Ontem, em Alcochete, a equipa de juniores do Sporting recebeu e venceu o Vitória de Setúbal, tradicionalmente uma equipa forte neste escalão, por 5-0 (4-0 ao intervalo), em mais uma partida do campeonato nacional da categoria. Pouco antes, no mesmo local, em jogo a contar para a Liga Revelação, a nossa equipa de sub-23 havia batido o mesmíssimo adversário por 3-2.
Mais do que os resultados em si, percebeu-se a motivação dos miúdos, subitamente tomados por um novo suplemento de alma. Jogadores muito promissores e que têm estado apagados, como Diogo Brás (1 golo e duas assistências), Bernardo Sousa (2 golos, a juntar aos 3 da semana passada) ou os mais velhos Elves Baldé (hat-trick) e Daniel Bragança apareceram em grande nível.
Creio estarmos a assistir aos primeiros sinais daquilo que denominaria como Efeito Keizer. Muito se tem falado no decréscimo de qualidade da nossa Formação e vários são os sócios a ecoá-lo, inclusivé aqueles que nunca viram um jogo da Formação, os que conciliam tal opinião com um saudosismo mais ou menos disfarçado a Jorge Jesus e ainda alguns politiqueiros com interesse evidente em espalhar a teoria do caos, mas creio que erramos ao abordar o tema numa perspectiva "bottom-up", em detrimento de "top-down".
Se do ponto-de-vista físico e táctico parece evidente que ficamos a perder face ao Benfica, é também verdade que continuamos a produzir jogadores com muita criatividade e liberdade para criar. Nota-se que o jogador encarnado é geralmente mais desenvolvido muscularmente, que tem outra leitura do jogo, mas os nossos continuam a ser mais desequilibradores e imprevisíveis. São, essencialmente, duas escolas de Formação diferentes que, apesar disso, têm um número de títulos praticamente equivalente nas camadas jovens nos últimos 5 anos.
O que eu penso ter acontecido nos últimos dois anos da Formação foi uma grande desmotivação. Havendo um fúnil demasiado apertado nos séniores e sabendo-se da pouca disponibilidade do treinador do nosso principal escalão em apostar em jovens, estes começaram a perder a fé em chegar lá acima. Viram o que aconteceu aos seus colegas hoje nos seus 22/23 anos, uma geração perdida de empréstimo em empréstimo, e perceberam que essa viria a ser a sua realidade brevemente, pois por muito que mostrassem tal nunca seria suficiente. A chegada de Marcel Keizer a Alvalade, técnico que não teve rebuço em reforçar a aposta que Peter Bosz, seu antecessor, tinha feito nas escolas do Ajax, tem tudo para ser o detonador de uma nova crença dos nossos jovens jogadores. Será por isso com renovada expectativa que Bragança, Elves, Brás ou "Benny" encararão o futuro próximo. Perspectivando oportunidades, certamente trabalharão mais e melhor. A vantagem de uma política desportiva alicerçada na Formação é essa e os nossos jovens jogadores saberão que a partir de agora, esforçando-se para isso, verão chegada a sua hora de provar ao mais alto nível. E os pais também terão isso em mente na hora de escolherem o clube que os seus filhos, ainda crianças ou adolescentes, irão representar.
Confesso que me estava a custar sair da cabeça, mais ainda do que é habitual, o insucesso do Bonfim. Desde sexta-feira, nada me parecia consolar. Mesmo a mezinha costumeira, que consiste em me afastar de toda e qualquer coisa que, mesmo que remotamente, me faça pensar no mundo da bola, não parecia resultar. Um jantar de primos, que sempre constitui um reencontro mágico, um regresso mítico ao passado feito de mil-e-uma pequenas estórias, também não melhorou o sentimento, porque todos são sportinguistas - e estavam com a tristeza estampada no rosto, fruto das inquietações do dia anterior - , com a honrosa excepção de um irredutível "pastel", também ele com uma costela de leão ou não fosse desde pequenino subjugado, mas não ostracizado, pelo esmagador fervor leonino.
Eis quando, esta manhã, ligo a SportingTV e vejo, já em desenvolvimento, um Sporting-Vitória de Setúbal em iniciados (3-0). E não é que isso me permitiu reconciliar com o meu clube? Não porque o tenha encarado como uma revanche do jogo dos séniores, longe disso, mas por me ter enchido de esperança daquilo que será o nosso futuro, e isso ter feito esquecer um pouco o presente.
Lembrei-me então de fazer esta crónica. Um trecho prospectivo sobre a nossa Formação, os futuros craques do amanhã que despontam no horizonte da Academia de Alcochete.
Começando pela categoria de iniciados, numa equipa treinada por Pedro Coelho, julgo termos ali 4 jogadores de que muito iremos ouvir falar. O primeiro, e mais óbvio, é Joelson Fernandes, de quem os nossos Leitores certamente já ouviram falar. Joelson é um destro rápido e muito habilidoso, que se posiciona sobre a ala esquerda, iniciando desde aí diagonais em drible que semeiam o pânico no último reduto das equipas adversárias. Com boa relação com o golo, é um jogador que promete muito. Está no segundo ano de escalão e para o ano subirá a juvenil, esperando-se que continue a progredir. Outro jogador que tem dado nas vistas é o médio, "10", Lucas Dias (Luquinhas). Lucas é um jovem com técnica apurada - passe, recepção, remate - e muita habilidade - muito forte no um para um - , destacando-se também pelos golos que marca. A revêr. Depois, o lateral direito Rafael Costa demonstra ter muito pulmão e boa técnica, o que lhe permite auxiliar bastante o ataque (marcou o terceiro esta manhã). Finalmente, o ponta-de-lança Tristan Hammond mostra muita mobilidade e leitura do jogo da equipa, virtudes bem assentes numa técnica apurada.
No escalão de juvenis, treinado pelo grande João Couto, destacaria Bruno Tavares, Felix Correia e Nuno Cardoso, dois alas e um segundo avançado. Bruno é, entre os alas, aquele que se movimenta melhor em espaços interiores podendo jogar também no apoio ao ponta-de-lança. Dono de excelente técnica e muito drible, é um desequilibrador por natureza. Felix Correia tem muitas semelhanças com Bruno, mas talvez seja menos inclinado a explorar terrenos mais centrais. Tem sido, no entanto, mais decisivo que o seu colega, fruto de uma maior experiência (está no segundo ano de juvenil). Nuno Cardoso é um miúdo com muita capacidade de se movimentar entrelinhas e posicionamento correcto na área na hora de finalizar as jogadas.
Finalmente, nos juniores, orientados por Tiago Fernandes, teremos talvez os melhores prospectos da nossa Academia. Rafael Leão é um ala possante (geralmente a partir da esquerda) e de óptima técnica, com diagonais muito interessantes e golo no seu ADN. Nesse sentido, pode jogar como um ponta-de-lança de grande mobilidade, preenchendo todas as posições atacantes. Tem explosão, algo muito importante no futebol actual e igualmente caro a Jorge Jesus. Um verdadeiro atleta, faz lembrar um pouco Cristiano Ronaldo. O jogador que mais me caíu no goto chama-se Diogo Brás. Este jovem é um prodígio. Tem uma condução de bola "à Crujff", visão de jogo, finta curta e em velocidade, com os dois pés. Um ambidestro genial que marca muitos golos. Outros dois jogadores acima da média são o lateral esquerdo Gonçalo Costa e o médio de ataque Bernardo ("Benny") Sousa. O defesa tem grande amplitude de movimentos e bom remate, o médio tem uma colocação de bola à distância fantástica, excelente remate e marca muitos golos. Talvez lhe falte mais velocidade de base para o futebol profissional.
Em resumo, estes são os jogadores que penso estarem mais perto do sucesso, independentemente de haver outros prestes a despontar. Não lhes conheço a forma de pensar, a mentalidade, aspecto que faz toda a diferença no alto nível. Se forem jovens bem estruturados, então o nosso futuro será radioso.
E, pronto, eis como desta crónica fiz panaceia para todos os meus males resultantes de um Mau Fim. Espero que Vos ajude, também. Obrigado pela Vossa atenção!!!
(Diogo Brás)
{ Blogue fundado em 2012. }
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.