Nem sempre costuma haver justiça no futebol. Mas desta vez houve. O Campeonato da Europa 2021, realizado um ano depois da data inicialmente prevista, acaba de ser conquistado pela Itália - que não vencia um Euro desde 1968.
A squadra azzurra foi, de longe, a melhor selecção deste torneio. E foi também a melhor desta final, disputada num estádio de Wembley cheio, com mais de 60 mil adeptos nas bancadas, sob chuva fina mas persistente.
Os ingleses até começaram da melhor maneira, com um golo de Shaw logo aos 2', coroando um lance muito rápido de futebol colectivo. E dominaram durante a meia hora inicial. Os italianos acusaram muito o golo: aos 30' ainda não tinham conseguido um só remate enquadrado.
O primeiro sinal de perigo partiu do pé esquerdo de Chiesa, uma das grandes figuras da selecção campeã. Aconteceu aos 35', com um forte disparo a rasar o poste. Único lance de perigo da squadra antes do intervalo.
As coisas mudaram no segundo tempo. Sobretudo com as trocas operadas pelo treinador Roberto Mancini aos 54': saíram Immobile e Barella, entraram Berardi e Cristante. Itália acelerou o jogo, encurtou linhas e demonstrou o seu maior trunfo: superioridade técnica, fazendo recuar os ingleses.
Previa-se o golo do empate a qualquer momento. E acabou por acontecer, marcado pelo artilheiro menos provável: o central Bonucci, aos 67', na sequência de um canto.
Chiesa saiu lesionado aos 86': outra magnífica exibição do ponta direita da Juventus, que já brilhara contra austríacos e espanhóis. É um dos heróis desta equipa, tal como o ausente Spinazzola, forçado a abandonar o Euro-2021 cedo de mais.
O melhor talento individual da equipa anfitriã continuou a ser Sterling, mas com um notório defeito: tem o vício de cavar penáltis. Assim fez aos 44', 48' e 90', tentando ludibriar o árbitro, como conseguiu na meia-final frente à Dinamarca que permitiu o passaporte inglês para o jogo decisivo. Mas este juiz da partida não foi na cantiga do médio ofensivo do City. Faltou exibir-lhe o amarelo por simulação.
Muito disputado, o prolongamento não desfez o empate registado aos 90 minutos. A final decidiu-se por penáltis.
Aqui primou a incompetência do seleccionador inglês, Gareth Southgate, que para a série de cinco grandes penalidades escolheu dois jogadores muito jovens: Sancho, de 21 anos, e Saka, de 19. Ambos permitiram que Donnarumma - outro herói da noite e do torneio - parasse as bolas na linha de meta. Rashford, de 23 anos, atirou ao poste. E assim a Inglaterra foi atirada fora, para imensa decepção dos milhares de apoiantes ali presentes. Desde 1966 que os ingleses não vencem um grande torneio a nível de selecções.
Também dois italianos falharam: Belotti e Jorginho. Mas prevaleceu a experiência do veterano Leonardo Bonucci, de 34 anos: chamado a converter, não claudicou. Tal como Berardi e Bernardeschi.
A partir daí, foi a festa italiana - que ainda dura. Justíssima festa debaixo da chuva londrina.
Era uma espécie de final antecipada: Itália e Espanha defrontaram-se esta noite em Londres. Num jogo muito táctico, em que houve muita luta mas poucos golos. Apenas dois - ambos marcados na segunda parte. No prolongamento, as duas selecções - à beira da exaustão - ficaram também em branco.
Espanha entrou em campo, espantosamente, sem ponta-de-lança. O seleccionador, Luis Enrique, só preencheu esta lacuna aos 62', quando mandou entrar Morata. Já os espanhóis perdiam 0-1, com um grande golo de Chiesa coroando um ataque muito rápido.
As duas equipas exibiram modelos de jogo muito diferentes. Espanha sempre com futebol apoiado, transportando a bola. Itália consentindo domínio do adversário e apostando tudo na qualidade do passe de Jorginho e Barella, no meio-campo e em transições muito rápidas pelos corredores laterais, a cargo de Insigne e Chiesa. Para servirem Immobile, em noite pouco inspirada.
Os italianos acusaram a ausência do lesionado Spinazzola, talvez o melhor ala esquerdo deste Europeu. Os espanhóis - superiores na primeira parte - tiveram em dois médios ofensivos, Pedri e Olmo, os melhores elementos. Mas o guarda-redes Unai Simón, que já protagonizara o maior frango deste Euro-2021, voltou a não convencer. Com pelo menos duas saídas em falso.
O empate surgiu aos 80', precisamente por Morata, saído do banco para render o apagado Ferran Torres. Espanha - após dois prolongamentos sucessivos nas partidas anteriores - tentou resolver o desafio no tempo regulamentar, mas faltou-lhe pontaria e critério para derrubar a muralha defensiva italiana, onde Chiellini e Bonucci ainda pontificam.
Na chamada "roleta dos penáltis", os italianos - com a esmagadora maioria dos 60 mil espectadores presentes no estádio de Wembley a puxar por eles do princípio ao fim - converteram quatro. O último, e decisivo, com Jorginho a dar espectáculo com um penálti à Panenka. Vale a pena rever. Os espanhóis só marcaram metade: Moreno e Thiago Alcântara meteram-na lá dentro, Olmo falhou e Morata permitiu a defesa de Donnarumma, um dos heróis da noite.
Itália mereceu passar às meias-finais, Espanha nem por isso. É a diferença entre uma selecção que deslumbra pelo seu futebol alegre e criativo e outra que se limita a picar o ponto neste irregular Euro-2021 num continente ainda marcado pela pandemia.
Os primeiros a entrar ontem em campo foram os espanhóis. Em Sampetersburgo, contra a Suíça estreante em quartos-de-final de uma grande competição futebolística. Seriam favas contadas, para muitos adeptos do país vizinho. Mas não foram. A "fúria" espanhola parece ter migrado para parte incerta: restou uma equipa desinspirada, incapaz de aproveitar um golo oferecido pelos suíços e a vantagem de jogarem com um a mais durante 48', o que faz uma diferença enorme nesta fase da competição.
Aos 120 minutos, esgotado o prolongamento, mantinha-se o 1-1 do tempo regulamentar. Nos penáltis, brilhou o réu da partida anterior, contra a Croácia: o guarda-redes Unai Simón, que defendeu dois. Destacou-se também Oyarzabal, que não vacilou quando chamado a converter - ao contrário de Rodri, médio do Manchester City, e do veterano capitão Sergio Busquets, único campeão mundial de 2010 que resta no plantel. Jordi Alba, campeão europeu por Espanha em 2012 tal como Busquets, apontara o golo do tempo regulamentar, beneficiando de um desvio de Zakaria.
Foi o único remate espanhol à baliza no primeiro tempo. Por parte da Suíça, nem isso.
A injusta expulsão de Freuler por acumulação de amarelos, aos 77', somada à lesão de Embolo antes da meia hora de jogo, virou o campo a favor de Espanha. Mas nem assim resultou, desde logo por uma exibição de luxo do guardião Sommer, sobretudo no prolongamento. Foi preciso muita incompetência suíça (só um penálti convertido em quatro marcados) na roleta das grandes penalidades para carimbar o passaporte do trajecto espanhol às meias-finais. Com muita sorte e pouco mérito.
Espanha, 1 - Suíça, 1(vitória espanhola 3-1 no desempate por penáltis)
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Futebol do bom, só aconteceu à noite. Em Londres, no Bélgica-Itália. Os primeiros tinham eliminado Portugal num jogo em que não conseguiram ser melhores em campo. Os segundos haviam afastado a Áustria num desafio muito sofrido.
Previa-se confronto intenso entre dois assumidos candidatos ao título europeu. E assim foi. Com predomínio italiano na primeira parte e ligeiro ascendente belga na segunda, em que os italianos pareceram sempre mais preocupados em defender a vantagem (2-1) alcançada ao intervalo.
O triunfo foi construído nesse primeiro tempo. Com o trio composto por Insigne, Immobile e Chiesa a brilhar nas rápidas incursões à grande área belga e Jorginho a pautar as operações no meio-campo.
O primeiro golo surgiu aos 31', pelo capitão do Inter, Barella, numa jogada de insistência, fuzilando Courtois após ter driblado três adversários. O segundo - um dos mais espectaculares deste Euro-2021 - surgiu dos pés de Insigne, fazendo jus ao nome: magnífico remate em arco, a meia-distância, aos 44'. Courtois nada podia fazer.
Com um futebol sempre muito apoiado, abrindo sucessivas linhas de passe e garantindo equilíbrio no meio-campo, os italianos confirmaram-se como a selecção com melhor média de remates neste Europeu. Exibições de luxo do guarda-redes Donnarumma, de Chiesa e Spinazzola - este, infelizmente, forçado a abandonar aos 77', de maca, com lesão grave. O Campeonato da Europa terminou para ele.
Os belgas, com o lesionado Eden Hazard fora do onze titular, podiam ter marcado por De Bruyne aos 22' e Lukaku aos 26' e aos 61'. Mas só o fizeram graças a um penálti convertido por Lukaku, aos 45'+2, a castigar derrube de Doku à margem das regras.
A Itália apenas conseguiu ser campeã europeia em 1968 e parece seriamente apostada em repetir essa proeza, 53 anos depois. Quanto à Bélgica, que tomba nos quartos-de-final após ter sido afastada pela França nas meias-finais do Campeonato do Mundo de 2018, continua sem justificar o absurdo destaque que a FIFA lhe atribui como selecção mais cotada do planeta futebol. Que raio de trono é este, alcançado sem uma só vitória até hoje num Mundial ou num Europeu?
Já tinha confessado aqui a minha simpatia pela selecção da Dinamarca. Foi portanto com muita satisfação que assisti hoje ao primeiro desafio dos oitavos-de-final do Euro-2021: vitória categórica dos dinamarqueses em Amesterdão, anulando por completo o País de Gales. O onze de Bale e Ramsey foi incapaz de conter o futebol ofensivo da turma nórdica.
O herói desta goleada foi um suplente: Dolberg, ponta-de-lança do Nice, só entrou no onze por lesão de Poulsen. Em boa hora: foram dele os dois primeiros golos, aos 27' e aos 48'. O terceiro - marcado por Maehle aos 88' - merece ser revisto várias vezes: é um dos melhores deste Europeu. Mas a conta só fecharia aos 90'+3, com golo assinado por Braithwaite: o avançado do Barcelona foi o maior desequilibrador da Dinamarca e um dos artífices desta vitória, certamente dedicada a Eriksen.
Wass, o lateral direito que parece estar na mira do Sporting, nem no banco se sentou - ao que parece devido a uma indisposição. Talvez o vejamos actuar nos quartos-de-final.
Há cinco anos, o País de Gales saiu mais tarde do Europeu, só na meia-final em que defrontou a selecção portuguesa. Desta vez vai embora mais cedo: Bale terá mais tempo para se dedicar ao golfe.
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Enorme sofrimento italiano, esta noite em Wembley, no embate com os austríacos. Aos 90 minutos mantinha-se o empate a zero, foi necessário jogar mais meia hora. Aí impôs-se a superior condição física da squadra azzurra, que descansou mais 24 horas antes desta partida dos oitavos, além de ter poupado vários titulares no desafio contra o País de Gales, quando tinha o apuramento já garantido.
A solução veio do banco: Chiesa, lançado em jogo só aos 85', desfez o nulo no prolongamento, aos 95'. O segundo golo italiano - aos 105' - teve a assinatura de Pessina, outro suplente utilizado. Mas a Áustria, com sólida organização colectiva e melhor exibição do que o adversário na segunda parte, não baixou os braços. Kalazdjic reduziu aos 114' e a hipótese de tudo ser decidido por penáltis permaneceu em aberto até ao fim.
Os austríacos saem de cabeça levantada, os italianos tremeram nesta que foi - de longe - a sua pior exibição neste Europeu. Apesar de contarem com o caloroso apoio de grande parte dos espectadores no estádio. Destaque para as exibições dos dois alas direitos: Alaba pela Áustria e Spinazzola por Itália. Estes sim, eu gostaria de ver jogar pelo Sporting.
Dinamarca, 4 - País de Gales, 0
Áustria, 1 - Itália, 2
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