Beto Severo estará de saída da estrutura do Sporting. Para já, parece que deixa o posto de Team Manager, seja lá o que isso for. Depois, espera-o a porta de saída. Para mim, Beto não é dirigente, é um antigo capitão, campeão e defesa de excelência que fez 241 jogos e marcou 21 golos pelo Sporting. Ajudou a vencer dois campeonatos (um como central, a sua posição de quase sempre, e outro como defesa-direito, dando o centro à dupla Cruz-Babb); uma Taça e duas Supertaças. Ainda andou por Huelva, Bordéus e Belém, mas a sua casa sempre foi Alvalade. Não há como apagar isso.
PS: A saída de um Beto sportinguista era boa oportunidade para a entrada de outro, livre de contrato e desejoso de acabar a carreira em "casa".
No futebol os erros de casting são mais que frequentes. Quantas vezes vimos chegar um jogador que "parecia que" e afinal fomos de desilusão em desilusão até ao fim?
Mas também muitas vezes os julgamentos são precipitados e aqueles que pareciam uns flops nos supreendem e temos que engolir as nossas palavras.
O futebol é assim. Alguém disse, e com muita razão, que no futebol "o que hoje é verdade, amanhã é mentira".
Portanto, obviamente o que vou dizer em seguida vale o que vale, é apenas a minha opinião de hoje, muito avinagrada pelas últimas exibições, que aliás muito espero que seja desmentida no futuro próximo.
Esta estrutura de futebol do Sporting está contaminada por erros de casting mais do que evidentes, no relvado e fora dele, pessoas e profissionais que não correspondem ao que o Sporting precisava no momento actual, e que comprometem e destroem o trabalho daqueles poucos que se destacam e necessitam duma rectaguarda sólida e comprometida.
O Sporting com Jorge Silas, mudando de sistema e de jogadores em posições nucleares todos os jogos, sistematicamente joga mal e às vezes pessimamente. Contra equipas sempre de categoria inferior, tem ganho mais do que tem perdido, mas apenas isso. Tem sobrevivido à custa de rasgos individuais dos poucos artistas do plantel.
O Sporting precisa de mais profissionais de topo como Mathieu, Coates, Acuña e Bruno Fernandes.
Precisa dum treinador de guarda-redes como Nelson Pereira.
Precisa dum preparador físico de topo como Roger Spry ou Radisic.
Precisa dum treinador experiente e com grande capacidade de liderança como vários que já tivemos, cujos nomes todos conhecemos.
Mathieu colocou como condição para continuar a presença de Coates. Faz todo o sentido. O que não faz sentido nenhum é ver um Coates ao lado dum Ilori.
Bruno Fernandes se calhar não colocou condição nenhuma. Mas devia ter colocado. Um treinador de nível equivalente ao melhor que treine em Portugal. No mínimo com habilitações para orientar a equipa desde o banco.
Quanto ao director desportivo, o máximo responsável pelo "casting", chame-se ele Hugo Viana ou outra coisa qualquer, estamos conversados.
Este épico confronto de estruturas está a ser lindo. Aos poucos, vai-se descobrindo que todos os esquemas e manigâncias de que sempre se falou são verdadeiros. A diferença está em que antigamente se insinuava e agora se prova, divulgando documentos. Cabe ao Sporting agarrar este magnífico momento de destruição mútua. Não se sabe quando voltará a haver uma oportunidade destas.
Acabou o campeonato. Mas também acabou o tempo da alegria com segundos lugares e meras vitórias na Taça e na Supertaça. Estou triste com o segundo lugar mas não sinto que tenha enfiado um melão. Nem eu nem os 2.000 que estiveram ontem em Alvalade à espera dos jogadores. Desde logo, porque o Sporting foi a equipa que jogou melhor, coisa que já não se podia dizer há muito muito tempo. Depois, porque ainda consigo levar o segundo lugar à conta da recuperação do fosso de 2013 (que foi o culminar de uma rampa descendente vinda de 2005). Convém não esquecer que há apenas três anos o Sporting viveu a fase mais negra da sua história centenária: ficou em sétimo lugar e namorou a falência e a descida de divisão. Que diferença para um campeonato em que só um dos grandes o venceu numa noite de chouriço, em que fez a melhor pontuação da sua história e em que disputou o campeonato até ao último jogo.
Mas o argumento da recuperação não dura sempre. Eu também acho que este é o caminho, mas o caminho faz-se por etapas e temos de passar à seguinte. Os sportinguistas têm de exigir mais. E sobretudo têm de encontrar um antídoto para certas coisas. Este ano percebemos que não basta o Sporting fazer a sua melhor pontuação de sempre, nem o treinador que venceu três camponatos pelo Benfica chegar a uma pontuação a que nunca lá chegou. Se bem se recordam, este foi o ano Estrutura vs. Jesus. Pode dizer-se que a estrutura efectivamente ganhou. É contra essa estrutura que se tem de encontrar o antídoto. Como tentei dizer noutra altura, a estrutura funciona na margem: bastam mais um ou dois pontos para fazer a diferença. Sei lá, bastava um dos jogos do Benfica com o Belenenses ter sido a sério e (quem sabe?) acabar em empate para a história do campeonato ser diferente. A estrutura nem sequer do último jogo do campeonato esteve ausente, por interposta mãozinha de Talisca e pezinho de Fejsa, de que resultariam dois penáltis, sendo pelo menos o primeiro evidente (e resta saber se Pizzi não estava em fora-de-jogo no terceiro: as imagens que vi abrem a possibilidade embora não sejam concludentes).
Fazer barulho no facebook e nos jornais pode entrar nessa estratégia, mas não basta. É preciso atingir mesmo a estrutura nalgum ponto nevrálgico. Senão, fica tudo muito parecido com a pregação contra os males do mundo, que toda a gente acha muito bem mas a que não liga nada. Ainda hoje, o presidente anunciou, quase como um pregador milenarista anuncia o Apocalipse, o "fim da impunidade". Lá está, não basta: a impunidade não acaba quando se anuncia o seu fim; acaba quando acaba.
Vale a pena lembrar que o tema deste campeonato, desde a passagem de Jesus do Benfica para o Sporting, foi "Jesus vs. Estrutura". Ou seja, a pergunta era: quem ganhou os últimos campeonatos para o Benfica? Jesus ou a "Estrutura" do Benfica? Se Jesus ganhasse no Sporting, mostraria que a "Estrutura" afinal não era decisiva. Se o Benfica voltasse a ganhar, mostraria que era mesmo decisiva.
Os campeonatos ganham-se na margem. Toda a gente sabe que, em média, Sporting, Porto e Benfica têm, à partida, condições para ganhar à maior parte das outras equipas. Mas ganhar mais ou menos do que os outros dois depende dessas margens. Um bom treinador versus um mau treinador dá uma margem positiva: são os casos de Sporting e Benfica (com bons treinadores) versus Porto (com um mau treinador cujo lastro ainda ficou); é o caso do Sporting versus Benfica, já que Jesus é melhor treinador do que Vitória.
O contributo da "Estrutura" também acontece na margem. Não podíamos ter melhor exemplo disso do que a última jornada. Enquanto o Sporting teve de se esfalfar para sacar um empate contra uma equipa de nível inferior e o Porto perdeu mesmo, ao Benfica foi-lhe oferecida uma passeata no Restelo (desde há uns anos que o Belenenses é aquilo que em tempos o Alverca e o Estoril representaram também para o Benfica: vitórias garantidas e vida negra para Sporting e Porto). E caso isso não tivesse bastado, estava lá o árbitro, que poupou a expulsão do novo Maradona (recorde-se que ele poderia ter sido expulso na jogada da cotovelada; mas se o árbitro decidisse mostrar apenas amarelo nesse momento, seria a segunda falta digna de amarelo, pois na do primeiro golo já tinha rasteirado sem bola um defesa do Belenenses).
Pois, a "Estrutura" oferece estas pequenas margens, que no final se podem revelar decisivas. Os jogadores do Sporting têm de dar o dobro para fazer com que assim não seja.
O campeonato de futebol de 2015-2016 será marcado pelo confronto entre dois treinadores. O Sporting será treinado por Jorge Jesus, o Benfica e o Porto partilharão o mesmo treinador, o Estrutura.
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