O Euro 2012 tem sido fértil em imagens icónicas que se projectam muito para além das convenções "técnico-tácticas" da modalidade e fazem deste jogo o maior espectáculo do mundo. Pepe beijando o símbolo nacional impresso na camisola logo após marcar o primeiro golo contra a Dinamarca. Cristiano Ronaldo de polegar na boca, dedicando o golo ao filho que naquele dia festejava dois anos, quando fez o remate vitorioso que anulou a vantagem inicial da selecção holandesa. O colega que num impulso solidário tapa a boca do destemperado Balotelli que aparentemente, após marcar contra a Irlanda, começara a soltar impropérios contra o treinador por o ter deixado inicialmente no banco. Ibrahimovic ao marcar ontem um fabuloso golo com um "pontapé de moinho", inaugurando a merecida vitória sueca por 2-0 contra a França.
Quem não me conhece e me vê neste blogue, provavelmente pensará que sou uma adepta fervorosa que até agora não teve oportunidade de mostrar a sua veia de comentadora desportiva.
Engana-se.
Quem me conhece sabe que quando surgem discussões futebolísticas ou clubistas, não me costumo pronunciar.
Quem me conhece sabe também que não vejo todos os jogos do Sporting e que, na minha vida inteira, só fui ver um jogo de futebol ao estádio – no qual curiosamente o Sporting não entrava.
Até agora fui uma sportinguista não-praticante.
Seguindo esta linha de raciocínio, não sei se mereço estar a escrever ao lado de sportinguistas tão convictos e dedicados... Mas sei que quero estar, daí ter aceite sem pestanejar o convite para abraçar este projecto. E quero-o porque tenho uma enorme vontade de estar mais atenta ao clube, de o apoiar e de ser uma verdadeira sportinguista.
Não fico mais em casa. Prometo aplaudir, gritar e defender o nosso clube.
(a célebre e intimidante "Die Wand" no topo norte do estádio do Borussia Dortmund)
Hei de ir para o estádio com pés de chumbo, maldizendo 7 vezes a sorte que me fez ser sportinguista. Malvada paixão em literal sentido bíblico, legítima tragédia grega, este sofrimento ao qual nos entregamos como se fosse inevitável e não houvesse a alternativa de ficar em casa descansado a ver o jogo na TV. Não há desafio, destes carregados de eletricidade, em que mal entreveja o céu de chumbo iluminado pelo halo do estádio, não me acometam angústias: o que faço aqui? Porque entrego desta maneira a minha alegria ao que podem conseguir 14 futebolistas?
Quando o árbitro (e logo que bisca nos havia de ter calhado!) apitar o início, hei de desejar que já tivessem passado os 90’ para acabar com aquele sofrimento e desde logo sonho como seria bom marcarmos 3 golos no primeiro quarto de hora, para que o resto da partida fosse uma festa, sabendo que isso não vai acontecer e hei de beber esta taça de veneno até ao fim.
Hei de ser constantemente atravessado pelo arrepio dos moribundos quando os outros, infames, ganharem um lance, se aproximarem a menos de 20 metros da nossa baliza, ou marcarem um canto. E se o Polga esquece que já não estamos no ano passado? E se o Onyewu escorrega? E se o Carriço jogar?
Hei de ficar desiludido cada vez que o Capel o Elias ou o Ricky peguem na bola e não fizerem aquele golpe de magia que tudo decide; abre o livro!, grito eu da bancada e eles surdos ao meu tormento.
Hei de ficar prostrado com o nosso primeiro golo, sem forças para exultar, por achar que veio ou cedo ou tarde demais e será efémero se não lhes aplicarmos um golpe que os ponha KO. Como é pequena a alegria dos sacrificados, sempre ensombrada pelo desastre.
Se eles, os outros, os infames, marcarem um golo, hei de olhar para o lado estupefacto, para o silêncio dos que me rodeiam, a tentar perceber se aquilo foi verdade e aconteceu mesmo; talvez tenhamos visto mal e a bola foi fora, talvez tenha havido uma falta antes e o árbitro ainda anule aquela desfaçatez.
Se perdermos hei de concluir que aqui está de novo o Sporting do Mirko Jozic, muita parra e pouca uva; se ganharmos hei de fazer contas para os pontos que ainda nos falta recuperar, se empatarmos não saberei o que hei de pensar.
Ir ao futebol não é um passatempo, não é um divertimento, é uma provação que haveremos de atravessar. Então porque vais, pergunta-me a minha mulher, sensata e atónita? Porque não tenho outro remédio…
Passada a pseudo-polémica do papel de parede, o És a Nossa Fé lança aqui um apelo importante a todos os verdadeiros sportinguistas: esqueçam os pormenores decorativos que preocupam algumas mentes perversas e concentrem-se no essencial. E o essencial amanhã é chegar cedo a Alvalade porque os responsáveis leoninos estão a preparar uma coreografia fabulosa que irá precisar de todos os que estão nas bancadas, sem excepção. Sócios e simpatizantes devem estar perto dos seus lugares pelo menos 15 minutos antes do jogo. Se assim for, iremos mostrar que há muito mais para ver em Alvalade do que o corredor de acesso ao balneário que mete medo a tanta gente...
{ Blogue fundado em 2012. }
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