«Por estes dias e neste ambiente judicial recordei-me como a Justiça italiana resolveu os seus problemas com o futebol. Por exemplo, quando eclodiu o escândalo de corrupção desportiva (e não só) conhecido por "Calciopoli". A Federação Italiana de Futebol foi buscar o juiz Francesco Borrelli, que se tinha reformado há pouco tempo e em menos de um ano investigou o processo com consequências dramáticas para alguns dos principais clubes italianos. Uns desceram de divisão, outros receberam outras punições severas, tanto na justiça desportiva como na penal. Por cá, já vai sendo tempo de não ficar apenas pelas buscas e de serem extraídas verdadeiras consequências dos processos que aí andam. Enquanto isso não acontecer, a culpa irá morrendo solteira, num ambiente geral de degradação da imagem do futebol e das instituições. E isso é o pior que pode acontecer.»
Procuradoria-Geral da República investiga Conselho de Arbitragem por corrupção e falsificação de documentos, segundo a RTP. Em entrevista ao canal, Jorge Ferreira revela que foi ele quem fez a denúncia e fala de pressões para favorecimento aos grandes.
Não, não me refiro ao jogo imortalizado pela "amiga Olga" (uma querida e respeitável senhora), mas é importante despertar. Terá soado o gongo? É pagar para perder? É pagar para ganhar? O que tem a dizer o Sindicato dos Jogadores sobre as denúncias dos atletas e pronta negação dos alegados corruptores? Quem são estes empresários/alegados intermediários e quem os regula? O que têm Liga e FPF a dizer sobre a prevenção disto? O que se está a passar no futebol português? Corrupção ou contra-informação? Eu pago para ver...
Todos os jogos das duas últimas jornadas da Bundesliga (o campeonato da 1ª divisão alemã) têm forçosamente de acontecer no mesmo dia (de cada jornada) e à mesma hora, a fim de evitar manipulações, ou outras manobras desonestas. Sendo o campeonato português tão cheio de polémicas, quanto a arbitragens e serviço de interesses, não seria melhor seguir pelo mesmo caminho?
Há um par de dias, o Paulo Gonçalves era o "braço direito" de Luís Filipe Vieira. Passou rapidamente a "assessor jurídico" do Benfica e, agora, já vai em "assalariado" do departamento jurídico. Não tarda, sindicaliza-se e aparece-nos nas manifestações da CGTP a lutar pela semana das 35 horas.
É com alguma estranheza que vou lendo e ouvindo muitos comentadores assumirem a necessidade de pacificar o futebol, de se acabarem com estas permanentes trocas de galhardetes entre dirigentes desportivos e não só, quando são muitas vezes os próprios a lançar gasolina para uma fogueira já excessivamente ateada.
Entretanto todos os dias vamos lendo em letras garrafais notícias de que este ou aquele dirigente está a ser investigado pelas autoridades competentes. Os jornais da especialidade, ditos desportivos, pelam-se por casos destes e exploram-nos até à exaustão. Não havendo outras notícias importantes para dar, socorrem-se destas para encher páginas.
Se pensarmos bem, esta nova ordem futebolística alimenta uma data de bocas e programas televisivos. Todos os canais dedicam horas aos casos de futebol, mas nenhum deles, repito nenhum deles procura apaziguar as entidades em confronto.
O que mais falta por aí são equipas de comunicação bem montadas, que usam e abusam das plataformas sociais para lançarem ataques, quantos deles soezes e sem fundamento para somente desviarem as atenções do essencial.
Concluo assim que o futebol luso, ao contrário do que hipocritamente se diz, vive demasiado bem neste profundo lamaçal.
A tal verdade desportiva, para já, não passa de um mito ou uma teoria que muitos não desejam ver passada à prática.
Sempre me fez muita confusão ver que quase nenhum adepto do Porto, mesmo aqueles que me pareciam inteligentes, era capaz de confessar a corrupção que toda a gente sabia que o Porto fez durante muito tempo. Por exemplo, ver o Rui Moreira, que agora é presidente da Câmara do Porto, a levantar-se e ir-se embora do Triod'Ataque (https://www.youtube.com/watch?v=2gX_VfmyThI) porque não queria ouvir nem falar sobre as escutas do Apito Dourado, impressionou-me muito, especialmente porque não consigo perceber qual é o gozo de se ganhar qualquer coisa em que não se foi necessariamente o melhor, mas o que conseguiu contornar melhor as regras. Eu percebo que, depois de se ganhar muita coisa, confessar que houve batota envolvida é reconhecer que o tempo passado a sofrer e a festejar (que sabe tão bem) foi baseado, pelo menos parcialmente, numa mentira. Mas a ideia de qualquer competição devia ser premiar quem mostrou ser melhor e a subversão de regras faz com que nunca se perceba bem quem foi.
Isto podia ser um fenómeno específico dos adeptos do Porto, mas ultimamente tenho chegado à conclusão que não é. Por mais que digam, com razão, que se há clube que não tem moral para acusar outros de adulterar a verdade desportiva é o Porto, que os emails foram obtidos de forma ilegal e que há poucas provas indiscutíveis de tráfico de influências e de corrupção nos emails, não devia haver dúvidas para ninguém que o Benfica tem feito, depois do Apito Dourado, muitas coisas que acusava o Porto de fazer, e outras que ainda não conhecíamos. Ou seja, sendo os emails verdadeiros, e ninguém com um mínimo de cabeça e de honestidade intelectual acha que não são, percebe-se que, se aquelas conversas existem, é porque o Benfica montou um esquema de controlo de muita coisa que não devia controlar. Com a diferença, para o Porto dos tempos do Apito Dourado, de ter muitos mais apoiantes nos adeptos de futebol e na comunicação social.
E o que eu tenho visto em praticamente todos os adeptos benfiquistas é o mesmo que via nos portistas: assim que se fala no caso dos emails, ativam o modo de defesa e de racionalização de uma decisão previamente tomada. Ou seja, decidem à partida que é impossível que o clube de que tanto gostam use práticas ilegais e interpretam toda a informação que existe de forma a que possam concluir que não se passa nada de anormal. E não estou a falar de pessoas como o Pedro Guerra, que têm noção do que se passa e mentem conscientemente (e às vezes de forma ridícula), estou a falar de adeptos normais que, genuinamente, não querem acreditar que aquilo de que se fala seja verdade.
Por isso, é possível que a parcialidade que eu sempre soube que há nos adeptos de futebol seja mais forte do que eu pensava. É óbvio que, ao longo do tempo, vai-se formando na nossa cabeça uma maneira de ver o futebol que nos faz gostar do nosso clube e não adorar os clubes rivais, e que isso nos leva a pensar naqueles que fazem parte do nosso grupo como os "bons" e os outros como os "maus". Eu tento ser o mais imparcial e racional em tudo na minha vida, mas tenho a noção que no futebol não sou. Mas quero acreditar que, se o Apito Dourado ou o caso dos emails acontecessem com o Sporting, eu era capaz de dizer "ganhámos, mas com batota, por isso quero que estes dirigentes se vão embora, e ganhar de maneira limpa". Por exemplo, já se percebeu que o Paulo Pereira Cristóvão mandou depositar 2.000€ na conta de um árbitro assistente para depois denunciá-lo e impedi-lo de arbitrar um Marítmo - Sporting, da Taça de Portugal (https://www.ojogo.pt/futebol/1a-liga/sporting/noticias/interior/como-e-que-pereira-cristovao-tentou-incriminar-jose-cardinal-4263029.html). E que isto configura um crime, denúncia caluniosa, que vem descrito assim no artigo 365º do Código Penal: "Quem, por qualquer meio, perante autoridade ou publicamente, com a consciência da falsidade da imputação, denunciar ou lançar sobre determinada pessoa a suspeita da prática de crime, com intenção de que contra ela se instaure procedimento, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa." (http://bdjur.almedina.net/item.php?field=item_id&value=80253). Tenho pena e vergonha que isto tenha acontecido, mesmo tendo a noção que não houve aqui corrupção, e espero que não volte a acontecer. E, se alguma vez o Sporting fizer algum dos crimes de que o Porto e o Benfica foram acusados, espero que se descubra e que eu tenha a capacidade de o reconhecer e de pedir que as pessoas que os fizeram sejam afastadas e que os títulos ganhos durante essa altura sejam retirados. Mas, com os exemplos que eu tenho visto de portistas e benfiquistas, já não consigo garantir nada.
Entretanto, pedia uma coisa a quem anda a estragar o futebol há muitos anos: vão-se embora, deixem o futebol ser aquilo que é suposto ser, um desporto, e deixem de me criar dúvidas existenciais. Obrigado.