«A transição é um passe que não é mais do que isso, não é nenhuma acção de condução nem sequer de triangulações. É essencialmente um passe que faz a equipa sair desse momento defensivo para outro momento, de organização ofensiva.»
Luís Freitas Lobo, na Sport TV, durante a transmissão do Braga-Sporting. Quem souber descodificar este jargão da bola, faça o favor de me explicar. Agradeço desde já.
Enquanto escrevo estas linhas, oiço dois comentadores televisivos desancar Cristiano Ronaldo minutos após a vitória sobre a Macedónia (2-0) que carimbou a ida da selecção portuguesa ao Campeonato do Mundo. A nossa oitava participação de sempre numa fase final de um Mundial, a nossa sexta consecutiva.
Vitória para a qual Ronaldo contribuiu claramente com uma primorosa assistência para o golo inicial, de Bruno Fernandes, aos 32'.
Mesmo assim lá se dedicam eles à sua modalidade favorita: o tiro ao Ronaldo. Deve dar-lhes um prazer enorme, este de se atirarem ao melhor futebolista português de todos os tempos - com 115 golos marcados em 143 desafios pela selecção, recorde absoluto na história da modalidade - e prestes a marcar presença no seu quinto Mundial, algo que até hoje só sucedeu a dois outros jogadores de campo: o alemão Lothar Matthäus e o mexicano Rafa Márquez.
Que gente esta. Questiono-me se na televisão da Argentina também haverá comentadores deste calibre, sempre prontos a pôr em causa o mérito, a qualidade e o talento de Lionel Messi.
Há cinco anos, o "grande educador da classe operária", que já consumiu mais tempo de antena do que qualquer outro até hoje e fala com a cadência dos relógios de cuco a dar horas, encarregou-se desde o primeiro instante de profetizar um percurso péssimo à selecção nacional. Talvez porque o seleccionador se chama Fernando Santos e não Carlos Queiroz, seu favorito.
Entre os dislates que debitou em antena, anotei estes:
Um comentador que se diz imparcial mas é lampião até à medula vaticinava à quarta ou quinta jornada do campeonato 2020/2021, na televisão onde vai grasnando uns dislates, que o Benfica tinha o título no papo, restando às outras equipas lutar pelo segundo posto.
Quero ver de que cor este zandinga da treta vai pintar a cara quando voltar a aparecer na pantalha. Sou capaz de adivinhar qual é. Cor de papoila murcha.
Três jogos contra o Braga nesta temporada. Três vitórias do Sporting.
Olho para a classificação da Liga 2020/2021: o Braga está com menos 15 pontos.
Lembram-se? É a mesma equipa que todos os catedráticos do esférico se fartavam de gabar, semana após semana, dizendo que praticava "o melhor futebol" em Portugal. Olhavam para o Monte do Sameiro e viam lá a Serra da Estrela.
Se já me faziam rir antes, imaginem o gozo que me dá ouvi-los agora.
No início da temporada, o objectivo principal do Sporting - reconhecido como tal por todos os comentadores desportivos - seria a qualificação para a Liga dos Campeões, ainda que por via indirecta, o que implicava conseguir o terceiro lugar no campeonato. Alvo que muitos questionavam, antecipando inúmeras dificuldades para atingirmos tal posto. Ninguém falava na conquista do campeonato.
Alguns desses bitaiteiros, à falta de melhor tema, falavam com frequência na suposta "belenização do Sporting" e fizeram correr rios de tinta perorando sobre a hipotética irrelevância do nosso emblema no futebol nacional. Sem surpresa, vários adeptos leoninos alinhavam em tal coro.
Isto passou-se em Setembro. Decorreram apenas seis meses. Com tanto que aconteceu depois, há quem se esqueça. Lamento, mas não é o meu caso.
Com a concorrência dos canais televisivos no que ao futebol diz respeito surgiu uma nova classe de protagonistas, algures entre os jornalistas e os funcionários: os comentadores desportivos afectos aos clubes.
Logo alguns clubes tentaram distorcer o debate através do coaching ou da entrega regular de guiões ou cartilhas aos comentadores afectos, destacando-se nesse aspecto o Benfica e a "cartilha do Janela". Por outro lado, alguns dos comentadores menos alinhados com as direcções dos clubes respectivos logo aproveitaram o tempo de antena para lavar a roupa suja dos mesmos, e alguns "sportinguistas" nesse aspecto "pintaram a manta".
Entre uns e outros são mesmo raros os tais comentadores que pensam pela sua cabeça, e que transportam para o ecrã um genuíno e desinteressado amor clubista.
Fernando Mendes nasceu na terra do seu amigo Paulo Futre e chegou a defesa esquerdo da equipa A com 18 anos, tal como o Nuno Mendes. Também ele tinha um estilo de jogo vibrante e empolgante. Saiu do Sporting quatro anos depois com 115 jogos realizados, tendo representado depois vários clubes: Benfica, Est. Amadora, Boavista, Porto, Belenenses e outros, digamos que foi um saltimbanco do futebol português. A sua vida pessoal também conheceu altos e baixos, toda uma história que registou num livro que ainda não tive oportunidade de ler.
Ao contrário de Paulo Futre, um "cidadão do mundo" que julgo saber se mantém sócio do Sporting, o Fernando Mendes, na caracterização que dele faz Futre, "só vê Sporting", é um verdadeiro "tifoso".
Várias vezes vi os dois amigos entrar com estatuto VIP no tempo de Bruno de Carvalho no átrio central de Alvalade rumo aos elevadores que os iriam conduzir ao camarote presidencial. Depois do assalto a Alcochete, parece que as relações entre eles esfriaram, como esfriaram as do ex-presidente com muita gente desse tempo, que se atrevia a dizer o que ele não gostava de ouvir. Pouco tempo depois da destituição, Fernando Mendes já era "persona non grata" dos brunistas, e perseguido de diversas formas que ele já teve oportunidade de contar.
Desde então foi-se mantendo na CMTV. O que ganha deve dar-lhe muito jeito para ultrapassar anteriores dificuldades que não teve vergonha de assumir. É uma pessoa que fala com o coração ao pé da boca, diz o que sente doa a quem doer. Sobre os cartilheiros diz que "são uns tristes". Para o cartilheiro Amaral do Porto, acabado de perder a Taça da Liga, foi curto e grosso: "tens azia, come iscas."
Depois da derrota da época passada com o Rio Ave, naquela noite super-infeliz de Coates que ditou o fim de Marcel Keizer no Sporting, ficou desvairado e foi bem duro com a equipa. Disse que "o Sporting não joga nada !"
Pois anteontem, também na CMTV, lá foi sofrendo com o jogo, dizendo que "o Sporting não pode facilitar em momento algum", mas quando o mesmo Coates marcou o golo final a reacção dele ultrapassou em muito aquela que eu tive, e ainda hoje o meu sobrinho veio reclamar que o acordei. A reacção dele foi esta.
Fernando "il tifoso" Mendes, não gastes tudo agora. Cada vez mais me vou convencendo que este ano vais ter tu e vamos ter nós todos a alegria que há muito merecemos.
Falar (leia-se escrever!!!) quando se ganha é fácil.
Como sempre (continuo a ser da equipa do Zé Navarro!) não vi o jogo. Fui somente escutando o relato na Antena 1.
Após os noventa e tal minutos e a vitória, fui tomar uma banhoca e por fim sentei-me em frente da televisão para ouvir os comentadores televisivos que surgiram nos diversos canais, sempre tão assertivos…
O ambiente era pesado, muito pesado. Do lado dos derrotados percebia-se uma incontrolável azia própria de quem julga de que tem o mundo a seus pés e que as vitórias constroem-se agitando camisolas. Do outro, os homens do Norte, também eles pouco felizes já que continuam a quatro pontos do primeiro lugar e viram na noite passada uma oportunidade para se chegarem à frente… gorada.
Os poucos Sportinguistas tinham entretanto direito a explicar as movimentações dentro de campo (a que gostei mais foi a de Ricardo, o nosso antigo guarda-redes!), mas mostraram sempre muito serenidade e nenhuma arrogância.
Ainda por cima este jogo não teve casos de arbitragem, o que havendo daria outro paladar aos debates.
Enfim termino com a consciência que ontem foi uma boa noite televisiva.
Os mesmos comentadores que nas pantalhas debitam a cartilha do ódio ao Sporting, acusando-o de beneficiar dos favores da arbitragem, fecharam os olhos aos dois penáltis perdoados ao Braga no jogo de sábado contra a nossa equipa. Um empurrão pelas costas de Rolando a Feddal e um derrube de Raul Silva a Tiago Tomás, que as imagens tornam evidente. O primeiro foi transformado pelo árbitro Fábio Veríssimo em... falta atacante do Sporting. O segundo ocorreu quando o vídeo-árbitro João Pinheiro estaria a pairar em meditação transcendental lá nos confins da "cidade do futebol".
No empurrão a Feddal, dizem eles, nada se passou: tudo depende da intensidade. São os mesmos, em vários casos, que vislumbraram fúria intensiva no involuntário toque de Coates ao guarda-redes do Famalicão, justificando a anulação do nosso terceiro golo nesse jogo pelo árbitro Luís Godinho que nos impediu de ali conquistar os mais que merecidos três pontos e valeu a Rúben Amorim a segunda expulsão na sua carreira, a segunda ao serviço do Sporting (a primeira, por mera coincidência, foi também ditada por Godinho).
São os mesmos, exactamente os mesmos. E, do nosso lado, ainda há por vezes quem acredite neles.
José Manuel Freitas - No sábado, no estádio de Alvalade, vão jogar duas das melhores equipas do campeonato português e é neste jogo que eu quero perceber duas coisas: se o Braga é realmente (como eu acho) candidato ao título e se o Sporting, na verdade, tem bagagem suficiente para se manter no primeiro lugar e provar, como diz o Marco Caneira e eu estou de acordo, que é um forte candidato a poder ser campeão nacional.
Marco Caneira - O principal candidato.
J. M. F. - Eu não acho que seja o principal candidato.
M. C. - Neste momento é o principal candidato.
J. M. F. - Mas essa é a tua opinião!
M. C. - É a opinião que estou a emitir.
J. M. F. - Tens de respeitar a minha, por favor!
M. C. - Eu estou a respeitar a tua, estou a emitir a minha.
J. M. F. - Não estás a respeitar nada a minha! Porque queres que eu vá atrás da tua e eu não me apetece, não me apetece.
M. C. - Não, não, não. Cada um tem a sua opinião.
Excerto de um diálogo travado no passado dia 30, no programa Jogo Aberto, da SIC Notícias. Um dos intervenientes - aquele que recusa apontar o Sporting como principal candidato ao título - participava há cerca de 30 anos, de cachecol ao pescoço, num programa da TSF como simpatizante assumido do emblema leonino.
Esses tempos, pelos vistos, ficaram definitivamente para trás. Parafraseando o outro, 30 anos é muito tempo...
O Sporting está mal, Pote é um bluff, Nuno Mendes anda coxo, Nuno Santos perdeu o gás, Neto falha todos os cortes, Adán defende por centímetros, Amorim depende da estrelinha, uma desgraça pegada. O Sporting só se safa porque é eficaz. É este o novo mantra: o Sporting é eficaz. O que dito assim parece um defeito, um golpe de sorte, um acaso, se não mesmo um bruxedo. Não joga nada mas é eficaz, dizem os peritos da SportTv, sobretudo o nosso querido Rui Amaro, esse cómico cabisbaixo, que fala de futebol como poderia falar de equações diferenciais, já que tem conhecimento equivalente em ambas as matérias. Só nos resta pois continuar a ser eficazes e pedir desculpa por qualquer coisinha.
Como sempre não vejo o jogo na televisão porque não pago essas coisas. Futebol em Alvalade é para ver no Estádio. Ponto.
Mas oiço o relato da Antena 1 e de repente há um comentador que diz que não deveria ser grande penalidade porque o jogador do Farense tocou na bola primeiro. Só que o guarda-redes deu um valente murro na cabeça do jogador do Sporting. Vi as imagens há pouco!
O que interessou foi mais uma vitória. Nem que seja a murro...
Os mesmos comentadores que andaram dias e noites a enaltecer o golo mais fraudulento da história do futebol, elevando aos píncaros da glória celeste o autor da batota, que ele próprio - sem um pingo de vergonha - celebrou como efeito da "mão de Deus", passaram toda a semana posterior a vituperar uma bola que ressaltou na coxa do Pedro Gonçalves e lhe terá roçado o cotovelo antes de entrar na baliza do Moreirense.
Repito: os mesmos. Comentadores, cartilheiros, "analistas", palpiteiros das pantalhas, linguajadores do ludopédio, enciclopédias ambulantes do toca-e-foge. Sem vergonha também, todos eles. Descem da "divina" mão do falecido argentino ao famigerado cotovelo do melhor jogador actual do campeonato português, transitando do céu ao inferno enquanto o diabo esfrega um olho.
Quem não os conhecer que os compre. Eu passo ao lado.
Alguns dos comentadores que mais pedem seriedade na política são os mesmos que andam a bajular os presidentes do FC Porto e do Benfica em colunas mediáticas.
A falta de profissionalismo é tramada. E a displicência, quando se fala aos microfones dum canal televisivo, é um dos sinais inequívocos da falta de profissionalismo. Aconteceu no domingo, na Sport TV, durante a transmissão em directo do Sporting-Boavista: o narrador-comentador cometeu a proeza de, na mesma jogada, chamar Borja ao Wendel, Jovane ao Borja e Wendel ao Jovane.
A este baralhado chamei, também eu, um nome diferente do que tem. Mas, por uma questão de elementar decoro, não vou reproduzi-lo aqui.
Em muitas sociedades ser velho significa sabedoria, gente que fez e viveu muito, fez a sua síntese do melhor e pior que vivenciou e melhor do que os outros consegue distinguir o trigo do joio. Para além disso, não anda à procura de nada nem anda a pagar favores a ninguém e pode com a maior liberdade dizer o que vem à alma.
Vem isto a propósito de duas intervenções de dois "velhos" esta semana sobre o nosso Sporting, onde tiveram em tempos papel relevante.
Disse Dias da Cunha à TSF (o "velho" do último título e dobradinha) sobre a presidência:
"... ser preciso dar tempo ao tempo", pois Frederico Varandas "pegou no Sporting em condições absolutamente desgraçadas... Mesmo assim, tem conseguido ultrapassar os problemas financeiros o que é espantosamente difícil ... eleições antecipadas estão fora de questão." E sobre a contestação "As pessoas cegam! Ou, então, pretendem cegar para arranjar condições para chegarem ao poder. Depois, há aqueles que aproveitam a contestação das claques porque ainda pensam no regresso do bronco. Isso é muito mau para o Sporting."
Disse Manuel José à RTP3 (o "velho" dos 7-1 ao Benfica que me deu um dos maiores prazeres que tive no futebol na bancada de Alvalade):
"... o departamento de scouting do clube de Alvalade deve ter problemas de consciência que nunca mais acabam... não me lembro duma equipa tão ruim em Alvalade como este ano... A atmosfera continua difícil. Se olharmos para este jogo, a segunda parte do Sporting, por amor de Deus, foi horrível! Tive de ver porque vinha para aqui, senão tinha mudado de canal, com tantos jogos que estavam dar na televisão. Esta história de jogar com três centrais, meus amigos, joguei oito anos assim no Al-Ahly, no Egipto, e quatro anos no Boavista. Quando o nosso defesa central ganhava a bola, se o adversário metesse cinco jogadores no ataque ele tinha de sair imediatamente a jogar e a defesa toda saía com ele, para pôr aqueles cinco jogadores, caso perdêssemos a bola, em fora de jogo. E o líbero subia para a posição dele. No Sporting o único que faz isso é o Mathieu. O Coates é muito bom a defender, mas quando tem bola, aquilo para ele é um objecto estranho, não sabe o que lhe fazer. Joga um futebol directo mas a bola não vai para ninguém, vai sempre para o adversário".
Pois, se calhar custa a ouvir e mais ainda custa a engolir para quem tem dono. Para quem o único dono é o Sporting, só tem mesmo de ouvir e reflectir...
Quem preferir ouvir o Pina ou o Pinotes, faça favor...
Escuto a todo o momento vozes críticas de adeptos do Sporting contestando tudo e todos. No jornalismo desportivo e na tribo dos comentadores, designadamente.
Hoje apetece-me virar isto ao contrário e por uma vez abrir aqui um espaço de elogio a quem faz comentários - nos jornais, na rádio e na televisão - reflectindo sobre o futebol em geral e o Sporting em particular.
É um repto que lanço aos leitores e também aos meus silenciosos colegas de blogue: que comentadores mais gostam de ler ou de escutar no espaço mediático português?
Eu tenho as minhas preferências mas não vou dizê-las já para não condicionar o debate. Inaugurado a partir de agora.
«Não deixo de lamentar que Bruno de Carvalho se continue a expor a situações que só o ridicularizam e tornam ainda mais caricatural esta situação dele. (...) Tornou-se uma espécie de perito em tiros nos pés. Bruno de Carvalho adora dar tiros nos pés.»
Pedro Proença, ex-mandatário de Bruno de Carvalho, ontem, na TVI 24
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