O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre EDWARDS:
- Francisco Almeida Leite: «Está claramente num mau momento de forma, parece abstraído de tudo no jogo.» (3 de Setembro)
- Luís Lisboa: «É impossível que um desequilibrador nato como Edwards, que joga no limite do risco, não perca bolas nem falhe passes. Quando só ele marcaria um golo à Messi e assistiria daquela maneira Paulinho para o golo da vitória.» (6 de Novembro)
- Eu: «Meteu-a lá dentro, disparando com o seu pior pé - o direito - em estreia absoluta como artilheiro na Liga Europa. Merece elogio até porque na véspera tinha sofrido um aparatoso acidente de automóvel, felizmente sem sequelas físicas.» (1 de Dezembro)
- José Navarro de Andrade: «O Sporting deste ano está muito bem afinado, (Diomande, Coates, Morita, Hjulmand, Geny, Bragança, St. Juste, Edwards, são um gosto de ver jogar) é só remover as prima donas, que se estão fartas de nós, nós estamos ainda mais fartos delas.» (5 de Dezembro)
- Edmundo Gonçalves: «É uma espécie de interruptor, ora acende, ora apaga, conjugando grandes jogos com exibições completamente apagadas como a de hoje.» (9 de Dezembro)
O Ferrari estampou-se, após ter entrado numa via em sentido contrário.
O pasteleiro, que estava a ver televisão numa sala aconchegante com um amigo, viu o acidente pelo canto do olho e quando lhe perguntaram "o quéque aconteceu", respondeu que "ach'qué m'lhor tirar a carta ao gajo que vinha em sentido contrário". "Mas a quem?" perguntou o amigo, que estava a enfardar um naco de chocolate preto com frutas cristalizadas e não viu o acidente-nem-nada-e-nem-queria-ter-visto-não-fosse-ainda-ser-chamado-a-dar-opinão, "Ora, ao gajo que foi contra o Ferrari!"
E assim, dois filhos da puta conseguiram meter o Sporting (atrás da) na linha.
Gostei muito do belo golo marcado por Pedro Gonçalves em Bérgamo. Foi ontem, aos 33', abrindo o marcador no jogo da segunda mão, após empate com muita sorte nossa em Alvalade (1-1) frente à turma italiana, sexta classificada no campeonato do seu país. Até aí tínhamos sabido fechar os caminhos para a nossa baliza, dando boa réplica à intensa pressão adversária sobre o portador da bola. O golo culminou exemplar lance colectivo em que intervieram Morten e Matheus Reis antes de Pedro Gonçalves pegar nela, fazer eficaz tabelinha com Gyökeres e isolar-se frente ao guarda-redes, encaminhando-a para o fundo da baliza. Sem vacilar, na primeira oportunidade da nossa equipa neste jogo. Décimo-quinta concretização com sucesso do nosso n.º 8 na época em curso, que promete ser a sua segunda mais goleadora de sempre. Infelizmente foi também esse o momento em que Pedro contraiu uma lesão - aparente rotura muscular - que o forçou a sair em lágrimas quando estava a ser o nosso melhor em campo. Talvez permaneça várias semanas afastado. Baixa preocupante nesta recta final da época.
Gostei de alguns jogadores nossos. Desde logo, Israel: a lesão de Adán acabou por dar oportunidade ao jovem guardão uruguaio, já internacional pelo seu país, para mostrar o que vale. Neste seu quinto jogo seguido como titular, confirmou os pergaminhos com boas defesas aos 3', 51', 70' e 77'. Nos dois que sofremos, infelizmente, pouco ou nada podia ter feito. Também gostei de Morten, que fechou como pôde os caminhos para a nossa baliza, recuperou várias bolas e ajudou a construir o golo. Boa nota igualmente para Daniel Bragança: rendeu Pedro Gonçalves aos 36' sem desequilibrar o nosso meio-campo, complementando a acção do dinamarquês, e ainda fez dois grandes passes para golo (visando Geny aos 84' e Paulinho aos 86'). Esteve ele próprio muito perto de marcar com um disparo forte, de longe, aos 70', para defesa incompleta de Musso: infelizmente nenhum colega compareceu nas imediações para a recarga. Nem sequer Gyökeres, bem policiado pelo seu compatriota Hien, seu colega na selecção sueca.
Gostei pouco de alguns passes longos, na fase de construção, que acabaram em pés italianos. Foi o caso do que viria a gerar o primeiro golo da Atalanta, no minuto inicial da segunda parte: Gonçalo Inácio tenta colocar a bola em Trincão, um dos colegas com menor intensidade colectiva na partida de ontem; um adversário antecipa-se e rouba-a, desencadeando um contra-ataque muito rápido em que vão falhando sucessivas tentativas de intercepção - desde logo do próprio Gonçalo, com Diomande aos papéis, St. Juste a falhar o corte no momento indicado e Esgaio ao segundo poste a marcar com os olhos. Lookman facturou à nossa custa. Doze minutos depois foi a vez de Scamacca fazer o mesmo, repetindo a proeza alcançada em Alvalade.
Não gostei do segundo golo sofrido, aos 58'. Novo naufrágio da nossa defesa, desprovida do seu comandante natural: Coates, por precaução física, ficou fora desta partida já a pensar na recepção do Sporting ao Boavista no domingo - menos de 72 horas após o apito final em Bérgamo, ficando assim por cumprir o período mínimo de intervalo para descanso recomendado entre dois jogos do calendário oficial. Esse segundo golo da Atalanta - numa partida em que não tivemos nenhum jogador castigado com cartões - acabaria por ditar a nossa eliminação. Saímos derrotados, caímos nos oitavos-de-final, dissemos adeus à Liga Europa.
Não gostei nada de ver dois jogadores falharem quatro golos nos dez minutos finais. Culpas repartidas por Edwards e Paulinho - sem surpresa, em qualquer dos casos. O inglês falha clamorosamente, trocando os pés, quando estava isolado frente a Musso (84') e consegue ter uma perdida ainda mais escandalosa, sem marcação e de novo com a baliza à sua mercê, disparando para as nuvens (90'). O n.º 20, que substituiu o apático Trincão aos 75', conseguiu entregar a bola ao guardião quando havia sido desmarcado de modo exemplar por Bragança (86') e cabecear na direcção errada, ao segundo poste, a dois metros da linha de golo (89'). Falta de mentalidade competitiva, falta de intensidade, falta de qualidade. Sobretudo no caso de Edwards: nem parecia estar em campo, tantas foram as vezes em que caiu sem ninguém lhe ter tocado, falhou passes fáceis, deixou fugir a bola, perdeu duelos por falta de comparência. Um descalabro. Não mereceu, nem de longe, ser titular nesta partida.
«Com o Edwards há que esperar tudo. (...) Imagino as dificuldades de um treinador em gerir um jogador com estas características, ou seja, um jogador que tem muitas jogadas abortadas, e muitas vezes de forma infantil, mas quando elas resultam o golo é quase certo. Vale a pena ter um jogador destes em campo o tempo todo de jogo? É uma boa questão. Eu acho que sim, mas é uma opinião pessoal.»
De mais uma vitória: o Sporting soma e segue. Ontem derrotámos o Farense em Alvalade. Por 3-2 (com 2-1 ao intervalo), num jogo em que dispusemos de muito mais oportunidades do que a equipa adversária mas manteve o resultado em aberto quase até ao fim, num grande espectáculo de futebol. Resultado que repete o da primeira volta, no Algarve, desta vez com dois belos golos da turma forasteira - pelo argelino Belloumi (32') e pelo caboverdiano Zé Luís (50'). Mas insuficientes para os de Faro pontuarem no nosso estádio. Convém não esquecer que esta foi a mesma equipa que impôs um empate a zero ao Benfica na Luz e perdeu à tangente com o FCP no Dragão numa partida em que os portistas só fizeram o 2-1 ao minuto 100.
De Daniel Bragança. Grande jogo do esquerdino, que aos 24 anos se estreou como capitão da equipa em Alvalade devido à ausência simultânea de Coates (começou no banco e só entrou aos 69') e de Adán (lesionado). Com os avós na bancada, o médio formado em Alcochete fez jus à braçadeira impondo a sua qualidade de passe e a sua visão de jogo. A vitória leonina começou por ele, logo aos 11': grande disparo com o pé direito, com tanta força que fez a bola bater duas vezes na trave antes de entrar. Interveio também no início da jogada do terceiro golo. Mostrou-se infatigável: à beira do fim ainda corria para recuperar bolas. Melhor em campo.
De Gyökeres. É impressionante, vê-lo jogar. Mesmo já sem a frescura que lhe vimos noutras fases, acusando o desgaste de actuar agora de três em três dias, continua a exibir toda a qualidade do seu futebol, em contínua vertigem ofensiva. Num destes lances, marcou, encaminhando-a da melhor maneira para o fundo das redes: foi aos 18', na primeira oportunidade de que dispôs, alargando então a vantagem para 2-0. E serviu os colegas, como aconteceu aos 87', após um estonteante slalom dentro da área algarvia: era para Daniel, a quem só faltou encostar. Tem já 18 golos marcados na Liga e 32 no total das competições.
De Pedro Gonçalves. Desta vez jogou menos tempo do que é habitual: Rúben Amorim trocou-o aos 55' por Trincão, já a pensar na eliminatória da Liga Europa com a Atalanta, que vai decorrer depois de amanhã em Alvalade. Mas esteve tempo suficiente para assistir o sueco no nosso segundo golo, num ângulo muito apertado na ponta esquerda, e marcar ele próprio o terceiro, aos 53', após centro de Esgaio. Missão cumprida. Isola-se como segundo artilheiro do Sporting na temporada em curso.
Do regresso de St. Juste. Após longa ausência (mais uma), o holandês voltou para integrar um inédito trio defensivo do Sporting, com ele à direita, Diomande ao meio e Matheus Reis à esquerda - rendendo Eduardo Quaresma, Coates e o lesionado Gonçalo Inácio no onze. Cumpriu no essencial, faltando-lhe alguns automatismos, como seria de esperar. Mas saiu dos pés dele uma grande abertura que iniciou o nosso golo inaugural. Podia ter feito melhor na cobertura do lance do segundo golo algarvio, mas vê-lo outra vez operacional já é boa notícia. E aos 24' esteve quase a marcar, de cabeça, na sequência de um canto: a bola foi ao ferro.
Da hora do jogo. Começou às seis da tarde, com as bancadas muito compostas (mais de 39 mil espectadores), cheias de crianças acompanhadas dos pais e avós, neste domingo. O ideal para congregar famílias, seja Inverno ou seja Verão, em estádios de futebol. Seria bom que este horário se repetisse.
Da homenagem inicial a Alexandre Baptista. Justa lembrança de um dos nossos melhores centrais de sempre, ontem falecido aos 83 anos. Foi um dos heróis da feliz campanha leonina de 1963/1964 que culminou com a conquista da Taça dos Vencedores das Taças e um dos "Magriços" que subiu ao pódio, com a camisola das quinas, no Mundial de 1966.
De Cláudio Pereira. Boa actuação deste jovem árbitro, que não complicou nem atrapalhou nem quis ser o centro do espectáculo. São atributos que deviam ser muito mais frequentes na arbitragem portuguesa, mas isso não acontece. Daí merecer este sublinhado pela positiva.
De continuarmos invictos em casa. Nem uma derrota nesta Liga em que confirmamos o nosso estatuto de equipa mais regular. Já levamos 40 golos marcados em Alvalade. E dez jogos consecutivos sem perder neste campeonato (nove vitórias, um empate).
De ver o Sporting marcar há 32 jornadas consecutivas. Sempre a fazer golos, consecutivamente, desde o campeonato anterior. Sem eles não há vitórias. E sem vitórias não se conquistam títulos e troféus.
De retomarmos a liderança isolada da Liga 2023/2024. Agora com 59 pontos, beneficiando da humilhante goleada (5-0) do Benfica no Dragão. Um mais do que os encarnados, mais sete do que os azuis-e-brancos e mais dez do que o Braga. Tendo - pormenor que convém não ser esquecido - ainda um jogo por disputar. Se o vencermos, ampliamos a vantagem sobre o SLB de um para quatro. Cenário desejável e bem possível.
Não gostei
De ter sofrido dois golos. Sem culpas para Israel, que ontem substituiu Adán entre os postes por impedimento físico do guardião espanhol. Já são cinco, em duas jornadas, se os somarmos aos três que o Rio Ave nos marcou na ronda anterior, em Vila do Conde. Confirma-se: a nossa defesa, nesta Liga, está num patamar inferior ao nosso ataque.
Do início da segunda parte. Viemos sem dinâmica do intervalo, um pouco anestesiados pela magra vantagem obtida nos 45' iniciais. Cinco minutos depois, o Farense empatava: era um justo castigo para a desconcentração leonina. Felizmente não tardámos a pôr-nos de novo à frente do marcador.
De ver antigos jogadores do Sporting na equipa adversária. É vulgar acontecer, mas desta vez foram três: Elves Baldé, Cristian Ponde e Rafael Barbosa. Todos formados em Alcochete, onde actuaram em vários escalões menos na equipa principal - excepto Ponde, que ainda chegou a estrear-se, com Marco Silva, numa partida da Taça da Liga. Ausente esteve também outro ex-Sporting: Mattheus Oliveira. Este não passou pela formação e saiu sem ter deixado saudades de qualquer espécie. Foi ele a marcar os dois golos que sofremos no desafio da primeira volta.
De Edwards. Nada lhe saiu bem. Voltou a ser titular, beneficiando da recente lesão de Francisco Trincão, entretanto regressado. Mas continua sem justificar a aposta de Amorim: o melhor que fez ontem foi um remate frouxo, à figura, aos 35'. De resto foi abusando das fintas, foi-se comportando como dono da "redondinha" até ser desarmado, foi-se atirando para o chão. O treinador, farto de tanta inoperância, deu-lhe ordem de saída aos 78' (fazendo entrar Paulinho) após duas perdas sucessivas de bola do inglês nos minutos precedentes.
Dos assobios dos adeptos à beira do fim. Uma vez mais, quando a equipa mais precisava de apoio e procurava segurar a bola para garantir os três pontos, uma caterva de imbecis instalados nas bancadas desatou a brindá-la com sonoras vaias, iniciadas ainda antes do fim do tempo regulamentar e prolongadas pelos cinco minutos de período extra. Nunca me cansarei de protestar contra tanta demonstração de estupidez.
Morita e Morten brilharam no meio-campo, vulgarizando o Benfica no clássico da Taça em Alvalade
Foto: Rodrigo Antunes / Lusa
Gostei muito da nossa vitória ontem, em Alvalade, frente ao Benfica, cumprindo a primeira mão da meia-final da Taça verdadeira. Num desmentido vivo e cabal daquela treta - propalada por alguns adeptos que são leões sem juba - de que o Sporting claudica nestes clássicos. O que se viu ontem foi o contrário disto: o Benfica a tremer durante uma hora, em que sofreu dois golos e podia ter sofrido outros tantos, incapaz de construir um lance colectivo digno desse nome, sem posse de bola, remetido ao reduto defensivo, impotente na reacção à contínua pressão atacante da nossa equipa. Basta referir que o primeiro remate deles à nossa baliza aconteceu só aos 59' quando João Mário - sempre muito assobiado cada vez que tocava na bola - atirou à figura, para defesa fácil de Israel.
Gosteideste triunfo por 2-1 que nos dá vantagem para o desafio da segunda mão, a disputar na Luz daqui a mais de um mês - caprichos do calendário futebolístico que está sobrecarregado de jogos nesta fase e devia ser revisto em futuras temporadas. Pusemo-nos em vantagem logo aos 9', com um surpreendente golo de Pedro Gonçalves de cabeça, quase sem tirar os pés do chão, batendo o guarda--redes ucraniano do SLB, que tem quase 2 metros de altura. Mérito inegável do melhor jogador português do Sporting, ontem excelente como segundo avançado: já fez 14 golos esta época, sendo agora o segundo artilheiro da equipa. Assim chegámos ao intervalo. O segundo golo, aos 54', foi de antologia - com Gyökeres muito bem lançado de trivela por Geny junto à linha direita, a correr com ela dominada durante 35 metros e a fuzilar Trubin. Destaco ainda a fantástica dupla Morita-Morten (com o dinamarquês a assistir no primeiro golo), que controlou as operações no meio-campo durante 65 minutos, até a fadiga se instalar. Mas sublinho acima de tudo a presença imperial de Coates no comando da defesa neste seu jogo 355 de Leão ao peito: elejo-o como melhor em campo. Cortes impecáveis aos 22', 38', 45'+2, 51' e 90'+5. Com ele ao leme, nem parecia que estávamos desfalcados de um titular naquele sector: Gonçalo Inácio, lesionado, esteve ausente do onze. Tal como Trincão, pelo mesmo motivo.
Gostei pouco que algumas oportunidades de golo tivessem ficado por consumar. O campeão dos perdulários voltou a ser Edwards, que atravessa fase menos boa. Frente à baliza e com as redes à sua mercê, demorou a rematar, permitindo intercepção, aos 45'. Também muito bem colocado, aos 64', falhou o disparo: a bola saiu-lhe enrolada, perdendo-se assim a hipótese de dilatar o marcador.
Não gostei que o golo de Nuno Santos - obra-prima que prometia dar a volta ao mundo - tivesse sido anulado por deslocação de Paulinho. Aconteceu aos 90'+3: ainda festejámos por alguns momentos o suposto 3-1 após monumental chapéu de mais de 20 metros a desenhar um arco perfeito sobre a cabeça de Trubin com a bola a anichar-se no ninho da águia. Mas ficou sem efeito, o que deve ter causado noite de insónia ao nosso brioso ala esquerdo, que substituiu Geny aos 86' enquanto Paulinho rendera Pedro Gonçalves no minuto anterior.
Não gostei nada da exibição de Esgaio: entrou aos 76', rendendo um Edwards que se perdeu em fintas e fintinhas esquecendo-se de que o futebol é um desporto colectivo. Mas o substituto do inglês não esteve melhor, longe disso: voltou a revelar-se o elemento tecnicamente mais débil do plantel leonino. Aos 80', muito bem enquadrado com a baliza, em posição de disparo e sem marcação, ficou sem saber o que fazer com a bola: sentiu uma espécie de temor cénico e acabou por confundir futebol com râguebi, atirando-a muito por cima da baliza. Pior: voltou a fazer o mesmo aos 88'. Incapaz de tirar um jogador da frente, entregou-a em zona perigosa, aos 90'+1, ficando pregado ao chão e dando origem a uma rápida ofensiva dos encarnados. Tanta asneira junta em tão pouco tempo. Pior só aqueles inenarráveis "olés" que a partir da hora de jogo, num estádio com lotação quase esgotada (45.393 espectadores), começaram a escutar-se nas bancadas: bazófia burra que só contribuiu para desconcentrar os nossos e mobilizar a equipa adversária. Esta gente tarda em perceber que "olés" servem para a tourada, nada têm a ver com futebol.
Gostei muito da passagem do Sporting aos oitavos da Liga Europa, ontem confirmada ao eliminarmos o Young Boys, líder incontestado do campeonato suíço, que fora repescado da Liga dos Campeões. Em boa verdade a eliminatória ficara assegurada uma semana antes em Berna, onde fomos vencer sem margem para dúvida (1-3). Em Alvalade, bastou-nos gerir o resultado e dosear o esforço físico dos jogadores, que depois de amanhã voltam a competir - desta vez para a Liga portuguesa com uma difícil deslocação a Vila do Conde. Foi uma partida tranquila, dominada quase por completo pela nossa equipa, embora muito perdulária em situações de golo.
Gostei que Gyökeres voltasse a marcar - e bem cedo, logo aos 13'. Infiltrou-se na grande área e disparou uma bomba, indefensável, muito perto da marca dos 11 metros. Foi o 29.º golo pelo Sporting do internacional sueco, que também já protagonizou 11 assistências na temporada. A partir daí, os quase 30 mil espectadores deste desafio ao vivo no nosso estádio ficaram com a certeza de que a passagem à fase seguinte da Liga Europa estava assegurada. Mas destaco Trincão como melhor em campo: foi dele a assistência para Viktor nesse lance, com um passe perfeito. E foi também ele a sofrer o penálti aos 55' que podia e devia ter resultado no nosso segundo golo: infelizmente Gyökeres permitiu a defesa do guarda-redes. Nunca antes tinha falhado uma grande penalidade de Leão ao peito.
Gostei pouco de algumas exibições. Esgaio, incapaz de ganhar duelos e sempre receoso de progredir com a bola, fez-nos sentir saudades de Geny - um dos poupados, tal como Coates e Morita (Nuno Santos só fez a segunda parte, por troca com Gonçalo Inácio, e Pedro Gonçalves entrou apenas aos 63'). Outros jogadores que não me impressionaram favoravelmente foram o recém-chegado Koba (substituiu Morten aos 63', com óbvia diminuição da dinâmica colectiva da equipa) e o recém-recuperado Fresneda (substituiu Esgaio aos 85' sem mostrar ainda os atributos que terão levado à sua contratação).
Não gostei que tivéssemos desperdiçado pelo menos quatro flagrantes oportunidades de golo, além do penálti que Gyökeres foi incapaz de concretizar. Em parte devido à competência do guarda-redes e do sector defensivo suíço, onde brilhou Amenda, "polícia" do nosso goleador. Daniel Bragança destacou-se neste capítulo menos positivo com duas perdidas escandalosas, aos 63' e aos 90'+4. Mas o maior falhanço - quase digno dos "apanhados" - foi de Edwards aos 45'+1, com a baliza escancarada e a dois metros da linha de golo. Servido de bandeja por Gyökeres, trocou infantilmente os pés e deixou a bola fugir.
Não gostei nada do golo que sofremos, aos 84', fixando o resultado final (1-1). De penálti, a punir falta cometida por Edwards em trabalho defensivo, num lance que estava controlado e em que a bola aparentemente até se encaminhava sem perigo para a linha de fundo. Os suíços conseguiram assim empatar sem terem construído uma só oportunidade de golo em lance corrido numa partida em que, excepto naquele momento, voltámos a demonstrar muita consistência defensiva - com merecido destaque para Diomande, que não jogava de verde e branco desde 30 de Dezembro e regressou em boa forma do Campeonato Africano das Nações, ao serviço da Costa do Marfim, vencedora da prova.
Rúben Amorim apostou num onze de elevado risco contra uma boa equipa da Liga que atravessava o melhor momento da época e ganhou completamente a aposta. Bragança e Quaresma tiveram o seu dia em que quase tudo correu bem, e assim nem se notou a falta de Morita e Diomande. Da ausência do Coates tratou e bem Inácio. E esteve de volta o "Beckenácio".
Depois mais uma vez houve um Gyökeres doutra galáxia. Não existe futebolista como ele a actuar em Portugal que combine físico com técnica e com inteligência: ele apoia, ele assiste, ele marca, ele faz isso tudo durante os 90 minutos e tal do jogo. Depois o árbitro apita para o final e ele cai redondo no terreno, deu tudo o que tinha.
O Sporting sem ponta de lança não é Sporting. Não vale a pena pensar em três baixinhos e falsos pontas de lança, isso não existe. Sporting é agora Gyökeres, como foram antes Bas Dost, Slimani, Liedson, Jardel, Acosta e muitos outros, muito em especial o "meu" Hector Yazalde, todos eles "abonos de família" da equipa em seu tempo. Com um ponta de lança como o sueco tudo é mais fácil para todos os outros.
Primeira parte de domínio total do Sporting, com dois golos marcados em lances de sonho do sueco que puseram Edwards de frente para o golo e alguns outros desperdiçados. Segunda parte onde o golo de Nuno Santos apareceu cedo e logo aí a vitória ficou atribuída.
A partir daí, com 3-0 no marcador e Trincão em vez de Bragança, o Estoril reagiu em força e o jogo partiu-se, às tantas mais parecia futsal, os ataques rápidos geravam contra-ataques rápidos, as oportunidade sucediam-se em ambas as balizas, umas bolas entravam outras esbarravam nos postes ou eram defendidas em cima da linha. O resultado final foi 5-1, podia ser ter sido 8-3 ou 10-4. Dois belos golos de Pedro Gonçalves e Trincão, ambos a precisar de serem felizes.
Nota negativa apenas para mais um golo sofrido dum canto do lado esquerdo defensivo, o quarto da época. Neste houve desvio de Paulinho para o lado contrário e para uma zona em que não existia ninguém do Sporting. Como na Luz não havia ninguém aquando do desvio de cabeça dum jogador adversário. Uma questão a rever. Um, dois, três e agora quatro: é de mais, alguma coisa está mal.
Melhor em campo? Gyökeres, obviamente. Mas logo depois Edwards pelos dois primeiros golos e depois os outros que entraram de início, todos estiveram mesmo muito bem.
Arbitragem? Excelente, dum árbitro que muito insultei no início quando o vi a "ganhar os galões" prejudicando alarvemente o Sporting mas que tem sabido eliminar os seus tiques autoritários e encontrar o seu caminho na linha da arbitragem da Champions e não da medíocre nacional dos Pinheiros, Manueis Oliveiras e muitos outros.
Afinal a ausência de Morita, Diomande e Catamo deixou de ser drama e tragédia? Afinal Quaresma, Bragança e Essugo contam? Sempre contaram, por isso mesmo é que lá estão. Por decisão e aposta de Rúben Amorim.
E agora? Quem ganha ao Estoril, ganha ao Tondela. Vamos tratar deles na próxima terça-feira. Depois se verá o resto.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Atalanta-Sporting, da Liga Europa, pelos três diários desportivos:
Edwards: 20
Geny: 18
Gyökeres: 18
St. Juste: 17
Morten: 15
Diomande: 15
Morita: 15
Gonçalo Inácio: 14
Adán: 13
Matheus Reis: 12
Pedro Gonçalves: 12
Nuno Santos: 11
Esgaio: 10
Trincão: 9
Coates: 7
Os três jornais elegeram Edwards como melhor em campo.
Pedro Gonçalves, campeão do desperdício em Bérgamo: quatro golos fáceis falhados
Foto: Michele Maraviglia / EPA
Gostei muito de Edwards. Entrou só depois do intervalo no nosso jogo de ontem contra a Atalanta, em Bérgamo, mas fez logo a diferença. Após um primeiro tempo em que concedemos a iniciativa ao adversário, muito pressionante na nossa saída de bola, o Sporting veio da pausa revigorado. Quase irreconhecível, para muito melhor. O péssimo corredor direito foi alterado, com o inglês - tal como no desafio de Alvalade - a fazer novamente a diferença lá na frente. Aos 47' esteve à beira de marcar após boa combinação com Geny (outra entrada após o intervalo que trouxe grande dinâmica). E aos 56' marcou mesmo, lançado por Gyökeres, com perfeito domínio da bola superando quem tentou pará-lo. Meteu-a lá dentro, disparando com o seu pior pé - o direito - em estreia absoluta como artilheiro na Liga Europa. Merece elogio até porque na véspera tinha sofrido um aparatoso acidente de automóvel, felizmente sem sequelas físicas nem psicológicas. Melhor em campo.
Gostei das substituições feitas por Rúben Amorim: graças a elas, e em réplica quase perfeita do desafio contra os italianos em Alvalade, a 5 de Outubro, o onze leonino pressionou, dominou e empurrou em largos períodos a Atalanta para o seu reduto. Foi pena, uma vez mais, termos dado 45 minutos de avanço à turma que nos defrontou. Mas agora, pelo menos, conseguimos um empate (1-1), afastando o estigma da derrota (1-2) como a que ocorreu no nosso estádio e que tanto nos desagradou. Também gostei de ouvir centenas de adeptos a puxar pela nossa equipa, desafiando o frio de Bérgamo. E, naturalmente, de ver o Sporting garantir o segundo lugar no grupo D: este já ninguém nos tira.
Gostei pouco de ver tantos passes falhados em zonas de risco, sobretudo na primeira meia hora de jogo. Com a dupla Morten-Morita incapaz de suster o meio-campo da Atalanta e os nossos corredores laterais sem capacidade para produzir jogo ofensivo. Geny, pela direita, e Nuno Santos, pela esquerda, são bem mais acutilantes do que Esgaio e Matheus Reis nas mesmas posições - como viriam a comprovar na segunda parte.
Não gostei de perder a luta pelo primeiro lugar no nosso grupo: estivemos apenas a um golo do acesso praticamente garantido aos oitavos da competição. Assim teremos de disputar dois jogos extra, num play off, a 15 e 22 de Fevereiro - daí ter ficado perplexo com aqueles minutos finais em que os nossos andaram a queimar tempo à espera que o desafio acabasse, como se não pudéssemos ou não quiséssemos sair vitoriosos. Também não gostei de ver Gonçalo Inácio novamente amarelado sem qualquer necessidade logo no início, agora aos 11': Amorim devia fazer treino específico com ele para evitar a repetição destas entradas imprudentes que podem penalizar seriamente a equipa - e penalizaram mesmo, no clássico da Luz.
Não gostei nada de sofrer o golo tão cedo, logo aos 23', marcado por Scamacca, goleador da Atalanta que já tinha concretizado duas vezes antes, mas sem valer por estar fora-de-jogo. Desta vez valeu, devido a uma perda de bola de Diomande junto à linha do meio-campo, à incapacidade dos restantes defesas de fecharem o corredor e à incorrecta posição de Adán, muito adiantado: ainda tocou na bola com a ponta dos dedos, sem conseguir pará-la. Via-se que faltava ali Coates, ausente do onze titular e só em campo a partir do minuto 80 (rendeu St. Juste, central à direita, com o marfinense ao meio). Também não gostei nada das exibições de Esgaio e Trincão, totalmente ineficazes no corredor direito: o primeiro foi incapaz de fazer um cruzamento, o segundo perdia a bola com uma facilidade impressionante, parecendo com a cabeça noutro lugar qualquer. Já não voltaram do intervalo, em claro benefício da equipa, que recuperou eficácia. Enfim, quase desesperei com Pedro Gonçalves, que desperdiçou quatro golos: aos 35' (chapéu falhado por completo após ter sido isolado por Gyökeres), aos 66' (bem servido por Edwards, consegue fazê-la embater nos dois postes sem entrar), aos 68' (atirou para cima da barra) e aos 71' (isolado por Morita, opta por um passe frouxo ao guarda-redes). Repetiu a desastrosa exibição em Lisboa: anda irreconhecível.
Perdermos hoje em Bérgamo a corrida pelo 1.º lugar no grupo da Liga Europa e assegurámos o 2.º lugar, o que desde logo traz vantagens e inconvenientes. Por um lado podemos descansar titulares na semana do clássico, mas vamos depender do sorteio para saber com quem iremos jogar no início do ano, sendo que não iremos defrontar nenhum dos rivais para a Liga nessa altura, e o Sp.Braga receberemos em Alvalade.
Não me recordo de num jogo fora das competições europeias contra um clube médio/grande duma grande Liga como a italiana termos sete ocasiões claras de golo contra duas do adversário. Conseguimos deixar de ganhar o jogo só mesmo por muita falta de inspiração e de sorte também. As duas coisas que faltaram ao melhor marcador da Liga no ano do título e que não queria acreditar no que estava a acontecer.
Esta Atalanta não é pera-doce para ninguém. Tem um modelo de jogo completamente "fora da caixa" no futebol actual, baseado na marcação em presssing homem a homem e no desequilíbrio ofensivo via homem livre vindo de trás, e contou com um árbitro inglês de critério bem largo ao seu gosto. Claro que entrando em pressing total a todo o campo haverá um momento em que as energias acabam, primeiro dum, depois doutro, e a equipa falha o pressing, perde o fulgor, perde o tempo de entrada aos lances, os amarelos vão surgindo e a equipa cada vez mais fica acantonada perto da sua área à procura dum contragolpe rápido e certeiro.
Com uma defesa sem Coates, com mais pedalada mas menos controlo, o Sporting nem sempre soube contrariar esse modelo de jogo na 1.ª parte, muito por culpa dum Trincão sem tempo nem espaço para receber, rodar e acelerar. Esgaio também foi de pouca ajuda, para além de um pontapé disparatado na sequência dum canto programado. As perdas de bola nas transições ofensivas do Sporting rapidamente eram transformadas em desmarcações para golo dum perigoso Scamacca (não foi falado há anos do interesse do Sporting nele?). Que marcou um grande golo mesmo contando com a colaboração de Adán. Mesmo assim o Sporting teve duas grandes oportunidades para levar o jogo empatado para intervalo.
Na 2.ª parte Rúben Amorim corrigiu o que estava à vista de todos. Entraram como tinham entrado em Alvalade Edwards e Catamo, e, com a excepção de mais um passe falhado e uma desmarcação do mesmo Scamacca que falhou um golo certo, só deu Sporting. Edwards falhou um, marcou outro, Pedro Gonçalves falhou mais três lances de golo feito, incluindo um remate que foi aos dois postes. Dizer o quê ? O Messi falhou muitos também.
Melhor em campo? Edwards, grande entrada em campo dum jogador que se transcende nestes palcos. St. Juste provou mais uma vez que é um óptimo defesa central, e o seu processo de recuperação física está para já a resultar. Vai calar a boca a muito boa gente.
Arbitragem? Critério largo, deixar jogar, reprimir as faltas de respeito e as palhaçadas, podia dar aulas aos Soares Dias, Joões Pinheiros e Duarte Gomes.
Já várias vezes falei aqui nisto. O jornal Record insiste, época após época, em avaliar os jogadores com uma estreitissima grelha de avaliação que em teoria vai de 0 a 5 mas que na prática oscila entre 2 e 4, reservando a nota 1 para aqueles que entram mesmo no fim e às vezes nem chegam a tocar na bola.
Estranho critério, que mal distingue o excelente do bom, o bom do regular, o regular do medíocre, o medíocre do péssimo.
Tem sido assim com vários directores. Já desisti de lhes pedir - enquanto leitor atento e regular do jornal - que alterem essa grelha e adoptem a avaliação de 1 a 10 posta em prática há vários anos pelos rivais A Bola e O Jogo. Escusado: é como se estivesse a falar com uma parede. Não admira que vão perdendo audiência, tratando os leitores com esta indiferença olímpica.
Vem isto a propósito de quê? Da edição de anteontem desse jornal. E do tratamento dispensado a Marcus Edwards nessa edição.
Na capa proclamam, em letras garrafais: «King Edwards».
Lá dentro, no plano de abertura do jornal, escrevem nada menos que isto, sempre em toada elogiosa: «Noite mágica de Edwards em Alvalade, com um golo "maradoniano" e uma assistência que garantiu os 3 pontos. O inglês foi o grande motor da reviravolta, com 9 passes para finalização, igualando o máximo da Liga em curso».
Sempre a pôr o avançado leonino nos píncaros - aliás inteiramente merecidos, na linha do que escrevemos também no És a Nossa Fé.
Páginas adiante, mantinha-se o declarado entusiasmo do diário da Cofina pelo desempenho do nosso jogador.
Num destaque gráfico, lia-se mais esta prosa muito adjectivada:
«Edwards fez, muito provavelmente, o melhor jogo ao serviço dos leões. Foi o líder da reviravolta. Primeiro com um golo maradoniano e depois com uma assistência para Paulinho fixar o resultado.»
Nem faltava o neologismo "maradoniano", aliás muito a propósito.
E afinal... esperavam nota 5?
Pois enganaram-se. Qual "motor da reviravolta", quais "nove passes para finalização", qual "maradoniano", qual "king": nem pensar. Isto era só para driblar os leitores.
No fim de tudo, o jornalista encarregado de o avaliar, na cobertura do jogo, deu-lhe apenas nota 4. Como se fosse um velho catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa, de mil novecentos e troca-o-passo, forreta até mais não no momento de lançar as pautas.
E o que diz ele?
Chama a Edwards um «inglês de excelência que ontem reencarnou [n]uma espécie de Maradona». Concluindo, sem margem para dúvidas: «Foi brilhante.»
Blablablá.
Toma lá 4, Marcus. Não mereces mais deste Record, muito mais exigente para outros do que para si mesmo. Sem perceber que desta forma não menoriza terceiros: só desqualifica o jornalismo que vai praticando, de modo cada vez mais penoso.
Sem justificar, quanto a mim, desempenho acima da nota 2. Segundo a grelha deles.
Edwards foi o herói da noite em Alvalade: marcou um, assistiu noutro e deu espectáculo
Foto: José Sena Goulão / Lusa
De repente, parecia que Lionel Messi tinha entrado em campo. Ou que Diego Maradona havia ressuscitado.
Momento de magia futebolística no Estádio José Alvalade, ao minuto 71 do Sporting-Estrela da Amadora, na noite de anteontem. Protagonizado por um inglês, não por um argentino: foi Marcus Edwards a pegar na "gorducha" no meio-campo da equipa adversária, conduzindo-a da linha para o centro em progressão acelerada e depois entrou na grande área sem afrouxar o ritmo em busca do ângulo perfeito para fuzilar a baliza com o seu pé esquerdo.
Driblou um, dois, três, quatro - até ter só pela frente o guarda-redes António Filipe, impotente para travar o remate.
Os mais de 38 mil que assistiam ao jogo no estádio nem queriam acreditar: foi um dos mais belos golos já marcados por algum jogador de Leão ao peito. Puro futebol-espectáculo. Com a vantagem acrescida, neste caso, de ter contribuído para reverter um resultado que nos estava a ser desfavorável.
Não satisfeito com isso, Edwards, ainda protagonizou outro lance de génio, aos 79', num cruzamento teleguiado para a cabeça de Paulinho. Era o nosso terceiro golo, que fixou o resultado. Pondo fim a alguma atmosfera de nervosismo que pairava no estádio desde que o Estrela da Amadora, virando o 1-0 registado ao intervalo, marcou dois golos de rajada (50' e 52').
Como os números indiciam, foi um desafio emocionante, aberto, muito disputado. Nem a chuva outonal que foi caindo esfriou a vontade das duas equipas em conquistar pontos. Mérito que não pode ser negado ao Estrela, que na época anterior andava no segundo escalão do futebol português e é orientado por um treinador muito competente, Sérgio Vieira.
Durante quase todo o primeiro tempo, dando prioridade absoluta à manobra defensiva, a turma adversária fechou bem os nossos corredores atacantes, bloqueando linhas de passe. Até que Gyökeres tirou um coelho da cartola: num lance de insistência, levou a bola à meia esquerda, quase junto da linha final, para cruzar recuado vendo Daniel Bragança subitamente livre de marcação. O nosso médio criativo não perdoou: usou da melhor maneira o pé esquerdo para se estrear como artilheiro neste campeonato.
Corria o minuto 33. O que fez o onze da Amadora abrir o jogo, alterando a dinâmica.
Na segunda parte, depois do susto provocado por dois golos consentidos quase de rajada, foi a vez de o Sporting se modificar. Aí funcionou na perfeição o dedo de Rúben Amorim. Sempre para dar mais tracção à frente ao onze leonino. Que avançou todas as linhas e chegou a atacar com quatro: Gyökeres, Edwards, Paulinho e Trincão - estes dois saltaram do banco para ajudar na reviravolta. Por algum motivo somos já a segunda equipa mais goleadora: só o Braga marcou mais.
Muita gente se terá enervado ao longo desta partida. Por mim, não me importo de sofrer dois golos desde que marquemos pelo menos três. Foi o que aconteceu frente ao Estrela. E podiam ter sido seis sem favor algum. Consumando-se um facto digno de registo muito especial: somos a única equipa invicta na Liga 2023/2024.
Balanço até ao momento: dez jogos, nove vitórias, 28 pontos conquistados. Mais nove do que à 10.ª jornada da época anterior.
Lideramos pela quinta ronda consecutiva, agora mais isolados e mais firmes no comando. Temos equipa para ganhar o campeonato, sem a menor dúvida.
Até já levamos dois pontos a mais do que tínhamos na mesma fase em 2020/2021 - época de excelente memória.
Além disso desde 1976/1977 que não tínhamos tantos pontos de avanço face ao segundo na décima jornada. E vamos com seis pontos acima do terceiro - o FCP dos "fabulosos reforços" David Carmo e Fran Navarro.
Para ir celebrando? Claro que sim.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Sofreu dois golos, mas sem responsabilidade em nenhum deles - desde logo o primeiro, de penálti. Saiu muito bem dos postes aos 33', impedindo Leo Jabá de marcar.
Diomande - Continua a ser um pilar defensivo. Quer alinhando mais à direita, como começou neste jogo, quer mais ao meio, quando Coates saiu. Cumpriu com nota muito elevada.
Coates - Noite infeliz do capitão uruguaio. É ele a provocar o penálti, metendo a mão na bola aos 49', é ele também a ser batido em velocidade no lance do segundo. Saiu aos 59'.
Matheus Reis - Desempenho adequado ao padrão habitual. Regular, certinho, mas sem rasgos. Rende menos a central do que a lateral, mas desta vez foi Nuno Santos a ocupar a ala.
Esgaio - Com Geny ausente por lesão, coube-lhe actuar como lateral direito. Muito contido, sem arriscar um drible, dos pés dele partiram raros cruzamentos com eficácia. Saiu aos 59'.
Daniel Bragança - Rendendo o ausente Morita, teve o melhor desempenho da temporada. Coroado aos 33' com um golo de belo efeito - o seu golo de estreia no campeonato. Saiu aos 64'.
Morten - Cada vez mais seguro e mais influente. Muito útil na recuperação e na distribuição, tentou também o remate de meia-distância. Quase marcou numa recarga a 3m da baliza (58').
Nuno Santos - No seu jogo 150 de Leão ao peito, foi tendo mais vontade do que engenho. Mas fez enfim um cruzamento perfeito, aos 90', quando apontou à cabeça de Trincão.
Edwards - Criou-se o mito de que trabalha pouco para o colectivo. Não é verdade: fez nove passes para finalização. Assistiu Paulinho no golo. E marcou ele próprio - uma obra-de-arte.
Pedro Gonçalves - O mais errante dos nossos jogadores, como de costume, movimentou-se muito entre linhas. Quase marcou aos 82: o guarda-redes negou-lhe o golo num voo espectacular.
Gyökeres - Desta vez foi menos violinista do que carregador de piano. Sem vedetismos. Este seu trabalho como operário da equipa resultou numa exemplar assistência para o primeiro golo.
St. Juste - Substituiu Matheus Reis aos 59' e ocupou o seu lugar como central à direita. Vai recuperando das sequelas da lesão que o afectou. Seguro, sólido e útil nos passes verticais.
Gonçalo Inácio - Amorim deixou-o fora do onze inicial por vir aí o clássico na Luz e ele estar tapado com amarelos. Mas rendeu Coates aos 59' - e cumpriu com brilhantismo esta missão.
Paulinho - Saiu Daniel, entrou ele. Para marcar também, ouvindo o seu cântico de louvor em Alvalade. Merece ainda boa nota pelo que trabalhou lá na frente, com bola e sem bola.
Trincão - Rendeu Esgaio aos 59'. Anda cheio de vontade de voltar aos golos. Esteve a milímetros de o conseguir, de cabeça: o guarda-redes, por instinto, quase a tirou de dentro da baliza.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-Estrela da Amadora, da Taça da Liga, pelos três diários desportivos:
Edwards: 20
Paulinho: 19
Morten: 17
Trincão: 16
Daniel Bragança: 16
Gyökeres: 16
Pedro Gonçalves: 16
Gonçalo Inácio: 15
St. Juste: 15
Nuno Santos: 15
Adán: 14
Diomande: 14
Esgaio: 12
Matheus Reis: 12
Coates: 9
Os três jornais elegeram Edwards como melhor em campo.
O Sporting conseguiu ontem uma magnífica e mais que merecida vitória em Alvalade, sempre com um apoio tremendo das bancadas e das claques que aplaudiram a equipa quando estava a perder e o capitão quando estava a caminhar cabisbaixo para o banco, perante um Estrela da Amadora com a lição muito bem estudada e que complicou muito a nossa forma de jogar sem entrar no jogo sujo doutros emblemas que visitaram Alvalade.
Para entender o jogo é preciso tomar em consideração o desgaste causado pela série de jogos bi-semanais em terrenos pesados que está a passar o Sporting, e obviamente que os jogadores nucleares, como Coates, Pedro Gonçalves e mesmo Gyökeres, são os mais afectados. Impossível querer que estejam sempre ao melhor nível.
Como também é impossível que um desequilibrador nato como Edwards, que joga no limite do risco, não perca bolas nem falhe passes. Quando só ele marcaria um golo à Messi e assistiria daquela maneira Paulinho para o golo da vitória. Além disso quatro remates dele por pouco não deram golo, alguns esbarraram ingloriamente nos defesas contrários. Claramente o inglês hoje o melhor em campo e no tempo todo, "prolongamento" incluído.
Primeira parte completamente do Sporting, controlando o jogo, temporizando atrás, acelerando à frente, evitando sempre faltas desnecessárias que provocasssem livres perigosos ou cartões, a chegar muitas vezes com perigo à área adversária, mas decidindo quase sempre mal. O golo foi mesmo a excepção, uma incursão de Gyökeres à linha de fundo, passe atrasado para um Bragança liberto de marcação, remate de primeira e golo.
No segundo tempo o Estrela arriscou, meteu mais um ponta de lança e com isso provocou o erro do 3-4-3 assimétrico, com Nuno Santos em parte incerta, Matheus Reis na direita a ver a bola passar e Coates e Diomande a terem de aguentar dois avançados em movimento.
Amorim soube perceber o problema, fez três substituições “fora da caixa” e ganhou o jogo. Sairam dois defesas e um ala, entraram outros dois defesas e um extremo. Com St. Juste-Diomande-Inácio o Sporting ganhou outra segurança ofensiva, com Trincão do lado de Edwards ganhou outra capacidade de penetração atacante. E a entrada de Paulinho deu o que ainda faltava, presença na área.
O golo do empate surgiu dum raide de Edwards da direita para o meio, o golo da vitória surgiu dum centro de Edwards da direita para uma concretização à ponta de lança de Paulinho. Pelo meio, e antes e depois, muitas ocasiões desperdiçadas por falta de sorte e pela noite de luxo do guarda-redes adversário.
Foi assim, com golos dos patinhos feios Bragança, Edwards e Paulinho, que ganhámos este jogo, o que só demonstra que todos os jogadores do plantel contam e são importantes, e que uma coisa é a crítica legítima do sócio e adepto ao desempenho de um ou outro e outra é a perseguição sistemática acintosa e estúpida, diria até o “bullying” cobarde e anónimo via redes sociais, a jogadores que vestem a nossa camisola e dos quais dependemos para os sucessos do nosso clube e para as nossas alegrias. Para quem as tem, obviamente, e talvez o problema seja mesmo esse, para alguns os dias são mesmo tristes depois da queda do amado líder e agora DJ.
Quanto à arbitragem, francamente gostei do critério largo e alérgico a palhaçadas. Soube falar com os jogadores em vez de puxar mecanicamente dos cartões com cara de fariseu ou de cadastrado, deixou jogar e valorizou o espectáculo.
Outra coisa é a falta para penálti não assinalada sobre Bragança, que o VAR deveria ter assinalado se as regras APAF são as mesmas para Benfica e Sporting. Num jogo o defesa sai com a bola controlada, o avançado baixa a cabeça e contacta com a mão do defesa, o árbitro marca penálti, o VAR nada. Noutro, o avançado com a bola dominada tenta romper, o defesa mete a mão na cara, o árbitro não marca, o VAR nada. As regras APAF são de três cores, azuis, vermelhas e verdes, o que interessa é o lado de que sopra o vento? Querem montar uma empresa independente para gerir a coisa ainda mais à vontade e maximizar o bolo a distribuir pela malta? Tenham vergonha na cara.
Finalmente, como disse Edwards, "Never give up". Já não disse, mas disse um tal Roy T. Bennett: "Your hardest times often lead to the greatest moments of your life. Keep going. Tough situations build strong people in the end.” E equipas também, acrescento eu.
Da difícil mas justíssima vitória leonina contra o Estrela. Triunfo por 3-2 num jogo cheio de emoção em que chegámos ao intervalo a vencer por 1-0. Na segunda parte, a equipa da Amadora mudou isto em dois minutos (50' e 52'), mas soubemos operar a reviravolta demonstrando toda a qualidade do nosso futebol ofensivo, com enorme capacidade de reacção, inegável robustez psicológica e boa organização colectiva. Num plantel que confirma ter fibra de campeão.
De Rúben Amorim. Fez as mudanças certas, mexendo na equipa quando se impunha, com atenta e competente visão de jogo. Todas as trocas mudaram o onze para melhor: Coates por Gonçalo Inácio, St. Juste por Matheus Reis, Daniel Bragança (já muito fatigado) por Paulinho, Esgaio por Trincão. Era preciso virar o resultado - e conseguimos. Mérito indiscutível do treinador.
De Edwards. Parecia estar a passar ao lado da partida quando assina uma jogada de sonho, à Maradona ou à Messi, marcando o nosso segundo golo - que é também, sem sombra de dúvida, o melhor do Sporting nesta temporada 2023/2024. Pegou na bola perto da linha direita e conduziu-a para o interior driblando sucessivamente quatro adversários antes de lhe surgir pela frente o guarda-redes, também impotente para o travar. Era o minuto 71': um golaço, daqueles que fazem do futebol o melhor espectáculo do planeta. Podia ter ficado por aí, mas fez mais: foi dele a assistência para o terceiro, cruzamento teleguiado para Paulinho converter de cabeça aos 79'. Assim garantimos os três pontos. Melhor em campo, o avançado inglês.
De Morten. Exibição em crescendo, desta vez sem o parceiro japonês a combinar com ele. Esteve bem na primeira parte, mas mostrou todo o seu talento sobretudo nos últimos 45', com recuperações, passes verticais, muita disputa bem-sucedida, travando o passo ao Estrela. Tornou-se dono do corredor central. E ainda tentou o golo, primeiro à queima-roupa (58'), depois num disparo que rasou a barra (90'+4).
Da estreia de Daniel Bragança a marcar nesta Liga. Com Morita ausente, coube-lhe o papel de médio de construção. Que cumpriu no essencial, tanto na progressão com bola como em passes a rasgar linhas. Mas o seu mérito principal foi no golo de meia distância - único do primeiro tempo, assinalando o seu regresso como artilheiro do campeonato, algo que não sucedia desde a Liga 2021/2022. Aos 33', com assistência de Gyökeres, levando a bola cheia de efeito a aninhar-se no canto esquerdo da baliza adversária.
De Gonçalo Inácio e St. Juste. Mencionados em simultâneo por terem feito a diferença mal entraram em campo, aos 59'. Aumentaram a rapidez de reflexos e a velocidade do nosso bloco defensivo, impedindo por completo o Estrela de pôr a bola nas nossas costas.
De Gyökeres. Desta vez não marcou. Mas assistiu para Daniel Bragança, depois de ter ido ganhar a bola junto à linha de fundo e foi criando desequilíbrios ao longo de todo o jogo. Espectacular, a recepção orientada aos 43' em que progride na ala esquerda deixando para trás o lateral adversário com perfeito domínio técnico. Ainda tentou o golo, atirando pouco acima da trave, aos 90'+6. Se há jogador que jamais baixa os braços, é ele.
Do guarda-redes do Estrela, António Filipe. Fez uma série de enormes defesas, negando o golo a três jogadores nossos: Morten (58'), Pedro Gonçalves (82') e Trincão (90'). No último lance, deu até a sensação de que a bola chegou a entrar: foi travada já praticamente para além da linha de baliza.
De termos conquistado 28 pontos em 30 possíveis. Mais nove do que na mesma fase do campeonato anterior. Eficácia sem margem para dúvida. Marcámos até agora em todos os jogos. Aliás estamos há 18 jornadas seguidas a marcar. Os 38.408 espectadores do desafio de ontem em Alvalade viram mais três.
De continuarmos sem perder. Somando as 14 rondas finais do campeonato anterior às dez decorridas deste, são já 24 desafios seguidos sem conhecermos o amargo sabor da derrota na prova máxima do futebol português.
De ver o Sporting cada vez mais líder. Comandamos o campeonato. Mantemo-nos no topo há cinco rondas consecutivas. Somos a única equipa invicta na Liga 2023/2024.. Ampliámos a vantagem, estando agora ainda mais isolados no posto de comando. Seguimos com mais três pontos do que os encarnados (que defrontaremos na próxima jornada, a disputar na Luz), mais seis do que a turma portista (derrotada em casa pelo Estoril) e mais oito do que o Braga. Aumentando o desgosto daqueles idiotas que, dizendo-se sportinguistas, desejavam que tudo nos fosse correndo mal porque odeiam o presidente, detestam o treinador e passam o tempo a vomitar bojardas contra os jogadores.
Não gostei
De sofrer dois golos. Ambos na sequência de contra-ataques rapidíssimos, com a nossa defesa em contrapé - o segundo na sequência de uma perda de bola de Pedro Gonçalves no meio-campo. E estivemos quase a sofrer outro, aos 37', quando Adán saiu muito bem dos postes, fazendo a mancha com Leo Jabá isolado à sua frente.
De Coates. Preso de movimentos, com reacção lenta, teve responsabilidades nos dois golos. No primeiro, provocando um penálti sem margem para discussão. No segundo, batido em velocidade, abriu uma cratera no nosso corredor central. Foi substituído de imediato. Percebe-se agora melhor por que não tem sido convocado para a selecção do Uruguai: atravessa um período de menor fulgor físico, neste caso com más consequências para o colectivo leonino.
Das lesões de Geny e Morita. Nem chegaram a sentar-se no banco - onde se estreou o jovem Quenda, com apenas 16 anos mas já estrela da formação. Os dois internacionais fazem falta ao nosso onze titular. Haveremos de perceber isso ainda melhor quando estiverem ausentes ao serviço das selecções de Moçambique e do Japão.
Dos assobios. Voltamos ao mesmo: vários daqueles que antes de começar o jogo cantam a plenos pulmões «Farei o que puder / pelo meu Sporting» são os primeiros a vaiar os jogadores quando as coisas não estão a correr bem. Uma vez mais, lá se ouviram os malfadados assobios no nosso estádio quando o Estrela marcou o segundo golo e ficámos temporariamente na mó de baixo. Que raio de "apoio" este: se querem assobiar, façam-no lá em casa, fechados no chuveiro.
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