Todavia interiormente adivinhei o vencedor. Também não era nada difícil tomando em consideração as restantes selecções europeias.
É curioso que num pedaço do extremo ocidental da Europa morem dois países com filosofias desportivas antagónicas. Enquanto um país pretende ganhar sempre, mostrando para isso competência de organização e escolha, o outro mune-se de uns tantos atletas, a maioria afectos a certos negócios, vai buscar um treinador da mesma área de interesse e depois esperam pacientemente que algum dos jogadores num raro rasgo de ousadia resolva o problema.
Demos um salto em frente e falemos de coisas óbvias. Espanha é tetra campeã europeia após ter vencido (apenas) a Itália, França, Alemanha e Inglaterra. No mesmo dia em Wimbledon um outro espanhol sagrava-se campeão deste reconhecido torneio de ténis, semanas após ter ganho o Roland Garros em Paris. Também é em Espanha que mora o vencedor da Liga dos Campeões de 2024. Assim como no Tour de França dois espanhóis lutam arduamente pelo top 10, se bem que ambos estejam atrás de João Almeida, na classificação Geral.
Enquanto aqui ao lado se tenta, a todo o custo, que o desporto seja a melhor forma de unir um país ainda pouco pacificado, em Portugal o que interessa mesmo são os negócios que se poderão fazer ao redor da actividade desportiva.
Vendo o que jogou a Espanha e o onze que montou o espanhol seu treinador com base no Atlético de Bilbau e na Real Sociedad, e vendo o que jogou Portugal e o onze que montou o espanhol nosso treinador com base na "turma do Pepe" e no Jorge Mendes, se calhar o ex-vice presidente do FC Porto contratou o espanhol errado.
Ou então não, a ideia era essa mesmo.
Sobra ao Cristiano o recurso ao DVD.
PS: Entretanto o bombeiro Jorge Mendes prossegue na sua missão de salvar o tal clube do ex-vice presidente do buraco em que o deixou o Pinto da Costa:
Nem sempre podemos dizer isto, mas desta vez ninguém tem dúvidas: venceu a melhor selecção. Aquela que exibiu melhor futebol, aquela que obteve melhores resultados, a que seduziu milhões de pessoas em todo o mundo durante este Euro 2024, disputado ao longo dum mês. A Espanha do seleccionador Luis de la Fuente, digna herdeira daquele já quase lendário plantel orientado (primeiro) por Luis Aragonés e (depois) por Vicente del Bosque que venceu dois Europeus e um Mundial em apenas quatro anos.
Ontem à noite, no Estádio Olímpico de Berlim, nuestros hermanos venceram o seu quarto Campeonato da Europa, juntando-o aos de 1964, 2008 e 2012. Isolaram-se como país mais conquistador deste cobiçado troféu - que foi nosso em 2016. E revelaram ao Planeta Futebol dois extraordinários jogadores, que fizeram a diferença: Nico Williams e Lamine Yamal, extremos de pés trocados, dignos herdeiros da eterna magia do futebol de rua.
Foram eles a construir o golo inicial, aos 47'. Num magnífico exemplo de futebol de ataque, concretizado com toques rápidos e olhar fixo na baliza. Bem servido por Carvajal junto à linha direita, Yamal fez um passe de ruptura, lateralizado, Olmo deixou-a passar arrastando os centrais e Williams apareceu solto de marcação pela esquerda, culminando o lance da melhor maneira num remate cruzado.
Futebol clássico, futebol moderno, o futebol de sempre. Protagonizado por um miúdo de 22 anos do At. Bilbau, filho de imigrantes do Gana, e por um miúdo que na véspera festejara 17 anos, nascido na Catalunha de pai marroquino e mãe da Guiné Equatorial.
Vieram do quase-nada, já conseguiram quase tudo.
E no entanto até foram os ingleses a criar a única oportunidade de golo da primeira parte. Aos 45'+1, por Foden. Unai Simón estava lá para o travar.
A Inglaterra tentou reagir. No banco e no campo. Aos 61', o seleccionador Gareth Southgate mandou sair Harry Kane, trocando-o por Watkins: tinha a fezada de repetir a fórmula que resultou na meia-final frente à Holanda. Aos 64', Bellingham - goleador do Real Madrid, apagado a jogar como interior esquerdo na selecção - fez a bola roçar o poste num remate rasteiro. Aos 66', a genial dupla Nico-Lamine construiu um golo que só o guarda-redes Pickford conseguiu travar. Aos 73', o recém-entrado Palmer empatou num fortíssimo remate rasteiro.
Renascia por instantes a esperança inglesa. O espectáculo refinava-se, digno de uma final, em ritmo de parada-e-resposta. Aos 82', nova parceria Nico-Lamine com toque de brilhantismo: Pickford voltou a brilhar entre os postes.
Adivinhava-se prolongamento. Mas não foi necessário: Oyarzabal - que substituíra Morata aos 68' - sentenciou a partida aos 87', com preciosa assistência de Cucurella, este indiferente aos assobios que lhe dirigiam nas bancadas desde o início da partida.
Tudo ainda podia acontecer. Esteve quase para ocorrer o empate, no minuto 90. Unai Simón defendeu à queima-roupa e Olmo, em missão defensiva, afasta-a de cabeça na recarga em cima da linha de baliza. Festejando o corte como se tivesse marcado golo.
Caía o pano. Southgate confirmava a fama de pé frio: segunda final consecutiva perdida, após a queda em casa, há três anos, frente aos italianos, na roleta dos penáltis finais. A Inglaterra continua em estado virgem, sem títulos nos Europeus. E o único Mundial que venceu foi o de 1966, aquele em que Eusébio mais brilhou.
Craques, além do mencionados? Rodri, que não hesito em qualificar como melhor médio actual do mundo: é o verdadeiro pêndulo da equipa, o principal factor de segurança, um referencial de estabilidade. Sem surpresa, foi designado Jogador do Torneio.
Outro: Fabián Ruiz. Longe de ser titular absoluto no PSG, revelou-se um dos grandes obreiros deste título europeu de Espanha. A construir golos e a marcá-los. Conciliando eficácia com talento desportivo.
Outro ainda: Dani Olmo, médio ofensivo do Leipzig. Começou no banco, terminou a titular. Imprescindível na selecção campeã. Autêntico todo-o-terreno, este catalão que «parece alemão», como dizem por lá.
Sai do Europeu como melhor marcador, a par de Kane, Musiala (Alemanha), Mikautadze (Geórgia), Cody Gakpo (Holanda) e Schranz (Eslováquia): todos com três marcados. Soube a pouco. Longe dos cinco de Cristiano Ronaldo, rei dos marcadores no Euro 2021. Único aspecto em que este Campeonato da Europa disputado na Alemanha desiludiu.
Com dois golos e uma assistência, Williams foi eleito melhor jogador da final do Euro 2024. Com todo o mérito, com toda a justiça. Numa selecção campeã que integrava nove jogadores oriundos do País Basco: nada como o futebol para limar divergências políticas.
Irá voar agora mais alto, rumo ao Barcelona. Onde promete fazer parceria inesquecível com Yamal. Mas isso já é outra história.
Finalmente a França foi capaz de marcar um golo em lance corrido. Ao sexto jogo. Que foi também o último. Com Mbappé a assistir, num centro irrepreensível (repara, Rafael Leão: é assim que se faz), e Muani a erguer-se, enviando-a de cabeça na direcção do segundo poste até terminar aninhada nas redes.
Aconteceu ontem, ao minuto 8 do Espanha-França, espécie de final antecipada do Europeu de Futebol disputada em Munique. A vice-campeã mundial em título dava enfim um ar da sua graça após ter eliminado Portugal nos quartos-de-final com a colaboração do inútil João Félix, que falhou um penálti na ronda decisiva.
Mbappé, astro maior da França, esgotou o seu engenho naquela assistência madrugadora. Não voltou a causar perigo. Aos 57', rematou frouxo, à figura, para defesa fácil de Unai Simón. Aos 86', desperdiçou ocasião soberba despejando a bola para a bancada. Se fosse Cristiano Ronaldo a fazer tal coisa, logo a turba tuga desataria aos gritos, exigindo-lhe que metesse os papéis para a reforma.
A França, quase sempre inferior à Espanha, pareceu conformada com aquele magro avanço. Pura ilusão: em quatro minutos, nuestros hermanos viraram a meia-final a seu favor.
Aos 21', golaço de Lamine Yamal num remate em arco a meia-distância fazendo a bola embater no ferro antes de entrar. O benjamim do Barcelona, com 17 anos incompletos, tornou-se assim o mais jovem artilheiro da história dos campeonatos da Europa. Merece tal distinção: é um dos grandes obreiros do magnífico percurso espanhol no Euro 2024.
Aos 25', consumava-se a reviravolta. Num remate cruzado de Olmo que ainda embateu no pé de Koundé. Repunha-se a justiça no marcador.
Estava construído o resultado. Na segunda parte, os espanhóis seguraram o resultado, mesmo tendo concedido a iniciativa pontual de ataque à selecção adversária. A vitória estava atada e bem atada. Com Rodri a confirmar-se como um dos melhores médios do mundo: quase toda a construção de lances ofensivos passou por ele. Olmo, desta vez titular, justificou a aposta nele feita pelo seleccionador Luis de la Fuente. E Nico Williams, embora muito policiado por Koundé, exibiu todo o seu engenho como extremo-esquerdo clássico (embora de pé trocado).
Nem sempre ganha a melhor equipa. Desta vez aconteceu. Espanha está na final, a sélection bleue regressa a casa. Com um triste título: foi, neste século, o semifinalista com menos golos marcados num Europeu: apenas quatro. Ficando aquém da Grécia, com seis golos no Euro 2004 que venceu à nossa custa.
Portugal está vingado? Nem por isso. Mas não restam dúvidas: os espanhóis merecem seguir em frente. Ninguém como eles exibe futebol de tanta qualidade no Europeu da Alemanha.
Enfim, uma emocionante sessão de drama no Europeu. Aconteceu ontem, em Leipzig. Tendo como figura central um dos melhores jogadores que vi actuar desde sempre: Luka Modric. Comandando a selecção croata frente à irregular Itália, o craque do Real Madrid - vice-campeão mundial em 2018, com seis Ligas dos Campeões no currículo - passou ontem do pesadelo ao sonho para acabar novamente num pesadelo.
O nulo inicial não se desfez no primeiro tempo. Na segunda parte, a Croácia conquistou um penálti. Chamado a convertê-la, Modric permitiu a defesa do guarda-redes Donnarumma. Qualquer outro talvez se afundasse: não foi o caso dele. No minuto seguinte, marcou: viu uma bola desacompanhada no coração da área e encaminhou-a para o sítio certo.
Euforia entre os adeptos: a Croácia parecia ter acesso aos oitavos-de-final.
Esteve quase a acontecer. Mas a 20 segundos do apito final, no oitavo minuto do tempo extra, os italianos empataram. Com um belíssimo remate em arco de Zacagni que atirou a selecção adversária para fora da prova.
Modric estava inconsolável. De nada valeu ter sido eleito pela UEFA melhor em campo, aliás com toda a justiça. De nada valeu ter batido um recorde: tornou-se no mais velho artilheiro da história dos Campeonatos da Europa, ao marcar com 38 anos e 289 dias. A 9 de Setembro, soprará 39 velas.
Inútil falar em justiça: no futebol impera muito mais o factor sorte. Azar para muitos.
Está a ser um Europeu com poucos golos. Mesmo das equipas mais credenciadas. Repare-se no que aconteceu ontem com a Espanha em Dusseldorf: não conseguiu melhor do que um triunfo tangencial frente à modesta Albânia.
É verdade que nuestros hermanos, já com presença garantida nos oitavos, se deram ao luxo de entrar em campo com um onze quase totalmente renovado: só Laporte transitou do desafio anterior. Mas podiam ter feito muito mais, muito melhor. Desta partida retive praticamente apenas o excelente golo de Ferran Torres aos 13' com assistência imperial de Dano Olmo a partir de um magnífico passe cruzado de Laporte: 40 metros a rasgar toda a linha média albanesa. A jogada merece ser revista do princípio ao fim.
O jogo prometia mais golos, mas ficou por aqui. Talvez a selecção roja melhore quando recuperar o seu onze titular. Espero que sim.
Mais bocejante ainda foi o Eslovénia-Inglaterra, que terminou empatado a zero. Os ingleses, que nada conquistam a nível de selecções desde o Mundial de 1966, têm melhor equipa, mas essa diferença não se materializou em golos. Harry Kane, Foden, Saka e Bellingham foram perdulários no encontro desta noite em Colónia. Aos 31' Kane rematou bem colocado, mas à figura: Oblak defendeu sem dificuldade. Aos 35' Foden levou perigo à baliza na marcação de um livre, mas o gigante esloveno neutralizou o perigo.
Do outro lado, o nosso conhecido Sporar foi tão inócuo na grande área como costumava ser quando jogava no Sporting. Dali não vêm surpresas.
Três jogos, portanto, com apenas dois golos ingleses: Bellingham contra a Sérvia, Kane contra a Dinamarca.
Imaginem que isto se passava com a selecção de Portugal. Andava tudo aos gritos a exigir a cabeça do seleccionador e o exílio perpétuo para meia equipa.
Dois jogos contrastantes. No primeiro, domínio total de Espanha: o país vizinho quer recuperar a hegemonia que manteve no futebol planetário entre 2008 e 2014, período em que venceu dois campeonatos da Europa e um mundial.
O Espanha-Itália era um dos jogos mais aguardados deste Euro-2024. Mas poucos imaginariam tão grande disparidade entre os contendores. Foi total o domínio físico, táctico e técnico da selecção que veste de vermelho e detém o título da Liga das Nações conquistado em 2023 na disputa final contra a Croácia. Os espanhóis asfixiaram os italianos, actuais campeões europeus, travando-lhes quase todas as veleidades ofensivas. Ao intervalo, era abismal a diferença entre remates: nove para Espanha, um para Itália. A squadra azzurra não registava qualquer oportunidade de golo. Scamacca, estrela da Atalanta (e "carrasco" do Sporting na Liga Europa) quase não tocou na bola.
Parecia uma reedição da final de 2012, quando a Itália também foi ao tapete. Contei sete ocasiões de golo dos espanhóis, protagonizadas por vários jogadores que merecem ser campeões: Pedri, Fabián Ruiz, o ainda adolescente Lamine Yamal e sobretudo o enorme Nico Williams, nesta sua estreia numa fase final de um Europeu. Foi extraordinária, a actuação do avançado do Atlético de Bilbau naquela ala esquerda, que dominou por completo: capacidade de drible, precisão de passe, superioridade técnica. E esteve a centímetros de marcar um golo de bandeira, aos 70': a bola embateu na barra.
Com apenas 21 anos, Williams é o jogador que mais se valorizou até agora neste certame. Contribuindo para conduzir Espanha aos oitavos-de-final. Neste confronto da noite de anteontem em Gelsenkirchen só admira como a vitória espanhola foi alcançada pela margem mínima, com autogolo de Calafiori, aos 55'. O quinto autogolo deste Europeu.
«Banho de bola», chamou-lhe a Marca. E com razão. Nuestros hermanos mereciam ter vencido por goleada. A grande figura do encontro revelou-se Donnarumma, com defesas impossíveis aos 2' (remate de Pedri), aos 25' (Fabián Ruiz), aos 58' (Morata) e aos 90'+2 (Ayose Pérez). Mas esta Itália onde ainda actuam seis campeões europeus de 2021 parece uma sombra do que já foi.
Sem Mbappé, que não saiu do banco após ter partido o nariz no embate contra a Áustria, a selecção gaulesa teve nova exibição insuficiente, agora no confronto com a da Holanda, que de "laranja mecânica" tem pouco. Ou nada.
Na partida de ontem à noite em Leipzig, a nota dominante, mas pela negativa, coube a Griezmann. Com três perdidas incríveis - aos 4', aos 16' (aqui em parceria com Rabiot) e aos 65'. Domínio territorial não traduzido no resultado: o jogo terminou como começou. O primeiro empate a zero deste Euro-2024. Indigno de um torneio europeu.
Dois jogos muito contrastantes. Um bem disputado, com emoção quase até ao fim e uma qualidade técnica superior. O outro, cheio de momentos maçadores, com as defesas a superiorizarem-se sobre os ataques. A tal ponto que o único golo registado foi marcado por um dos centrais na própria baliza.
O primeiro, disputado há dois dias em Berlim, foi o Croácia-Espanha. Com o aliciante de vermos ainda em acção o fabuloso Modric, Bola de Ouro 2018, agora com 38 anos, e por outro lado o adolescente Lamine Yamal, do Barcelona - aos 16 anos, é o mais jovem participante de sempre numa fase final dum Europeu. De imediato escalado para o onze titular espanhol. Extremo canhoto jogando de pés trocados junto à linha direita, fez jus à fama que lhe chegou tão cedo: foi um dos obreiros da vitória. Com uma assistência e uma pré-assistência.
Os croatas, que dias antes tinham vencido Portugal num jogo de preparação para o Euro-24, desta vez não souberam aproveitar as oportunidades. Ao contrários dos espanhóis, bafejados por uma exibição superlativa de Fabián Ruiz, médio-centro do PSG - autor do passe de ruptura de que nasceu o golo inicial, de Morata, e ele próprio autor do segundo, numa extraordinária jogada individual dentro da área que partiu os rins aos centrais adversários antes de fuzilar as redes. Estava encontrado um dos primeiros heróis deste Europeu.
Carvajal, que já se destacara com um golo decisivo no recente triunfo do Real Madrid na final da Liga dos Campeões frente ao Borussia, marcou o terceiro neste confronto com os croatas. Eis um lateral direito com vocação nata para goleador.
Três oportunidades, três golos. Em contraste, a equipa de Modric nem de penálti conseguiu: desperdiçou o tento de honra, aos 81'. Estreia com o pé esquerdo da selecção que em 2018 se sagrou vice-campeã do mundo. Enquanto os espanhóis não deixaram margem para dúvida: são mesmo candidatos. A fúria vermelha está de volta. Se é que alguma vez se foi.
O mesmo não pode dizer-se dos franceses, com pálida exibição esta noite, em Dusseldorf, perante os austríacos. Mbappé destacou-se, mas pela negativa: aos 8', rematou à malha lateral; aos 45'+1, desperdiçou excelente passe de Griezmann a isolá-lo; aos 51', só com o guarda-redes pela frente, pegou mal na bola, atirando ao lado.
Dembélé protagonizava lances sem sentido junto à linha direita, Griezmann exibia gritante ineficácia na conversão de livres e Giroud saltou do banco também para falhar uma emenda junto à baliza. Emblemas de uma França aburguesada, que se limitou a deixar o marfim correr, confiante na inépcia ofensiva dos austríacos. Que até podiam ter marcado, aos 36', por Baumgartner.
Valeu aos gauleses um momento de azar da turma adversária, quando Wöber introduziu a bola na própria baliza, traindo o guarda-redes. Como diria um político português, em contexto bem diferente, foi uma vitória por poucochinho. Num Campeonato da Europa espera-se muito mais.
Aveiro, Leiria, Algarve: três "sobras" do Euro-2004
Portugal, Espanha e Marrocos (!) vão apresentar candidatura conjunta à realização do Campeonato do Mundo de Futebol de 2030 - juntamente com a Ucrânia (!).
A partir de hoje, a cotação do nosso Morita passa a valer bastante mais no mercado futebolístico internacional - bem acima dos 7 milhões de euros que agora lhe atribuem. Motivo: foi titular no surpreendente jogo de ontem em que a selecção nipónica derrotou a super-favorita Espanha repetindo o triunfo da jornada inaugural, frente à Alemanha.
Actuando como médio interior, o jogador leonino teve um desempenho muito positivo neste desafio, mantendo-se em campo até ao apito final. Elogio merecido para ele e vários dos seus colegas de selecção, como Doan, Tanaka (marcadores dos golos), Ito, Mitoma, Kamada, Asano e Itakura. Obreiros desta proeza inédita: o Japão transita para os oitavos do Campeonato do Mundo classificando-se em primeiro no seu grupo após neutralizar a propalada "fúria espanhola". A selecção roja, orientada por Luis Enrique, não conseguiu melhor do que quatro pontos (uma vitória, um empate, uma derrota).
Bastava-nos um empate para chegar lá. Às meias-finais da Liga das Nações, que já conquistámos em 2019. Recebíamos a Espanha em Braga, entre o nosso público. Os espanhóis vinham muito afectados por uma derrota em casa frente à Suíça e precisavam de vencer para seguir em frente.
"Bastar um empate" funciona como maldição para nós. E como pretexto para Fernando Santos montar a sua tão apreciada táctica do ferrolho - com jogadores sem vocação para tal - à espera do sempre ansiado deslize alheio para cumprir os mínimos.
Podia ter acontecido por três vezes ainda na primeira parte, que terminou empatada a zero. A segunda, com o mesmo onze intocável até ao minuto 72' (Diogo Costa; Cancelo, Danilo, Dias, Nuno Mendes; William, Rúben Neves, Bruno Fernandes; CR7, Bernardo, Diogo Jota), foi péssima: concedemos dois terços de terreno e toda a iniciativa aos espanhóis, que marcaram aos 88', por Morata. Sentenciando a partida e a eliminatória.
Primeiro. Ir recuando no terreno, concedendo iniciativa de jogo à Espanha - uma das selecções do país vizinho menos fortes dos últimos anos, alvo de contestação dos seus adeptos, e que vinha de uma derrota em casa frente à Suíça.
Segundo. Assistir impávido às perdas de bola dos nossos frente à baliza espanhola sem tomar a iniciativa de introduzir mudanças na dinâmica ofensiva para redobrar as oportunidades. Rúben Neves (23'), Diogo Jota (23') e Bruno Fernandes (38') tiveram os golos nos pés, mas foram incapazes de a meter lá dentro.
Terceiro. Mandar a selecção recuar na segunda parte, remetendo-a ao meio-campo defensivo, para "segurar o resultado". Manobra táctica de equipa pequena, frente à turma espanhola, que só fez o primeiro remate enquadrado aos 70'.
Quarto. Manter Palhinha no banco. Se a prioridade máxima era bloquear os caminhos para a nossa baliza, tornou-se incompreensível manter um William a meio-gás e deixar o nosso médio defensivo a ver o desafio sentado entre os suplentes.
Quinto. Esperar até aos 73' para mexer na equipa. Bernardo Silva, novamente sem préstimo na selecção, andou a fazer inúteis reviengas no relvado até finalmente receber ordem de saída. Demasiado tarde.
Sexto. Tocar na tecla da pausa em vez de accionar o acelerador. Incompreensível, a entrada de João Mário por troca com Bernardo quando ainda havia 20 minutos para disputar e precisávamos de um criativo para o contra-ataque, aliviando a pressão espanhola, e não de quem a segurasse no meio-campo.
Sétimo. Cristiano Ronaldo não pode cumprir a pré-época que deixou por fazer no United - onde até agora só marcou uma vez, de penálti - como titular da selecção. Sem dinâmica, sem golo, devia ter saído. Como saiu Sarabia, ontem muito apagado, logo aos 60', na selecção espanhola. Permitir a existência de intocáveis é um dos pecados do seleccionador. Terá de cumprir penitência por isto.
Mais logo, às 19h 45m (hora portuguesa), a Inglaterra recebe a Alemanha em Wembley. Amanhã, à mesma hora, Portugal recebe a Espanha em Braga. Dir-se-ia que os holofotes estariam apontados ao clássico de Londres. Na verdade, trata-se de um jogo entre duas equipas humilhadas, só serve para cumprir calendário. Já da "Pedreira" vai sair um dos semi-finalistas da Liga das Nações.
Como o Pedro Correia aqui disse, a Inglaterra já caiu para a Liga B. Quanto à Alemanha, falhou a hipótese de passar às meias-finais, ao perder com a Hungria, em Leipzig, por 1:0, na passada sexta-feira. Uma derrota humilhante, à semelhança do que aconteceu com a Espanha.
Ao contrário da Alemanha, porém, nuestros hermanos ainda se mantêm na corrida. Espero que só até amanhã, ao serão.
Força, Portugal!
Nota: A Alemanha nunca logrou atingir a meia-final da Liga das Nações. Nem à terceira foi de vez.
A selecção portuguesa soma e segue. Lidera agora o Grupo 2 na Liga das Nações após a goleada ontem imposta ao onze checo em Praga: fomos lá vencer 4-0, com dois golos de Diogo Dalot (de longe o melhor em campo), Bruno Fernandes e Diogo Jota.
Cristiano Ronaldo também tentou metê-la lá dentro mas ficou em branco. Partida infeliz para o nosso craque, afectado logo aos 12' num choque com o guarda-redes checo que durante minutos o fez sangrar abundantemente do nariz.
O jogo valeu sobretudo pela primeira parte: exibição de luxo da equipa das quinas, com William Carvalho a destacar-se como médio de construção, compondo com Dalot (marcou o primeiro aos 33' e o terceiro aos 52', assistou no quarto, aos 82') e Bruno (uma assistência, além do segundo golo, aos 45'+5) o trio dos melhores de Portugal neste desafio fora de casa.
Ao intervalo vencíamos por 2-0. No segundo tempo, dobrámos os golos e gerimos bem o resultado. A partir dos 82', com as saídas de Bruno e William, oportunidade para ver em campo os "nossos" Matheus Nunes e João Palhinha.
Com este triunfo (o terceiro em cinco partidas, após as vitórias domésticas contra os checos e os suíços, ambas em Alvalade), a equipa nacional soma dez pontos.
Mais dois do que a Espanha, com quem disputaremos o desafio decisivo, terça-feira em Braga. Mais quatro do que a Suíça. Mais seis do que a República Checa - agora denominada Chéquia.
Pior está a Inglaterra, no Grupo 1: derrotada em Itália, já caiu para a Liga 2, com o seleccionador Gareth Southgate a ser muito contestado apesar de ter uma selecção recheada de vedetas. Há cinco jogos que não ganha (pior palmarés desde 2014) e não marca um golo há 450 minutos.
Ostracizado durante longo tempo sem explicação plausível pelo seleccionador nacional apesar de ser um dos melhores jogadores portugueses actuais, Ricardo Horta foi enfim chamado à equipa das quinas. No jogo de estreia da nossa participação na Liga das Nações, contra a Espanha, ontem em Sevilha.
Jogou - e marcou. O único golo português, que nos valeu o empate (1-1) e o consequente ponto conseguido fora de casa.
Foi com um golo dum filho da puta que Portugal conseguiu um empate sofrido com a Espanha.
Pelo menos foi o que aquele trauliteiro naturalizado a martelo publicou da festança, aquele que foi substituído sem nada acrescentar à selecção no jogo de hoje em Sevilha.
E o que cantou o guarda-redes tripeiro na emoção dos festejos.
Entre os filhos da puta e a puta desta máfia que controla tudo e todos, fica uma selecção cada vez mais divorciada de todos nós.
Digo eu, que sempre soube separar clube e selecção, e que na campanha de França vibrei com Renato Sanches e muitos outros que de Sportinguistas não tinham nada.
A liga espanhola celebrou um acordo com um fundo, em que cede cerca de 10% do capital da própria liga, onde estão centralizados os direitos televisivos, por cerca de dois mil milhões de euros. No contrato estão bem explícitas as percentagens onde pode ser investido o montante que cabe a cada clube. 70% do valor será para infraestruturas dos clubes, 15% para compra de jogadores e os restantes 15% para redução de dívida. Para os pequenos e médios clubes este acordo é visto como a grande oportunidade para a sua consolidação nas suas áreas, a construção de novos campos de futebol, que vão permitir uma muito maior aposta no futebol de formação. Esta aposta será a melhor forma destes clubes poderem crescer e também para os grandes clubes é uma oportunidade, pois permite elevar a competição interna levando à sua valorização.
Por cá e numa notícia não relacionada, a liga de clubes investiu 18 milhões de euros na construção da sua nova sede.
Era uma espécie de final antecipada: Itália e Espanha defrontaram-se esta noite em Londres. Num jogo muito táctico, em que houve muita luta mas poucos golos. Apenas dois - ambos marcados na segunda parte. No prolongamento, as duas selecções - à beira da exaustão - ficaram também em branco.
Espanha entrou em campo, espantosamente, sem ponta-de-lança. O seleccionador, Luis Enrique, só preencheu esta lacuna aos 62', quando mandou entrar Morata. Já os espanhóis perdiam 0-1, com um grande golo de Chiesa coroando um ataque muito rápido.
As duas equipas exibiram modelos de jogo muito diferentes. Espanha sempre com futebol apoiado, transportando a bola. Itália consentindo domínio do adversário e apostando tudo na qualidade do passe de Jorginho e Barella, no meio-campo e em transições muito rápidas pelos corredores laterais, a cargo de Insigne e Chiesa. Para servirem Immobile, em noite pouco inspirada.
Os italianos acusaram a ausência do lesionado Spinazzola, talvez o melhor ala esquerdo deste Europeu. Os espanhóis - superiores na primeira parte - tiveram em dois médios ofensivos, Pedri e Olmo, os melhores elementos. Mas o guarda-redes Unai Simón, que já protagonizara o maior frango deste Euro-2021, voltou a não convencer. Com pelo menos duas saídas em falso.
O empate surgiu aos 80', precisamente por Morata, saído do banco para render o apagado Ferran Torres. Espanha - após dois prolongamentos sucessivos nas partidas anteriores - tentou resolver o desafio no tempo regulamentar, mas faltou-lhe pontaria e critério para derrubar a muralha defensiva italiana, onde Chiellini e Bonucci ainda pontificam.
Na chamada "roleta dos penáltis", os italianos - com a esmagadora maioria dos 60 mil espectadores presentes no estádio de Wembley a puxar por eles do princípio ao fim - converteram quatro. O último, e decisivo, com Jorginho a dar espectáculo com um penálti à Panenka. Vale a pena rever. Os espanhóis só marcaram metade: Moreno e Thiago Alcântara meteram-na lá dentro, Olmo falhou e Morata permitiu a defesa de Donnarumma, um dos heróis da noite.
Itália mereceu passar às meias-finais, Espanha nem por isso. É a diferença entre uma selecção que deslumbra pelo seu futebol alegre e criativo e outra que se limita a picar o ponto neste irregular Euro-2021 num continente ainda marcado pela pandemia.
Os primeiros a entrar ontem em campo foram os espanhóis. Em Sampetersburgo, contra a Suíça estreante em quartos-de-final de uma grande competição futebolística. Seriam favas contadas, para muitos adeptos do país vizinho. Mas não foram. A "fúria" espanhola parece ter migrado para parte incerta: restou uma equipa desinspirada, incapaz de aproveitar um golo oferecido pelos suíços e a vantagem de jogarem com um a mais durante 48', o que faz uma diferença enorme nesta fase da competição.
Aos 120 minutos, esgotado o prolongamento, mantinha-se o 1-1 do tempo regulamentar. Nos penáltis, brilhou o réu da partida anterior, contra a Croácia: o guarda-redes Unai Simón, que defendeu dois. Destacou-se também Oyarzabal, que não vacilou quando chamado a converter - ao contrário de Rodri, médio do Manchester City, e do veterano capitão Sergio Busquets, único campeão mundial de 2010 que resta no plantel. Jordi Alba, campeão europeu por Espanha em 2012 tal como Busquets, apontara o golo do tempo regulamentar, beneficiando de um desvio de Zakaria.
Foi o único remate espanhol à baliza no primeiro tempo. Por parte da Suíça, nem isso.
A injusta expulsão de Freuler por acumulação de amarelos, aos 77', somada à lesão de Embolo antes da meia hora de jogo, virou o campo a favor de Espanha. Mas nem assim resultou, desde logo por uma exibição de luxo do guardião Sommer, sobretudo no prolongamento. Foi preciso muita incompetência suíça (só um penálti convertido em quatro marcados) na roleta das grandes penalidades para carimbar o passaporte do trajecto espanhol às meias-finais. Com muita sorte e pouco mérito.
Espanha, 1 - Suíça, 1(vitória espanhola 3-1 no desempate por penáltis)
.................................................
Futebol do bom, só aconteceu à noite. Em Londres, no Bélgica-Itália. Os primeiros tinham eliminado Portugal num jogo em que não conseguiram ser melhores em campo. Os segundos haviam afastado a Áustria num desafio muito sofrido.
Previa-se confronto intenso entre dois assumidos candidatos ao título europeu. E assim foi. Com predomínio italiano na primeira parte e ligeiro ascendente belga na segunda, em que os italianos pareceram sempre mais preocupados em defender a vantagem (2-1) alcançada ao intervalo.
O triunfo foi construído nesse primeiro tempo. Com o trio composto por Insigne, Immobile e Chiesa a brilhar nas rápidas incursões à grande área belga e Jorginho a pautar as operações no meio-campo.
O primeiro golo surgiu aos 31', pelo capitão do Inter, Barella, numa jogada de insistência, fuzilando Courtois após ter driblado três adversários. O segundo - um dos mais espectaculares deste Euro-2021 - surgiu dos pés de Insigne, fazendo jus ao nome: magnífico remate em arco, a meia-distância, aos 44'. Courtois nada podia fazer.
Com um futebol sempre muito apoiado, abrindo sucessivas linhas de passe e garantindo equilíbrio no meio-campo, os italianos confirmaram-se como a selecção com melhor média de remates neste Europeu. Exibições de luxo do guarda-redes Donnarumma, de Chiesa e Spinazzola - este, infelizmente, forçado a abandonar aos 77', de maca, com lesão grave. O Campeonato da Europa terminou para ele.
Os belgas, com o lesionado Eden Hazard fora do onze titular, podiam ter marcado por De Bruyne aos 22' e Lukaku aos 26' e aos 61'. Mas só o fizeram graças a um penálti convertido por Lukaku, aos 45'+2, a castigar derrube de Doku à margem das regras.
A Itália apenas conseguiu ser campeã europeia em 1968 e parece seriamente apostada em repetir essa proeza, 53 anos depois. Quanto à Bélgica, que tomba nos quartos-de-final após ter sido afastada pela França nas meias-finais do Campeonato do Mundo de 2018, continua sem justificar o absurdo destaque que a FIFA lhe atribui como selecção mais cotada do planeta futebol. Que raio de trono é este, alcançado sem uma só vitória até hoje num Mundial ou num Europeu?
Bélgica, 1 - Itália, 2
{ Blogue fundado em 2012. }
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.