O factor casa continua a pesar - e de que maneira. Que o diga a feliz selecção inglesa: em seis jogos já disputados neste Campeonato da Europa, cinco foram em casa. No estádio de Wembley, em Londres.
É decisivo em absoluto? Não, mas ajuda muito.
Basta ver os números: em 15 edições já realizadas do Europeu, o país organizador figurou 13 como semifinalista. E chegou cinco vezes à final.
Há três dias, as bancadas londrinas encheram-se novamente. Quase todos os que ali estavam, mais de 60 mil, puxavam pela selecção anfitriã.
Mesmo assim a Inglaterra não teve vida fácil neste embate contra a Dinamarca na meia-final restante do Euro-2021. De tal maneira que até esteve a perder: aos 30', Damsgaard, jovem craque da Sampdoria, abriu o marcador com um belíssimo golo: vai figurar decerto entre os dez melhores deste campeonato.
Foi o momento alto da Dinamarca. Mas nove minutos depois, a onda inverteu-se. Golo britânico, com ajuda nórdica: infeliz autogolo do capitão Kjer. Há já quem chame ao Euro-2021 o campeonato dos autogolos. Com este, já são onze. Em todos os anteriores só tinha havido três.
No segundo tempo, muita luta e muito cansaço. Aconteceu futebol, como apregoam os cultores das frases feitas. Com destaque, do lado dinamarquês, para o guardião Kasper Schmeichel - filho do nosso campeão do ano 2000 - com enormes defesas aos 55' e aos 73'. Também para o ala esquerdo Maehle e o central Vestergaard, intransponível.
Nas fileiras inglesas brilhou Sterling - de longe o astro-rei desta selecção. Com arte e técnica para tudo, até para cavar penáltis. E foi assim, graças a um penálti mais que duvidoso, que conseguiu a vitória para a sua equipa. Chamado a converter, Harry Kane falhou à primeira; Schmeichel voltou a brilhar entre os postes, defendendo; mas a bola sobrou para o ponta de lança inglês, que à segunda não perdoou.
Estava decorrido o minuto 104', já no prolongamento, fixando-se o resultado tangencial que permitirá aos ingleses discutir amanhã o título com os italianos. É a estreia da Inglaterra numa final de um Campeonato da Europa. Novamente em Wembley. Assim, para eles, tudo se torna um pouco mais fácil.
Futebol do melhor no Campeonato da Europa: aconteceu hoje, protagonizado pela selecção da Dinamarca, com uma segunda parte de sonho em que cilindrou a Rússia, goleando-a sem apelo nem agravo em Copenhaga.
De quase afastada, após duas derrotas (frente à Finlândia e à Bélgica), ascende assim ao segundo posto no Grupo B, transitando para os oitavos com todo o mérito.
Confesso que fiz questão em ver este desafio tão decisivo para os dinamarqueses torcendo por eles desde o primeiro minuto. Desde logo como homenagem ao malogrado Eriksen, o craque da equipa, vítima de uma síncope no jogo inaugural. E por sentir que a Dinamarca foi alvo de uma clara injustiça ao ter de prosseguir aquela partida tão traumática com todo o onze destroçado animicamente: aquela derrota contra a Finlândia, nesse dia específico, foi uma das maiores injustiças a que já assisti no futebol.
Mas os deuses da bola às vezes escrevem direito por linhas tortas, como esta tarde se confirmou. A Dinamarca venceu e convenceu: marcou quatro e sofreu apenas um, de grande penalidade. Dois dos seus golos foram extraordinários - do melhor neste Euro-2021. O primeiro, aos 38', apontado por Damsgaard, jovem extremo da Sampdoria, foi um tiro indefensável que fez levantar o estádio, cheio com 38 mil espectadores. E o terceiro, aos 79', parecia um míssil - disparado pelo defesa Christensen, outra das figuras da partida. Os restantes foram marcados por Poulsen (59'), aproveitando um monumental brinde da defesa russa, e Maehle (82'), coroando um rápido-contra ataque. Selava-se assim um jogo épico da Dinamarca: tenho a certeza de que nunca será esquecido.
Aproveitei para acompanhar mais de perto o desempenho de Daniel Wass, ala direito de 32 anos que actua no Valência e estará sob a mira do Sporting. Na partida anterior, em que recebeu um amarelo, nada fez que me despertasse a atenção. Desta vez merece nota positiva sobretudo por dois momentos: o centro milimétrico que fez aos 29' para um disparo de Hojbjerg, e um lance bem construído na extrema direita, aos 54'. Mas confesso que nada vi de extraordinário: Porro e Esgaio, pelo menos estes, são superiores.
Aos 61', Wass foi substituído: já não estava em campo no melhor período da sua equipa.
Enquanto esta partida decorria, em Sampetersburgo disputava-se o Bélgica-Finlândia, outra partida do Grupo B. Já com os belgas qualificados mas sem facilitarem: dominaram por completo, remetendo os finlandeses ao seu reduto.
A terceira vitória consecutiva belga neste certame foi natural. Já escrevi e reitero: estamos perante um potencial vencedor do Europeu. Menos natural foi vermos um excelente golo anulado por intervenção do vídeo-árbitro, aos 65': assistência de De Bruyne desmarcando Lukaku e este a fuzilar as redes. Ninguém entendeu a alegada deslocação que as imagens não comprovam. Merece alerta máximo: o absurdo critério do fora de jogo milimétrico anda a matar o futebol de ataque.
Mas aqui os deuses da bola voltaram a intervir. Após um autogolo do guardião Hradecky (74') na sequência de um canto, a dupla imparável voltou a dar nas vistas quase numa réplica do golo anulado: De Bruyne assistiu, Lukaku marcou. Fixava-se o resultado aos 81'.
Desta vez valeu.
Dinamarca, 4 - Rússia, 1
Bélgica, 2 - Finlândia, 0
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