O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre ELIAS:
- Eu: «Dizem-me que um tal Elias está em Lisboa para "substituir Adrien". Só pode ser anedota de mau gosto. Na melhor das hipóteses, vem reforçar a equipa B.» (31 de Agosto)
- Luís de Aguiar Fernandes: «Podem dizer que o Elias... Bom, podem dizer o que quiserem do Elias.» (31 de Outubro)
- Luciano Amaral: «A equipa técnica e a direcção arranjaram um amontoado de coxos que não dão qualquer garantia (Elias, Markovic, Alan Ruiz, André, Petrovic...). E assim é preciso pôr sempre os mesmos a jogar e eles não chegam para todas.» (13 de Dezembro)
- José Navarro de Andrade: «Com a deliberada persistência de um coveiro ele vai descarnando uma clareira no meio do campo e, sempre a esbracejar com toda a gente, desorientando os parceiros, que não sabem o que fazer nem como vencer tamanho vazio. Elias não é passivo, pelo contrário, de mansinho, mostra-se como um Iago, activamente aplicado em destruir o jogo do Sporting. Já me garantiram que ainda por cima lhe pagam como a qualquer outro jogador.» (9 de Janeiro)
Houve Pirlo, claro, cujo apogeu viu-se no dia 24 de Junho de 2012. No desafio entre a Itália e a Inglaterra, Pirlo jogando como dizem que Manolete lidava as feras, quase sem mexer os pés, executou 146 passes, dos quais 80% (117) foram bem entregues. Nessa tarde mágica, a inteligência de Pirlo, que era a de estar sempre no lugar certo no instante exacto, metamorfoseou-se numa espécie de presciência sobrenatural, que consistia em vê-lo atrair a si os percursos da bola, devolvendo-a depois ao jogo, ao futebol, ao universo, em perfeito estado de mansidão e domínio. É provável que nas próximas décadas nunca mais se volte a ver prodígio igual. Isto para dizer que àqueles que se limitam a serem apenas excelentes jogadores e não semi-deuses do futebol, como Adrien Silva, arcar com a posição 8 exige muito suor, ânimo e discernimento. Porque sobre as suas qualidades naturais ele mostra estas aptidões, Adrien é uma peça insubstituível no Sporting. Alarmante é que saíndo Adrien entra Elias. Ora aqui está um que tem uma habilidade especialíssima: a de conseguir ser o buraco negro simétrico da estrela Pirlo. Por malas-artes e não menos má-fé, em qualquer momento do jogo Elias consegue posicionar-se criteriosamente longe do percurso da bola. Durante a segunda parte com o Feirense, na atmosfera de naufrágio que se começou a respirar, quedei-me fascinado, como o passarinho pela cobra, pelo serpenteio de Elias no estreito perímetro em que se acoita. Com a deliberada persistência de um coveiro ele vai descarnando uma clareira no meio do campo e, sempre a esbracejar com toda a gente, desorientando os parceiros, que não sabem o que fazer nem como vencer tamanho vazio. Elias não é passivo, pelo contrário, de mansinho, mostra-se como um Iago, activamente aplicado em destruir o jogo do Sporting. Já me garantiram que ainda por cima lhe pagam como a qualquer outro jogador.
Nunca devemos voltar aos locais onde já fomos felizes, diz quem sabe. Por maioria de razão, devemos evitar o regresso aos locais onde fomos infelizes. Nada garante que aquilo que à primeira não funcionou bem passe a funcionar melhor quando se dispõe de uma segunda oportunidade.
O brasileiro Elias Mendes Trindade, paulista de 31 anos, dispôs dela. E acabou por regressar a Alvalade três anos depois da abortada tentativa de conquistar um troféu ao serviço do Sporting – com tanto mais responsabilidade quanto era sabido que tinha sido o jogador mais caro da história leonina, custando cerca de 8,8 milhões de euros aos nossos cofres.
Os adeptos torceram o nariz. Para quê trazer de volta este médio que ficou ligado ao humilhante sétimo lugar de 2012/13 – a pior classificação de sempre do clube onde noutros tempos brilharam brasileiros como Géo, Osvaldo Silva, André Cruz, Jardel e Liedson?
Fui dos mais cépticos, confesso. Nem lhe concedi o benefício da dúvida. “Dizem que um tal Elias está em Lisboa para ‘substituir Adrien’. Só pode ser anedota de mau gosto. Na melhor das hipóteses, vem reforçar a equipa B”, escrevi aqui a 31 de Agosto, mal foi conhecida a notícia do seu regresso. Bem recordado da entrevista que o jogador deu há quatro anos em que confessava sentir-se “infeliz no Sporting”.
Gostaria de ter-me enganado. Infelizmente, não foi o caso. O Elias que voltou era demasiado semelhante ao Elias que partira: incapaz de acertar as marcações, falhando passes, rematando para trás, soltando a bola como se lhe queimasse os pés.
Em boa verdade, talvez não devesse ser decepção. Porque nunca foi ilusão. Quem disse que a história não se repete?
Nunca assobiei nenhum dos nossos jogadores em Alvalade - e, confesso, vontade não me faltou uma vez ou outra. Mas sou por sistema contrário àqueles que procuram "incentivar" a equipa em campo durante os jogos enquanto vaiam os jogadores do alto das bancadas, produzindo efeitos opostos ao que pretendem.
Há no entanto sempre uma excepção. Pouco me importa que Elias seja assobiado ainda antes de se atingir a meia hora, como sucedeu sábado frente ao Tondela. Eu próprio o fiz. Não no estádio, mas aqui no blogue, há quase dois meses.
Esta conversa toda de entra Elias e sai Adrien e Slimani e há uma coisa que me preocupa. Vamos jogar a champions com que lateral esquerdo? É que não vejo nenhum a chegar.
O Sporting vendeu "em baixa" metade do passe de Elias pouco depois de o ter adquirido. Foi só há três anos mas muitos já não se lembram.
O brasileiro - a mais cara contratação de sempre para os cofres de Alvalade - custou 8,85 milhões de euros em Agosto de 2011. Logo em Setembro, a direcção leonina decidiu alienar 50% do passe do jogador por apenas 3,85 milhões. Bastou um mês para Elias valer menos 1,15 milhões...
«Houve portanto dois maus negócios: a compra de um excedentário do Atlético Madrid [Elias] pelo valor absurdo de €8M e a venda "abaixo do par" feitas pelo Godinho. E houve bom negócio: a venda de um peso morto encostado, com 29 anos, ao preço da compra.»
Do artigo de ontem de Pedro Santos Guerreiro no Record:
«Depois do negócio desta semana com Elias, o Sporting já encaixou esta temporada mais de 20 milhões de euros em vendas de jogadores. É um resultado muito bom - e que se torna excelente se considerarmos a classificação do clube na Liga. Há um ror de dívida por pagar, mas o leão já não está em risco de extinção. E estava.»
«O clube de Alvalade já tinha sido reestruturado várias vezes, mas sempre para pior. Hoje há equilíbrio económico e credibilidade na forma como se gere o sufoco financeiro. Portugal devia aprender com o Sporting: é assim que se merecem perdões de dívida.»
«É impressionante confirmar quão mal gerido foi sendo o Sporting nos últimos anos, com aquisições disparatadas e caras. A venda de Elias, por exemplo, foi feita a metade do valor a que o jogador havia sido adquirido. Mas o verdadeiro mau negócio não foi esta venda - foi a compra. Se for verdade que a auditoria ao Sporting há de revelar tudo o que se foi passando, poderemos perceber o porquê das pequenas catástrofes que se foram somando em Alvalade.»
Parece que por fim é desta. O mais caro e um dos piores jogadores que passou pelo nosso Sporting, foi despachado. Ainda encaixámos quatro milhões de euros e acima de tudo desaparecem da folha salarial uns valentes milhões. A casa vai-se arrumando e não são precisos cheques e vassouras.
Nem tudo é diferente no Sporting neste intervalo de 12 meses. Há pelo menos um ponto em comum: a novela Elias. Em 10 de Janeiro de 2013este era um dos temas dominantes aqui no blogue. A mais cara contratação de sempre do nosso clube estava em vias de rumar ao Flamengo, por empréstimo, suscitando diversos comentários por cá.
"Confesso que não me deixa quaisquer saudades a não ser do dinheiro mal gasto", escrevia o Pedro Quartin Graça. "Esperemos que o empréstimo de Elias ao Flamengo não seja mais um negócio tipo Pongolle", advertia o Tiago Cabral.
Muita coisa foi mudando. Mas a novela Elias prossegue com episódios vários, um ano depois.
«Lê-se e não se acredita. Quando pensávamos que já sabíamos que as contas do Sporting eram uma desgraça ficámos a saber que são também uma vergonha. Bruno de Carvalho já quase não precisa da auditoria de gestão: ela está no Relatório e Contas que o Sporting acaba de publicar. Ou o que está no relatório é verdade e há gestores antigos que deviam ser questionados, ou então o relatório é um delírio e os gestores antigos deviam processar quem publicou aquelas contas.
Os detalhes do Relatório e Contas do Sporting têm vindo a ser descascados na última semana em vários jornais. É inacreditável saber que o marroquino Labyad custou afinal 3,5 milhões e não os 900 mil euros que haviam sido comunicados, pois houve 2,61 milhões de "gastos inerentes à aquisição do jogador". É de bradar aos céus que tenha sido paga uma comissão ao pai do jogador na qualidade de "olheiro". Com Elias, afinal a contratação mais cara de sempre do Sporting foi ainda mais cara do que se supunha, com encargos totais de 11,15 milhões em vez de 8,85 milhões. A diferença, claro, é o costume: serviços de intermediação e prémios de assinatura. Também Pranjic implicou afinal 1,08 milhões.»
Os dados agora vindos a lume sobre o vendaval de loucura que varreu o Sporting durante o anterior mandato tornam ainda mais urgente a auditoria de gestão presentemente em curso para honrar a promessa feita por Bruno de Carvalho aos sócios.
Há muitos aspectos chocantes no relatório e contas referente à época 2012/13, agora divulgado. Mas nada me escandalizou tanto como saber que Elias - a mais cara e inútil contratação de sempre na história do Sporting - custou não os 8,8 milhões de euros que tinham sido anunciados, quantia que já era inaceitável num quadro de gestão rigorosa e competente, mas 11,15 milhões de euros, segundo o último comunicado enviado à CMVM.
Parafraseando Churchill, num contexto muito menos heróico, nunca o Sporting ficou a dever tanto a tão poucos. Precisamente a alguns dos que menos fizeram pelo prestígio do clube, o que nos custa ainda mais. Percebe-se agora ainda melhor porque estivemos quase a bater no fundo.
É bom que todas estas informações circulem. Para que os tempos de pesadelo não regressem. Nunca mais.
"O Elias tem contrato com o Sporting. Se o clube pagar o que deve e exigir o regresso dele, vai voltar ao clube." Quem o diz é o pai e agente do coiso. Ora aqui está um belo argumento para não lhe dar nem um chavo - olha se ele volta...
Quando o Sporting-Benfica chegou ao fim tive vontade de apresentar Rinaudo a um advogado, para que desse início ao processo judicial contra Elias e Pranjic, os dois fulanos que o abandonaram no meio-campo leonino apesar de estarem no relvado. Desta vez, Rinaudo tinha Adrien Silva e, sobretudo, Eric Dier. O nosso 'bife' encontrou o (mais um novo) lugar no campo e foi superlativo em entrega, raça e visão de jogo.
Como é que se vende Insúa, o melhor lateral esquerdo dos últimos anos, ao Atlético de Madrid por 3,5 milhões de euros, tendo Rojo custado mais de quatro milhões e Elias 8,5 milhões (ao mesmíssimo clube)?
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