamente. Quase todos os que ali estavam, mais de 60 mil, puxavam pela selecção anfitriã.
Mesmo assim a Inglaterra não teve vida fácil neste embate contra a Dinamarca na meia-final restante do Euro-2021. De tal maneira que até esteve a perder: aos 30', Damsgaard, jovem craque da Sampdoria, abriu o marcador com um belíssimo golo: vai figurar decerto entre os dez melhores deste campeonato.
Foi o momento alto da Dinamarca. Mas nove minutos depois, a onda inverteu-se. Golo britânico, com ajuda nórdica: infeliz autogolo do capitão Kjer. Há já quem chame ao Euro-2021 o campeonato dos autogolos. Com este, já são onze. Em todos os anteriores só tinha havido três.
No segundo tempo, muita luta e muito cansaço. Aconteceu futebol, como apregoam os cultores das frases feitas. Com destaque, do lado dinamarquês, para o guardião Kasper Schmeichel - filho do nosso campeão do ano 2000 - com enormes defesas aos 55' e aos 73'. Também para o ala esquerdo Maehle e o central Vestergaard, intransponível.
Nas fileiras inglesas brilhou Sterling - de longe o astro-rei desta selecção. Com arte e técnica para tudo, até para cavar penáltis. E foi assim, graças a um penálti mais que duvidoso, que conseguiu a vitória para a sua equipa. Chamado a converter, Harry Kane falhou à primeira; Schmeichel voltou a brilhar entre os postes, defendendo; mas a bola sobrou para o ponta de lança inglês, que à segunda não perdoou.
Estava decorrido o minuto 104', já no prolongamento, fixando-se o resultado tangencial que permitirá aos ingleses discutir amanhã o título com os italianos. É a estreia da Inglaterra numa final de um Campeonato da Europa. Novamente em Wembley. Assim, para eles, tudo se torna um pouco mais fácil.
Era uma espécie de final antecipada: Itália e Espanha defrontaram-se esta noite em Londres. Num jogo muito táctico, em que houve muita luta mas poucos golos. Apenas dois - ambos marcados na segunda parte. No prolongamento, as duas selecções - à beira da exaustão - ficaram também em branco.
Espanha entrou em campo, espantosamente, sem ponta-de-lança. O seleccionador, Luis Enrique, só preencheu esta lacuna aos 62', quando mandou entrar Morata. Já os espanhóis perdiam 0-1, com um grande golo de Chiesa coroando um ataque muito rápido.
As duas equipas exibiram modelos de jogo muito diferentes. Espanha sempre com futebol apoiado, transportando a bola. Itália consentindo domínio do adversário e apostando tudo na qualidade do passe de Jorginho e Barella, no meio-campo e em transições muito rápidas pelos corredores laterais, a cargo de Insigne e Chiesa. Para servirem Immobile, em noite pouco inspirada.
Os italianos acusaram a ausência do lesionado Spinazzola, talvez o melhor ala esquerdo deste Europeu. Os espanhóis - superiores na primeira parte - tiveram em dois médios ofensivos, Pedri e Olmo, os melhores elementos. Mas o guarda-redes Unai Simón, que já protagonizara o maior frango deste Euro-2021, voltou a não convencer. Com pelo menos duas saídas em falso.
O empate surgiu aos 80', precisamente por Morata, saído do banco para render o apagado Ferran Torres. Espanha - após dois prolongamentos sucessivos nas partidas anteriores - tentou resolver o desafio no tempo regulamentar, mas faltou-lhe pontaria e critério para derrubar a muralha defensiva italiana, onde Chiellini e Bonucci ainda pontificam.
Na chamada "roleta dos penáltis", os italianos - com a esmagadora maioria dos 60 mil espectadores presentes no estádio de Wembley a puxar por eles do princípio ao fim - converteram quatro. O último, e decisivo, com Jorginho a dar espectáculo com um penálti à Panenka. Vale a pena rever. Os espanhóis só marcaram metade: Moreno e Thiago Alcântara meteram-na lá dentro, Olmo falhou e Morata permitiu a defesa de Donnarumma, um dos heróis da noite.
Já são conhecidos os quatro semifinalistas do Campeonato da Europa. Depois de italianos e espanhóis, apuraram-se dinamarqueses e ingleses.
A maior surpresa deste Euro-2021 tem sido a selecção da Dinamarca. Começou desfalcada, num jogo dramático, em que perdeu a sua figura mais emblemática: Eriksen, vítima de uma síncope, chegou a estar clinicamente morto no relvado. Felizmente foi salvo a tempo.
Parece que esta quase-tragédia deu alento suplementar à equipa nórdica, que em 1992 começou como outsider e terminou como campeã europeia. O trajecto que tem seguido, contra ventos e marés, revela essa capacidade de fazer das fraquezas força.
Foi o que aconteceu ontem, em Baku, frente à República Checa. Vitória categórica, começada a construir logo aos 5', com golo de Delaney. Aos 42', ampliaram a vantagem num belo golo de Dolberg, correspondendo da melhor maneira a uma assistência de trivela de Maehle, lateral esquerdo que joga com o pé direito e é titular da Atalanta.
A República Checa, após a dupla substituição operada ao intervalo, reagiu e tentou virar o resultado. Começou bem, aos 49', com um golo de Schick: o avançado do Bayer Leverkusen igualou Cristiano Ronaldo na lista dos marcadores do Europeu: estão ambos com cinco. Mas Cristiano ganha vantagem no confronto por ter menos minutos.
Houve muita incerteza, mas o resultado não se alterou. Destaque, nos checos, para o guarda-redes Vaclik (como é possível estar sem clube?), o médio ofensivo Barak e o avançado Vydra: todos são jogadores acima da média.
Mas a minha selecção favorita, não escondo desde o início, é a dinamarquesa. Além dos jogadores já mencionados, destaco o jovem avançado Damsgaard (que ontem fez 21 anos), o central Christensen (campeão europeu pelo Chelsea), o ponta-de-lança Poulsen (quase marcou, com um excelente disparo à baliza, aos 78'), o extremo Braithwaite e sobretudo o guarda-redes Kasper Schmeichel (enormes defesas aos 22', 46', 47' e 74'), filho do campeão leonino Peter Schmeichel. Teve um bom mestre lá em casa.
Os dinamarqueses chegam às meias-finais, 29 anos depois, sendo a segunda equipa mais goleadora do torneio: 11 golos. Só a Espanha, com um mais, conseguiu fazer melhor.
Dinamarca, 2 - República Checa, 1
.................................................
Finalmente, uma goleada inglesa. Aconteceu também ontem, em Roma - única partida que a Inglaterra disputa fora das ilhas britânicas neste Europeu. Contra a Ucrânia, que nunca tinha ido tão longe num torneio deste género.
Domínio absoluto da Inglaterra, que desde 1966 aspira à conquista de outro título europeu ou mundial. Parece bem encaminhada, agora também no capítulo do golo - desta vez marcou tantos como nos quatro jogos anteriores desta fase final.
Tem excelentes executantes - não apenas no plano físico ou táctico, mas também no plano técnico. Kane, Mount, Shaw, Sancho, Rashford, Phillips, Grealish, Folden, Henderson. E, acima de todos, Sterling - talvez o melhor interior esquerdo do futebol actual.
Seguem em frente com oito golos marcados e nenhum sofrido. É obra.
Itália mereceu passar às meias-finais, Espanha nem por isso. É a diferença entre uma selecção que deslumbra pelo seu futebol alegre e criativo e outra que se limita a picar o ponto neste irregular Euro-2021 num continente ainda marcado pela pandemia.
Os primeiros a entrar ontem em campo foram os espanhóis. Em Sampetersburgo, contra a Suíça estreante em quartos-de-final de uma grande competição futebolística. Seriam favas contadas, para muitos adeptos do país vizinho. Mas não foram. A "fúria" espanhola parece ter migrado para parte incerta: restou uma equipa desinspirada, incapaz de aproveitar um golo oferecido pelos suíços e a vantagem de jogarem com um a mais durante 48', o que faz uma diferença enorme nesta fase da competição.
Aos 120 minutos, esgotado o prolongamento, mantinha-se o 1-1 do tempo regulamentar. Nos penáltis, brilhou o réu da partida anterior, contra a Croácia: o guarda-redes Unai Simón, que defendeu dois. Destacou-se também Oyarzabal, que não vacilou quando chamado a converter - ao contrário de Rodri, médio do Manchester City, e do veterano capitão Sergio Busquets, único campeão mundial de 2010 que resta no plantel. Jordi Alba, campeão europeu por Espanha em 2012 tal como Busquets, apontara o golo do tempo regulamentar, beneficiando de um desvio de Zakaria.
Foi o único remate espanhol à baliza no primeiro tempo. Por parte da Suíça, nem isso.
A injusta expulsão de Freuler por acumulação de amarelos, aos 77', somada à lesão de Embolo antes da meia hora de jogo, virou o campo a favor de Espanha. Mas nem assim resultou, desde logo por uma exibição de luxo do guardião Sommer, sobretudo no prolongamento. Foi preciso muita incompetência suíça (só um penálti convertido em quatro marcados) na roleta das grandes penalidades para carimbar o passaporte do trajecto espanhol às meias-finais. Com muita sorte e pouco mérito.
Espanha, 1 - Suíça, 1(vitória espanhola 3-1 no desempate por penáltis)
.................................................
Futebol do bom, só aconteceu à noite. Em Londres, no Bélgica-Itália. Os primeiros tinham eliminado Portugal num jogo em que não conseguiram ser melhores em campo. Os segundos haviam afastado a Áustria num desafio muito sofrido.
Previa-se confronto intenso entre dois assumidos candidatos ao título europeu. E assim foi. Com predomínio italiano na primeira parte e ligeiro ascendente belga na segunda, em que os italianos pareceram sempre mais preocupados em defender a vantagem (2-1) alcançada ao intervalo.
O triunfo foi construído nesse primeiro tempo. Com o trio composto por Insigne, Immobile e Chiesa a brilhar nas rápidas incursões à grande área belga e Jorginho a pautar as operações no meio-campo.
O primeiro golo surgiu aos 31', pelo capitão do Inter, Barella, numa jogada de insistência, fuzilando Courtois após ter driblado três adversários. O segundo - um dos mais espectaculares deste Euro-2021 - surgiu dos pés de Insigne, fazendo jus ao nome: magnífico remate em arco, a meia-distância, aos 44'. Courtois nada podia fazer.
Com um futebol sempre muito apoiado, abrindo sucessivas linhas de passe e garantindo equilíbrio no meio-campo, os italianos confirmaram-se como a selecção com melhor média de remates neste Europeu. Exibições de luxo do guarda-redes Donnarumma, de Chiesa e Spinazzola - este, infelizmente, forçado a abandonar aos 77', de maca, com lesão grave. O Campeonato da Europa terminou para ele.
Os belgas, com o lesionado Eden Hazard fora do onze titular, podiam ter marcado por De Bruyne aos 22' e Lukaku aos 26' e aos 61'. Mas só o fizeram graças a um penálti convertido por Lukaku, aos 45'+2, a castigar derrube de Doku à margem das regras.
A Itália apenas conseguiu ser campeã europeia em 1968 e parece seriamente apostada em repetir essa proeza, 53 anos depois. Quanto à Bélgica, que tomba nos quartos-de-final após ter sido afastada pela França nas meias-finais do Campeonato do Mundo de 2018, continua sem justificar o absurdo destaque que a FIFA lhe atribui como selecção mais cotada do planeta futebol. Que raio de trono é este, alcançado sem uma só vitória até hoje num Mundial ou num Europeu?
Assumindo que a Inglaterra chega à final do Europeu – embora eu aposte as fichas todas na Bélgica -, os ingleses irão realizar todos os jogos em casa, com excepção do jogo dos quartos de final, contra a Ucrânia e que será em Roma.
Numa primeira análise, poder-se-ia concluir que em todas as competições deste tipo há, sempre, uma selecção que joga em casa e que, embora evidencie alguma vantagem, não significa, inexoravelmente, o triunfo na competição.
É verdade. Dolorosamente, somos transportados, quase de imediato, para o Europeu de 2004. Contudo, neste Europeu, a vantagem da Inglaterra é muito diferente daquela que resulta dos pretéritos Europeus.
Enquanto que antes as selecções forasteiras só tinham de deslocar-se dentro do país anfitrião e, por norma, até mantinham os seus quartéis-generais durante toda a competição, neste Europeu algumas selecções andaram numa azáfama inusitada, com viagens para trás e para a frente, o que, obviamente, representa um cansaço acrescido.
Só para exemplificar o que precede, gostaria de referir que a Bélgica, só na fase de grupos, efectuou 9.157 km, enquanto a Inglaterra efectuou as idas ao supermercado.
Texto do leitor Francisco Gonçalves, publicado originalmente aqui.
A Inglaterra está a ser levada ao colo, como ficou evidente neste Inglaterra-Alemanha jogado em Londres num estádio praticamente cheio apesar de o Reino Unido estar novamente com aumento de casos de infecção por Covid-19 - ao ponto de nas últimas 24 horas ali terem sido registados 26 mil novos contágios, sem que isso pareça incomodar as sumidades da UEFA.
Dos quatro jogos da Inglaterra disputados até agora, três foram em Wembley. O outro ocorreu em Glasgow. Assim tudo se torna mais fácil.
Chovem as críticas a Fernando Santos porque Portugal, em quatro jogos disputados no Europeu, só conseguiu uma vitória. Esquecendo que um dos empates foi de uma injustiça clamorosa: o penálti apontado a Nélson Semedo no Portugal-França que permitiu à selecção gaulesa empatar connosco nunca existiu. De tal maneira que este grave erro até ditou a exclusão do árbitro espanhol das fases seguintes da prova.
Em suma: um falso penálti que, se tivesse sido assinalado numa competição interna, estaria a ser discutido durante semanas pelos mesmos adeptos que agora nem o contestaram só porque isso não lhes dá jeito nos protestos contra o seleccionador.
De qualquer modo, fraca tese, essa da vitória solitária. Porque a própria França, orientada por Didier Deschamps, também foi afastada do Europeu só com um triunfo (contra a Alemanha). O mesmo ocorreu com a Croácia, treinada por Zlatko Dalic: a vice-campeã mundial saiu do Campeonato da Europa com apenas uma vitória no currículo (contra a Escócia). Sem esquecer a Alemanha, afastada igualmente do Euro-2021 sem conseguir melhor do que um triunfo solitário em quatro partidas (os 4-2 a Portugal, com autogolos de Rúben Dias e Raphael Guerreiro).
É a vida, como dizia o outro. A conquista do Campeonato da Europa, tudo o indica, será alcançada por um não-favorito.
Má notícia para nós? Nem pensem nisso. Foi exactamente o que nos aconteceu no Euro-2016. E, já agora, também ao Sporting no campeonato 2020/2021.
Não é verdade: o Europeu continua. E está mais emocionante que nunca, com desfecho imprevisível.
Várias das selecções consideradas favoritas - França, Alemanha, Croácia, Holanda - sem esquecer Portugal - já foram eliminadas antes da actual fase, os quartos-de-final.
Restam oito: Bélgica, Dinamarca, Espanha, Inglaterra, Itália, República Checa, Suíça e Ucrânia.
Na vossa opinião, qual é a que tem mais hipóteses de suceder a Portugal como campeã europeia neste Euro-2021?
Surpresa após surpresa. Desta vez foi a selecção germânica que ficou encostada às cordas. Eliminada dos oitavos-de-final do Europeu, como já sucedera com Portugal, França, Holanda e Croácia. Mesmo tendo ainda vários jogadores que há sete anos se sagraram campeões do mundo. Como Neuer, Kroos, Ginter, Hummels e Thomas Müller.
Soou a vingança portuguesa? Talvez, mas foi sobretudo a confirmação da extrema competência da selecão inglesa, candidata ao título. Beneficiando do facto de jogar em casa: as bancadas em Wembley estavam preenchidas com ruidosos adeptos, não faltando sequer um neto e um bisneto da Rainha.
Este Inglaterra-Alemanha começou cheio de cautelas tácticas, com as equipa a medirem-se - o que ficou espelhado no empate a zero registado ao intervalo. E que só se desfez aos 75', num soberbo rasgo individual de Sterling - a grande figura deste desafio - que começa e conclui o lance, após tabelinha com Grealich, outro craque inglês, prestes a transitar do Aston Villa para o Manchester City.
Estava aberto o cofre. Previa-se enérgica reacção dos alemães, reforçados com a entrada de Gnabry, um dos maiores desequilibradores da equipa. E o empate esteve a centímetros de acontecer, aos 81', quando Müller, isolado, rematou em jeito fazendo a bola rasar o poste.
Funcionou como sinal de alerta para os ingleses, que redobraram a ofensiva à baliza adversária. Materializada num segundo golo, aos 86', por Harry Kane. O rei dos goleadores no Mundial-2018 estreou-se enfim a marcar neste Europeu.
Portugal teve saída prematura. Com direito a este pequeno prémio de consolação: os nossos parceiros do chamado "grupo da morte" despedem-se ao mesmo tempo do Euro-2021. Em futebol, o destino dos favoritos muitas vezes é este: abandonar o palco mais cedo. A hora parece ser dos intérpretes secundários.
Estou com Fernando Santos quando entende a selecção como uma equipa, seleccionando conforme as necessidades da mesma e não como prémio para os bons desempenhos nos clubes, e previlegiando o espírito de equipa e o compromisso de todos. Tempos houve em que não foi assim, havia grupos e grupinhos, houve Saltillo e houve muito mais. Até aí tudo bem.
Fernando Santos fez as suas escolhas e levou para o Euro um plantel alargado, numa linha de continuidade com as escolhas anteriores, Cancelo ficou de fora definitivamente e não se percebe bem porquê, foi substituído por Dalot. Nestes quatro jogos os onze foram variando, as substituições também, e no fim alguns jogadores nem sequer calçaram.
Mas ficou evidente que houve escolhas difíceis de entender como a de William Carvalho depois duma época para esquecer, e muitos jogadores gastos por temporadas exigentes e que nunca mereceram a titularidade.
E, pelo menos para mim, ficou a frustação de nunca ter visto um onze mais coincidente com uma selecção que procurasse a felicidade em vez de esperar sentada que ela acontecesse.
O onze que gostaria de ter visto era o seguinte:
Rui Patrício; Cancelo, Pepe, Rúben Dias e Nuno Mendes; Danilo; Renato Sanches, Bruno Fernandes e Pedro Gonçalves; Cristiano Ronaldo e André Silva.
Depois há alternativas óbvias, Palhinha podia muito bem ter alternado com Danilo na posição de trinco, embora Danilo funcione melhor na articulação com os centrais, Raphael Guerreiro em vez de Nuno Mendes em momentos de reforçar o ataque, Dalot em qualquer dos lados para defender ou Pedro Gonçalves e André Silva a alternar com Jota, Bernardo Silva ou João Félix. Mas Renato Sanches e Bruno Fernandes, como Pepe e Rúben Dias, e obviamente Cristiano Ronaldo, seriam sempre titulares e a sair só por cansaço.
Quem não tinha lugar nem no onze nem no banco eram William Carvalho, João Moutinho, Nelson Semedo e Rafa.
Mas isto sou eu a pensar.
Qual seria o onze que gostariam de ter visto no Euro?
Depois do campeão europeu, também o campeão do mundo e o vice-campeão mundial caíram neste Euro-2021, ficando-se pelos oitavos-de-final. Comprovando que a realidade do futebol jogado é muito mais complexa do que as teorias de café ou de sofá.
Este foi um dia de festa para o futebol. Um dia em que se marcaram 14 golos, em Bucareste e Copenhaga.
Um dia com dois jogos de resultado incerto até ao fim.
.................................................
Um desses desafios, o França-Suíça, só ficou decidido após o prolongamento, por pontapés de grande penalidade: persistia o 3-3 aos 90 minutos. Aqui a sorte sorriu aos suíços, que aliás fizeram por merecê-la: no momento decisivo, o do quinto penálti, um dos melhores jogadores do mundo, Mbappé, permitiu a defesa de Sommer, esta noite com uma exibição de luxo na capital romena.
O resultado foi oscilando. A Suíça marcou primeiro, por Seferovic, fixando o resultado ao intervalo. No recomeço, os suiços tiveram uma flagrante oportunidade de ampliar a vantagem para 2-0. Mas o lateral Ricardo Rodríguez, chamado a converter, viu a bola ser travada pelo experiente Lloris.
A França embalou então para a reviravolta. Com dois golos em dois minutos apontados por Benzema, regressado após cinco anos fora da selecção, e um monumental golo de Pogba - desde já candidato a um dos mais belos do torneio. Estavam decorridos 75', os franceses venciam 3-1, o desfecho parecia garantido. Mas houve combate até ao fim: Seferovic marcou o segundo aos 81' e Gavranovic fixou o empate aos 90'. Confirmando que o futebol pode ser um dos espectáculos mais emocionantes do mundo.
Destaque na Suíça - além dos jogadores já mencionados - para o médio defensivo Xhaka, jogador do Roma, e o excelente ala esquerdo Zuber, do Eintracht Frankfurt. Merecem esta passagem da Suíça aos quartos-de-final, o que acontece pela primeira vez num Europeu.
França, 3 - Suíça, 3 (vitória suíça 5-4 no desempate por penáltis)
.................................................
Emocionante também o Croácia-Espanha, disputado a meio da tarde na capital dinamarquesa. Com um lance caricato do guarda-redes Unai Simón, que aos 20' deixou a bola atrasada por Pedri encaminhar-se lentamente para o interior da baliza, tentando pontapeá-la sem conseguir. Uma cena digna dos "apanhados".
Mas Sarabia - médio do PSG, um dos melhores em campo - repôs a igualdade aos 38'. Depois do intervalo, os espanhóis carregaram no acelerador e viram-se recompensados com dois golos - de Azpilicueta (57') e Ferran Torres (76'). O triunfo parecia garantido no tempo regulamentar, mas era engano: a Croácia conseguiu repor o empate. Com golos de Orsic (construído por Modric) aos 85' e de Pasalic aos 90'+2.
Foi-se para prolongamento, com vários jogadores à beira da exaustão. Aqui foi Morata - o patinho feio da selecção espanhola - a fazer a diferença, marcando o quarto da sua equipa, aos 100'. Belíssimo golo: recebeu a bola em zona frontal com o pé direito e rematou forte com o esquerdo. Oyarzabal confirmaria o triunfo aos 103'.
Mas os croatas, vice-campeões mundiais, não baixaram os braços. Saem de cabeça erguida: lutaram até ao fim. Confirmando que este dia merece ficar inscrito na história do futebol.
No primeiro jogo do tudo-ou-nada, houve um tropeção. Que nos foi fatal. Frente à selecção belga, classificada como número 1 do mundo pela FIFA. Derrota tangencial em Sevilha, perante 14 mil espectadores nas bancadas: os belgas marcaram na única verdadeira oportunidade que tiveram num brilhante lance individual de Thorgan Hazard, aos 42'. Enquanto nós fomos incapazes de a meter lá dentro: houve 24 remates, grande parte dos quais por cima ou ao lado. O melhor - por Raphael Guerreiro, de pé direito - embateu no poste, aos 83', já com Courtois batido. Aos belgas, com apenas 44% de posse de bola e sem um só canto a seu favor, bastou rematar seis vezes para vencer.
Claro domínio português na segunda parte que foi crescendo de intensidade até ao apito final. Mas que só se tornou indiscutível quando Fernando Santos, com manifesto atraso, fez as substituições que se impunham: tirou Bernardo Silva e João Moutinho, os elementos mais fracos do onze titular, metendo em campo João Félix e Bruno Fernandes, que refrescaram a equipa e lhe deram alguma acutilância. Sobretudo só a partir daí os nossos flancos passaram a funcionar em dinâmica ofensiva.
Bernardo nunca conseguiu acelerar o jogo e foi incapaz de fazer a diferença lá na frente. E teve também responsabilidade no golo belga: Thorgan bateu-o em velocidade e o avançado do City ficou a marcar com os olhos, consentindo o remate de meia-distância. Também Rui Patrício pareceu algo lento a reagir e mal posicionado, apesar de a bola ter entrado no centro da baliza.
Dos onze que entraram de início, neste jogo em que tivemos menos 48 horas para descansar do que os "diabos vermelhos", havia seis campeões europeus: Rui Patrício, Pepe, Guerreiro, Moutinho, Renato Sanches e Cristiano Ronaldo. O capitão português, muito marcado, desta vez foi incapaz de fazer a diferença - excepto num livre directo que levava selo de golo mas acabou interceptado por Courtois, o melhor em campo. Estavam decorridos 25 minutos: era o nosso primeiro remate enquadrado. O que resume em larga medida a nossa primeira parte, em que abdícámos da iniciativa atacante, sobretudo pelos corredores laterais. E só despertámos para a pressão no segundo tempo, correndo atrás do prejuízo.
Tivemos 88% de eficácia de passe. Mas a finalização, do nosso lado, parecia ter rumado a parte incerta. Palhinha, João Félix, Bruno Fernandes e o próprio Ronaldo falharam neste capítulo. Bernardo nem tentou. Mas o destaque pela negativa vai para Diogo Jota, uma autêntica nulidade. Isolado por Renato logo no minuto 6, num passe em lance corrido que cheirava a assistência para golo, o avançado do Liverpool rematou muito torto, bem para longe da baliza. Titular absoluto neste Europeu, nunca demonstrou ter qualidade para merecer a confiança que o seleccionador lhe deu. Aos 58', voltou a falhar com estrondo - desta vez assistido por Cristiano.
Pepe anulou bem Lukaku, o adversário mais temível. Palhinha neutralizou De Bruyne, um dos melhores jogadores do mundo. Guerreiro chegou e sobrou no confronto individual com Meunier. O problema da nossa equipa residia lá na frente: demasiados nervos à solta, demasiada intranquilidade, demasiada incompetência.
Campeões europeus desde 2016, cinco anos depois vamos ceder o título a outra selecção. Que bem pode ser a belga, embora também italianos e franceses sejam sérios candidatos. É verdade que nunca a Bélgica apresentou uma equipa tão forte num Campeonato da Europa. Mas não é menos certo que esta é a primeira vez em que somos afastados em fase tão prematura de um Europeu. Os nossos piores desempenhos antes deste aconteceram em 1996 e 2008, quando caímos nos quartos-de-final.
Todos os ciclos têm o seu fim. O do seleccionador Fernando Santos - que prescindiu de Nuno Mendes e Pedro Gonçalves, campeões nacionais pelo Sporting que nunca calçaram neste Euro-2021 - aproxima-se do epílogo. Mas esse é outro debate: haverá tempo e espaço para o fazer. Talvez só após o Mundial que vai disputar-se no Catar em 2022.
Bélgica, 1 - Portugal, 0
.................................................
Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Frente à selecção n.º 1 da FIFA, acabou por ter pouco trabalho. O golo belga foi a única ocasião em que enfrentou verdadeiro perigo. Infelizmente teve reflexos mais lentos do que Courtois na baliza contrária ao negar golos a Cristiano Ronaldo e André Silva.
Diogo Dalot - Estreia absoluta a titular pela selecção A. No essencial, cumpriu no capítulo defensivo. Mas foi demasiado tímido nas incursões ofensivas, sobretudo no primeiro tempo. Comportamento infantil aos 51', chutando a bola com o jogo parado: custou-lhe o cartão amarelo.
Pepe - O mais velho jogador de campo do Euro-2021, com 38 anos, voltou a ser pedra basilar. Imbatível no eixo da defesa, enfrentou com êxito Lukaku. Corte exemplar aos 66', negando o golo ao artilheiro do Inter. No quarto de hora final foi jogar lá na frente, como se fosse avançado.
Rúben Dias - Fez boa parceria com Pepe. Ambos tinham pela frente uma selecção que marcou 40 golos na fase de apuramento e não se deixaram atemorizar por isso. Cabeceou com perigo, aos 82', após canto de Bruno Fernandes. Com outro guarda-redes talvez tivesse entrado.
Raphael Guerreiro - A sua melhor exibição do Europeu ocorreu neste desafio. Corte impecável aos 40'. Redobrou de protagonismo ofensivo na segunda parte, com vários cruzamentos bem medidos. Esteve quase a marcar aos 83': Courtois já estava batido mas a bola foi ao poste.
Palhinha - Ganhou estatuto na selecção, como ficou comprovado neste jogo - o seu primeiro como titular no Europeu. Infelizmente, foi também o último. Não merecia voltar já para casa: bom desempenho na recuperação e no desarme. Só falhou no disparo de meia-distância.
João Moutinho - Incompreensível, esta reiterada aposta do seleccionador. Precisávamos de um acelerador de jogo no eixo do terreno: rápido, vertical, incisivo. Moutinho não tem nenhuma destas características. Saiu aos 56', comprovando que o tempo dele na selecção acabou.
Renato Sanches - Com 91% de eficácia de passe, talvez o melhor português neste jogo. No primeiro tempo foi o que mais tentou remar contra a maré: desequilibrou, transportou com qualidade, nunca deu um confronto por perdido. Quase assistiu para golo aos 6'. Saiu aos 78'.
Bernardo Silva - Outro mistério: como é que foi titular nos quatro jogos de Portugal neste Europeu? Voltou a ter uma exibição medíocre, tanto no flanco direito ofensivo como em missão defensiva: tem clara responsabilidade no golo belga, ao deixar fugir Hazard. Saiu só aos 56'.
Diogo Jota - Divide com Bernardo o "prémio" de pior em campo. Pedia-se goleador - e falhou em toda a linha. A ala esquerda, onde actuou, ficou sempre desequilibrada: quase não ganhou um confronto individual e parecia até fugir da bola. Espantosamente, esteve em campo até aos 70'.
Cristiano Ronaldo - Nem ele conseguiu fazer a diferença. Mas se há jogador que não merecia ir mais cedo para casa é precisamente o capitão. A primeira clara oportunidade de golo foi dele, na marcação de um livre, aos 25': Courtois defendeu in extremis. Aos 58', assistiu para Jota falhar.
João Félix - Saltou do banco (56'), rendendo Bernardo. Procurou a bola mas faltou-lhe talento na zona da decisão. Cabeceou à figura, aos 61'. Atirou por cima aos 82', rematou ao lado aos 90'+4. Tentou mergulhar para a piscina, cavando um livre. O árbitro não se deixou enganar.
Bruno Fernandes - O que se passa com o melhor jogador da Liga inglesa? Desta vez só entrou aos 56', por troca com Moutinho. Aos 82', marcou bem um canto que podia ter dado golo. Mas falhou remates quando se exigia mais precisão: atirou muito por cima aos 62' e aos 90'+2.
André Silva - Imperdoável, a escassíssima utilização neste Europeu do segundo melhor artilheiro da Liga alemã. Neste jogo entrou aos 70', substituindo o inútil Jota. Desperdiçou um bom passe de Bruno Fernandes (80'). Mas quase marcou aos 88': Courtois, atento, impediu o empate.
Sérgio Oliveira - Entrou aos 78', para refrescar o meio-campo, substituindo um exausto Renato Sanches. Tentou dar consistência e acutilância às nossas acções ofensivas, infelizmente sem oportunidade para testar o seu famoso pontapé de meia-distância.
Danilo - Entrou aos 78', rendendo Palhinha, já amarelado. Útil nas dobras defensivas, numa fase em que Pepe já actuava lá na frente, como se fosse um avançado. Desarmou Lukaku aos 86'. Esteve melhor ainda, abortando uma ofensiva muito perigosa de Carrasco, aos 90'+4.
Vai fazer agora cinco anos, no Campeonato da Europa em França, chegámos aos oitavos de final com menos um ponto do que agora. Após empates com Islândia, Áustria e Hungria.
Depois, nos oitavos, enfrentámos a Croácia de Modric - que em 2018 se sagrou vice-campeã mundial. Desafio difícil: os croatas acabavam de derrotar a favorita Espanha (então ainda campeã europeia em título) e tiveram mais 48 horas de descanso do que a equipa das quinas entre a fase de grupos e a fase a eliminar.
Foi um desafio com desfecho incerto quase até ao apito final. Após o zero-a-zero aos 90' (como ontem, no Áustria-Itália) seguiu-se o prolongamento. E aos 117' ocorreu isto, que na altura relatei aqui: «Cristiano Ronaldo, muito marcado, pareceu ausente durante grande parte do encontro. Mas na hora decisiva lá estava ele, aproveitando bem uma diagonal aberta por Nani e rematando por instinto, com força suficiente para o guarda-redes croata largar a bola, o que permitiu a recarga vitoriosa de Quaresma, estreante a marcar em fases finais de Europeus.»
Sem espinhas: transitávamos para os quartos-de-final.
E agora, como será?
Aguardo com expectativa os vossos prognósticos para este Portugal-Bélgica - a Bélgica de Lukaku, De Bruyne, Courtois, Meunier, Ferreira-Carrasco e dos irmãos Hazard.
Começa mais logo, a partir das 20 horas. Em Sevilha, onde após muitos avanços e recuos o Estado português estará representado pelo ministro da Educação. Presidente da República, presidente da Assembleia da República e primeiro-ministro ficam em casa.
Já tinha confessado aqui a minha simpatia pela selecção da Dinamarca. Foi portanto com muita satisfação que assisti hoje ao primeiro desafio dos oitavos-de-final do Euro-2021: vitória categórica dos dinamarqueses em Amesterdão, anulando por completo o País de Gales. O onze de Bale e Ramsey foi incapaz de conter o futebol ofensivo da turma nórdica.
O herói desta goleada foi um suplente: Dolberg, ponta-de-lança do Nice, só entrou no onze por lesão de Poulsen. Em boa hora: foram dele os dois primeiros golos, aos 27' e aos 48'. O terceiro - marcado por Maehle aos 88' - merece ser revisto várias vezes: é um dos melhores deste Europeu. Mas a conta só fecharia aos 90'+3, com golo assinado por Braithwaite: o avançado do Barcelona foi o maior desequilibrador da Dinamarca e um dos artífices desta vitória, certamente dedicada a Eriksen.
Wass, o lateral direito que parece estar na mira do Sporting, nem no banco se sentou - ao que parece devido a uma indisposição. Talvez o vejamos actuar nos quartos-de-final.
Há cinco anos, o País de Gales saiu mais tarde do Europeu, só na meia-final em que defrontou a selecção portuguesa. Desta vez vai embora mais cedo: Bale terá mais tempo para se dedicar ao golfe.
.................................................
Enorme sofrimento italiano, esta noite em Wembley, no embate com os austríacos. Aos 90 minutos mantinha-se o empate a zero, foi necessário jogar mais meia hora. Aí impôs-se a superior condição física da squadra azzurra, que descansou mais 24 horas antes desta partida dos oitavos, além de ter poupado vários titulares no desafio contra o País de Gales, quando tinha o apuramento já garantido.
A solução veio do banco: Chiesa, lançado em jogo só aos 85', desfez o nulo no prolongamento, aos 95'. O segundo golo italiano - aos 105' - teve a assinatura de Pessina, outro suplente utilizado. Mas a Áustria, com sólida organização colectiva e melhor exibição do que o adversário na segunda parte, não baixou os braços. Kalazdjic reduziu aos 114' e a hipótese de tudo ser decidido por penáltis permaneceu em aberto até ao fim.
Os austríacos saem de cabeça levantada, os italianos tremeram nesta que foi - de longe - a sua pior exibição neste Europeu. Apesar de contarem com o caloroso apoio de grande parte dos espectadores no estádio. Destaque para as exibições dos dois alas direitos: Alaba pela Áustria e Spinazzola por Itália. Estes sim, eu gostaria de ver jogar pelo Sporting.
Entretanto conseguimos mais pontos do que a Dinamarca e a Ucrânia, que passam à fase seguinte com duas derrotas cada, e mais cinco golos do que a Inglaterra, qualificada com apenas duas bolas metidas nas redes adversárias.
Terminamos a fase de grupos com os mesmos pontos da Croácia, vice-campeã mundial. E do que a Alemanha, a Suíça e a República Checa.
Para alguns portugueses adeptos de futebol, estranhamente, em vez de ser tempo de festa parece ser tempo de luto.
Foi realmente uma noite de sofrimento e prazer a de ontem, que tive a ocasião de partilhar algures no Minho com um conjunto de amigos do desporto, na maioria Sportinguistas.
Por um lado havia o desafio que estávamos a ver, mas por outro o que não víamos mas que ouvíamos pela voz dum mais atento ao telemóvel e do qual só se ouviam más noticias.
E o que estávamos a ver durante muito tempo não servia para nada tendo em consideração o que se estava a ouvir.
E tudo acabou por correr "à Fernando Santos". Duas equipas bem encaixadas, uma mão bem na testa, outra mão no avançado que se isola, outra mão na bola, mais outra mão a desviar a bola para o poste, empate e não se fala mais nisso.
Claro que a equipa melhorou, mas pior do que contra a Alemanha era difícil, e no final tudo óptimo, fomos os únicos a ganhar à Hungria e por números que nos garantiram o apuramento, vamos apanhar um daqueles bons fregueses que se fartam de jogar na primeira fase e logo vão para casa satisfeitos, isto está a compor-se...
PS: Palhinha: calma, calma, rapaz... vem aí a Champions...
Do alto da minha sapiência futebolística e munido do meu diploma de nível 0 (zero) de treinador de futebol, agora que saímos bem vivos (diria até que ressuscitados) do grupo da morte, com um conhecimento acumulado de mais de 50 (cinquenta) anos a ver futebol ao vivo e nas pantalhas, cá vai a minha análise a esta fase de grupos, concretamente ao grupo onde a selecção portuguesa se exibiu:
Começou bem o grupo comandado pela dupla Santos (o Fernando e a santinha) com uma vitória expressiva, veio a confirmar-se agora, até porque um resultado por três de diferença numa fase final duma competição destas é já considerado uma goleada. Vitória tardia que não tínhamos entendido muito bem, até vermos a Hungria empatar com a França e a poderosa Alemanha empatar (esteve a perder por duas ocasiões) com os magiares. Tivessem ficado por resultado igual e não viajaríam até Sevilha para defrontar a Bélgica.
Isto confirma a teoria popular (o povo tem sempre razão) de que candeia que vai à frente alumia duas vezes e "desconfirma" a do meu amigo Maia, cigano, que diz que os da sua etnia não gostam de ver bons princípios aos filhos, ou até a que todos nós que em miúdos jogávamos à bola na rua defendíamos, quando o muda aos seis e acaba aos doze estava a correr mal, que o primeiro milho é dos pardais.
Foi esse milho que deu respaldo e energia para a equipa resistir e ressurgir depois de um tornado que apareceu com nome de Alemanha e lhe infligiu uma derrota pesada, que chegou a ter contornos e previsão de tragédia, mas que no final, sendo mau, não foi assim tão mau como a exibição. A coisa poderia ter sido pior e tememos todos por isso. Verificou-se que a teimosia, não sabemos se do Fernando se da santinha, que parece que eles às vezes não se entendem e é preciso invocar outros postos na hierarquia, desta vez tinha passado os limites, ao colocar em campo um team onde pontuaram alguns elementos, como hei-de dizer... lentos? Apáticos? Ausentes? Incompetentes? Escolham, façam-me o favor, ou juntem tudo, estejam à vontade.
A gente sabe que era a Alemanha que estava do outro lado, que vinha de uma derrota com a França, que precisava de ganhar, isso tudo, mas havia necessidade de insistir com algumas das vacas sagradas? Vamos lá ver, que andou até agora o William Carvalho, que esteve quase toda a época a aquecer o banco do Bétis, a fazer a titular que o João Palhinha não tivesse feito ontem muito melhor? Dizem as más línguas que Palhinha andou mais ontem em dois túneis que o inútil WC nos dois jogos anteriores e eu tendo em concordar. E a insistência no Rafa, que tem ar de bom rapaz, mas não chega; E continuar com Bernardo Silva, que continua a ser uma nulidade na selecção? Há coisas que só mesmo o Fernando e a santinha conseguirão entender, mas certamente não conseguirão explicar.
Mas a Alemanha viu-se à rasca para empatar com a Hungria, dirão os leitores. Pois viu! Mas quem viu o jogo, viu uma Alemanha a pressionar e os húngaros a fazer dois remates e a marcar dois golos. Durante todo o jogo alugou-se meio campo, mas na bola o que conta é a eficácia, porque se contassem outras teorias quaisquer, como nós ganhámos à Hungria e os outros apurados empataram, a gente é que devia ter ficado em "primeiros"!
Bom, o homem e a sua adjunta (a ordem dos factores é arbitrária) lá deram o braço a torcer, a custo que segundo consta são ambos teimosos que nem mulas, salvo seja, e fizeram uma autêntica revolução para este jogo com a França! Mas ó pá, Edmundo, só mudaram dois! Pois! E tenho pra mim que quem escolheu o Renato rastafari foi a santinha, que o Fernando não arriscaria tirar o diesel WC para meter o nitro. Já a entrada do jovem Moutinho, não tenho quaisquer dúvidas que foi obra exclusiva do Fernando. Vocês viram o mesmo que eu quando tocava o hino, a força que ele fazia com a mão onde ele guarda a santinha? Até ela estava esbafurida ao perceber que há um treinador no Mundo que prescinde de Bruno Fernandes num onze!
Bom, sinceramente espero que não se tenham zangado os dois, que vem aí a Bélgica e que escolham, têm até Sábado à noite, os melhores para a função. Por melhores quero dizer os mais capazes, não os com melhor estatuto, e não ter medo dos outros.
Se eles têm o Tintin, nós temos o Major Alvega!
Nota: Todos diferentes, todos iguais e o maior respeito pela opção religiosa de Fernando Santos. Procurei dar uma nota de humor, mal conseguido eu sei, ao texto, para aligeirar, que isto do futebol "não é um assunto de vida ou morte"...
Missão cumprida. Conquistámos ontem o quarto ponto no nosso Grupo F - mais um do que na mesma fase do Europeu de 2016. Desta vez empatando com a França em Budapeste, num início de noite muito quente e num estádio Puskás a transbordar de espectadores. Transitamos assim para os oitavos-de-final, a disputar domingo contra a Bélgica. Superando um grupo mais difícil do que aquele em que estivemos inseridos há cinco anos.
Neste desafio contra a selecção campeã do mundo e vice-campeã da Europa, em que fomos a melhor equipa no primeiro tempo, o golo inicial foi nosso. Marcado pelo suspeito do costume: Cristiano Ronaldo, que há dias se estreou como goleador contra a Alemanha e agora repetiu a proeza frente à França. Penálti muito bem convertido, aos 30', castigando derrube de Danilo pelo guarda-redes Lloris, incapaz de travar o pontapé certeiro de CR7.
Fernando Santos fez duas mudanças no onze titular: deixou de fora William e Bruno Fernandes, fazendo entrar João Moutinho e Renato Sanches. A equipa ganhou dinâmica e consistência com estas trocas. Ao contrário do que sucedera contra a Alemanha, equilibrámos o meio-campo e fechámos os corredores. Melhorou o jogo colectivo e diminuíram muito os erros individuais: desta vez não houve autogolos (como os de Rúben Dias e Raphael Guerreiro) nem elementos passivos na organização defensiva (como aconteceu com Rafa, transformado em medíocre espectador do quarto golo alemão).
Era dia de efeméride: fez ontem 37 anos que as duas selecções se haviam defrontado na meia-final do Europeu de 1984, ingloriamente perdida (2-3) pela equipa das quinas já no prolongamento, com dois golos do saudoso Rui Jordão. Mas não estava escrito nas estrelas que a história iria repetir-se. Desta vez registou-se um empate a duas bolas. Com Cristiano e Benzema, antigos companheiros do Real Madrid, a bisarem - cada qual para seu lado. Três dos golos resultaram de penáltis. CR7 no momento já mencionado e aos 60'. O francês, mesmo ao terminar a primeira parte (45'+2) e logo no recomeço (47'), desta vez em lance de bola corrida.
Melhores em campo?
Do nosso lado, uma vez mais, Cristiano Ronaldo: já fez cinco golos em três jogos, lidera a lista de artilheiros do Europeu e acaba de igualar o iraniano Ali Daei como rei dos goleadores da história do futebol ao nível das selecções (109, no total). Também superou o alemão Klose como goleador n.º 1 em fase finais de Mundiais e Europeus (soma agora 20).
Mas também Rui Patrício, gigante na baliza lusitana: protagonizou aquela que é até agora a melhor defesa deste Euro-2021, aos 68', desviando um tiro de Pogba e travando logo de seguida um pontapé de recarga. Confirma-se, onze anos depois: continua imprescindível como titular nesta posição.
Destaque igualmente para Renato Sanches, o melhor dos nossos médios ofensivos, justificando a condição de titular. E para o nosso João Palhinha, que jogou toda a segunda parte como médio defensivo com o mesmo grau de eficácia que bem lhe conhecemos do Sporting.
O seleccionador promoveu as mudanças adequadas. Viria a trocar Bernardo Silva por Bruno Fernandes, Moutinho por Rúben Neves, Nelson Semedo por Diogo Dalot (em estreia absoluta pela selecção nacional) e Renato Sanches por Sérgio Oliveira. Sempre com o objectivo - em grande parte conseguido - de nunca perder o controlo do meio-campo. Isto explica o facto de raras vezes os astros da selecção gaulesa (Mbappé, Dogba, Griezmann) terem conseguido criar desequílibrios.
Balanço provisório: já cumprimos os mínimos. Oito presenças consecutivas em campeonatos da Europa, oito qualificações para os jogos a eliminar. Com um aliciante suplementar: desde 1996 que não marcávamos dois golos à selecção francesa.
Conclusões? Palhinha merece ser titular, Renato também. Dalot (52.ª estreia na selecção A promovida por Fernando Santos) justificou a convocatória de emergência, por João Cancelo ter testado positivo à Covid-19. Sérgio Oliveira merece igualmente nova oportunidade. E vai sendo tempo de apostar enfim em Pedro Gonçalves: o melhor marcador do campeonato português não pode continuar de fora.
França, 2 - Portugal, 2
.................................................
Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Brilhou entre os postes ao defender um remate que levava selo de golo, disparado aos 68' por Pogba. Já tinha confirmado estar na sua melhor forma aos 16', quando impediu Mbappé, isolado, de rematar com êxito. Um baluarte do onze nacional.
Nelson Semedo - Fez a sua melhor partida do Euro-2021 neste confronto com os campeões do mundo. Sem as falhas posicionais que havia revelado no jogo contra a Alemanha. Tinha missão difícil: cumpria-lhe policiar o irrequieto Mbappé. Foi bem-sucedido. Saiu lesionado aos 79'.
Pepe - Outra missão de enorme desgaste. Mas o internacional de 38 anos, campeão europeu, não virou a cara à luta neste dia em que cumpriu a 118.ª internacionalização. Mostrou-se atento às movimentações de Benzema. Bom nos passes longos. Terminou o jogo exausto.
Rúben Dias - Discreto. Não complicou nem procurou inventar. Mas aos 47' cometeu um deslize que nos saiu caro: deixou Benzema ganhar posição e rematar com sucesso, fazendo o segundo golo dos franceses. Tarda em mostrar o que vale neste Campeonato da Europa.
Raphael Guerreiro - Tinha ordem para subir pouco pela sua ala e seguiu à risca a orientação do seleccionador. Aventurou-se só pelo seguro, evitando abrir clareiras no flanco esquerdo. Melhor momento, aos 49': um passe teleguiado para Cristiano Ronaldo, que o capitão desperdiçou.
Danilo - Boa primeira parte, desta vez actuando sozinho à frente da nossa linha defensiva. Cumpriu a tarefa com zelo e determinação. E até ousou incursões às linhas avançadas. Num desses lances levou uma cotovelada de Lloris que gerou penálti e o forçou a abandonar o jogo.
João Moutinho - Novidade no onze titular português sete jogos depois, substituindo William. Deu segurança ao meio-campo, assegurando ligação à linha ofensiva. Tentou sem êxito, por duas vezes, o remate de meia-distância. Falta-lhe condição física para durar 90': saiu ao minuto 73.
Renato Sanches - Desta vez foi titular, chamado a render Bruno Fernandes. Aposta certeira de Fernando Santos: o médio ofensivo do Lille merece alinhar de início. Dinâmico, combativo, recuperou bolas, acelerou o jogo, deu luta constante a Kanté, seu adversário directo. Saiu aos 87'.
Bernardo Silva - Melhorou um pouco relativamente à partida anterior, mas continua sem justificar a presença no onze titular. Isolado em posição frontal, falhou o ataque à baliza aos 41'. Bateu muito mal um livre aos 63', atirando-a para fora. Saiu aos 72'. Merece ficar no banco.
Diogo Jota - Demasiado discreto, parecendo fatigado, o avançado do Liverpool perdeu uma oportunidade de se mostar em grande nível com a camisola da selecção. Conduziu bem um ataque aos 42'. Constantes trocas posicionais com Cristiano. Foi-se apagando sem tentar o golo.
Cristiano Ronaldo - Novamente o homem do jogo. Sem vacilar na marca dos 11 metros, marcou duas vezes de grande penalidade - uma das quais ocorrida quando protagonizava um lance de ataque junto à linha de fundo. Com a energia habitual, destacou-se até em missões defensivas.
Palhinha - Tardou, mas apareceu. E merece ficar no onze titular. Fernando Santos chamou-o ao intervalo para render Danilo, lesionado. O campeão nacional cumpriu com distinção. Na recuperação, no desarme, no passe de ruptura. Dois carrinhos consecutivos aos 71'. Excelente.
Bruno Fernandes - Só entrou aos 72', rendendo Bernardo Silva. Continua muito longe do fulgor a que nos habituou no Sporting e no Manchester United. Perdeu bolas aos 89' e aos 90'. Fez um corte temerário aos 90'+2 que deu a sensação de poder gerar penálti. Tem decepcionado.
Rúben Neves - Em campo desde o minuto 73, com a missão de substituir João Moutinho, cumpriu no essencial. Pausando o jogo, segurando a bola, ligando sectores, transmitindo tranquilidade numa altura em que a equipa precisava dela.
Diogo Dalot - Estreia absoluta na selecção A do ex-defesa portista, recém-sagrado vice-campeão europeu sub-21. Entrou aos 79' para o lugar de Nelson Semedo, preenchendo a lateral direita, e cumpriu no essencial.
Sérgio Oliveira - Último a entrar em campo, estavam decorridos 87'. Rendeu Renato Sanches, já muito desgastado, e teve como missão essencial contribuir para fechar o nosso corredor central. Assim aconteceu.
{ Blogue fundado em 2012. }
Siga o blog por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.