Fixem este nome, para o caso de ainda não o conhecerem: o suíço Ruben Vargas. Tem 25 anos, joga na Liga alemã, pelo Augusburg. É um dos primeiros heróis deste Euro-2024: ninguém fez tanto como ele para derrubar os italianos, campeões europeus em 2021.
No embate de ontem em Berlim, foi dele a assistência para o primeiro golo helvético, aos 37', com irrepreensível finalização do médio-centro Freuler. E foi ele a marcar o segundo, logo após o intervalo, sentenciando a partida. Um dos mais vistosos golos deste torneio: desmarcação perfeita, domínio total da bola, disparo colocadíssimo à malha lateral interna. Sem hipótese para Donnarumma, que alguns consideram o melhor guarda-redes do mundo. Fama que lhe ficou ao defender dois penáltis na final de 2021, para infortúnio da Inglaterra.
De Vargas poderá dizer-se hoje algo semelhante: é um dos melhores do mundo na sua posição preferencial de extremo-esquerdo. Bem gostava de o ter no nosso clube.
Já aos 24' Embolo podia ter aberto a contagem ao isolar-se frente à baliza, mas o guardião impediu-o de fazer o gosto ao pé, cortando-lhe ângulo de remate com uma saída providencial.
Pastosa e sem dinâmica, a Itália sai de cena nos oitavos-de-final, com registo medíocre neste Campeonato da Europa: venceu com muita dificuldade a Albânia (2-1), evitou quase por milagre uma goleada da Espanha (0-1) e só conseguiu empatar com a Croácia (1-1) a 20 segundos do apito final, no minuto 97 do prolongamento. Não merecia mais. Abandona o Europeu com duas derrotas em quatro jogos, cinco golos sofridos e apenas três marcados.
Fez-se história no futebol europeu. Foi a primeira vitória da selecção suíça em jogo a eliminar numa grande competição de futebol desde a II Guerra Mundial. Os helvéticos vão defrontar, nos quartos-de-final, o vencedor do jogo Eslováquia-Inglaterra.
Para nós, sportinguistas, esta pequena vingança: Scamacca, estrela da Atalanta e "carrasco" do Sporting na Liga Europa, regressa a casa sem um golito sequer nos relvados alemães.
Esteve para não prosseguir, o Alemanha-Dinamarca, quando uma tempestade se abateu sobre a cidade de Dortmund ao minuto 34 do jogo, então ainda em branco: chuva torrencial, granizo, trovoada.
O clima lá se recompôs na medida do possível, sem estragos irreparáveis no relvado. Ao intervalo, mantinha-se o empate a zero. Com Kasper Schmeichel, fluente em português, a destacar-se entre os dinamarqueses para adiar o golo.
Só resistiu até ao 53'. E mesmo então apenas foi batido de penálti, a punir mão na bola de Andersen, que cinco minutos antes marcara na baliza germânica (mas sem valer, pois estava deslocado).
Havertez (Arsenal, 25 anos) converteu o castigo máximo.
A Dinamarca tentou reagir, mais com a emoção do que com a razão, mas Neuer não facilitou a vida à turma adversária, aliás como todo o bloco defensivo germânico, com destaque para o central Rüdiger, rei e senhor no jogo aéreo. E foi a Alemanha a marcar, aos 68', fixando o resultado, desta vez em lance de bola corrida com apenas três toques antes de Musiala (21 anos, Bayern de Munique) a enfiar nas redes. Eficácia máxima: foi o terceiro golo do jovem atacante neste certame.
Os germânicos irão defrontar nos quartos-de-final o vencedor do jogo Espanha-Geórgia.
Enfim, o nosso Morten está de malas feitas. Já nem participou nesta partida, excluído por acumulação de amarelos. Fez falta à sua selecção, tendo marcado um golo no Euro-2024.
Mas faz ainda mais falta ao Sporting: o lugar dele é em Lisboa.
Dois jogos contrastantes. No primeiro, domínio total de Espanha: o país vizinho quer recuperar a hegemonia que manteve no futebol planetário entre 2008 e 2014, período em que venceu dois campeonatos da Europa e um mundial.
O Espanha-Itália era um dos jogos mais aguardados deste Euro-2024. Mas poucos imaginariam tão grande disparidade entre os contendores. Foi total o domínio físico, táctico e técnico da selecção que veste de vermelho e detém o título da Liga das Nações conquistado em 2023 na disputa final contra a Croácia. Os espanhóis asfixiaram os italianos, actuais campeões europeus, travando-lhes quase todas as veleidades ofensivas. Ao intervalo, era abismal a diferença entre remates: nove para Espanha, um para Itália. A squadra azzurra não registava qualquer oportunidade de golo. Scamacca, estrela da Atalanta (e "carrasco" do Sporting na Liga Europa) quase não tocou na bola.
Parecia uma reedição da final de 2012, quando a Itália também foi ao tapete. Contei sete ocasiões de golo dos espanhóis, protagonizadas por vários jogadores que merecem ser campeões: Pedri, Fabián Ruiz, o ainda adolescente Lamine Yamal e sobretudo o enorme Nico Williams, nesta sua estreia numa fase final de um Europeu. Foi extraordinária, a actuação do avançado do Atlético de Bilbau naquela ala esquerda, que dominou por completo: capacidade de drible, precisão de passe, superioridade técnica. E esteve a centímetros de marcar um golo de bandeira, aos 70': a bola embateu na barra.
Com apenas 21 anos, Williams é o jogador que mais se valorizou até agora neste certame. Contribuindo para conduzir Espanha aos oitavos-de-final. Neste confronto da noite de anteontem em Gelsenkirchen só admira como a vitória espanhola foi alcançada pela margem mínima, com autogolo de Calafiori, aos 55'. O quinto autogolo deste Europeu.
«Banho de bola», chamou-lhe a Marca. E com razão. Nuestros hermanos mereciam ter vencido por goleada. A grande figura do encontro revelou-se Donnarumma, com defesas impossíveis aos 2' (remate de Pedri), aos 25' (Fabián Ruiz), aos 58' (Morata) e aos 90'+2 (Ayose Pérez). Mas esta Itália onde ainda actuam seis campeões europeus de 2021 parece uma sombra do que já foi.
Sem Mbappé, que não saiu do banco após ter partido o nariz no embate contra a Áustria, a selecção gaulesa teve nova exibição insuficiente, agora no confronto com a da Holanda, que de "laranja mecânica" tem pouco. Ou nada.
Na partida de ontem à noite em Leipzig, a nota dominante, mas pela negativa, coube a Griezmann. Com três perdidas incríveis - aos 4', aos 16' (aqui em parceria com Rabiot) e aos 65'. Domínio territorial não traduzido no resultado: o jogo terminou como começou. O primeiro empate a zero deste Euro-2024. Indigno de um torneio europeu.
Nem sempre costuma haver justiça no futebol. Mas desta vez houve. O Campeonato da Europa 2021, realizado um ano depois da data inicialmente prevista, acaba de ser conquistado pela Itália - que não vencia um Euro desde 1968.
A squadra azzurra foi, de longe, a melhor selecção deste torneio. E foi também a melhor desta final, disputada num estádio de Wembley cheio, com mais de 60 mil adeptos nas bancadas, sob chuva fina mas persistente.
Os ingleses até começaram da melhor maneira, com um golo de Shaw logo aos 2', coroando um lance muito rápido de futebol colectivo. E dominaram durante a meia hora inicial. Os italianos acusaram muito o golo: aos 30' ainda não tinham conseguido um só remate enquadrado.
O primeiro sinal de perigo partiu do pé esquerdo de Chiesa, uma das grandes figuras da selecção campeã. Aconteceu aos 35', com um forte disparo a rasar o poste. Único lance de perigo da squadra antes do intervalo.
As coisas mudaram no segundo tempo. Sobretudo com as trocas operadas pelo treinador Roberto Mancini aos 54': saíram Immobile e Barella, entraram Berardi e Cristante. Itália acelerou o jogo, encurtou linhas e demonstrou o seu maior trunfo: superioridade técnica, fazendo recuar os ingleses.
Previa-se o golo do empate a qualquer momento. E acabou por acontecer, marcado pelo artilheiro menos provável: o central Bonucci, aos 67', na sequência de um canto.
Chiesa saiu lesionado aos 86': outra magnífica exibição do ponta direita da Juventus, que já brilhara contra austríacos e espanhóis. É um dos heróis desta equipa, tal como o ausente Spinazzola, forçado a abandonar o Euro-2021 cedo de mais.
O melhor talento individual da equipa anfitriã continuou a ser Sterling, mas com um notório defeito: tem o vício de cavar penáltis. Assim fez aos 44', 48' e 90', tentando ludibriar o árbitro, como conseguiu na meia-final frente à Dinamarca que permitiu o passaporte inglês para o jogo decisivo. Mas este juiz da partida não foi na cantiga do médio ofensivo do City. Faltou exibir-lhe o amarelo por simulação.
Muito disputado, o prolongamento não desfez o empate registado aos 90 minutos. A final decidiu-se por penáltis.
Aqui primou a incompetência do seleccionador inglês, Gareth Southgate, que para a série de cinco grandes penalidades escolheu dois jogadores muito jovens: Sancho, de 21 anos, e Saka, de 19. Ambos permitiram que Donnarumma - outro herói da noite e do torneio - parasse as bolas na linha de meta. Rashford, de 23 anos, atirou ao poste. E assim a Inglaterra foi atirada fora, para imensa decepção dos milhares de apoiantes ali presentes. Desde 1966 que os ingleses não vencem um grande torneio a nível de selecções.
Também dois italianos falharam: Belotti e Jorginho. Mas prevaleceu a experiência do veterano Leonardo Bonucci, de 34 anos: chamado a converter, não claudicou. Tal como Berardi e Bernardeschi.
A partir daí, foi a festa italiana - que ainda dura. Justíssima festa debaixo da chuva londrina.
Era uma espécie de final antecipada: Itália e Espanha defrontaram-se esta noite em Londres. Num jogo muito táctico, em que houve muita luta mas poucos golos. Apenas dois - ambos marcados na segunda parte. No prolongamento, as duas selecções - à beira da exaustão - ficaram também em branco.
Espanha entrou em campo, espantosamente, sem ponta-de-lança. O seleccionador, Luis Enrique, só preencheu esta lacuna aos 62', quando mandou entrar Morata. Já os espanhóis perdiam 0-1, com um grande golo de Chiesa coroando um ataque muito rápido.
As duas equipas exibiram modelos de jogo muito diferentes. Espanha sempre com futebol apoiado, transportando a bola. Itália consentindo domínio do adversário e apostando tudo na qualidade do passe de Jorginho e Barella, no meio-campo e em transições muito rápidas pelos corredores laterais, a cargo de Insigne e Chiesa. Para servirem Immobile, em noite pouco inspirada.
Os italianos acusaram a ausência do lesionado Spinazzola, talvez o melhor ala esquerdo deste Europeu. Os espanhóis - superiores na primeira parte - tiveram em dois médios ofensivos, Pedri e Olmo, os melhores elementos. Mas o guarda-redes Unai Simón, que já protagonizara o maior frango deste Euro-2021, voltou a não convencer. Com pelo menos duas saídas em falso.
O empate surgiu aos 80', precisamente por Morata, saído do banco para render o apagado Ferran Torres. Espanha - após dois prolongamentos sucessivos nas partidas anteriores - tentou resolver o desafio no tempo regulamentar, mas faltou-lhe pontaria e critério para derrubar a muralha defensiva italiana, onde Chiellini e Bonucci ainda pontificam.
Na chamada "roleta dos penáltis", os italianos - com a esmagadora maioria dos 60 mil espectadores presentes no estádio de Wembley a puxar por eles do princípio ao fim - converteram quatro. O último, e decisivo, com Jorginho a dar espectáculo com um penálti à Panenka. Vale a pena rever. Os espanhóis só marcaram metade: Moreno e Thiago Alcântara meteram-na lá dentro, Olmo falhou e Morata permitiu a defesa de Donnarumma, um dos heróis da noite.