Certos sportinguistas só conseguem dar prova de vida criticando seja o que for, não importa o quê.
Vai fazer dois anos, vários adeptos contestaram a vinda de Antonio Adán alegando que era "um guarda-redes velho e cheio de reumático" e de Pedro Porro por se ter apresentado em Alvalade com uns "calções ridículos".
Vale tudo para dizer mal.
Quando não há sabedoria para mais, dizem-se disparates como estes. Uns após outros após outros.
Quando já pensávamos ter visto quase tudo em matéria de imbecilidades, eis mais uma, parida no país que acaba de sagrar-se campeão europeu de futebol: a partir da temporada 2022/2023 os equipamentos verdes serão proibidos nos estádios italianos para satisfazer queixinhas dos operadores televisivos que alegam dificuldade em distinguir entre a cor das camisolas e o relvado.
Proibir o verde: eis o sonho totalitário de muita gente também por cá. Em matéria de direitos e liberdades, vamos de restrição em restrição enquanto meio mundo bate palminhas.
Aliás, peço desculpa: tenho a certeza de que as senhas da rede das rulotes são mais complexas. E há que frisar que estes factos não tiveram origem com a direção anterior: vêm pelo menos desde 2010.
«Assisti ao sorteio da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões e confesso que quando saiu o nome do PAOK, comentei para os meus botões - coitados dos gregos.
Estou muito confiante acerca do nosso desempenho europeu. Por três razões. A primeira, foi a contratação de Jorge Jesus. Quem tem o privilégio de ter um treinador desta qualidade só pode sonhar com altos voos em todas as competições. A segunda razão é óbvia - a SAD mantém a aposta muito forte no regresso do Benfica europeu. (...) A terceira razão é uma questão de justiça - o presidente Luís Filipe Vieira sonha com a conquista da Liga dos Campeões. Os mais pessimistas dirão que é um sonho.»
Aqui fica o inventário minucioso dos erros cometidos pelos nossos jogadores ontem, em Alvalade, frente ao V. Setúbal. Uma sucessão de disparates indignos de uma equipa com os pergaminhos do Sporting.
Justifica reflexão. Para que isto não se repita.
1' - Muito bem servido num passe longo de Acuña, Tiago Tomás tenta um chapéu ao guarda-redes que sai muito por cima.
3' - Passe vertical de Acuña desperdiçado: Wendel, lá na frente, tem deficiente recepção de bola.
3' - Plata perde-se em fintas logo após a linha do meio-campo e acaba desarmado.
4' - Novo passe vertical de Acuña desperdiçado, desta vez entre as pernas dos defensores sadinos.
5' - Matheus Nunes serve Plata que, de costas para a baliza, deixa-se desarmar logo após a meia-lua.
6' - Próximo da grande área, Matheus Nunes lateraliza, permitindo intercepção.
6' - Francisco Geraldes ensaia um remate de meia-distância que aborta às mãos do guarda-redes Makaridze.
7' - Passe longo de Eduardo Quaresma cruza o meio-campo mas morre nos pés dum adversário, lá na frente.
8' - Francisco Geraldes tenta tabelinha com Wendel à entrada da grande área, mas o brasileiro perde a bola.
9' - Nuno Mendes deixa-se desarmar no final duma corrida pelo flanco esquerdo.
10' - Wendel entrega a bola a um adversário no meio-campo.
13' - Ristovski chega atrasado a um centro de Tiago Tomás já na pequena área.
13' - Matheus Nunes tenta isolar Geraldes, mas a bola perde-se pela linha de fundo.
14' - Eduardo Quaresma perde a bola em zona perigosa.
14' - Plata falha passe a Ristovski, atirando-a para fora.
17' - Ristovski leva uma eternidade a soltar a bola, permitindo reorganização defensiva da turma sadina, que tapa Tiago Tomás.
18' - Bola longa de Coates perde-se lá na frente.
19' - Pressionado por dois adversários, Eduardo Quaresma perde a bola na sua zona de intervenção.
20' - Matheus Nunes deixa-se desarmar no meio-campo.
22' - Passe vertical de Acuña perde-se lá na frente.
24' - Plata conduz ataque inócuo, como se jogasse sozinho, acabando facilmente interceptado.
25' - Bem servido por Geraldes, infiltrado na grande área, Tiago Tomás chuta para a bancada em zona frontal.
26' - Recebendo passe de Acuña, Wendel perde a bola.
33' - Passe arriscado de Coates, em zona dianteira, interceptado pelos sadinos.
34' - Eduardo Quaresma, muito inseguro, entrega a bola a um adversário.
37' - Na marcação dum livre, Acuña remata muito ao lado.
38' - Francisco Geraldes conduz a bola sem a soltar, permitindo intercepção à entrada da área.
39' - Bem servido por Wendel, num passe longo cruzado, Ristovski reage tarde, deixando-a sair pela linha de fundo.
43' - Ristovski cruza mal, oferecendo a bola na grande área.
48' - Muito bem servido por Vietto, Francisco Geraldes deixa fugir a bola pela linha de fundo.
50' - Passe longo de Coates não chega a ninguém.
51' - Matheus Nunes deixa-se desarmar no meio-campo.
57' - Tiago Tomás incapaz de receber bola de Plata, no flanco direito.
58' - Passe longo de Acuña morre na defensiva adversária.
58' - Matheus Nunes perde a bola na faixa central.
61' - Plata remata para a bancada.
63' - Acuña: passe longo para ninguém.
65' - Acuña falha passe para Geraldes.
70' - Passe demasiado longo para Vietto acaba por perder-se na linha de fundo.
78' - Francisco Geraldes falha meia-distância, atirando muito por cima.
79' - Vietto, em vez de um passe, remata... para a linha de fundo.
81' - Tentativa de remate de Joelson acaba em passe ao guarda-redes.
83' - Acuña falha passe, entregando-a a um adversário.
84' - Acuña centra para ninguém.
85' - Vietto perde a bola à entrada da área.
85' - Vietto falha passe em lance ofensivo.
87' - Passe longo de Coates perde-se lá no fundo.
90'+2 - Wendel oferece a bola na grande área leonina, criando a única situação de golo para o V. Setúbal.
O Sporting pretendia Taremi - goleador iraniano, de créditos firmados - para reforçar a linha avançada do plantel. Neste mercado de Inverno, contactou repetidamente o Rio Ave nesse sentido. Em Vila do Conde fixaram um preço tão alto que se tornou impossível trazer o avançado para Alvalade. Como reagiu a SAD leonina? Emprestando Gelson Dala ao mesmo clube que nos negou Taremi. O jovem angolano, que mantém contrato com o Sporting, já marcou no estádio dos Arcos enquanto continuamos com carência absoluta de artilheiros. É assim que tratamos quem nos trata mal: dando a outra face. Como haverão de respeitar-nos?
2
No Campeonato da Europa de 2016, conquistado pela equipa nacional, havia quatro titulares do Sporting. Este ano, em que iremos defender o título, tudo indica que não haverá qualquer representante do nosso clube no Europeu. O mais próximo de ambicionar uma convocatória para a selecção é Luís Maximiano, que aos 21 anos começa a firmar-se como titular da equipa leonina. Para continuar? Pelos vistos, não. Segundo a edição de ontem do Record, hoje o jornal mais próximo do poder em Alvalade, a administração da SAD atribui prioridade à contratação do guarda-redes sueco Olsen para a próxima época. E assim parece gorar-se, com prazo de validade anunciado, uma das raras promoções recentes de um jovem da cantera de Alcochete à equipa principal. Maneira muito original de se "apostar na formação".
Num destes últimos serões televisivos, que se estendem durante horas a falar de tricas ligadas à bola, acamparam no estúdio três sócios do Sporting em jeito de conversa de café. Unia-os a vontade indómita de desancar no presidente, ainda Frederico Varandas não completara um ano de exercício das actuais funções.
Estes sportinguistas que começam cada frase com o pronome "eu" acabam por levar a água ao moinho dos nossos rivais. Enquanto eles gastam horas a disparar para dentro do clube, nem benfiquistas nem portistas precisam de desperdiçar munições: há sempre no Sporting quem se encarregue disso.
Mas afinal o que disseram tais sumidades?
«O Sporting tem dirigentes fracos, mal preparados. O Sporting precisa urgentemente de pessoas que conheçam o clube», esganiçava-se um.
«O Varandas falhou rotundamente», bradava o segundo.
«Ele não tem capacidade para liderar o Sporting», jurava o terceiro.
«Falta competência. Comigo isto não acontecia, garanto», insistia o primeiro, ainda mais empolgado do que os comparsas.
Entusiasmados com a própria oratória, iam engrossando o tom das críticas.
«Não me acredito que o presidente conheça os jogadores», escandalizava-se um destes cromos, enquanto clamava: «O que fizeram ao Thierry Henry? Era das escolas e venderam-no!» E foi insistindo: «Vendemos um jogador, o Thierry Henry...» Revelando ser ele próprio, afinal, quem parece conhecer pouco ou nada os profissionais do Sporting.
Um dos outros, para zurzir em Varandas, disparava: «Este mandato já teve quatro presidentes em menos dum ano!»
Enquanto o restante membro deste Trio Maravilha, confundido e baralhado, se saiu com esta: «O jogador que foi para o Olympiacos, o Bruno Pereira...»
Enfim, dá para avaliar o nível da coisa.
Mas o mais confrangedor foi verificar como assassinavam a língua portuguesa. Em particular a conjugação do malogrado verbo haver.
Retive estas pérolas:
«Nas assembleias gerais não houveram respeito pelos sócios...»
«Houveram pessoas que estavam noutras candidaturas que chamaram a atenção para os problemas que se estão a passar agora.»
«Para o ano, não vão haver activos no Sporting.»
Mudei de canal e pus-me a reflectir: esta gente não se enxerga.
Fazem figuras tristíssimas nas televisões, dando uma péssima imagem do nosso clube, e ainda alimentam a sôfrega ambição de sucederem a Varandas. Sem perceberem que, por contraste, o transformam quase num estadista.
Pobre Sporting: andas mesmo mal quando adeptos como estes se atrevem a falar por ti.
Não há conquistas duradouras sem estabilidade nem equilíbrio. Tudo quanto não existe no Sporting.
Mais de vinte treinadores desde o início do século. Dezasseis nos últimos dez anos. Vamos no quarto só na era Varandas. E vamos no terceiro presidente em 14 meses.
Já se ouvem por aí gritos para surgir um quarto presidente, vindo sabe-se lá de onde - talvez de uma recente derrota eleitoral. E também para aparecer outro treinador já depois deste, que seria o sétimo desde Maio do ano passado (Jesus, Mihajlovic, Peseiro, Fernandes, Keizer, Pontes e esse tal).
Desculpem-me o desabafo: às vezes parece haver sessões contínuas de alucinação no nosso clube. Só o que gastámos nestes quase 20 anos em indemnizações a treinadores despedidos dava para contratar o Messi.
Proclamam por aí o «orgulho» por terem deixado de pagar quotas e até andam nas redes sociais a medir pilinhas, comparando quantas gameboxes devolveram.
Estes imbecis, que ainda se dizem sportinguistas e defensores do ecletismo verde-e-branco, sabem muito bem que o dinheiro das quotas serve para financiar as modalidades leoninas. Não imagino que espécie de «orgulho» podem sentir se houver modalidades a definhar ou mesmo a extinguir-se por falta de verba num clube a que deixaram de pertencer.
Mas imagino-os, no fim de tudo, aos gritos contra a Direcção do Sporting por estar a «deixar morrer as modalidades». São capazes disto e de bem pior.
Num dos sítios do costume, a propósito do Lusitano Vildemoinhos-Sporting que terminou 1-4, li as seguintes apreciações à equipa leonina, todas subscritas por anónimos Letais ao Sporting, chorosos adeptos do destituído:
«Adormeci entre os 15 e os 35 minutos da primeira parte.»
«Parecem uma equipa de solteiros contra casados.»
«Devemos ser a equipa que marca os cantos mais ridículos no mundo.»
«Este é o Sporting manso dos notáveis…»
«Bruno Fernandes parece um jogador do distrital.»
«Jogo miserável do traidor Fernandes.»
«Fernandes está a pedir sub-23 e ser vendido em Janeiro.»
«Começo a ter saudades do Alan Ruiz.»
«O Jovane é de um nível ligeiramente inferior ao Djaló.»
«O Bas este ano é só estaleiro. É despachar em Janeiro.»
«Jefferson… Renan... B. Gaspar… Diaby… Maus de mais!»
«Estamos péssimos de guarda-redes.»
«Para quando Viviano a titular?»
«Se até o Lumor já jogou porquê não dar uma oportunidade ao Viviano?»
«O Presidente proibiu os treinadores de colocar o nosso melhor guarda-redes e estamos a jogar com suplentes.»
«Quem é aquele senhor careca acompanhado por um indonésio no banco?»
«Kaizer a cumprir com o currículo. Em Fevereiro vai de vela como foi no Ajax.»
«Devíamos ter marcado mais de dez mas o pior foi o péssimo jogo que fizemos e a vergonha do golo que sofremos.»
«"O Mundo sabe que” teve um tempo e um espaço, um estádio inteiro a cantar a uma só voz, cheio de orgulho e paixão. Hoje isso não faz sentido algum.»
«Nota negativa para já, mas não vou fazer críticas.»
No sítio do costume, li pérolas como estas, que passarei a citar. Escritas por ressabiados profissionais que ainda se intitulam sportinguistas mas que são incapazes de esconder um ódio visceral ao Sporting, assumindo-se como fiéis da IURB - Igreja Umbilical do Reino do Bruno:
«Viva o varandismo. Agora somos todos varandetes e varandistas.»
«Ganhou o fivelas. É uma crónica de uma vitória anunciada. Faz sentido dar uma chance ao homem mas não consigo. Vê lo a falar faz me urticária.»
«O varandinhas lá comecou o mandato a perder. não era de esperar outra coisa, mas é realmente uma desilucão (sic). As leoas mereciam melhor.»
«Depois de jogadores, agora temos um presidente que rescindiu com o clube e voltou com um ordenado bem maior.»
«Roma paga a traidores… Mas não te esqueças que no circo todos eram jogados aos leões.»
«Nunca mais terei de volta o meu orgulho de Sportinguista… porque agora conheço de que massa são feitos os Sportinguistas. Neste momento quem se diz do Sporting causa-me desconfiança.»
«Juntar-se ao Varandas é juntar-se a quem destruiu o clube, a quem irá vender a SAD, a quem se aliou aos nossos rivais, a quem tanto prejudicou o clube…. juntar-se ao Varandas é para os bananinhas do novo sporting.»
«A pressa na investidura é precisamente para agilizar tudo, para que BdC, mesmo que consiga a reversão, não consiga impedir as negociatas todas que já foram, e ainda serão, levadas a cabo. O varandas é apenas um peão, na mão do sobrinho, do ricciardi, do mendes, etc.»
«Bruno de Carvalho é o legítimo Presidente do Sporting, afastado de má fé por uma súcia de oportonistas (sic) que querem dominar a SAD e vender o Sporting Clube Portugal, para com isso lucrarem.»
«De este acto eleitoral estar ferido de nulidade que os tribunais terão de ter a coragem de declarar, não me assistem quaisquer dúvidas.»
«Os filhos da puta que agora pedem união são os mesmos que andaram 5 anos a dividir o clube e a denegrir tudo e mais alguma coisa.»
Num dos mais populares blogues sportinguistas, a expressão do mais rancoroso ressabiamento carvalhista continua a manifestar-se ao nível das caixas de comentários.
Onde gente que se proclama simpatizante do Sporting escreve coisas sobre o nosso clube - sempre sem assinar com o nome próprio - que nem o mais fedorento lampião seria capaz de expressar na praça pública.
Deixo aqui apenas alguns exemplos das últimas 48 horas:
«Não fui, nem voltarei a Alvalade enquanto um dos tristes traidores ingratos estiver a jogar com as nossas cores.»
«Espero que este pesadelo termine depressa e que estes mercenários sejam vendidos já na próxima janela de mercado por um valor razoável.»
Não vi o jogo. À semelhança dos jogos da selecção. Ainda não arranjei espaço no estômago para ver BF em campo. Pelo que dizem, foi capitão e tudo. Há quem faça operações para reduzir o estômago. E para alargar, há?»
«Não consigo me imaginar sentado em Alvalade a bater palminhas à equipa como um acéfalo.»
«Aqueles camarotes deviam implodir tal a merda que estava lá, então o Soares Franco… the old Sporting is back.»
«Ver hoje as imagens dos filhos da puta que reapareceram em Alvalade mete-me nojo.»
«Quero é que este Xporting Sa Foda!!»
Por aqui se vê até que ponto Bruno de Carvalho fez mal ao Sporting. Pelas sementes de ódio viscoso e lamacento que lançou e agora germinam junto desta gente que bolça impropérios enquanto imagina inimigos em toda a parte e dispara para dentro da própria casa, torcendo por derrotas do nosso clube.
Deixaram de cultivar a insígnia «Esforço, dedicação, devoção e glória» - se é que alguma vez a tiveram - e adoptaram como lema «Quanto pior, melhor».
Ambos viciados em Facebook, a que se agarram durante largas horas de todos os dias. Ambos sem a menor noção das conveniências, da decência, do mais elementar pudor.
Já andaram aos abracinhos. Agora que o pedestal do poder veio abaixo, tratam-se como inimigos na praça pública. Com o país inteiro - e não apenas a nação leonina - a assistir de camarote ao triste espectáculo.
Escreve ele: «No meu último dia na SAD, a Dra Elsa Judas entrou aos gritos no gabinete do Dr Carlos Vieira onde eu estava sentado na mesa de reuniões e, sem se aperceber imediatamente da minha presença, conversou com o então Administrador da SAD sobre quotas e uns alegados 10 mil euros... Fui apanhado de surpresa. (...) a Dra Elsa Judas ainda procurou explicar a conversa a que eu assistira, mas o que então acrescentou, mencionando possíveis pagamentos através da empresa Plataformas S.A., cujo administrador era o Dr. José Quintela, possíveis levantamentos multibanco e putativos empregos numa universidade, aumentaram a minha confusão, tristeza e resolução.»
Escreve ela: «É triste ver a decadência dum ser humano e a sua descida ao fundo do poço da mentira para se manter à tona, refiro-me claro e tristemente a Bruno de Carvalho. Infelizmente obriga-me a fazer algo que não queria, para não o prejudicar, pela consideração que por ele tinha até hoje...e evitei; Evitei a todo o custo, apesar das insistências dos sócios, explicar a verdade, a grave verdade. Quinta feira fá-lo-ei publicamente. Só faço este post por respeito aos sócios que até hoje acreditam em Bruno de Carvalho. como eu acreditei...»
Que bandalheira. Que confrangedora falta de nível.
E ainda há por aí quem gostasse de os ver, a ele e a ela, em órgãos directivos do Sporting. Como se o nosso clube alguma vez devesse confundir-se com estes protagonistas de telenovela mexicana.
Bruno Fernandes, em boa hora regressado ao Sporting sem custos adicionais para o clube, é brindado com estes insultos por supostos sportinguistas em caixas de comentários como aquela que menciono acima.
Todos anónimos, grande parte deles usando falsos perfis nas redes sociais: a tropa de choque do deposto Conselho Directivo.
Fica assim demonstrado que os órfãos de Bruno de Carvalho andam de cabeça perdida. A avaliar pelo chorrilho de injúrias que dirigem ao melhor jogador do campeonato português 2017/2018, preferiam provavelmente que ele tivesse sido contratado pelo Benfica e marcasse um par de golos ao Sporting logo à terceira jornada.
Para eles, quanto pior melhor. Por isso urram de raiva com o regresso do Bruno a Alvalade. Não o Bruno que eles queriam, mas o outro - o que marca golos.
A carta aberta de Pedro Proença a Rui Patrício publicada no facebook é das coisas mais demagógicas que li na minha vida. Além disso, está cheia de chantagem emocional. Resumindo: um disparate do princípio ao fim.
«Sim, porque a tua rescisão não foi com Bruno de Carvalho nem com qualquer elemento da anterior direção. A tua rescisão foi com o Sporting» - é proibido rescindir com o Sporting? É crime?
«Mais ou menos como, e fazendo fé nas tuas palavras, se tivesses fugido da casa dos teus pais, zangado, e entendendo que já não tinhas condições para viver na mesma casa» - acontece a muito boa gente e raramente (ou nunca) a culpa se encontra de um só lado.
«Mais ou menos como se tivesses voltado costas ao passado que a tua família te deu, às histórias de cada canto da casa em que nasceste e cresceste, como se tivesses passado uma borracha em todos os momentos do teu crescimento em que os teus pais estiveram lá, para ti, nos bons e nos maus momentos» - mas que dramalhão! Este senhor já pensou em escrever guiões para telenovelas?
«Esperaste ser maior de idade, esperaste ter um emprego que te permitisse a independência e a estabilidade necessárias para poderes fazer face às tuas despesas… esperaste pelo momento em que já tinhas a tua mulher, os teus filhos, para evitares ficar só…» - eu diria que se trata de um rapaz muito responsável. Pior seria se saísse menor, sem emprego, nem sítio para onde ir e andasse aí à deriva. Ainda se metia nas drogas...
«Pensaste em ti, sobretudo em ti. Não pensaste nem nos teus pais que te fizeram como gente, nem nos teus irmãos que cresceram contigo na mesma casa» - chantagem emocional, pura e dura!
«E só abandonaste a casa que te viu nascer e te fez crescer no momento que entendeste» - mas algum homem que se preze (maior de idade) está à espera da autorização do pai para sair de casa e ir à sua vida?
«Podias simplesmente, até num gesto de humildade e gratidão, ter pedido para sair» - idem.
«Tenho a certeza que os teus pais, por muito que lhes custasse, ou não fosses tu o primogénito da casa - o capitão - te deixariam ir» - mas que pais tão simpáticos! Há pais destes?
«Bateste com a porta. E bateste-a com tamanho estrondo que sobressaltaste toda a gente e causaste estragos quase que irreparáveis no coração de quem te fez e te criou» - chantagem emocional, parte 2.
Talvez alguém consiga esclarecer-me. Por que motivo o comunicado emitido em Dia de Santo António, feriado municipal em Lisboa, pelo "porta-voz" de Bruno de Carvalho com a enumeração dos futebolistas que integram a nossa equipa A se apressou a incluir os nomes de Battaglia, Rúben Ribeiro e Rafael Leão antes de aguardar pelo fim do prazo em que os jogadores poderiam apresentar rescisões unilaterais invocando justa causa?
A pressa foi tanta, na vã tentativa de atirar poeira para os olhos dos sportinguistas, que o tal comunicado do competentíssimo "porta-voz" já estava desactualizado - e, portanto, sem préstimo algum - 24 horas após ter sido tornado público. Assim anda, cada vez mais errática apesar dos reforços entretanto recebidos, a comunicação do Sporting...
Mas o mais estranho neste comunicado é a omissão dos nomes de dois jogadores: nada consta ali sobre Iuri Medeiros nem Domingos Duarte. Será que a SAD leonina, apesar das nove baixas já registadas no plantel ainda antes do início da temporada, se dará ao luxo de prescindir destes dois profissionais formados no Sporting?
O presidente do Sporting desceu à sala da imprensa no final do jogo contra o Paços de Ferreira para criticar os adeptos leoninos. Todos. Os da bancada central, os da curva nascente, os da curva poente. Todos quantos saíram de casa nesta noite chuvosa e fria para apoiar a equipa. Com alusões rascas a quem vai "divertir-se para as rulotes antes dos jogos".
Enquanto o País ia escutando estas atoardas...
De caminho, foi lançando farpas também a outros membros dos órgãos sociais. Atirando assim ainda mais achas numa fogueira desencadeada por ele próprio e que ameaçam incendiar por inteiro a actual direcção leonina.
Sem uma palavra de apaziguamento, sem um pedido de desculpas, sem sequer uma referência à vitória alcançada pela equipa minutos antes no relvado do nosso estádio, sem um elogio aos jogadores que tiveram uma briosa actuação em campo apesar de se encontrarem quase todos sob a ameaça de processos disciplinares.
Numa demonstração patética - mais uma - de descontrolo emocional.
Torna-se cada vez mais evidente que este homem que só parece alimentar-se de conflitos e já quase ninguém defende deixou de ter condições para continuar no cargo.
Sinceramente, não sei quem são Pedro Paulino e Rui Morgado. O Carlos Severino, sei quem é: escutei-o durante alguns anos enquanto utente habitual da secção do desporto da TSF, que sempre gozou de merecido prestígio. Sei que abandonou o jornalismo, nomeadamente para dirigir o gabinete de comunicação do Sporting, há uns anos bem medidos. E concorreu depois à presidência do clube.
Não faço a menor ideia do presente valor eleitoral destes três sócios do Sporting. Em conjunto, não reunirão muito mais do que 1% - a percentagem que o Carlos Severino conseguiu na eleição de 2013, em que foi remetido para um distantíssimo terceiro lugar, esmagado em simultâneo por Bruno de Carvalho e José Couceiro. Num confronto eleitoral de boa memória, marcado pelo fair play e pelo diálogo entre os dois principais adversários internos, sem anular as divergências que mantinham.
Nesse ano, o actual presidente do Sporting ascendeu a estas funções com 53,6% dos votos alcançados nas urnas. Percentagem sábia, que os sócios leoninos lhe atribuíram, e que muito contribuiu para esse mandato globalmente positivo, sabendo-se ele sob apertado escrutínio interno. Fez-lhe muito pior a percentagem alcançada na reeleição, em Março de 2017: aqueles 86,1% subiram-lhe irremediavelmente à cabeça.
A culpa não foi dos sócios, mas do fraquíssimo adversário que Bruno enfrentou então nas urnas. Pedro Madeira Rodrigues, o blogueiro envergonhado com pseudónimo "amaricano", foi um antagonista muito inferior a José Couceiro - personalidade por quem mantenho o maior respeito e foi um digno vencido no escrutínio de 2013. Tivesse o actual presidente enfrentado na recente corrida eleitoral alguém muito mais credível do que o caricato "City" Madeira, a história destes últimos onze meses seria bem diferente.
Apesar de tudo, não me espanta agora que Bruno de Carvalho, na sua insaciável bulimia, pretenda ampliar a maioria dos votos alcançada a 4 de Março de 2017. A história humana está repleta destes líderes: tudo querem, tudo perdem.
O que verdadeiramente me surpreende é o palco e o tempo de antena que ele dá ao trio Paulino, Morgado e Severino. Qualquer deles, graças ao ainda presidente do Sporting, vive desde sábado um mediatismo jamais sonhado.
Isto basta para perceber até que ponto o dirigente leonino anda transtornado. Questiono-me seriamente se alguém, oriundo da pequena tribo que o rodeia, é capaz de lhe dizer com desassombro, olhos nos olhos, aquilo que ele precisa urgentemente de escutar.