Todavia interiormente adivinhei o vencedor. Também não era nada difícil tomando em consideração as restantes selecções europeias.
É curioso que num pedaço do extremo ocidental da Europa morem dois países com filosofias desportivas antagónicas. Enquanto um país pretende ganhar sempre, mostrando para isso competência de organização e escolha, o outro mune-se de uns tantos atletas, a maioria afectos a certos negócios, vai buscar um treinador da mesma área de interesse e depois esperam pacientemente que algum dos jogadores num raro rasgo de ousadia resolva o problema.
Demos um salto em frente e falemos de coisas óbvias. Espanha é tetra campeã europeia após ter vencido (apenas) a Itália, França, Alemanha e Inglaterra. No mesmo dia em Wimbledon um outro espanhol sagrava-se campeão deste reconhecido torneio de ténis, semanas após ter ganho o Roland Garros em Paris. Também é em Espanha que mora o vencedor da Liga dos Campeões de 2024. Assim como no Tour de França dois espanhóis lutam arduamente pelo top 10, se bem que ambos estejam atrás de João Almeida, na classificação Geral.
Enquanto aqui ao lado se tenta, a todo o custo, que o desporto seja a melhor forma de unir um país ainda pouco pacificado, em Portugal o que interessa mesmo são os negócios que se poderão fazer ao redor da actividade desportiva.
Apesar de morar a apenas 60 km de Hamburgo, não vou assistir ao vivo ao jogo de hoje entre Portugal e a França. Por um lado, é dificílimo arranjar bilhete. Por outro, custar-me-ia muita energia emocional. Não estarei, assim, entre os portugueses que se deslocarão ao Volksparkstadion, um dos maiores estádios da Alemanha, com capacidade para 57.000 pessoas. E pertencente a uma equipa da… 2ª divisão!
Não é o único. Muita gente em Portugal não saberá que, na verdade, metade dos estádios alemães, onde se disputam as partidas deste Euro, pertencem a clubes da 2ª divisão. Cinco, entre os dez escolhidos: Düsseldorf, Köln (Colónia), Gelsenkirchen (pertencente ao Schalke 04), Berlim (o Estádio Olímpico, com lotação para 74.000 pessoas, é a “casa” do Hertha BSC) e Hamburgo, onde hoje se jogará os quartos de final entre Portugal e a França.
Hamburgo (onde morei durante sete anos) é a segunda maior cidade alemã (1,852 milhões de habitantes), à frente de Munique, Colónia e Frankfurt. Além disso, o Hamburger SV conta com uma Taça dos Campeões, uma Taça das Taças e seis campeonatos no seu palmarés. E, até 2018, era a ÚNICA equipa alemã que nunca tinha estado na 2ª divisão, desde a criação da Bundesliga, em 1963, nos moldes que hoje se conhecem (o Bayern de Munique, nessa altura, não foi convidado para participar na Bundesliga; ficou na 2ª divisão, só subindo à 1ª na época de 1965/66).
Enfim, as “medidas drásticas” não conseguiram tirar o Hamburger SV do último terço da tabela e, em 2018, acabou mesmo por descer. Não preciso de dizer que os adeptos se acostumaram à máxima “para o ano é que vai ser”. O Hamburgo ficou, desde então, três vezes no quarto lugar (épocas 21/22, 22/23 e 23/24) e outras tantas no terceiro, sendo que este lugar permite o play-off, com o ante-penúltimo classificado da Bundesliga.
Esta época, que até começou muito bem, acabou, mais uma vez, no quarto posto. E a humilhação foi ainda maior, perante a subida à Bundesliga da segunda equipa de Hamburgo, eterna rival do Hamburger SV: o FC St. Pauli.
O FC St. Pauli é uma clássica equipa de 2ª divisão. Passou uma época na Bundesliga nos anos 1970 e outra em 2010/11. Mas também já desceu à 3ª divisão, vendo-se obrigada a jogar na chamada Liga Regional do Norte, de 2003 a 2007. Como se depreende, esta subida significa muito para este pequeno clube. E deprime ainda mais os adeptos do Hamburger SV.
O Millerntor-Stadion, com lotação para quase 30.000 pessoas, e onde o FC St. Pauli está “em casa”, tem, desde ontem, servido de treino para as seleções de Portugal e da França.
Curiosidade: O bairro de St. Pauli inclui a rua Reeperbahn, onde se situa o famoso red-light district de Hamburgo.
Logo à noite defrontamos a Eslovénia para os oitavos-de-final do Europeu. Recordo: é a mesma selecção que na fase de grupos empatou a zero com a Inglaterra, naquele que foi um dos jogos mais bocejantes deste torneio.
Que mudanças deve Roberto Martínez fazer no onze titular português para este desafio que queremos superar?
Fica a pergunta aos leitores.
Recordo que na nossa partida anterior, em que fomos derrotados (0-2) pela Geórgia, alinhámos de início com estes: Diogo Costa, António Silva, Danilo, Gonçalo Inácio, Dalot, Palhinha, João Neves, Pedro Neto, Francisco Conceição, João Félix e Cristiano Ronaldo.
O penalty mais famoso do futebol português foi marcado por um inglês. E, claro, defendido por um guarda-redes do Sporting, no caso, sem luvas. Passam hoje 16 anos desde que Ricardo I, O Labreca, vestiu a pele de herói e de goleador (marcou o golo decisivo na baliza de David James), ao defender um penalty marcado pelo avançado Darius Vassell. Nessa partida, jogou um jogador do Sporting - Ricardo - e três – Valente, Figo e Ronaldo – das escolas. Simão, também ele criado no reino do leão, entrou na segunda parte, a tempo de converter um dos castigos máximos.
Manuel Halpern faz a seguinte pergunta na pág. 35 do Jornal de Letras desta semana:
- Gostas mais de jogar bem e perder ou de jogar mal e ganhar?
Como se não houvesse outra alternativa, Manuel, no último parágrafo, respondo.
A imagem ilustra um desporto olímpico, entre 1900 e 1920 no qual o Sporting foi dominador e que nos será útil para estabelecermos duas comparações, uma com a Grécia de 2004 (aqui já estamos a falar de futebol) e outra com a França de 2016.
Vamos comparar como se numa ponta da corda estivessem as selecções derrotadas/eliminadas pela Grécia e na outra ponta da corda as derrotadas/eliminadas por Portugal.
Grécia e Portugal ficaram no mesmo grupo de qualificação, ambas eliminaram da competição Rússia e Espanha, Portugal somou 6 pontos (mas perdeu com a Grécia) os helénicos 4.
O grupo de Portugal e Grécia vai jogar com o grupo de França e Inglaterra (que tinham eliminado Croácia e Suiça).
A Grécia elimina a França (primeira do grupo) com 1-0 e Portugal empata com a Inglaterra 2-2 (venceríamos nos penalties 6-5 num desempate que garantiu a imortalidade a Ricardo).
Próximos jogos; Portugal 2 vs. Holanda 1 (que fora segunda no grupo da República Checa, do qual faziam faziam parte Alemanha e Letónia que não passaram da fase de grupos) a Grécia teria mais dificuldade para vencer a República Checa, mas fez o mesmo que tinha feito à França, despachou-a com 1-0, após prolongamento. Um sublinhado para referir que nos quartos de final, a República Checa goleara a Dinamarca por 3-0 e a Holanda empatou, timidamente, 0-0, com a Suécia, venceria 5-4 nos penalties.
Isto para dizer que a Grécia não chegou à final do Euro 2004 a jogar com "Polónias" nem com "Países de Gales", escrevo isto pois ainda há pouco ouvia no rádio do carro alguém a comentar: vamos ser a nova Grécia, ninguém dava nada por ela e foi campeã europeia, a história como constatámos não foi bem assim.
Portugal chegou à final de 2004 com 3 vitórias, 1 empate e 1 derrota; 10 pontos.
Grécia chegou à final de 2004 com 2 vitórias, 2 empates e 1 derrota; 8 pontos.
Acabámos de ver que em 2004 fomos primeiros do grupo, vejamos, agora, o que aconteceu em 2016.
Calhou-nos um grupo com Islândia, Áustria e Hungria; somámos 3 pontos e fomos terceiros no grupo.
A França jogou com Suiça, Albânia e Roménia fez 7 pontos e foi primeira no grupo.
Nos oitavos de final empatámos com a Croácia, 0-0, vencemos com um golo de Quaresma no prolongamento; a França venceu a Irlanda por 2-1, de realçar que a Irlanda fora terceira no grupo da Itália e da Bélgica com quatro pontos e a Croácia foi primeira no grupo da Espanha com 7 pontos.
Nos quartos de final empatámos com a Polónia 1-1 que vem dum empate com a Suiça com o mesmo resultado, a França venceu o primeiro do grupo de Portugal por uns esclarecedores 5-2, a Islândia vem duma vitória sobre a Inglaterra por 2-1.
Meias finais, Portugal vence Gales por 2-0, França faz o mesmo resultado frente à Alemanha. Gales eliminara a Bélgica por 3-1, os belgas por sua vez tinham cilindrado o segundo do grupo de Portugal por 4-0.
Resumindo na ponta da nossa corda temos: Suiça, Polónia, Croácia, Gales, Irlanda do Norte, Hungria e Bélgica; na corda da França estão: Alemanha, Eslováquia, Itália, Espanha, Islândia e Inglaterra, o senhor do rádio, que referi atrás, dizia que o percurso de França e Portugal são equivalentes, não me parece, provavelmente, como diz o engenheiro, não percebo nada de futebol, percebo é de jogo da bola.
Ora bem, tínhamos 3 pontos na fase de grupos com uma vitória e dois empates, somámos mais cinco, 8 pontos ou seja, com mais um jogo, igualámos a Grécia em 2004 mas estamos pior do que estávamos em 2004.
A França tinha 7 com mais três vitórias 16 pontos.
Em seis jogos, França 16 pontos, Portugal 8 pontos.
Nada disto interessa, claro, amanhã será 50/50 e as finais não se jogam, ganham-se.
Respondendo à pergunta de Halpern:
Gosto mais de jogar bem e ganhar mas se perder que se f*da
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