Como excelente escriba que é, com dezenas de anos a "virar frangos", o Pedro Correia, consegue "traduzir" para português entendível aquilo que com dislexia, atabalhoamento e alguma falta de habilidade para a oratória, o presidente Frederico Varandas vai dizendo nas várias entrevistas, que não são muitas e entende-se porquê, que vai concedendo. Ainda assim os tempos escolhidos para intervir parecem-me adequados. Diz o Povo e com toda a razão, que quem muito fala pouco acerta e se Frederico Varandas é pródigo em "calinadas", mais vale aparecer pouco e razoavelmente bem, do que andar constantemente a "cuspir perdigotos". Quanto ao que o Pedro "traduziu" no post abaixo, concordo que foi uma entrevista com sumo, finalmente. Virada para fora quase exclusivamente e abordando o que interessa da forma que interessa e fazendo saber que se está atento ao que se passa nos tribunais. Passou um pouco ao lado na "frente interna", mas como a encomen...entrevista tinha um objectivo definido, ele foi plenamente atingido. Esperemos que para assuntos internos haja uma segunda entrevista de balanço desta época e lançamento da próxima, com muitas novidades em relação à facilitação do acesso ao estádio, à bilhética, àquilo a que por estes tempos se apelida de experiência vivenciada e à política de finanças e de plantel. Será igualmente importante.
Não vou escalpelizar a entrevista, o Pedro Correia já espremeu o que havia a espremer com maestria, mas sim, a posição do Sporting neste assunto da corrupção no futebol está (já estava, mas nunca é demais afirmá-lo) clarificada. Resta agora não deixar arrefecer o ferro, porque a velocidade da justiça infelizmente é lenta e se os assuntos quentes não forem abordados com uma regularidade constante, passam ao rol do esquecimento e daqui a alguns anos, muitos para arrefecer o suficiente, alguém lavra uma sentença sobre uma qualquer toupeira, tão insignificante e inóqua, que a bicha continuará, até porque é cega, alegremente a escavar túneis para os amigos. Pro bono, como o Boaventura e o Gonçalves, assunto aliás muito bem "esgalhado" quando comparado, dando uma patada (de Leão) ao Ministério Público: "O MP considera que César Boaventura sente-se na disponibilidade de, por iniciativa própria, gastar 480 mil euros para a sua equipa ganhar… Isto não faz sentido para ninguém." "Paulo Gonçalves era assessor jurídico e braço direito de Luís Filipe Vieira… De Paulo Gonçalves não se podia dizer o que o MP diz de César Boaventura, que não tinha cargos na SAD…"
E termino com uma concordância plena com Frederico Varandas: "Prefiro nunca ganhar do que ganhar com estes esquemas."
«O Ministério Público está a matar o mensageiro [César Boaventura], mas não está a acusar o verdadeiro mentor e beneficiário de todo este esquema de crime organizado [no SLB]. Vamos pedir a abertura da instrução deste caso. César Boaventura tinha uma relação de grande confiança e proximidade com Luís Filipe Vieira, falavam constantemente.»
«Na cabeça de qualquer pessoa não faz sentido algum que um intermediário esteja na disponibilidade de gastar 480 mil euros para corromper quatro jogadores para o Benfica vencer um jogo. O mensageiro [Boaventura] está acusado, mas os principais beneficiários, neste caso Luís Filipe Vieira e a Benfica SAD, não estão. É um erro que esperamos seja corrigido.»
«Paulo Gonçalves era assessor jurídico e o braço direito de Luís Filipe Vieira. Estava nas reuniões da Liga. Paulo Gonçalves era um funcionário [do SLB[. Foi condenado considerando que corrompia funcionários judiciais sem a administração do Benfica saber.»
«No caso Saco Azul, o clube [SLB] tem um esquema falso de facturas para libertar mais de um milhão de euros em cash. De empresas de um amigo do anterior director financeiro do clube. Para que era um milhão em cash? É normal um clube ter um milhão em cash? Espero que a investigação não fique pela evasão fiscal.»
«Em Itália houve um clube, Juventus, a que foram tirados 15 pontos por evasão fiscal e manipulação dos balanços financeiros - e todos os administradores suspensos.»
«Obviamente que o Sporting foi uma das principais vítimas deste esquema criminoso.»
«O Sporting vai lutar na justiça por isto. Isto é um nojo, não há outra forma de o classificar. Não diferente do Apito Dourado de há 20 anos. Não é diferente. Um nojo que não pode ter lugar no futebol português. Um nojo que a justiça deve ter a coragem de limpar.»
«Espero que não haja clubite na justiça e que a justiça não tenha medo da clubite.»
«Para um sócio do Sporting, os valores interessam. Para um sócio do Sporting, interessa que o seu presidente não tenha escutas a corromper árbitros com prostitutas. Para um sócio do Sporting interessa muito que o seu presidente não seja apanhado em escutas a escolher um árbitro para uma final da Taça. Para um sócio do Sporting interessa que na administração da sua SAD não haja sacos azuis de um milhão de euros. O sócio do Sporting quer ganhar. Mas, mais do que ganhar, é a forma como se ganha. Isso é o que mais importa. Eu, enquanto presidente do Sporting, prefiro nunca vir a ganhar do que ganhar com estes esquemas. É assim que o Sporting é, é assim que eu sou.»
«Vejo centenas de comentadores a elogiar a Premier League. Mas aquela liga não tem Césares Boaventuras, não tem Paulos Gonçalves, não tem presidentes a corromper árbitros. Aquela liga é limpa.»
«Não vale a pena preocuparmo-nos com direitos de centralização para valorizar a Liga quando assobiamos para o ar e vemos corrupção do pior que há ainda no futebol português.»
«Não ter telhados de vidro ajuda a ter muita força.»
Frederico Varandas, esta noite, em entrevista à Sporting TV. Talvez a sua melhor entrevista até hoje.
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", mudam os governos e mudam os ministros e os secretários de Estado, mudam até os presidentes da República, mas neste rectângulozinho de que tanto gosto mas que me "enzocrina" a cabeça, há coisaas que nunca mudam. Uma delas é esta, a da entrevista à nação benfiquista do chefe do clã das toupeiras. Antes com o réu Vieira, agora com o distraído e consumidor compulsivo de queijo colocado no poleiro do outro, há quem diga que pelo outro, outro. Honra seja feita à borla, pela coerência e por se substituir sem pudores, ao jornal da agremiação da freguesia de São Domingos de Benfica. Resta sabermos com quanto tempo de antecedência foram enviadas as (muito dífíceis e intrincadas) perguntas ao "homem do ano". Com tanto padre a gravitar na órbitra da "instituição", só me resta orar: Ouvi-nos senhor...
A RTP, estação de serviço público, decidiu pagar 52,5 mil euros para exibir a mais recente entrevista de Cristiano Ronaldo em que o capitão da selecção portuguesa rompe com o Manchester United.
Alguém aí entende que a televisão do Estado procedeu bem ao gastar desta forma o dinheiro dos contribuintes?
É comum entre militares dizer-se que o fogo amigo mata mais que o do inimigo (se assim não for que me corrijam os militares que por aqui possam passar, incluindo o presidente do Sporting Clube de Portugal, claro).
Ora ontem o fogo do amigo, foi um fogo amigo, numa entrevista morna e sensaborona que Frederico Varandas deu a Rui Santos na CMTV da TVI.
Não me interpretem mal... Na resposta às perguntas feitas pelo entrevistador, o presidente do Sporting esteve bem. Eu diria que esteve até muito bem! Gostei do que ouvi e da forma como as respostas foram dadas. Frederico Varandas foi claro no seu raciocínio e claro também no discurso, o que é uma evolução notável, de modo a que se entendesse bem a sua mensagem.
Ou seja, se aquilo tivesse sido uma entrevista à Caras, passe a publicidade, o objectivo teria sido atingido com mérito. Uma coisa assim em forma de registo monocórdico, num tom intimista, uma conversa de café. E dessa parte eu gostei, confesso.
Faltaram no entanto na entrevista de ontem muitas perguntas que eventualmente poderiam ser inconvenientes e que a maioria dos sócios e adeptos que a estavam a ver gostariam de ver respondidas e essas, ou foi acordado previamente que não seriam feitas, ou Rui Santos estava mal preparado. Provavelmente ambas e seria interessante sabermos o "estado da arte" e o que se propõe fazer para endireitar a casa.
Desta entrevista quero realçar dois aspectos, um positivo e outro negativo, a saber: Positivo, a garantia dada pelo presidente e na qual eu acredito, de que o Sporting não será apanhado nas malhas destes processos que por aí andam a ser investigados; Negativo, a chamada à entrevista, por Rui Santos, de Bruno de Carvalho. Não havia qualquer necessidade (se a pergunta estava no guião, não sendo necessária, a resposta ainda assim foi esclarecedora).
Ficámos a saber que Frederico Varandas se recandidatará, portanto espero que o espírito democrático que apesar de tudo (falo das guerras de guerrilha que se vão mantendo em banho-maria) se vive no clube, permita que a SportingTV cumpra o seu objectivo de informar os sócios e promova debates entre os vários candidatos, esperemos que mais dois ou três e que os próprios se prontifiquem a comparecer, para esclarecimento dos seus programas e linhas de acção.
Nota: Este postal não tem a pretensão de fazer um balanço da presidência de Frederico Varandas, antes de "analisar" a entrevista dada pelo presidente a Rui Santos, por quem de comunicação não percebe "um boi"...
Pedro Correia já falou da entrevista concedida por Frederico Varandas ao Expresso, para sermos mais precisos, à auto-intitulada jornalista e escritora Maria João Avillez, só hoje tive oportunidade de a ler na íntegra.
Não podia deixar de partilhar, neste espaço, aquilo que a senhora teve para dizer ao presidente do Sporting Clube de Portugal, em pleno estádio de Alvalade, para rematar, concluir o texto:
«Fui sócio desde que nasci e atleta de ginástica desde os 3 anos. Infelizmente cresci com o Sporting a vencer pouco, mas muito rico em valores, princípios, assente no ecletismo e na formação de atletas.»
«Num país em que há a convicção generalizada de que quem tem mais poder ou está mais "instalado" pode tudo, consegue tudo, é muito importante sublinhar o mérito, sinalizando que ele pode e deve prevalecer sobre o resto.»
«Primeiro ganharia as eleições e depois devolveria a dignidade ao clube e o orgulho aos sportinguistas. Nunca por um único segundo duvidei disso.»
«Na minha adolescência fiz parte da Juventude Leonina. Havia excessos, mas havia amor genuíno pelo clube sem pedir nada em troca. Na última década, essa mesma claque foi-se desviando do seu princípio. De tal maneira que se esqueceu de algo que eu não negoceio: as claques só existem porque existe o SCP e só existem para o apoiar e não o seu contrário.»
«Essa claque achava que mandava no clube: demitia direcções, treinadores e passou a invadir e agredir atletas. Custasse o que custasse, teria de acabar. Agora, hoje, quem apoiar incondicionalmente as nossas equipas terá sempre as portas abertas do estádio e do pavilhão.»
«Quando ganhei as eleições, há quase três anos, o principal adversário do SCP era a instabilidade criada pelo próprio clube. Só após o segundo ano de mandato é que finalmente comecei a preocupar-me com os nossos rivais.»
«Comigo ou sem mim, a estabilidade é um pilar essencial para o sucesso desportivo. E a primeira condição dessa estabilidade é o cumprimento dos mandatos dos órgãos sociais eleitos pelos sócios.»
«Tenho um excelente relacionamento com o Rúben Amorim. Ele tem uma particularidade rara no futebol: é uma pessoa normal. É um treinador brilhante, mas completamente normal enquanto pessoa. É humilde, mas muito seguro de si.»
«A solidão é um dos fardos de quem lidera. Há que lidar com isso. Aguentar a dificuldade de manter o rumo quando "n" pessoas à nossa volta nos garantem que vamos na direcção errada.»
«Tal como prometi e sempre acreditei, no final do mandato, o Sporting está muito melhor do que estava há três anos. Temos mais títulos - ninguém venceu mais do que o SCP nestes três anos -, estamos melhor financeiramente, continuaremos a estar muito competitivos, a modernizar e fazer crescer este clube.»
«Vendo o que ocorreu recentemente com a detenção do presidente Luís Filipe Vieira só peço que não se fique por aqui. Que haja coragem para ir até ao fim, seja quem for a pessoa, o cargo, o estatuto.»
«Percebo que faça muita confusão a qualquer português que um presidente de um clube - falo de Pinto da Costa, não temo dizer o seu nome - seja apanhado em escutas a oferecer serviços de prostituição a um árbitro. Ou seja, a corromper um árbitro! Mas dado que as escutas não foram aceites pelos tribunais, ignoraram-se. Isto entra na cabeça de algum português?»
«Respeito muito os adeptos e sócios dos nossos rivais. Seria um erro histórico não o fazer: se há coisa que o Sporting deve à sua grandeza é ter os dois grandes rivais que tem.»
«Foi tão importante para o Sporting a conquista do título como o modo como ele foi alcançado. Ninguém cedeu um milímetro nem desistiu de nada. Um orgulho para os sportinguistas.»
«Aquele senhor não me merece uma só palavra.» [Sobre o ministro da Administração Interna]
Excertos de uma entrevista de Frederico Varandas à jornalista Maria João Avillez hoje publicada na revista do Expresso
Maria Gomes de Andrade e Mário Morgado Ribeiro; Pedro Zenkl
Erick Mendonça renovou a ligação ao Sporting Clube de Portugal, onde chegou ainda em idade júnior. Depois de três épocas entre o CRC Quinta dos Lombos e a AD Fundão, o fixo regressou para se afirmar e tornar-se peça fundamental da equipa de Nuno Dias, tendo também já ganhado o seu espaço na selecção nacional. Em entrevista ao Jornal Sporting e à Sporting TV, Erick Mendonça falou do passado e do presente, deixando ainda um repto a todos os Sportinguistas.
Três temporadas depois do regresso, renovação. Era algo que já ambicionava?
Sim, por várias razões, mas principalmente porque se o Sporting CP renovou comigo é porque estou a fazer um bom trabalho e porque acredita em mim. É um casamento feliz e, por isso, cabe-me continuar a trabalhar para representar e dignificar esta instituição da melhor maneira.
Este novo contrato deu-lhe uma maior responsabilidade?
Eu tenho uma forma muito peculiar de ver a responsabilidade. Sinto-me responsável, mas gosto de levar as coisas de ânimo leve. Ainda assim, obviamente, quem representa o Sporting CP sabe a responsabilidade que isso acarreta, mas gosto de pensar que tenho as mesmas obrigações que tinha antes de renovação.
O Erick Mendonça tem apenas 25 anos, é um jovem, mas ao mesmo tempo é já dos mais experientes do plantel. Vê isso de forma positiva?
Não sei se gosto que me coloquem no mesmo patamar do Cavinato, Merlim, Cardinal ou João Matos... (risos). Claro que é positivo ser dos mais jovens - ainda que agora tenhamos uma fornada ainda mais jovem - e já ter alguma experiência. Isso dá-me bagagem e a capacidade de transmitir algo aos mais novos.
"GOSTO DE PENSAR QUE TENHO A MESMA RESPONSABILIDADE QUE TINHA ANTES DE RENOVAÇÃO"
E os mais novos vêem-no como um exemplo e pedem-lhe conselhos ou não?
(risos) Alguns... o Zicky tem a mania que sabe tudo, a alcunha dele até é "o mais" porque ele diz que é o mais em tudo. Se alguém diz que salta 30 metros, ele diz que salta mais, se alguém faz quatro golos, ele diz que marca mais... Ele diz que só responde com trabalho, mas está de chuva (risos). Até é o pior no 25, que é um jogo que nós fazemos.
(...)
Agora mais a sério, fora de brincadeiras.. não sou o mais velho e por isso também acabo por ter uma proximidade maior com eles, mas, ao verem-me como um jogador experiente, esses conselhos acabam por surgir de forma natural. Penso que mais com o Tomás Paçó, porque jogamos na mesma posição, ainda que dê conselhos a todos.
Que tipos de conselhos é que lhes costuma dar?
Técnicos mais ao Paçó, mas, por norma, os conselhos que mais dou têm a ver com a forma de estar e de como lidar com algumas situações porque não é fácil, e há uma diferença muito grande entre um plantel de séniores e um de júniores. Eu que fiz essa transição noutras equipas e sei como é complicado, sobretudo no balneário. O nosso balneário é espectacular, mas, por vezes, é difícil encontrar o nosso lugar.
E o Erick fez a transição em balneários e clubes com objectivos totalmente diferentes dos do Sporting CP. Ter vivido outras realidades foi importante para si e para a sua carreira?
Foi muito importante. Eu saí do Sporting CP para o CRC Quinta dos Lombos quando tinha acabado de chegar aos séniores e apanhei uma estrutura incomparável à do Sporting CP e depois saltei para a AD Fundão num patamar mais profissional. Acho que é importante passarmos por essas fases. Se não tivermos de as passar e se nos soubermos adaptar, melhor, mas acho que é importante por vários aspectos e até para vermos a diferença entre ser amador e profissional. Por vezes, quando temos tudo, não damos valor ao resto - que até é o mais normal.
De tudo aquilo que viveu nessas experiências, o que é que o ajudou mais a crescer?
A derrota. Nesses clubes perdia mais vezes do que ganhava, sobretudo no CRC Quinta dos Lombos. E isso fez-me também batalhar por objectivos diferentes. São outras realidades. E o balneário também é muito diferente. O nosso é incrível, mas num balneário profissional, como é o do Sporting CP, os objectivos são outros e a exigência também. Num treino no CRC Quinta dos Lombos ou na AD Fundão se as coisas não me corressem bem, ok, no próximo corre melhor, mas aqui se não correr bem tenho logo o Cavinato a chatear porque falhei ou não lhe passei a bola. É uma exigência diferente.
Regressou totalmente diferente após três anos fora ou não?
Obviamente que sim e regressei com muita ambição, mas também sem saber aquilo que me esperava. Saí da AD Fundão um menino e tornei-me num homem. Defrontava o Sporting CP e tinha perfeita consciência da qualidade da equipa, então pensava 'onde é que eu me vou integrar ali? Qual vai ser o meu papel?' Felizmente, acho que soube perceber onde seria importante e, por isso, o primeiro ano acabou por ser superpositivo para mim.
Ainda assim, o Erick já conhecia a estrutura... ou encontrou muitas diferenças?
Encontrei. A organização era outra, assim como a competitividade e a qualidade. No meu regresso encontrei um Sporting CP mais profissional do que já era na minha altura.
E acreditava que se poderia afirmar tão depressa como veio a afirmar?
Não, de todo. Fizemos um primeiro estágio em Ansião, no qual jogámos com o CCRD Burinhosa, e depois tivemos a Master Cup, no Algarve, contra o Inter FS e o Magnus Futsal, e tive muitos minutos, mais do que eu achava que ia ter. Com isso senti que poderia ser aposta, ainda que com algumas reticências. Depois, felizmente, o meu primeiro jogo em casa, frente ao CF "Os Belenenses", correu-me muito bem.
Aconselhou-se com alguém ou no regresso já sabia o que tinha de fazer?
Quando era novo, agarrei-me muito ao Matos, por várias razões. Vivíamos perto, ele dava-me sempre boleia e aí trocávamos muitas ideias. Quando regressei já conhecia o Matos, mas procurei beber um pouco de todos a todos os níveis. Inicialmente, acho que passei mais tempo com o Pany e, por isso, talvez seja aquele com quem me dou mais actualmente.
Que conselhos é que mais o marcaram?
(pensa) Ui, não sei, recebi tantos, mas acho que aquele que foi fundamental para eu dar um salto qualitativo no meu jogo foi um do Leo e depois do Nuno Dias. O facto de ser fixo e a bola chegar ao pivô e eu querer ir lá e bater nele a toda a hora, mesmo que ele estivesse nos dez metros e eu no meio-campo. Foi uma das coisas que o Leo me ensinou: não preciso de ir lá bater e fazer uma falta parva - ajudou-me muito.
"CHAMPIONS? FOI INCRÍVEL E FOI LOGO NO MEU PRIMEIRO ANO"
E tinha regressado com que objectivos?
Muitos. Ganhar todas as competições internas - até agora escapou-me uma -, afirmar-me, conseguir que o Sporting CP me levasse à selecção nacional e vencer a UEFA Futsal Champions League, mas o objectivo da Champions estava guardado na gaveta... não achava que ia ser logo à primeira.
A conquista da Champions League foi o ponto mais alto até este momento?
Sim, não tem como não ser. Além de ser o maior título europeu, também porque nunca pensei que o pudesse ganhar logo no primeiro ano. Os astros alinharam-se todos e aquela semana foi incrível. Desde chegarmos lá e as malas com os nossos ténis não aparecerem, à forma como tudo se desenrolou. Foi incrível.
O árbitro apitou para o final do jogo e o Erick ajoelhou-se e agarrou-se à camisola. Do que é que se lembra mais?
Lembro-me de o Leo aliviar a bola lá atrás, começar a correr e, depois, de ver o Luis Ribeiro (fisioterapeuta) a entrar no campo com uma bandeira do Sporting CP e o Cardinal a mandar vir com o árbitro para ficar com a bola de jogo, porque ele gosta sempre de ficar com a bola, e o árbitro dizer-lhe que não (risos). Depois disso, acho que não me recordo de mais nada.. foi só festejar.
Foi uma semana inesquecível que acabou da melhor maneira...
Sim. Foi uma semana incrível. Desde chatear o Castelo (Luis Santos Castelo, jornalista do Jornal Sporting) - só ele sabe o que sofreu, é bom rapaz - ao almoço com o presidente depois de vencermos. Os jogos com o Carlinhos [roupeiro], o Andrew [fisioterapeuta], o doutor. Essas são as memórias que tenho dessa semana. Os astros estavam alinhados e mesmo aquilo que correu mal antes serviu para embelezar ainda mais essa vitória.
Teve logo noção daquilo que tinham acabado de conquistar?
Lembro-me de só querer festejar e de dizer para não falarem comigo porque só queria era aproveitar, mas não tinha bem a noção do que se tinha passado. Só percebi quando chegámos a Lisboa, disseram-nos que tinhamos de sair por outra porta e ir para o pavilhão. Ninguém sabia como é que estaria e quando chegámos... estava cheio. Aí é que nos caiu a ficha.
Dedicou essa conquista à sua avó. Porquê?
A minha avó foi como uma segunda mãe para mim. É um cliché, mas é verdade. Foi com ela que viemos viver quando a minha mãe veio do México com os filhos nos braços e era ela que ficava comigo quando a minha mãe ia trabalhar. Mesmo depois de já não vivermos com ela, quando a minha mãe saía de casa às 7h30 para ir trabalhar e eu ia jogar para o ringue até às 9h que era quando a minha avó ia à janela e me chamava para ir tomar o pequeno-almoço com ela. Para mim é especial. Era a melhor avó do mundo.
Apoiava-o nisto do futsal?
Infelizmente, ela partiu quando eu comecei a ter algum relevo, mas ela adorava futebol e era louca, mesmo louca, pelo Sporting CP - e pelo CS Marítimo porque era madeirense. A minha família é toda do Sporting CP e havia todo um ritual em casa dela quando o Sporting CP jogava e foi ela quem me passou alguns valores do Clube. Tenho pena que ela não tenha visto alguns dos momentos que tenho vivido.
Tem até uma tatuagem em homenagem a ela...
Sim. Tenho uma estrelícia, a flor favorita dela - acho que é típica da Madeira -, e um M. L. de Maria Lídia para eternizar a memória dela. Com isso acabo por ter um ritual de jogo que é beijá-la a ela e ao meu avô.
Além dessa particularidade, o Erick tem também algo que o caracteriza muito. Porquê tantos penteados e cores de cabelo?
(risos) Há quem me diga 'Erick, representas o Sporting CP e já tens outro tipo de imagem no Clube, se calhar isso não cai bem aos adeptos', mas eu não deixo de ser quem eu sou pelo penteado verde, rosa ou amarelo porque cumpro dentro de campo. Eu sou assim, acabo por ter alguma irreverência e gosto que as pessoas se divirtam comigo. Não o faço para ser engraçado, é assim que eu sou e não tenho de ser julgado - atenção, não sou - por causa do cabelo. Esse é para aproveitar que seja agora enquanto não tenho filhos porque quando tiver eles vão querer fazer como eu (risos).
Sendo assim, qual vai ser a próxima cor?
Não costumo revelar, mas acho que vai ser rosa (risos).
Voltando ao futsal e falando sobre esta época. Soma 25 jogos e 14 golos marcados, tendo ultrapassado a sua melhor marca de golos. Podemos dizer que estamos perante o melhor Erick.
Eu quero acreditar que o melhor ainda está para chegar. Estou bem, mas ainda estou longe daquilo que posso fazer. Ainda assim, sim, estou no melhor momento tanto a nível de golos, como de assistências e de jogo jogado. Resta-me continuar.
"O SPORTING CP FORMA HOMENS DE CARÁCTER QUE SABEM LUTAR PELO CLUBE"
João Matos, Erick Mendonça e Tomás Paçó: os três formados no Sporting CP. Isso quer dizer que o Clube produz bons fixos?i
(risos) Isso quer dizer que se produzem, pelo menos, atletas com raça. Acho que ser fixo não é difícil, ainda que tenha de se saber ler o jogo, mas isso ganha-se, acho que é preciso é ter raça. Acho que a nível ofensivo é preciso possuir uma capacidade que se tem ou não, mas ao nível defensivo o fundamental é ter atitude. Só passa por mim quem eu quiser e se eu permitir. Ainda assim, mais do que se formarem bons fixos, formam-se homens de carácter que sabem o que é lutar e batalhar pelo Clube.
E o que dizia o Erick de hoje àquele que se estreou na equipa principal do Sporting CP em Agosto de 2013?
Diria tu não jogas nada (risos). Ainda hoje sou gozado, principalmente pelo Pauleta, que diz aos miúdos 'se vocês tivessem noção de como jogava o Erick quando era júnior, ninguém diria que estar aqui agora' (risos). Por isso, acho que era isso que lhe dizia: 'sai daí que não estas aí a fazer nada'.
E se não estivesse aqui hoje, estaria onde e a fazer o quê?
Boa pergunta. Gosto de muitas coisas, mas o que estaria a fazer não sei. Estou muito bem como e onde estou e não quero mudar para já.
Que objectivos é que se seguem então?
Ganhar tudo e aquilo que ainda não venci. Tenho em mente o Campeonato Nacional, que ficou pendurado no ano passado.
"NADA ME DÁ MAIOR PRAZER DO QUE VER O SPORTING CP A UNIR-SE NOVAMENTE"
E aos adeptos quer dizer alguma coisa?
Sim, que continuem a ser ecléticos e a apoiar o Sporting CP.
Nada me dá maior prazer agora do que ver o Clube a unir-se novamente e falar com algum amigo Sportinguista que estava bem escondido, porque não sentia a mística, e agora sente e diz que está nervoso antes de um jogo. Que isto nunca se perca. Somos o melhor Clube do mundo. Certamente que quando houver público isto vai ser ainda mais bonito e, se remarmos todos para o mesmo lado, o futuro será risonho.
Poderia nem ser o jogador mais influente, mas se havia ídolo meu na infância era o Litos. Recomendo a leitura da sua entrevista ao Expresso. É importante para podermos avaliar a contribuição para o Sporting de figuras como Aurélio e Carlos Pereira, por um lado, e Sousa Cintra, Juca e mesmo Manuel Fernandes, por outro.
Pinto da Costa deu uma entrevista ao Record em que desanca nos eternos rivais.
Tudo o que diga contra o Benfica parece-me bem, afinal eles jogam o mesmo jogo sujo, ele e o seu eterno compagnon de route, Filipe Vieira.
Já quando ataca o presidente do Sporting, na minha modesta opinião carregado de razão, aí, alto e pára o baile! Eu quero lá saber de Frederico Varandas e dos ataques de Pinto da Costa, se o que ele acaba por fazer é ajudar Frederico Varandas?
Complicado? Eu explico: Ao atacar o presidente do Sporting, D. Bufas só pretende fomentar ainda mais a divisão interna no Sporting, entre os que apoiam o presidente ainda em exercício e os que pretendem, entre os quais me encontro, destroná-lo do cadeirão presidencial.
E a gente só lá vai, ao objectivo de devolver o Sporting ao seu lugar natural, se nos conseguirmos unir, concordando em discordar muitas vezes, mas sem perder nunca o foco.
Gostemos ou não dele, um ataque ao presidente do Sporting é um ataque ao nosso clube e vindo do maior mafioso, vigarista e pantomineiro do futebol português, ainda me causa mais confusão que ande muita gente "com o pito aos saltos", com esta entrevista.
Temo o pior neste curtíssimo defeso agora iniciado. Porque as decisões serão tomadas pelos mesmos que conduziram a catastrófica pré-temporada do Verão anterior.
Sem surpresa, já se acumulam os maus indícios. Na imprensa amiga, a administração da SAD pôs a circular que Acuña e Palhinha serão vendidos. Soa a asneira.
Acuña é um dos raros internacionais que subsistem no plantel leonino. Em entrevista ao Record de hoje, Frederico Varandas sublinha a necessidade de «encontrar jogadores experientes»: isto não cola com a prioridade atribuída à saída do argentino.
Por outro lado Palhinha - que fez duas épocas de alto nível no Braga, como emprestado - preenche uma das mais gritantes lacunas do actual onze titular: a de médio defensivo posicional. Despachá-lo já constitui um duplo risco: prescindimos de mais um profissional formado na Academia de Alcochete e continuamos a precisar com urgência de alguém para aquela posição, que pode vir a ser preenchida por outro perna-de-pau importado (lembremos os maus precedentes de Idrissa e Eduardo).
2
Já que fiz alusão à entrevista do Record, deixo um apontamento rápido sublinhando a minha estranheza: afinal para que serve a Sporting TV? O presidente da SAD leonina manteve-se vários dias em silêncio, após o fim do campeonato, e rompe-o só agora para prestar declarações a um jornal diário quando tem à sua disposição a televisão do clube. Eis algo incompreensível.
Nesta entrevista, Varandas garante fazer «exercícios de autocrítica diariamente». Não parece. Voltou, por exemplo, a desperdiçar uma oportunidade de elogiar a Comissão de Gestão que o precedeu e conduziu o Sporting no turbulento Verão quente de 2018. Graças a essa equipa, liderada por Artur Torres Pereira no clube e Sousa Cintra na SAD, os estilhaços de Alcochete foram minorados, vários jogadores regressaram a Alvalade e foi possível formar um plantel competitivo.
Varandas já apanhou o comboio em andamento - de tal maneira que o Sporting até liderava a Liga no dia em que os actuais corpos sociais tomaram posse.
3
Vangloria-se o presidente de ter conseguido «vencer duas Taças no futebol» e de ter superado o difícil teste da «renovação do plantel devido às rescisões». Vai mesmo ao ponto de proclamar: «No ano passado, alcançámos a melhor época dos últimos 17 anos.»
Lamentavelmente, nem uma palavra de apreço por Sousa Cintra - obreiro dessa época que deixou um treinador (José Peseiro) despedido por Varandas quando o Sporting ia a dois pontos do primeiro já depois de termos jogado em Braga e na Luz. Outra oportunidade desperdiçada, portanto, para "unir o Sporting" - lema da candidatura à presidência do antigo director clínico do consulado Bruno de Carvalho.
A prova do algodão da actual gerência não foi a época 2018/2019: foi aquela que agora terminou, a primeira em que este presidente da SAD e este director desportivo lideraram todo o processo do princípio ao fim. Uma época em que se prometeu muito mas chegámos à meta com um recorde de derrotas numa temporada e todos os objectivos falhados: Supertaça, Taça de Portugal, Taça da Liga, Liga Europa e campeonato.
4
Ainda mal se iniciou o defeso e já receio o pior.
Por serem os mesmos a liderar o processo. E por ter a plena convicção de que a actual equipa dirigente nada quis aprender com a sucessão de erros acumulados.
«As decisões relacionadas com a construção deste estádio do Sporting e com a Academia de Alcochete foram tomadas durante a minha direcção. Uma das coisas que eu antevia era que a Academia de Alcochete deveria ser um dos suportes financeiros do Sporting. Devia produzir talentos em número suficiente para ser um factor de equilíbrio, até do ponto de vista financeiro. As coisas hoje são diferentes. Os padrões, até em termos internacionais, multiplicaram-se por muitos zeros e isso veio deixar para trás algum tipo de valores, de perspectivas, até de envolvimento das pessoas, que não é qualquer coisa que eu sinta como construtivo.»
«Decidi sair quando assumi que já tinha feito no Sporting aquilo que lá me tinha levado. Já eram demasiados anos da minha vida, sobretudo na faixa etária em que eu estava, e foi mais por isso do que por outras razões que eu decidi [em 2000] deixar a presidência. Que me trouxe satisfações, também desgostos. Talvez o mais pesado deles todos tenha sido o que aconteceu com o very light naquela final da Taça de Portugal no Estádio do Jamor. Foi o arranque para uma época de uma conjugação de violência e de turbulência.»
«Tive sempre um comportamento em relação às claques do Sporting de tentar separar aquilo que era autêntico daquilo que era indesejável, mas tenho de convir que hoje isso é muito, muito difícil.»
«Entendi sempre que as coisas [clube/SAD] deviam ser separada uma da outra. Que a presidência do Sporting, como accionista de referência da sociedade anónima desportiva, só se prejudicaria com os bons e maus resultados que dali viessem. Vejo o tempo dar-me alguma razão. O que interessa, nessa perspectiva, é sempre do ponto de vista estratégico: se as pessoas que lá estão não servem, outras terão de vir que sirvam. Mas a nível técnico, concreto, do futebol profissional.»
«A nossa capacidade financeira é muito residual, é muito pequena. Continuaremos a ser um exportador de talentos. Poderá acontecer outra vez um Campeonato Europeu como em Paris, há quatro anos, mas não é algo que possa estar no nosso menu de todos os dias.»
«Tenho elementos históricos da correspondência trocada entre o meu trisavô [Visconde de Alvalade, fundador e primeiro presidente do Sporting] e o meu avô [José Alvalade, fundador e terceiro presidente do SCP]. Eu e os meus irmãos já decidimos doar esse conjunto de documentos, que são duas malas grandes, ao Museu do Sporting. Vão passar a integrar o património histórico do Sporting.»
Trechos da entrevista de José Roquette - penúltimo presidente campeão do futebol leonino - hoje no Record
«Fui campeão em todos os escalões da formação e, no meu espelho de objectivos, tinha também o de ser campeão pelo Sporting. Infelizmente, ficou por concretizar. Mas estou de consciência tranquila.»
«Dei tudo o que tinha ao Sporting, mas não me custa admitir que o facto de nunca ter ganhado o título é uma espinha encravada. Ainda para mais quando estivemos tão, tão perto de o conseguir.»
«Sinto-me triste pelo momento que o Sporting vive actualmente. Numa nova fase de reconstrução. Caiu por água abaixo tudo o que tinha sido feito de bom antes. O Sporting tinha conseguido criar uma equipa muito competitiva, uma estrutura capaz de dar continuidade. Infelizmente, desmoronou-se tudo após os acontecimentos de Alcochete. É preciso reconstruir tudo e isso não se faz de uma época para a outra. Acredito que as pessoas que estão à frente do Sporting são competentes. Mas precisam de tempo.»
Adrien, em entrevista à edição de ontem do Record conduzida pelo jornalista Alexandre Carvalho
RECORD – Está preocupado com o Sporting a cerca de quatro meses de eleições?
JOÃO ROCHA – O Sporting está a atravessar a pior crise dos seus 100 anos. Convinha, no entanto, esclarecer, até porque os mais jovens não o sabem, que quando veio a revolução, os clubes passaram por uma crise muito grande, concretamente na altura do PREC. Eram, no fundo ‘presas’ a tomar de assalto. Criaram-se decretos e portarias à luz dos quais os jogadores se transferiam livremente, bastando uma carta. O Sporting passou essa crise colaborando em algo que era necessário, ou seja, apostando na massificação do desporto em Portugal. Não havia ginásios nem pavilhões e o Sporting começou por ter logo 15 mil atletas, um recorde. Nenhum clube da Europa o conseguia, nem o próprio Barcelona.
RECORD – Que acções foram levadas a cabo?
JOÃO ROCHA – Fizeram-se ginásios, pavilhões e compraram-se terrenos. Dinamizámos o desporto em Portugal. A ginástica foi de Norte a Sul do País com várias equipas. Promovemos as modalidades junto de entidades como os bombeiros, diversos tipos de associações, polícia, escolas, etc. Introduzimos em Portugal as artes marciais e a dinamização junto das instituições referidas foi a mesma.
RECORD – Disse-me que o clube comprou terrenos. Isso quer dizer que o património também cresceu?
JOÃO ROCHA – Começámos a ter um património invejável. Pagámos as dívidas do passado e sempre com dirigentes que nunca ganharam nada. Foram centenas de pessoas a participar neste projecto de servir o Sporting gratuitamente. O clube tem de estar grato a esses dirigentes que pagavam, inclusivamente, hotéis, e passes dos jogadores das modalidades de forma desinteressada. Com tudo isto, o Sporting passou a ter a primazia do desporto em Portugal e a ser a maior força desportiva nacional.
RECORD – Essa força foi consubstanciada em mais títulos do que os concorrentes?
JOÃO ROCHA – De tal forma que nos primeiros 10 anos após a revolução, o Sporting tinha 22 modalidades e ganhou 1.210 títulos nacionais e 52 Taças de Portugal. Conquistámos 8 taças europeias em 7 anos, tínhamos 105 mil sócios e, no futebol, entre campeonatos, Taças e Supertaças, o Sporting conquistou 8 títulos contra 10 do Benfica, 6 do FC Porto e 3 do Boavista. Conseguimos reconquistar o estatuto vivido, por exemplo, no tempo dos cinco violinos. Finalmente, juntando provas nacionais e europeias de alta competição, ganhámos 47 títulos contra 20 do Benfica e 13 do FC Porto, ou seja, mais do que os dois rivais juntos. Acrescente-se que mandámos uma equipa de ciclismo à Volta a França. Nenhuma equipa europeia com futebol o fez por duas vezes como nós. Foi importantíssimo para o país.
RECORD – Hoje em dia o panorama é, de facto, diferente. Como sente o clube?
JOÃO ROCHA – Quando saí, deixei o clube sem dívidas, com passivo zero, jogadores valorizados zero, estádio valorizado zero, tudo a preço zero e nada reavaliado. Além disso, 300 mil metros quadrados de construção aprovada, o que em termos actuais e se o Sporting tivesse sido administrado como deve ser, faziam dele hoje um dos maiores clubes da Europa. Só nesses 300 mil metros quadrados tinha um valor de 120 milhões de contos.
RECORD – Porque é que, na sua opinião, o Sporting não seguiu esse caminho ascendente?
JOÃO ROCHA – Eu saí. Não podia ficar, porque tinha uma doença grave. Nos últimos dois anos, já assistia deitado às reuniões da direcção. Só bebia leite e um médico americano disse-me que eu tinha de decidir entre a morte e o Sporting. Eu queria viver mais alguns anos e saí. Depois, o passivo foi aumentando ao longo dos anos, até que chegou José Roquette com o seu projecto.
RECORD – Um projecto que encheu de esperança todos os sportinguistas...
JOÃO ROCHA – O Projecto Roquette liquidou o Sporting. Ninguém soube o que era o projecto, porque ele não dizia. Sabia-se, apenas, que era uma dezena de sociedades, dirigentes e funcionários superiores a ganhar centenas de milhares de contos. O projecto foi reduzir os sócios de mais de 100 mil para pouco mais de 30 mil, foi acabar com as modalidades amadoras, foi vender património, foram dezenas e dezenas de milhões de contos de prejuízo que não aparecem nos resultados, porque parte deles foram executados pelo Sporting. No caso da SAD deram-se informações falsas aos associados e à própria CMVM para a entrada na bolsa.
RECORD – Comos se explica isso?
JOÃO ROCHA – O que lhe posso dizer é que era tudo tão bom que ele próprio, José Roquette, ia subscrever capital e a primeira coisa que fez quando saiu foi vender todas as acções da SAD que tinha comprado. Isto levou os sócios a perderem quase 14 milhões de contos só na subscrição e nos resultados negativos.
RECORD – Você assistiu a isso sem nenhum tipo de reacção?
JOÃO ROCHA – Antes pelo contrário. Numa assembleia da SAD e para defender os interesses do Sporting, lembrei que ao abrigo do Artº 35, a Sociedade tinha de acabar, mas havia uma possibilidade que era a reavaliação dos jogadores, repondo capital necessário na SAD para esta não ser extinta.
RECORD – Muito objectivamente, na sua opinião, José Roquette é o responsável pelo actual passivo do Sporting?
JOÃO ROCHA – O Projecto Roquette liquidou o Sporting. Disso já não restam dúvidas. Queria gerir o clube ditatorialmente e a primeira coisa que fez foi fechar as portas aos jornalistas nas assembleias gerais. No meu tempo, havia uma bancada só para os jornalistas. Não tínhamos receio de nada.
RECORD – Recordo-lhe que na altura da entrada de José Roquette foi dito por muitos elementos do universo leonino que o clube se encontrava em falência técnica. Lembra-se?
JOÃO ROCHA – Quando José Roquette entrou, o clube estava numa situação caótica, mas ele aceitou um passivo de 4 milhões de contos e, actualmente, ascende a 60 milhões de contos. É uma diferença enorme. Mas esse não é o grande problema. É preciso ter em conta os prejuízos, os quais foram colmatados com a venda de património e a reavaliação de todo o activo, incluindo jogadores. Esses prejuízos não foram contabilizados.
RECORD – Mas o clube também se valorizou patrimonialmente. Concorda?
JOÃO ROCHA – Fez-se a Academia e o estádio, mas nada disso é do Sporting. Mesmo que se venda aquilo que se está a propor vender, ainda vamos continuar a dever o estádio, que é fruto de compromissos com a banca e do contributo de alguns sócios que ajudaram em muitos milhares de contos, comprando lugares cativos.
RECORD – Um projecto totalmente falhado, no seu ponto de vista. Porquê?
JOÃO ROCHA – É muito simples. José Roquette julgava que o Sporting era uma operação tão fácil com a do Totta, em que ele, numa operação ilegal, ganhou 20 milhões de contos sem pagar um tostão de impostos e, ainda por cima, acabou por comprometer aquele que foi recentemente eleito Presidente da República, Cavaco Silva.
RECORD – Uma forte acusação. O que sabe desse processo?
JOÃO ROCHA – Não quero falar nisso neste momento, porque me interessa mais o Sporting.
RECORD – Lembro-me que durante o mandato de José Roquette, você se revoltou com acordos que nunca ficaram esclarecidos, nomeadamente entre o Sporting e o FC Porto. Quer revelar pormenores em relação a isso?
JOÃO ROCHA – Havia um projecto com o FC Porto que era muito prejudicial para o Sporting. Era mesmo inqualificável. Insurgi-me num Conselho Leonino e numa assembleia geral. Era um projecto gravíssimo que só podia sair da cabeça de um indivíduo sem responsabilidades. José Roquette dizia que era um projecto válido, porque era a única maneira de Sporting e FC Porto estarem sempre representados na Liga dos Campeões.
RECORD – Vai concretizar ou continuar a guardar trunfos?
JOÃO ROCHA – Não digo mais nada sobre isso. Foi falado no Conselho Leonino e eu disse ao líder da AG para mandar calar sobre essa informação, que foi longe demais. Disse-lhe ainda que o resumo do acordo com o FC Porto devia ser gravado de tão grave que era, porque talvez fosse necessário que essa gravação viesse a ser pública na defesa dos interesses do Sporting e dos seus sócios. Não vejo o desporto assim.
Frederico Varandas regressou esta noite às entrevistas televisivas para uma longa "conversa" (o termo foi utilizado por um dos entrevistadores) ao canal 11, da FPF.
Fez algumas revelações que merecem registo. Destaco duas: o Sporting voltará a ter equipa B já a partir da próxima época e pelo menos um terço do plantel da temporada 2020/2021 será composto por jogadores da formação. Boas notícias.
Arriscou também fazer previsões, nadando para fora de pé.
Sobre Rúben Amorim, o técnico que foi buscar ao Braga por uma quantia astronómica escassos dias antes da prolongada paragem do futebol a nível mundial: «Não tenho a menor dúvida de que o treinador do SCP muito dificilmente dentro de três ou quatro anos não estará num dos melhores clubes europeus.»
Oxalá os dotes divinatórios do presidente do Sporting tenham melhorado muito desde Setembro do ano passado, quando garantiu noutra entrevista televisiva que Jesé, Fernando e Bolasie - todos já remetidos à procedência - iriam singrar no clube.
Mas o que mais retive desta entrevista - exibida no dia em que se registaram duas novas baixas no Conselho Directivo do Sporting - foi a revelação, feita pela boca do próprio Varandas, de que o vice-presidente Filipe Osório de Castro e o vogal Rahim Ahmad já estavam demissionários desde o início de Março.
O clube enfrentou assim este período de severa crise com uma Direcção mutilada, sem que os sócios tivessem sido informados. Algo que considero inaceitável por violar as normas de transparência que qualquer Direcção leonina deve manter com os associados, a quem tem de prestar contas em todas as circunstâncias.
Estas demissões - que se seguem à saída do ex-vogal do CD Francisco Rodrigues dos Santos, em Dezembro, para concorrer à presidência do CDS, e do administrador da SAD leonina Miguel Cal, em Março, por alegados motivos pessoais - são provas inequívocas do desgaste desta equipa directiva, empossada apenas há 20 meses. Os dois dirigentes agora substituídos, segundo o próprio Varandas, alegaram a necessidade de se concentrarem a tempo inteiro nas respectivas actividades empresariais, sem mais disponibilidade para o Sporting. Vão longe os tempos dos abraços eufóricos na tomada de posse destes titulares dos órgãos sociais, em 9 de Setembro de 2018.
Ficámos portanto a saber que no preciso momento em que a nau leonina exigia maior coesão e concentração para enfrentar a tempestade provocada pela pandemia, logo houve quem preferisse abandonar o barco. É uma conduta que só pode merecer censura da massa adepta. E um péssimo indício para os tempos que vão seguir-se.
«Se o futebol português não pode avançar, que empresa em Portugal pode avançar? Não há nenhuma empresa onde os trabalhadores tenham tão pouco factor de risco e tão boas condições para desempenharem as suas funções.»
«O risco existe, vai existir e vamos ter que viver com o vírus. O que não pode haver é uma pessoa precisar duma cama de cuidados intensivos e não a ter. Isto o Governo conseguiu, com cem por cento de sucesso.»
«Vamos continuar a ter as pessoas paradas, o mundo parado, Portugal parado? Não. Temos de começar, de forma progressiva, a adquirir a imunidade da população.»
«O Covid afectou a indústria do futebol europeu mas, dentro dos países afectados, Portugal é se calhar o mais afectado.»
«O grande problema vai ser o mercado de transferências: 50% das receitas vêm da venda de jogadores. O mercado português é exportador de jogadores.»
«O Bruno Fernandes foi vendido por 65 milhões de euros no mercado de Janeiro. Hoje vale quanto? Trinta? Vinte? Ninguém sabe.»
«Vai demorar anos para que os clubes grandes voltem a ter a capacidade financeira que tinham antes do Covid.»
«Para o ano, se calhar, vamos ter de vender só um quarto da capacidade do estádio. Isso significa só um quarto da receita bilhética, um quarto dos patrocínios, dos parceiros... Vai ser uma nova realidade e um problema gravíssimo.»
«Se não defendemos a indústria do futebol numa altura destas, não vamos estar cá muito tempo.»
Frederico Varandas, em entrevista emitida ontem à noite na SIC
Enquanto saio do posto de abastecimento olho o José Alvalade, atentamente, uma última vez. Conduzo agora ao seu encontro, à saída da Rotunda mergulho em direcção a casa.
É assim que gosto de deixá-lo. De luzes acesas. Talvez por conhecê-lo apenas e só, assim. Talvez por escolher guardá-lo assim. Fonte inesgotável de vida que se renova a cada visita. Que existe, apenas e só, para nos acolher. Imponente, intransponível, cheio de luz.
O palco dos sonhos, o confessionário de todas as amarguras, o purgatório de todos os dissabores. Aquele que, não nos conhecendo de lugar algum, acolhe todas as nossas idiossincrasias, por igual.
Conhece-nos… a voz. Mistura-a com mestria, devolve-nos a acção combinada de todas. Diz-nos quão alinhados estamos. Diz-nos, uma e outra vez, quão audíveis somos, quando somos um só.
A alegria que se exponencia, a desilusão que se dilui. A comunhão plena do que nos é comum. É a certeza da força comum.
É aqui que ao somarmo-nos, somos apenas e só, um. O um que se opõe verdadeiramente a quem e ao que defrontamos, muito para além dos atletas em campo. Muito para além do um que somos.
O um que é, afinal de contas, ilusório. Não existe, não pode existir. Somos Sporting. E o Sporting não é, nem foi nunca, um só. Dizem-mo. Di-lo, até e recentemente, quem se propôs fazê-lo. Torná-lo um só.
Desconcertante somatório de partes, aparentemente, inconciliáveis.
Desconcertantes palavras, as da voz de comando. Desconcertantes momentos, aqueles em que nos vimos… sem voz de comando.
Comanda-me, contudo, uma convicção pronfunda e inabalável. A voz de comando a que respondo, é aquela que habita em mim e que procuro pôr ao serviço do todo. O todo, que é somatório de todas as - aparentemente inconciliáveis - partes.
A minha voz, não é a de quem viu acabar-se-lhe a mama. A minha voz, não se calou quando obviou a existência do que parecia ser um conjunto de hienas apontadas às jugulares. Às jugulares, da voz de comando. A minha voz, não se calou, quando pedia uma aberta à vida, quando achou que havia uma improvável sucessão de azares, a dificultar a afimação da voz de comando. A minha voz, não se calou quando sugeriu que fosse dado devido enquadramento à voz de comando. Enquadramento amigo, familiar, que permitisse que a verdadeira voz de comando pudesse fazer-se ouvir. E afirmar-se, como voz de comando.
A minha voz calou-se há dias, no meio de muitas vozes. Escolhi calar a minha voz, no meio de muitas vozes, por desejar preservá-la como aquilo que é, a minha voz, coincidente com as de uns, diferente da de outros. Não me conhecem o timbre, seria muito fácil ser tomada por voz ao serviço de outra(s), que não a minha voz.
Fiquei sem voz, quando vi que a voz de comando, deu voz, àquele a quem tentei dar voz, a 8 de Setembro de 2018.
Ouvi-lhe a voz, compreendi-lhe o timbre.
Ouvi a voz daquele a quem, agora, gostaria de dar voz. Compreendo-lhe o timbre.
Oiço a voz, da voz de todos os sócios. Suspiro de alívio por constatar que não deu voz a quem queria tê-la, sem ter discernimento.
Peço, à voz de todos os sócios, que tenha discernimento e que estude, com a voz de comando, forma de nos ouvir a voz. A de todos. A de todos que faz o todo. O somatório de todas as vozes. Não só as que são abafadas pelos décibeis, ou pelas contra- vaias, mas as que, como eu, olham para o todo.
A minha voz, não se fez ouvir em Alvalade, no dia 9 de Fevereiro de 2020. A minha voz, acha, contudo, que é tempo de se assumir que a voz de comando não consegue, nem conseguirá, pôr-nos a uma só voz. Aquela que, soma da de cada um de nós, exponencia a alegria e dilui a tristeza.
Tem sido… uma tristeza.
Gostava que a imponência e intransponibilidade, fossem apenas as do betão que dá forma ao palco de todos os sonhos, confessionário de todas as amarguras, purgatório de todos os dissabores. Interessa, sim, a luz que lá dentro existe. A vida que lá existe e que quer renovar-se a cada quinze dias. Não agastar-se e desgastar-se a cada nova visita.
Às vozes que querem ser de comando, saibam que compreendo-vos o timbre. Mas que não serei voz de quem quer ser chamado a sê-lo, em vez de convictamente apresentar-se voz, no meio de todo o sofrível ruído. De ser convictamente voz, em detrimento de ser publicamente reconhecido enquanto possível voz de comando. A convicção, terá de ser vossa e à margem de todas as vozes. A vontade de ser interruptor, que nos devolve a luz, terá de ser afirmativamente vossa.
Enquanto saio do posto de abastecimento olho o José Alvalade, atentamente, uma última vez. Conduzo agora ao seu encontro. À saída da Rotunda do Leão, mergulho em direcção a casa.
É assim que gosto de lembrá-lo. É assim que gosto de vê-lo. De luzes acesas e a uma só voz.
" O ano passado fizémos uma época brilhante, a melhor dos últimos (quinze, vinte?) anos ".
"Esta época está a correr mal. Erros nossos? Sim! Condicionados pelo passado".
Alguém me explica, como se eu tivesse alguma dificuldade cognitiva, como é que esta época corre mal condicionada pelo passado e a anterior, logo a seguir ao trauma Alcochete, foi a melhor dos últimos quinze ou vinte anos?
Frederico Varandas tem um problema de base que ameaça tornar-se irresolúvel: não sabe comunicar. É um problema que se vai agravando à medida que o presidente do Sporting se vê acossado de diversos lados. Após meses de silêncio, voltou a dar uma entrevista - desta vez ao jornal Record, que lhe concedeu um espaço muito generoso: quase toda a capa da edição de hoje e seis páginas interiores. Prometendo outro tanto para amanhã, quando será publicada a segunda parte deste diálogo com os jornalistas Bernardo Ribeiro, Ricardo Granada e Vítor Almeida Gonçalves.
O que direi desta entrevista? Que chega no tempo errado. Talvez fizesse sentido no início do mandato. Agora, 17 meses depois, ele equivoca-se no tom, no tema e nos propósitos. Parece quase uma entrevista de campanha eleitoral, combatendo adversários internos e ajustando contas com o passado. Como se Varandas não se tivesse apercebido que a campanha terminou a 7 de Setembro de 2018.
2.
Em síntese, trata-se de uma oportunidade perdida. Mais uma, somada a várias outras que o presidente do Sporting tem desperdiçado.
Varandas não estende pontes - cava trincheiras. Não procura apaziguar - mantém a via fracturante. Evita acender focos de ânimo - prefere a lamúria e o miserabilismo. Já esquecido de que, ao tomar posse, prometeu títulos. Já esquecido de que há seis meses garantiu estar «chateado mas não preocupado».
Tropeça nas próprias palavras, transmitindo a imagem de alguém que tenta aparentar segurança enquanto caminha com rota errática, em busca de um fio condutor que ninguém descortina.
3.
É uma entrevista em que o líder leonino não hesita em depreciar dirigentes, técnicos e jogadores. Abre uma excepção para Hugo Viana, seu braço direito para a gestão do futebol - alguém que já não devia estar em funções pois falhou em toda a linha na preparação desta catastrófica temporada 2019/2020, que promete ser a pior de sempre. Como é possível segurar quem não merece enquanto vai sacrificando quase todos em seu redor? Basta recordar que já teve cinco técnicos a trabalhar na equipa principal. E que no onze leonino que defrontou o Braga, na passada segunda-feira, só subsistiam três titulares da vitoriosa final da Taça de Portugal 2019.
4.
A última coisa de que o Sporting precisa é de Calimeros. Lamentavelmente, Varandas comporta-se como o Calimero-Mor nestas declarações transcritas pelo Record. Lamenta-se da herança que recebeu, alerta vezes sem conta para o panorama calamitoso das finanças leoninas (matéria que ignorou durante a campanha eleitoral) e mostra-se incapaz de acender um farol de esperança que possa iluminar a massa adepta.
Um exemplo: reconhece que foi impossível contratar Malinovsky, Robertone e Dabbur por falta de verba. Mas teve interesse em adquirir Galeno, que Pinto da Costa não queria no Dragão. «Questionei-o por SMS mas nunca obtive resposta», revela. Quis resolver o assunto por mensagem em vez de ligar ao homólogo do FCP, o que é uma confissão de inépcia. O jogador acabou no Braga.
É uma entrevista deprimente, própria de um médico que se confina ao diagnóstico sem prescrever a terapia. Ignorando que um clube em quebra psicológica é muito mais propenso a somar derrotas em campo.
5.
Boa parte é preenchida com a novela Bruno Fernandes. Com o presidente do Conselho Directivo e da Sociedade Anónima Desportiva a enrolar-se em contradições. Começa por declarar, em jeito de mea culpa, que «o momento de Bruno Fernandes ser vendido era no mercado de Verão». Reconhecendo que nessa altura recusou uma oferta [do Tottenham] de 45 milhões de euros fixos, mais 20 milhões por objectivos: «Olhando para trás, de forma fria, [isso] hipotecou muito a época de futebol deste ano.»
Dúvidas dissipadas? Não. Mais adiante, exprime raciocínio inverso: «Com a venda em Janeiro, por 63 milhões praticamente certos, ficou demonstrado que fizemos bem em resistir e não ter aceitado a proposta do Tottenham.» Ninguém entende.
6.
Outra flagrante contradição: adianta que se viu forçado a vender Bas Dost praticamente a preço de saldo - por cerca de metade do valor de mercado do artilheiro holandês - devido a prementes necessidades de tesouraria a meio do ano. Mas como explicar então as contratações de jogadores que têm alternado o banco com a bancada ou se revelaram autênticos fiascos mesmo quando actuam de verde e branco? Casos de um Rosier (5,3 milhões de euros mais a cedência do passe de Mama Baldé), um Tiago Ilori (2,4 milhões de euros por apenas 60% do passe) ou um Idrissa Doumbia (4,3 milhões de euros).
Isto já para não falar nas anedóticas aquisições por empréstimo de Jesé e Fernando. No caso deste último, aliás já devolvido à procedência, Varandas reconhece que «foi uma contratação falhada», mas matiza: «A operação no total custou 600 mil euros, em salários». Seiscentos mil euros volatilizados num clube tão carente de recursos financeiros e que, diz agora o presidente, chegou a correr «risco de falência».
7.
Uma entrevista deste género, nas circunstâncias em que o Sporting está, devia ser uma oportunidade para apontar um rumo e limar arestas internas. Varandas faz ao contrário. Não reserva um elogio à Comissão de Gestão do Sporting, que pegou no clube em circunstâncias tão difíceis, é incapaz de expressar uma palavra de apreço por Torres Pereira ou Sousa Cintra, omite qualquer referência a José Peseiro, alude a Marcel Keizer (treinador escolhido por ele) com gélida indiferença, menciona Leonel Pontes sem um átomo de consideração e praticamente deixar antever que se prepara para deixar cair Silas (outro treinador escolhido por ele).
8.
Pior ainda: critica os jogadores da formação. Parecendo invejar Bruno de Carvalho, que ao assumir funções tinha um manancial de talentos oriundos da cantera de Alcochete (Rui Patrício, Adrien, William, Cédric, Esgaio, Eric Dier, Rúben Semedo, João Mário e Bruma), dispara: «Dos 18 aos 23 anos, que jogador tenho eu preparado para ajudar a equipa? Um? Max?»
Sim, Max. Sobre quem Varandas, totalmente fora de propósito, declara: «Não sei se vai continuar a ser titular ou não.» Mas também Matheus Pereira, que a administração da SAD irresponsavelmente despachou para Inglaterra com uma cláusula de opção de 10 milhões que não deixará de ser accionada. «É um negócio bom para a realidade do Sporting», diz Varandas. Só ele parece pensar assim, olhando para o rendimento desportivo do jogador no Championship: cinco golos e dez assistências.
Mas também Francisco Geraldes, Ivanildo e Gelson Dala, que têm andado de empréstimo em empréstimo sem oportunidade de provarem o que valem no Sporting. Mama Baldé foi atirado fora, no negócio da vinda de Rosier. Pedro Mendes, melhor marcador da Liga Revelação, ficou por inscrever nas competições internas da equipa A em tempo útil. E Domingos Duarte, um dos melhores defesas formados em Alcochete, vendido ao Granada por 3 milhões de euros - quase de borla.
Assim tem cuidado o Sporting da sua formação na era Varandas. Ele queixa-se de quê?
9.
Falando ainda em legados: o presidente do Sporting esquece que ele próprio herdou um sobredotado como Bruno Fernandes que, não trazendo a marca da nossa Academia, se revelou mais valioso do que qualquer outro profissional leonino antes dele - incluindo Cristiano Ronaldo, Quaresma e Nani.
Cada qual deve administrar da melhor maneira as heranças que recebe, de nada adiantando lançar anátemas sobre o que ficou para trás. Mas teria ficado bem a Varandas uma palavra de agradecimento a Sousa Cintra por haver resgatado o jogador num momento muito difícil da história do clube. Não o faz. Além disso, atira-se sem qualquer propósito a José Eduardo Bettencourt, invocando águas passadas, quando declara: «É sempre uma falha quando um capitão sai com o rótulo de maçã podre».
10.
É uma entrevista que deixa demasiadas questões em aberto. Acuña talvez renove, mas a incógnita subsiste. Adrien talvez regresse ou talvez não. Silas pode sair só em Junho, pois «a época do futebol falhou», mas ninguém se admire que seja afastado antes. Talvez haja uma proposta de um novo nome para o Estádio José Alvalade, mas se calhar nada irá por diante. «Vamos ver se conseguimos materializar isso numa coisa boa para o Sporting»: palavra de Varandas. Puro jargão presidencial.
De positivo, retive apenas que a equipa B será recuperada (mas falta saber em que circunstâncias) e Palhinha regressará do longo empréstimo ao Braga. Pouco, muito pouco, quase nada.
Concluindo: é uma entrevista que desvaloriza a "marca" Sporting, isola Varandas no seu labirinto e deprime ainda mais os adeptos. Não havia necessidade.
Não parece, mas esta frase foi proferida pelo presidente do Sporting, aludindo ao próprio clube e atribuindo-a a um treinador português com prestígio europeu cujo nome não especificou. Numa desastrada entrevista ao Jornal da Noite da SIC em que pretendia incutir tranquilidade aos adeptos, Frederico Varandas espalhou-se ao comprido logo no início, proferindo estas palavras que relegaram para segundo plano qualquer outra mensagem que pretendesse transmitir. Palavras que a partir daí se colaram a ele: será difícil libertar-se delas.
«Ao despedir Keizer, procurámos um treinador português e com um grande currículo europeu. Tentámos. Um mostrou que desejava ter projectos onde pudesse lutar pela Champions. E outro também recusou e até me disse: "Gabo muito a sua coragem, gabo muito a sua paciência, mas eu não tenho a mesma para aturar um clube de malucos, como é o Sporting." Isto [sic] é a visão que muitos treinadores têm hoje do Sporting.» Declarações textuais de Varandas, mencionando José Mourinho e Leonardo Jardim entre os técnicos conceituados que procurou (em vão) trazer para Alvalade.
Foi a 28 de Setembro - um dia em que o sucessor de Torres Pereira e Sousa Cintra certamente recordará pela negativa. Ao declarar o que declarou, Varandas confirmou que Silas esteve muito longe de ser a primeira escolha para orientar o futebol profissional do Sporting - facto que só pode quebrar-lhe a autoridade no balneário. Deixando claro, ao mesmo tempo, que não faltam treinadores que recusam trabalhar em Alvalade - algo nada abonatório para o emblema leonino. Além disso, ficou-lhe mal tornar públicas conversas do foro privado. Ficou-lhe ainda pior admitir insultos ao clube a que preside, venham de quem vierem.
Varandas não parece ter reparado que, se o Sporting é um clube de malucos, ninguém será tão doido como o primeiro na hierarquia. Ele.
No dia seguinte, em conferência de imprensa, Silas deu-lhe a resposta: «Sou o mais maluco de todos.» Demonstrando, com muito menos palavras, maior eficácia comunicacional do que o presidente.