Legenda: A equipa do Sporting efectuou ontem, no Estádio Nacional, o seu primeiro treino sob o comando técnico de Di Stéfano. Aqui vemos [Carlos Espírito Santo, círculo em redor da cabeça] o ex-barreirense Valter, o novo recruta «leonino», na execução de um exercício, seguido de Baltasar e Yazalde. [7-8-1974]
Após partilhar uma imagem de Alfredo di Stéfano no Estádio do Jamor na qualidade de treinador do Sporting Clube de Portugal, tomei conhecimento da existência de uma entrevista concedida por Fernando Massano Tomé, em 2018, a Rui Miguel Tovar ao longo da qual abordou a passagem de Di Stéfano pelo nosso Clube.
E o que se passou entre ele o Di Stéfano? Eles não se davam bem. Houve um dia, durante o estágio no Brasil, em que o João Rocha sentou-se ao lado do Di Stéfano e ele saiu da mesa. Beeeem, estás a ver? A verdade é que o Di Stéfano nem ficou aqui para a primeira jornada do campeonato, quando perdemos 1-0 em Faro com a Olhanense. Nesse dia, foi o adjunto Osvaldo Silva quem assumiu a equipa.
E o Di Stéfano, que tal? Ele percebia de futebol, só que estava acostumado ao futebol espanhol.
Isso quer dizer o quê? Por exemplo, ele só queria guarda-redes que fossem bisarmas. Chegou aqui e apanhou dois fininhos: Damas e Botelho.
Bolas, o Damas? E o Damas já era da seleção, só que o Di Stéfano até disse ao João Rocha que precisava de um bom “portero”. E ainda um bom defesa-esquerdo, quando tínhamos o Inácio e o Da Costa.
E o João Rocha? Disse-lhe que não, claro. E até sugeriu, em tom de brincadeira, que metesse o Chico Faria à esquerda.
E depois? O Di Stéfano saiu e assumiu o adjunto Osvaldo Silva. Depois veio o Fernando Riera, chileno. Tinha o hábito de beber um Dão aquecido antes dos jogos.
Ficam esclarecidos os contornos da passagem de Di Stéfano pelo Sporting bem como os motivos que terão estado na origem da sua curta permanência.
Imagem: acervo pessoal do antigo jogador Carlos Espírito Santo, com o meu sentido agradecimento ao seu filho, Ricardo Espírito Santo.
A passagem de Alfredo di Stéfano pelo Sporting foi breve. Considerado por muitos o melhor jogador de todos os tempos, sentou-se na cadeira de treinador durante o início da época 74/75. Em comentário a esta imagem - no perfil Facebook de Carlos Espírito Santo - disse o nosso jogador Tomé que Di Stefano saiu após o primeiro jogo para o campeonato (que se jogou em Faro e que o Sporting perdeu por 1-0). Numa peça a propósito da sua morte, é dito que não chegou a sentar-se no banco. Podereis esclarecer, Sportinguistas?
Graças à natureza supersónica da sua passagem pelo Sporting, Alfredo di Stéfano não alcançou a Glória que se esperaria, ainda assim, aqui fica este registo para a posteridade efectuado no Estádio Nacional, no arranque da época 74-75. Nessa época o Sporting sagrou-se campeão nacional e o treinador nascido na Argentina, voltaria a treinar apenas na época seguinte (Rayo Vallecano).
Que me lembre, esta foi a primeira e única fotografia em que vi Don Alfredo di Stéfano ao serviço do Sporting.
Fonte: acervo pessoal do antigo jogador Carlos Espírito Santo, com o meu sentido agradecimento ao seu filho, Ricardo Espírito Santo.
Ontem, a falta de sentido do ridículo abateu-se de forma estrondosa, em simultâneo, sobre dois jornais, o Record e a Bola. A propósito da morte de Alfredo di Stéfano, o primeiro põs em título, na capa, Di Stéfano, Morreu o ídolo de Eusébio, e o segundo, também na capa, Morreu Don Alfredo, O Ídolo de Eusébio. A Marca disse, enaltecendo com comparativa modéstia a figura de Di Stéfano, que Su muerte supone el adiós al jugador más importante de la historia del conjunto blanco y a uno de los grandes de la historia del fútbol mundial. Estivesse este jornal mais bem informado e tivesse, portanto, conhecimento das preferências de Eusébio e o título da notícia seria, por certo, semelhante aos do Record e da Bola. Tal carência informativa é partilhada com todos os jornais cujos títulos li, já que, em nenhum deles, o futebolista único ou quase único que di Stéfano foi é relacionado com o moçambicano. Falta de cuidado, é claro. Em lugar de irem ao que interessa, põem-se a divagar sobre a importância do homem para o futebol, para o Real Madrid, para Espanha, para o River Plate e para a Argentina e para toda uma série de minudências da mais absoluta irrelevância.
A ideia extravagante de, com a distinção de primeiras páginas, atribuir o prestígio e a importância de alguém como o fenomenal jogador hispano-argentino à conta em que era tido pelo simpático Pantera Negra, que, como é óbvio, não tem nenhuma culpa nesta tolice, só pode ocorrer a espíritos seriamente embotados por uma dose reforçada de fanatismo. A cegueira nacionalista, clubística ou uma mistura de ambas tão frondosamente exibida, nesta ocasião, pelas duas gazetas faz-me lembrar uma história que se contava nos tempos da guerra fria sobre a maneira como Estaline preparou as cerimónias do centenário da morte de Alexander Pushkin. Tendo sido decidido edificar um monumento que prestasse devida e grandiosa homenagem ao genial poeta russo, permanecia a indecisão sobre as particularidades da estátua que aí tomaria o lugar de maior relevo. Até que o Secretário-Geral do PCUS proferiu, com o desembaraço que lhe era tão peculiar, uma sentença definitiva:a estátua representá-lo-ia a ele mesmo, Estaline, lendo um exemplar de Eugene Onegin.