Até agora, tudo a bater certo. A Alemanha cilindrou a Escócia por 5-1, numa das maiores goleadas em jogos de abertura dos campeonatos da Europa. Destaque para a exibição do autor do primeiro golo: o médio ofensivo Florian Wirtz, que aos 21 anos confirma a excelente época feita ao serviço do Bayer Leverkusen, com 18 golos e 19 assistências. Foi um dos grandes obreiros do título germânico, rompendo a hegemonia do Bayern de Munique.
Outro pilar desta goleada: o veterano Toni Kroos, com seis Ligas dos Campeões e o Mundial de 2014 no currículo. Total de 57 passes acertados (100%) só na primeira parte, em lances de construção ofensiva com frequentes variações de flanco. Creditando-o como melhor médio do planeta futebol.
Jogar contra dez durante toda a segunda parte, por expulsão justíssima de Porteous, facilitou a tarefa dos homens orientados por Julian Nagelsmann. Mas o desfecho nunca esteve em causa nesta partida de sentido único: faltava apenas saber por quantos terminaria este indiscutível triunfo alemão. E quem seriam os restantes marcadores. Foram Musiala (culminando soberbo lance colectivo), Havertz (de penálti), Füllkrug (golaço que merece ser revisto) e Can (ao cair do pano). Até o tento escocês resultou de autogolo, confirmando a disparidade entre as duas selecções.
Já se vaticinava, eis a confirmação: a Alemanha, que joga em casa, é talvez a mais séria candidata à conquista do Europeu. Que já venceu em 1972, 1980 e 1996.
Queixamo-nos - e com razão - da nossa exibição de ontem contra a Alemanha. Pois os espanhóis estão pior que nós: dois jogos, apenas dois pontos. Só um golo marcado até agora. Empataram a zero com a Suécia e ontem registaram novo empate (1-1), desta vez contra a Polónia.
Em alta competição, não se pode falhar nos momentos decisivos. Morata, que já tinha desperdiçado uma oportunidade soberana na partida inaugural, ontem voltou a ser protagonista pela negativa. Aos 83', assistido por Sarabia, foi incapaz de a meter lá dentro. É verdade que foi ele a marcar o golo solitário dos espanhóis, aos 25', mas soube-lhes certamente a pouco. E os adeptos do país vizinho não lhe perdoam decerto ter falhado a recarga após uma grande penalidade que Moreno - também pouco inspirado - dirigiu ao poste, aos 58'.
A Polónia arrancou um precioso ponto (primeiro até agora) graças ao talento ímpar de Lewandowski, que marcou de cabeça aos 54'. O seu primeiro neste Euro-2021. E ainda - já no segundo tempo - registou a estreia do mais jovem jogador de sempre num Campeonato da Europa: o jovem Kacper Kozlowski, com apenas 17 anos e 245 dias.
A selecção polaca, comandada pelo nosso Paulo Sousa, viu-se muito pressionada no primeiro tempo desta partida, disputada em Sevilha. Mas a etapa complementar foi equilibrada: o resultado acabou por ser justo. Agora fazem-se muitas contas no Grupo E, que a Suécia comanda com 4 pontos (venceu anteontem a Eslováquia por 2-1).
Quem disse que a Hungria é a pior selecção deste Europeu? Tal dislate, papagueado após Portugal a ter derrotado na primeira ronda, ficou ontem desmentido no empate imposto pelos húngaros à França, campeã mundial, com a Arena Puskás repleta de adeptos a puxarem pelo onze da casa.
Os franceses dominaram - uma vez mais com Pogba e Mbappé como motores do ataque. Mas foram os húngaros a adiantar-se no marcador, aos 45'+2, com um grande golo de Attila Fiola. Havia cinco jogos que a selecção gaulesa mantinha as suas redes intactas.
O empate surgiu aos 56', num grande trabalho colectivo da selecção azul: o veterano guardião Lloris repôs muito bem a bola num passe longo, seguiu-se uma grande movimentação de Mbappé e o remate forte e bem direccionado de Griezmann a metê-la lá dentro. O avançado do Barcelona, que foi o rei dos marcadores no Euro-2016 (com seis golos), estreou-se agora como artilheiro neste confronto em Budapeste. Mas foi insuficiente para desfazer o empate.
Os franceses farão tudo para vencer Portugal na quarta-feira: só assim confirmarão o passaporte para os oitavos.
Se houve jogo que merecia golos, foi o Inglaterra-Escócia, disputado sob chuva intensa em Wembley, na sexta-feira.
Foi um jogo disputadíssimo. Não faltou caudal ofensivo de parte a parte. Os escoceses parecem ter surpreendido os ingleses, que não vencem um grande torneio desde o Mundial de 1966. Kane, o rei dos avançados da selecção inglesa, continua em branco neste Europeu.
Do lado da Escócia, realço as exibições de Billy Gilmour, Callum McGregor e Stephen O'Donnelll (que quase marcou na primeira parte). Pelos ingleses, merece destaque Grealish, que entrou talvez demasiado tarde (63'): tecnicista requintado, venceu todos os confrontos individuais. Também gostei de Rashford, que rendeu Kane aos 74': a partir daí, o corredor direito foi todo dele.
Mas não bastou aos ingleses para conseguirem mais do que um ponto. E a Escócia foi até a selecção com mais remates, algo que poucos imaginariam antes do jogo.
O sal do futebol é o golo: por mais elaborados que sejam os esquemas tácticos, por mais técnica individual que revelem alguns jogadores, nada disto tem grande significado sem golos.
Até agora, vi dois que merecem destaque. O primeiro foi ontem marcado por Yarmolenko, no Holanda-Ucrânia disputado em Amesterdão: o chamado golo de fazer levantar um estádio. Num remate em arco com o pé esquerdo para para o canto superior direito da baliza holandesa. Vale a pena ver e rever.
A Ucrânia perdia por 0-2, este tiro nas redes holandesas relançou o jogo: quatro minutos depois Yaremchuk estabelecia o empate, pondo a selecção laranja em sentido.
Tudo podia acontecer. Mas Dumfries, um defesa com vocação goleadora, encarregou-se de fixar o resultado aos 85', assumindo-se como figura do jogo. Grande segunda parte - a melhor, até agora, deste Europeu. Com todos os golos marcados neste período e resultado incerto até ao fim.
Este golo foi memorável só durante 24 horas. Porque hoje surgiu outro que o destronou. E que se arrisca desde já a ser eleito o melhor do Euro-2021. Um espectacular chapéu enfiado com precisão cirúrgica, à distância de 45 metros, na baliza da Escócia. Que até jogava em casa, incentivada pelo seu público, em Hampden Park (Glasgow).
Autor desta proeza, aos 52': Patrick Schick, avançado do Bayern Leverkusen. Que bisou neste embate da República Checa com os escoceses: já tinha sido dele o golo inicial, marcado de cabeça, aos 42'. É desde já uma das grandes figuras deste Europeu, que está a registar bons confrontos. Não exigimos menos que isto no patamar máximo do futebol.
Holanda, 3 - Ucrânia, 2
Escócia, 0 - República Checa, 2
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