Para mim é impossível analisar este jogo com o Lille sem me recordar dos jogos com o Marselha na Champions de há dois anos, ambos com um jogador expulso, naquela época em que ficámos em 4.º lugar na Liga muito por culpa... desse mesmo Marselha. Fomos perder então a Arouca poucos dias depois da derrota inglória em Marselha numa noite muito infeliz de Adán (e de Israel também que o substituiu), agora viemos da vitória em Arouca para uma vitória facilitada pela... expulsão dum jogador do Lille.
Mas além disso uma enorme distância entre a equipa de há dois anos e esta. Nem Israel é o mesmo, hoje teve uma defesa que define um grande guarda-redes, da selecção do Uruguai, tal como Maxi Araújo.
Sobre o jogo, e defrontando uma equipa mais forte fisicamente, sempre a meter o pé e a fazer estrago, foi preciso a equipa ser muito competente em campo, e bem diferente do que costuma fazer na Liga interna. Mais vertical, bola depressa no trio atacante, para encostar o adversário atrás e libertar espaço nas alas para os avanços de Catamo e Quenda. Que com mais sorte tinham marcado dois ou três golos na 2. ª parte, quando o adversário queria fazer pela vida em inferioridade numérica.
Inácio lesionado cede o lugar a Matheus Reis, Gyokeres marca um golo "à ponta de lança" na 1.ª parte, Morita é trocado por Bragança ao intervalo apenas porque mais vale prevenir que remediar, mas a máquina continuou a carburar sempre bem oleada.
O golão de Debast que decidiu o resultado fez esquecer as quatro ou cinco oportunidades desperdiçadas, hoje por mais falta de sorte no remate do que por outra coisa qualquer. Depois ainda tivemos direito àquela grande defesa de Israel, a colocar justiça mínima no resultado final.
O pior do jogo foram mesmo as mazelas e as lesões. Inácio teve mesmo de sair, no final e a coxear estavam vários: Diomande, Bragança, Gyokeres, Catamo...
Vamos ver quem está disponível para domingo. A Champions começa a "passar factura".
Melhor em campo? Diomande. Imperial, inteligente na leitura, eficaz na acção. Se todos ficámos traumatizados com o abandono justificado de Coates, agora o problema é ficarmos também no dia em que Diomande tenha de sair do Sporting. Depois dele todos merecem distinção, mas aquele golão do Debast deixou-nos com água na boca...
Arbitragem? Categoria Champions, sempre a deixar jogar mas a conseguir distinguir o jogo duro casual do intencional.
E agora? O AVS domingo em Alvalade. Não vai ser fácil, pelos motivos que indiquei.
Gyökeres, com dois passes para golo: esforço do craque sueco foi insuficiente para vencer
À quinta tentativa, o FC Porto conseguiu: venceu esta noite o Sporting, conquistando a Supertaça no estádio municipal de Aveiro.
Primeira vitória oficial de Vítor Bruno, novo técnico portista.
Vista do nosso lado, é uma derrota que soa a pesadelo. Chegámos a vencer por 3-0 e deixámos que o FCP conseguisse a reviravolta, triunfando por 4-3 no prolongamento.
Marcámos o primeiro logo aos 6', por Gonçalo Inácio.
O segundo surgiu aos 9', por Pedro Gonçalves.
O terceiro - fantástico golo - aconteceu aos 24', pelo jovem Quenda, em estreia simultânea como titular e artilheiro da equipa principal. Merece elogio, tal como Gyökeres: o sueco não marcou, mas fez duas assistências.
Aos 28', Galeno reduziu. Fixando o resultado ao intervalo: 3-1.
E depois? Acentuou-se o naufrágio defensivo do onze leonino, que se estreia da pior maneira na temporada oficial 2024/2025. Sofremos dois outros golos, aos 64' e aos 66'. Aos 101', consumou-se o descalabro.
Com o nosso treinador inexplicavelmente passivo. Rúben Amorim só se dignou fazer a primeira substituição aos 83': mandou sair Trincão, mandou entrar Edwards. Mera troca posicional, que nada alterou para melhor.
Alinhámos com dois reforços: Vladan e Debast. Nenhum deles me convenceu. O quase-desaparecido Fresneda, desta vez em campo nos 20 minutos finais, continua sem demonstrar qualidade para integrar o plantel leonino.
Passámos do oitenta para o oito. Nunca tinha visto nada semelhante num desafio desta relevância, que garantiu o primeiro troféu da época. Vai para o museu do Dragão.
Resumo tudo nestas duas palavras: absolutamente inaceitável.
Spporting, 3 - At. Bilbao, 0 (Troféu Cinco Violinos)
Coates entrega a Morten Hjulmand braçadeira de capitão: momento emocionante em Alvalade
Os clubes desportivos vivem muito da iconografia capaz de congregar e mobilizar os apoiantes. Aconteceram ontem, no Estádio José Alvalade, vários momentos desses. Que guardaremos mais tarde na memória.
A ocasião era propícia a isso, neste nosso último jogo antes do início da época oficial de futebol. Celebravam-se os quase-míticos Cinco Violinos, que quase já ninguém viu jogar. Iríamos defrontar os "leões" bascos do Athletic Bilbao, trazendo a má recordação daquela partida perdida em San Mamés que há 12 anos nos afastou da final da Liga Europa. E dizíamos «até sempre» ao enorme capitão Sebastián Coates, que regressa ao seu Uruguai após quase nove anos entre nós: foi o melhor defesa do Sporting neste século. Momento agridoce, o da vibrante ovação colectiva a quem nunca nos abandonou nos tempos mais difíceis, bem diferentes dos actuais. Sai como bicampeão nacional de futebol.
Uns partem, outros chegam.
Ontem estreou-se na equipa principal um adolescente de 17 anos, nascido em Bissau. Actuou como extremo clássico, no corredor direito. Rúben Amorim confia a tal ponto nele que adaptou o sistema táctico às características do rapaz, dispensando-o do habitual vaivém naquela ala: havia sempre um colega apto a ir ali à dobra em missão defensiva.
Geovany Tcherno Quenda - melhor em campo - correspondeu às expectativas. E assim deu nova amplitude à iconografia leonina, neste magnífico fim de tarde em que víamos emergir um astro em nossa casa. Aos 10', protagonizou pré-assistência para o golo inaugural ao tocar de modo irrepreensível para Gyökeres. Aos 33', rematou ao poste com aquele que dizem ser o seu pé menos bom, o direito. Aos 40', num remate cruzado, encaminha-a para a baliza onde ia anichar-se no canto inferior direito: só um corte providencial a travou in extremis.
«Se jogar assim, não voltará à equipa B», afirmava um sorridente Rúben Amorim no final do jogo. Impossível contrariá-lo: é mesmo caso para dizer isto.
O miúdo de Bissau deu forte contributo para as estatísticas deste jogo: 19 remates nossos, apenas nove da turma basca.
Solto, com bola ao primeiro toque. Dinâmico, com toada colectiva no comprimento e na largura. Criativo, capaz de desenhar lances que nos transmitem a ideia de um campeão nacional disposto a revalidar o título sem pedir licença a ninguém. Foi assim que se mostrou o Sporting neste desafio testemunhado ao vivo por mais de 35 mil adeptos num estádio que vai sendo remodelado por etapas até se pôr fim ao famigerado fosso, lá para 2026. Perante o detentor da Taça do Rei, quinto classificado da Liga espanhola.
Com Nuno Santos ausente do onze por lesão e Diomande a cumprir castigo, o treinador aproveitou estas baixas para testar a equipa com vista à Supertaça, que disputaremos com o FC Porto a 3 de Agosto. Houve adaptações bem-sucedidas. Desde logo na saída de bola, visando o passe na profundidade para explorar com rapidez os espaços livres lá na frente. E ampliando os momentos em que defendemos numa linha a quatro, cabendo a Geny - na ala esquerda - esse movimento de recuo.
Teste superado. Também o de outro estreante: o belga Debast, transferido aos 20 anos do Anderlecht e com participação no recente Euro 2024 pela selecção do seu país. Mostrou-se destemido com bola e pressionante sem ela. Reforço a sério, não a fingir.
E que mais, na crónica deste jogo? Os golos, claro.
Fundamentais - pelos três que marcámos, conquistando o belo Troféu Cinco Violinos. O primeiro (10') por Pedro Gonçalves, em remate rasteiro, isolado por Gyökeres neste seu primeiro (e último) jogo da pré-temporada testemunhado pelo público. O segundo (79') com Edwards a encostar após cruzamento milimétrico de Matheus Reis. O terceiro (83') com Trincão a facturar e Matheus novamente a assistir após intervenções decisivas de um par de jovens: Mateus Fernandes e Rodrigo Ribeiro. Oriundos da Academia de Alcochete, fábrica de campeões.
Fundamental também, termos mantido as redes da nossa baliza intactas. Vladan (até aos 68') e Israel (com recente participação na Copa América pelo Uruguai) deram boa conta do recado.
No final, o sorriso de Amorim era igual ao nosso. Sebastián Coates pode regressar tranquilo a Montevideu: a equipa está bem entregue.
Homenagem nas camisolas ao melhor defesa do Sporting neste século XXI
Breve análise dos jogadores:
Vladan - Não fez uma defesa digna desse nome na primeira parte. Bloqueou bem a bola aos 51', saída oportuna a pontapé aos 62'. Controlou a profundidade.
Eduardo Quaresma - Devolvido ao lado direito da linha de centrais, melhorou face ao jogo anterior. Pequenos lapsos sem relevância. Sacou um amarelo aos 16'.
Debast - Estreia absoluta do jovem belga de verde (e negro) e branco. Mostrou talento, exibiu confiança. Bons dotes técnicos, presença na área.
Gonçalo Inácio - Não o víamos em acção desde o Europeu. Aos 22 anos, é já o mais experiente dos três centrais. Cabeceou à trave após canto, aos 33'.
Quenda - Outro estreante. E logo como melhor em campo. Foi seta apontada à área bilbaína. Serviu Viktor no primeiro golo, rematou ao ferro (33'), quase marcou aos 40'.
Morten - Agora capitão, mostrou-se em excelente forma após um Europeu que lhe correu bem. Eficaz no desarme e nas recuperações. Inegável sentido posicional.
Morita - Parece jogar há muitos anos com o dinamarquês, de tal forma se complementam no meio-campo. Constante pressão sobre o portador da bola.
Geny - Remetido à ala esquerda, revelou dificuldade no seu habitual movimento de fora para dentro: falta-lhe automatismo. Saiu ao intervalo com queixas físicas.
Trincão - Voltou a marcar: foi dele o golo que selou o resultado, aos 83. Andara lá perto num cabeceamento, aos 61'. Garantiu lugar como titular da equipa.
Pedro Gonçalves - Naquele seu jeito habitual de fingir que nem lá anda, apareceu no sítio certo para abrir o marcador logo aos 10'. Sempre muito activo.
Gyökeres - Voltámos a vê-lo após ter sido operado: 58 dias sem competir. Ninguém diria: está em plena forma. Impecável assistência no primeiro. Rondou o golo aos 54'.
Fresneda - Entrou aos 46' para render Geny. Primeiro na ala esquerda, algo trapalhão; depois à direita, mais à vontade. Recupera a bola no lance que gera o segundo golo.
Rodrigo Ribeiro - Substituiu Gyökeres (59'). Voltou a dar nas vistas. Grande articulação com Mateus Fernandes a construir lance que culmina no terceiro golo.
Daniel Bragança - Rendeu Morten aos 68'. Já com a braçadeira de capitão, iniciou segundo golo com transporte seguro e temporização perfeita.
Israel - Aos 68' substituiu Vladan entre os postes. Saiu bem, a pontapé, aos 77'. Grande defesa aos 90'+1: está em forma.
Edwards - Aos 68' saiu Quenda, entrou ele. Grande contraste. Mas aos 79' saiu da aparente letargia para a meter lá dentro após boa movimentação. Quase nem festejou.
Matheus Reis - Só entrou aos 68', substituindo Gonçalo Inácio. Mas chegou a tempo de brilhar na assistência a dois golos. Nota muito positiva.
João Muniz - Substituiu Debast aos 68'. Cumpriu, evidenciando segurança.
Mateus Fernandes - Entrou aos 81', rendendo Morita. Voltou a dar nas vistas com a arrancada que daria o golo 3. Serviu muito bem Trincão aos 86'.
Equipa mais azarada não há. Pelo menos neste Campeonato da Europa. Refiro-me à Bélgica, já com três golos anulados pelo vídeo-árbitro: se não é recorde na fase de grupos, anda lá perto. Dois desses tentos que não valeram deveram-se a deslocações milimétricas: esta regra absurda, validada pela tecnologia, anda a matar o futebol como modalidade desportiva digna de espectáculo. Cada vez concordo mais com Arsène Wenger, que já propôs alteração drástica à lei do fora-de-jogo, passando a existir irregularidade apenas quando todo o corpo do atacante se encontrar para além do penúltimo defensor.
Principal vítima: Lukaku (Roma, 31 anos). Foi ele o autor dos golos que não valeram: dois contra a Eslováquia; outro anteontem, em Colónia, na vitória belga frente à Roménia. Não marcou, mas deu a marcar. Muito cedo, ainda antes de estar concluído o segundo minuto da partida. Servindo Tielemans, desta vez para valer. Na construção deste excelente lance de futebol colectivo participou também o melhor em campo: De Bruyne, já longe da prolongada lesão que o afectou na temporada 2023/2024.
Voltou às exibições de luxo, como um dos melhores médios ofensivos do mundo. Coroando a sua actuação com um golaço de fazer levantar o estádio. Construído aos 80' com assistência directa do guarda-redes Casteels, que a colocou muito bem lá na frente. O canhoto fez o resto. Carimbando o primeiro triunfo belga neste Euro-2024.
Debast, o jovem defesa recém-contratado pelo Sporting ao Anderlecht, saltou do banco aos 77', substituindo Theate (Rennes, 24 anos) como central à direita. Impôs-se no jogo aéreo e destacou-se no passe longo. Gostei de o ver.
No fim, não ganha a Alemanha: empata. Foi assim ontem, no embate entre suíços e alemães em Frankfurt, com manifesta superioridade helvética. Na primeira oportunidade de que a equipa dispôs, aos 28', o jovem avançado Ndoye (Bolonha, 23 anos) não perdoou. Esteve a centímetros de bisar, levando a bola a beijar o ferro, três minutos depois.
Aqui para nós: gostaria bem de vê-lo no Sporting.
A Suíça vencia ao intervalo (1-0) e exibiu mais classe durante o segundo tempo, em que dispôs de duas grandes oportunidades de ampliar a vantagem: aos 84', quando Vargas a meteu lá dentro mas viu o golo anulado por suposta falta anterior de um colega que só o VAR descortinou; e aos 88, quando Neuer impediu golo de Xhaka com defesa quase impossível.
Três vezes campeã da Europa, a Alemanha parecia ter baixado os braços, resignada à derrota, quando Füllkrug a salvou, já no tempo extra, ao marcar após conversão de livre lateral. Estiveram a dois minutos da derrota - e consequente adeus ao primeiro lugar no Grupo A, que afinal venceram in extremis. Formam com Portugal e Espanha o trio de selecções com lugar garantido nos oitavos.
Safaram-se de boa, mas lançaram dúvidas junto dos adeptos: esta selecção germânica prometia mais do que está a oferecer.
Bélgica, 2 - Roménia, 0
Alemanha, 1 - Suíça, 1
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