Voltaram as vitórias, regressam as rondas com vaticínios acertados. Desta vez foram cinco. Com vitória para dois: o meu colega Edmundo Gonçalves e o nosso prezado leitor José Vieira. Ambos anteviram o Casa Pia-Sporting (1-3), com Gyökeres a bisar.
Menções honrosas para Leoa 6000, Maria Sporting e Leão do Fundão. Também previram o resultado, mas apontaram o craque sueco como autor de um golo só.
Gyökeres liderou a nossa equipa para uma vitória no mesmo estádio onde o SLB foi derrotado
Foto: Carlos Costa / AFP
Há jogos assim. Apresentados à partida de «enorme dificuldade» mas que acabam solucionados sem drama, nem excesso de nervosismo. Excepto para aqueles adeptos que passam o tempo a «sofrer pelo Sporting» e são incapazes de ficarem tranquilos nem que a nossa equipa esteja a vencer por três ou quatro de diferença.
A visita ao Casa Pia - que continua a jogar em Rio Maior, algo que tenho dificuldade em entender - prometia bastante sofrimento. Há menos de dois meses, o Benfica tropeçou ali, vergado ao peso de uma dolorosa derrota: 1-3.
Mas connosco foi diferente. Rui Borges fez bem em manter o onze leonino disposto no 3-4-3 que Ruben Amorim deixou implantado com sucesso. Por coincidência ou talvez não, desde que o actual treinador mudou a agulha, abdicando do seu 4-4-2, os resultados têm sido positivos: um empate (em Dortmund, para a Liga dos Campeões) e duas vitórias (na Taça, contra o Gil Vicente, e no campeonato, contra o Estoril).
A terceira foi esta, alcançada há três dias contra um competente conjunto que segue em sétimo na Liga 2024/2025 e assume o jogo, sem estacionar autocarros. O confronto prometia um bom espectáculo de futebol - e assim foi, com lances de futebol de ataque e incerteza no resultado quase até ao fim.
Desta vez a sorte sorriu-nos. Marcámos na primeira oportunidade. E na sequência imediata de um canto, algo pouco frequente. Quenda, a partir da direita, fez passe teleguiado para Gonçalo Inácio, que cabeceou com êxito em nova demonstração de supremacia no jogo aéreo. Inegável trunfo numa equipa que sonha com o bicampeonato.
Aconteceu aos 12'. Nas bancadas, houve festa. Parecia que jogávamos em casa, tantos eram os apoiantes leoninos - em muito maior número do que os hipotéticos casapianos ali presentes.
Com vantagem no marcador, não abrandámos. Cedo se destacou Gyökeres, enfim recuperado a cem por cento: inclinou o campo, desorganizou o esquema defensivo casapiano, atemorizou a turma adversária. Numa das suas incursões ofensivas serpenteou à entrada da área com a bola bem dominada e rematou mais em jeito do que em força - o guarda redes Patrick Sequeira colaborou, facilitando: era o 0-2, aos 34'.
Quase perfeito.
Mas ocorreu um percalço aos 45': Larrazábal venceu o duelo com Matheus Reis na ala direita ofensiva do Casa Pia, centrou à vontade para Miguel Sousa, supostamente marcado por Esgaio. Mas o nazareno, desconcentrado, não só fez péssima cobertura como se encarregou ele próprio de a meter lá dentro. Na baliza errada.
O segundo tempo começou com um lance arrepiante: aos 47', Esgaio esteve quase a cometer novo autogolo. Isto deu moral aos gansos para galgarem espaço, aproveitando o notório cansaço de alguns dos nossos, como Quenda, Trincão e Morten - este vindo de lesão e ainda longe da melhor forma física.
Esteve bem Rui Borges em fazer as alterações que se impunham. Meteu Morita e Geny, depois Maxi Araújo. Não só voltámos a equilibrar o jogo, como o virámos a nosso favor. Trincão, apesar da fadiga, infiltrou-se na área sendo derrubado em falta indiscutível. O craque sueco, chamado a converter o penálti, não perdoou: saiu míssil. O seu nono golo de grande penalidade neste campeonato.
Foi aos 77': a vitória já não nos fugia. E podia até avolumar-se, por intervenção do suspeito do costume: Gyökeres quase marcou aos 79'. Um central anfitrião tirou-a in extremis da linha da baliza, já Sequeira estava batido.
Terceira vitória consecutiva de Rui Borges - o que acontece pela primeira vez desde que chegou ao Sporting. Lesionados como Morten e Morita recuperados, falta agora voltarem Pedro Gonçalves e Quaresma. Boas notícias em perspectiva. Para que o bicampeonato não nos fuja.
Breve análise dos jogadores:
Rui Silva (7) - Enorme defesa, por instinto, a remate de José Fonte aos 52'. Confirma-se: foi o nosso grande reforço de Inverno.
Esgaio (3) - Lateral adaptado a central, sem rotinas na posição. Autogolo aos 45', ia repetindo a dose aos 47'. Para esquecer.
Diomande (6) - Começou algo nervoso, mas cedo se tranquilizou. Exibição sem grandes rasgos, mas também sem falhas.
Gonçalo Inácio (7) - Supremacia no jogo aéreo, confirmada no golo aos 12'. Sempre útil e muito atento no plano defensivo.
Fresneda (6) - Lateral projectado para a construção ofensiva, abriu várias linhas de passe e nunca deixou de ser combativo.
Debast (6) - Parece ter-se firmado como médio, potenciando a sua notável capacidade de passe. Falta-lhe só ousar mais no ataque.
Morten (5) - Ponto alto: o soberbo passe longo em que assistiu Viktor no segundo golo. Mas está ainda longe da melhor forma.
Matheus Reis (5) - Cumpriu como lateral esquerdo adaptado a ala, excepto quando deixou fugir Larrazábal no centro para o golo deles.
Trincão (5) - Acusa excesso de utilização. Mesmo assim, foi ele a conquistar o penálti ao ser derrubado: iria valer-nos um golo.
Quenda (5)- Intervenção decisiva no primeiro golo, em que assistiu Gonçalo. Depois foi perdendo fôlego: precisa de repouso.
Gyökeres (8) - Voltou a ser o melhor em campo, marcou pelo segundo jogo consecutivo. Já marcou 27 neste campeonato.
Morita (6). Entrou aos 64', substituindo Morten. Regresso em boa forma, controlando e organizando o nosso meio-campo.
Geny (5) - Substituiu Quenda aos 64'. Refrescou o ataque com os seus arranques em drible e o seu bom domínio da bola.
Maxi Araújo (5). Rendeu Matheus Reis aos 78'. Na fase em que o Sporting já vencia por 3-1: o principal era controlar o jogo. Cumpriu.
Felicíssimo (5) - Entrou aos 88' para substituir Esgaio. Devia ter saltado mais cedo do banco.
Harder (5) - Substituiu Trincão aos 88'. Quase só teve tempo para ganhar um canto.
De ter começado a ganhar cedo. Concretizámos na primeira oportunidade disponível - e logo após um lance de bola parada, algo pouco frequente. Isto ajudou muito a tranquilizar a equipa e os próprios adeptos.
De Gyökeres. Que mais se pode dizer sobre o craque sueco? Voltou ontem a deslumbrar os adeptos, bisou pelo segundo desafio consecutivo e voltou a ser o melhor em campo, deixando qualquer outro a larga distância. Foi dele o nosso segundo golo, apontado aos 34' após uma das velozes arrancadas a que já nos habituou, e o terceiro surgiu também do pé direito dele, aos 77', convertendo de modo exemplar uma grande penalidade - a nona que concretiza neste campeonato. Já a meteu 27 vezes lá dentro na Liga 2024/2025. Já marcou 39 em todas as competições de Leão ao peito na presente temporada - em 40 jogos. E 12 vezes em 2025. Esteve ontem muito perto de apontar mais um, aos 79', com o central Tchamba a salvar em cima da linha de golo, já com o guarda-redes Patrick Sequeira batido.
De Gonçalo Inácio. Segundo jogo consecutivo a marcar, impondo-se como o nosso futebolista mais capaz no jogo aéreo. Abriu o marcador aos 12', bem servido por Quenda na sequência de um canto. E nem se mostrou condicionado por um absurdo cartão amarelo que lhe foi exibido logo aos 7' pelo árbitro Helder Malheiro. Revelou fibra leonina.
De Rui Silva. Confirma-se: foi o nosso grande reforço de Inverno, quando tínhamos apenas Vladan, entretanto emprestado ao Légia de Varsóvia, e Israel, que ontem nem no banco de suplentes se sentou. Enorme defesa aos 52', anulando remate de José Fonte. Outra boa defesa aos 57'. Foi um dos obreiros desta vitória.
Do regresso de Morten. Voltou ao meio-campo, após lesão, o que é desde logo boa notícia. Ainda longe do ritmo competitivo a que nos habituou, e sem a forma física que lhe conhecíamos, mostrou no entanto toda a sua classe num soberbo passe longo, em diagonal, isolando Gyökeres no início do segundo golo. É um dos imprescindíveis deste Sporting campeão.
Do regresso de Morita. Voltou às opções do técnico após três jogos de paragem no campeonato - e veio em boa forma, como se percebeu na meia hora final, quando foi chamado à equipa com a missão de orientar as transições entre o meio-campo e o ataque, mantendo-se Debast mais posicional no meio-campo. Outra boa notícia. Agora falta recuperar Pedro Gonçalves e Eduardo Quaresma.
Do treinador. Rui Borges fez muito bem em manter o 3-4-3 que passou a adoptar, com sucesso, nos jogos mais recentes - recuperando o modelo em boa hora implantado no futebol leonino por Ruben Amorim. Saldo muito positivo: duas vitórias na Liga e uma na Taça - não será coincidência. E mexeu com muito acerto no onze, trocando jogadores fatigados e desgastados por outros que acentuaram a dinâmica da equipa e reforçaram a nossa mobilidade colectiva: Morten por Morita (64'), Quenda por Geny (64'), Matheus Reis por Maxi Araújo (78'), Trincão por Harder (88') e Esgaio por Felicíssimo (88').
Do incessante incentivo do público. Havia muito mais adeptos do Sporting do que da alegada equipa "da casa" (que, sendo de Lisboa, assentou praça em Rio Maior). Todos em vibrante apoio ao onze leonino do princípio ao fim. Como se jogássemos em Alvalade.
Do Casa Pia. Tem uma boa equipa, sem dúvida. Não por acaso, segue em sétimo na Liga. Não por acaso, estava há sete meses sem perder "em casa" para o campeonato. Conta com Fonte, veterano campeão europeu formado no Sporting, o ex-leão João Goulart também como central, o lateral direito Larrazábal (tem 27 anos, não me importaria de vê-lo em Alvalade) e o ponta-de-lança Cassiano, que ontem não jogou - felizmente para nós - por continuar lesionado. Sem esquecer que perdeu Nuno Moreira, um dos maiores talentos do plantel (também oriundo do viveiro de Alcochete), há dias transferido para o Vasco da Gama.
Da nossa liderança reforçada. Continuamos isolados em primeiro. Com 59 pontos. Conseguimos 18 vitórias nestas 25 rondas. Só faltam nove para concretizarmos o maior sonho: a conquista do bicampeonato que nos foge há mais de sete décadas.
Não gostei
De Esgaio. Foi ele a marcar o golo solitário do Casa Pia num lance de total desconcentração, em que tinha toda a possibilidade de ganhar o duelo a Miguel Sousa mas acabou por fazer aquilo que o adversário não conseguiu, traindo Rui Silva. Aconteceu aos 45': por causa dele, fomos para o intervalo a ganhar só 2-1. Reafirmo o que já escrevi: não tem nível para integrar o plantel leonino - mesmo com a desculpa de ser lateral adaptado a central. Aliás, esteve quase a marcar um segundo autogolo, em tudo semelhante ao primeiro, no reatar da partida, logo aos 47'. Arrepiante.
Do golo que sofremos. Desde 25 de Janeiro, dia da recepção ao Nacional, que não chegamos ao fim de uma partida, em desafios do campeonato, com as nossas redes intactas. Daí já não sermos a equipa com menos golos sofridos, embora continuemos a ser a que contabiliza mais golos marcados. Mais onze do que o Benfica, concretamente. E mais dezoito do que o péssimo FC Porto.
Do quinto amarelo de Gonçalo Inácio. Este cartão deixa-o fora da próxima partida, em Alvalade, contra o Famalicão. Debast pode recuar para central, deslocando-se do meio-campo, mas não deixa de ser uma baixa importante.
Vitória muito sofrida hoje em Rio Maior, pelo bom jogo do adversário, pelo onze de compromisso que entrou a jogo e por mais uma actuação miserável do apitador de serviço, com dois amarelos que só revelam o mau carácter do mesmo, não falando do penálti que recusou a ver a 2 metros, nem na decisão errática das faltas, marcando falta a um empurrão menos ostensivo àquele que Gyökeres sofreu em plena área. Quando é que um jogador do Porto ou Benfica levou um amarelo por atrasar a reposição de bola com dois colegas preparados para entrar a que o apitador fechou os olhos? Se calhar o Diomande está mesmo sinalizado pela APAF. Só pode.
Fora isso, foi um jogo muito descontrolado. Hjulmand e Debast são muito iguais, faltou um transportador de bola que nenhum deles é, e assim aconteceram muitas perdas de bola em lançamentos longos ou tentativa de sair rápido para o ataque, o que só beneficia o adversário.
Atacar rápido é muito giro, e um Gyökeres lá na frente é uma tentação difícil de resistir, mas atacando rápido mais rapidamente se perde a bola, e acontecem oportunidades para o adversário marcar. O golo do Casa Pia é um bom exemplo.
Por isso, a sair com 2-1 para o intervalo e com alguns sustos no início da 2.ª parte, só com a entrada de Morita e Catamo o jogo ficou confortável, e o penálti excelentemente marcado por Gyökeres veio pôr ponto final no desfecho.
No final, e além da excelente vitória, o que fica é o alargamento do plantel. Finalmente temos um banco de reforços e não de remendos. Morita e Catamo entraram muito bem, Maxi, Felicíssimo e Harder também, o Casa Pia ficou sem argumentos para ripostar.
Melhor em campo? Gyokeres, de regresso ao seu melhor.
Arbitragem? Existem ladrões mais honestos. Roubam, mas assumem.
E agora? Ganhar ao Famalicão. Sem Inácio. Pois...
PS: Ouvi dizer que Amorim anda a escrever o livro "3-4-3 para Tótós". Existe um treinador, não perseguido pela troupe do Pereira, que bem precisa para ganhar o próximo clássico da Liga. É falar com ele para ver se tem acesso a um rascunho... sempre ajuda.
Acabamos de vencer num dos terrenos mais difícis da Liga portuguesa: no estádio municipal de Rio Maior, frente ao Casa Pia. Triunfo indiscutível, por 3-1, com golos de Gonçalo Inácio e Gyökeres (2), do nosso lado, enquanto Esgaio decidia oferecer aos "gansos" um brinde em forma de autogolo, num lance digno das distritais.
É uma vitória muito saborosa. Há sete meses, desde Agosto, que o Casa Pia não era ali derrotado. Ali venceu o Benfica, por 3-1, a 25 de Janeiro.
O Sporting soma e segue. Lliderança reforçada, com 59 pontos. Faltam agora só nove jornadas para conquistarmos o bicampeonato, que nos foge há 74 anos.
Alguém não gostou? Tomem a pastilhinha e descarreguem as frustrações como quiserem. Até pode ser nesta caixa de comentários, não se acanhem.
Na jornada anterior, a 5 de Outubro, abri uma excepção. Como se realizava em dia de feriado nacional, permiti que os leitores do És a Nossa Fétivessem o privilégio de aqui deixar dois prognósticos em vez de um para esse desafio Sporting-Casa Pia.
Valeu a pena: batemos o recorde de comentários, até agora, nesta temporada. Com vitória isolada de Luís Ferreira, que aproveito para cumprimentar. Por ter acertado no resultado e nos dois marcadores (Daniel Bragança e Gyökeres).
Nas posições imediatas ficaram quatro leitores: Dário Barbosa, Leão 79, Manuel Oliveira e Pedro Batista. Adivinharam o 2-0 final mas mencionaram apenas o craque sueco entre os goleadores.
Referência ainda ao leitor Nelson Gonçalves, capaz de prever o desfecho mas não os nomes de quem marcou os golos.
Enfim, já passou. Está outra ronda de prognósticos agora aí em cima.
Com alguma surpresa minha, confesso, muitos prognósticos desta vez apontavam para uma goleada por 4-0. Doze, no total.
Surpresa porquê? É verdade que o jogo era contra o Casa Pia, adversário que há um ano foi derrubado por oito secos na visita a Alvalade. Mas desta vez temos cinco jogadores no estaleiro - alguns tão relevantes como Pedro Gonçalves e Diomande - e vínhamos de jornada europeia, disputada escassos dias antes, com o PSV. Seria previsível um resultado muito menos dilatado. Mesmo num jogo em que chegámos ao fim com inédita percentagem de posse de bola nesta Liga: 81%.
Como é sabido, ficámo-nos por metade dos 4-0. Correspondendo ao vaticínio aqui expresso pelo leitor Luís Ferreira, que aproveito para felicitar. Ele mencionou também Daniel Bragança e Gyökeres como autores dos golos.
Tendo o jogo sido disputado a 5 de Outubro, instituí nova regra: nos feriados nacionais, todos podem fazer dois prognósticos - prerrogativa habitual dos autores do blogue. Alguns usaram-na, tendo havido até um que abusou: em vez de dois, deixou três.
Ficam os nomes ou pseudónimos desses leitores que adivinharam o resultado: Dário Barbosa, Leão 79, Manuel Oliveira, Pedro Batista (prevendo o craque sueco como autor de um dos golos) e Nelson Gonçalves(só acertou no resultado, não nos marcadores).
Daniel Bragança acaba de marcar o primeiro golo, felicitado por Gonçalo Inácio: terceiro jogo a facturar
Foto: Rodrigo Antunes / Lusa
Foi um jogo irritante. Terá sido monótono e chato para quem não é do Sporting. Para os adeptos leoninos, teve momentos quase exasperantes. Devido à estratégia hiper-defensiva do Casa Pia, que entrou em Alvalade, no Dia da República, com a obsessão de fechar todas as rotas para a sua baliza, num 6-3-1 que restringia toda a manobra da equipa a metade do seu meio-campo.
Havia um bom motivo para isso: os gansos queriam evitar a todo o custo a repetição da humilhante goleada sofrida no mesmo cenário, há pouco mais de oito meses. Quando tentaram subir linhas, discutir o jogo com argumentos que lhes faltavam e encarar o Sporting apenas como mais um adversário. Ora todos sabemos que isso é impossível. Daí terem saído de nossa casa com essa pesadíssima derrota: oito golos sem resposta.
Compreende-se, pois, que tenham mudado a agulha. É irritante, mata o espectáculo, chega a ser um atentado ao futebol, mas é um recurso ao alcance das equipas que sabem ser muito fracas. Não deve confundir-se com antijogo.
Precisámos, portanto, de muita paciência para furar aquela muralha de pernas.
Felizmente paciência não vai faltando nas bancadas de Alvalade, onde há muito deixaram de se ouvir assobios à própria equipa - ao contrário, por exemplo, do que aconteceu na mesma jornada no estádio do Dragão, onde um periclitante FC Porto venceu à tangente o Braga e nos últimos 20 minutos chegou a imitar o Casa Pia, formando em duplo quadrado à frente das suas redes para evitar o empate quase em desespero.
A única verdadeira incógnita, neste Sporting-Casa Pia, mantinha-se em torno do minuto exacto em que a conseguiríamos lá meter.
Aconteceu um pouco mais tarde do que é costume, mas ainda no primeiro tempo. Resultando de uma jogada de génio desenhada e executada por Francisco Trincão, que se intrometeu na área casapiana, driblou três defesas, foi à linha de fundo e serviu de bandeja para Daniel Bragança emendar.
Era o minuto 39, houve justificada explosão de alegria em Alvalade.
Ao intervalo, números impensáveis: 85% de posse de bola para a nossa equipa, que jogou de equipamento rosa como alerta urgente para a detecção e combate do cancro da mama, que todos os anos mata mais de duas mil mulheres em Portugal. Causa meritória, tal como a decisão da SAD de destinar 25% da receita de bilheteira desta partida à Liga Portuguesa Contra o Cancro.
Harder não rendia como interior esquerdo, Rúben Amorim trocou-o ao intervalo por Morita, todo-o-terreno com ordem para manobrar nesse espaço, municiando Gyökeres e tentando ele próprio o golo - o que esteve quase a acontecer.
Espantosamente, mesmo a perder, o Casa Pia mantinha incólume o 6-3-1, com Cassiano perdido algures junto à linha do meio-campo, contemplando o jogo à distância. Precisávamos com urgência de outro saca-rolhas: ele apareceu aos 68', quando Gyökeres pegou nela e serpenteou metros adiante até ser derrubado em falta, já dentro da grande área. Penálti evidente, logo assinalado pelo árbitro Miguel Nogueira (boa actuação) e validado pelo VAR.
Viktor, que andava há dois jogos em jejum de golos, não desperdiçou a oportunidade. Rematou com força na linha dos 11 metros, encaminhando-a para o fundo das redes. Nesse minuto 70 até o mais incrédulo adquiriu certezas: a vitória já não nos fugia.
E assim foi. Atingia-se outra marca digna de registo: estamos há um ano sem perder em casa, a última derrota ocorreu a 5 de Outubro de 2023, por 1-2, frente à Atalanta. Não sofremos golos há seis desafios da Liga - melhores números desde 2014. E estamos há 50 jogos a marcar - é a melhor sequência do Sporting no campeonato nacional de futebol desde 1938.
Os jogadores chegaram ao fim exaustos, mas com a certeza do dever cumprido: 81% de posse de bola, outro máximo superado. Cada vez mais primeiros, com a melhor defesa e o melhor ataque e o maior goleador em oito jornadas.
Faltam 26 para que o sonho máximo se torne realidade: a conquista do bicampeonato que nos foge há mais de sete décadas.
Breve análise dos jogadores:
Israel (7) - Defesa providencial logo no segundo minuto de jogo. Outra, confirmando excelentes reflexos, aos 63'. Quinto jogo seguido sem sofrer golos.
Eduardo Quaresma (5) - Jogou condicionado, o que ficou evidente, apesar da sua esforçada prestação como central à direita. Saiu aos 68', com queixas físicas.
Debast (6) - Ainda não conseguiu fazer esquecer Coates, mas vai tentando. Levou a melhor nos duelos com Cassiano. É ele a iniciar lance do primeiro golo.
Gonçalo Inácio (4) - Excesso de passes falhados no primeiro tempo. Exibição apagada para o nível a que já nos habitou. Longe da sua melhor forma.
Geny (5) - Regressou à ala direita, a mais dinâmica neste jogo. Lutou sempre muito, mas faltou-lhe acerto no último remate.
Morten (6) - Manteve solidez na "casa das máquinas" num desafio em que foi pouco solicitado. Chegou e sobrou no vértice mais recuado do meio-campo.
Daniel Bragança (7) - Já não é só pensador do jogo: também executa bem. Desbloqueou nó casapiano com golo aos 39': e vão três, noutros tantos desafios seguidos.
Maxi Araújo (4) - Ainda lhe falta afinar rotinas com os colegas. Muito fácil de neutralizar, não criou uma oportunidade a partir da ala esquerda.
Trincão (8) - Melhor em campo. Num genial movimento de ruptura, inventou o golo que Daniel consumaria. Aos 66', num tiro de meia-distância, fez a bola roçar a trave.
Harder (4) - Com Pedro Gonçalves ainda lesionado, foi ele o interior esquerdo. Não resultou: foi nula a sua acção entre linhas. Saiu ao intervalo.
Gyökeres (6)- Até estranhamos quando só marca um golo. Aconteceu aos 70', de penálti - conquistado por ele próprio. Tentou bisar, sem conseguir.
Morita (7) - Fez toda a segunda parte, rendendo Harder. Com enorme vantagem para a equipa. Parece estar em todo o lado. Falhou golo por muito pouco (55').
Nuno Santos (5) - Substituiu Maxi Araújo aos 64'. Entrou com muita vontade de fazer a diferença, sem realmente o conseguir.
Fresneda (4) - Entrou aos 68', substituindo Gonçalo Inácio. Como central adaptado à direita, parece peixe fora de água. Tarda em mostrar serviço.
Quenda (5)- Entrou aos 68', saindo Geny. Melhor a atacar (grande centro para Trincão, 74') do que a defender (deixou passar Nuno Moreira, 85').
Esgaio (4) - Eterno polivalente, agora o único trincão do plantel. Rendeu Quaresma aos 76', mas como central à esquerda. Mal se deu por ele.
Assistiu-se ontem em Alvalade a uma das noites mais deploráveis dos últimos tempos.
Aquela coisa sem instalações nem adeptos que se apropriou do digno nome de Casa Pia já nada tem a ver com os simpáticos gansos, mas é mais uma das organizações que vêm rapinar as verbas dos direitos televisivos e da comercialização de um outro jogador. É a prova cabal que a centralização dos direitos televisivos é um esbulho indecente que transfere valor de quem realmente trabalha e investe no futebol para quem o parasita. De modo que este dito Casa Pia não veio a Alvalade competir, mas cumprir calendário e estragar o futebol, proporcionando um espectáculo indigno e impossível de ver em qualquer outro campeonato europeu.
Como se isto não bastasse o Sporting jogou ontem com um equipamento absolutamente descaracterizado e de tons próximos do vermelho. Ah e tal é por uma boa causa... só que de boas causas está o inferno cheio e uns miligramas de imaginação dariam para arvorar esse patrocínio de maneira mais consentânea com as cores do Sporting. Só por sabujice ou estupidez se pode apoiar isto.
Há que pôr cobro aos desmandos do marketing que obedecendo aos ditames mais pedestres da cartilha do ofício anda todo contentinho com "disrupções", em vez de trabalhar para reiterar e sublimar a simbologia e a iconografia do Sporting que afirmam a sua identidade. Ele é um horror às riscas verdes horizontais; ele é "o mundo sabe que..." cantado em cima do início do jogo, ao contrário de TODOS os estádios do mundo em que a canção que agrega e exalta a comunidade de adeptos se entoa antes; ele é o panfleto das novas obras escrito em inglês (no macarrónico dialecto marketeiro), o que além de piroso e petulante é incompreensível - o público alvo de compradores dos lugares são ingleses e estrangeiros, é? Etc... Só falta a ideia brilhante de "renovar" o leão do emblema trocando-o por um frango depenado - isso sim, é que era ser tão, mas tão disruptivo.
Uma instituição com mais de um século, a atravessar um do seus melhores momentos, merecia ser respeitada a sua história enaltecida, as suas cores celebradas, não ser enxovalhada por esta récua de degenerados.
De positivo ontem, foi ver que o Sporting de Amorim resiste a esta tropelias, a de um campeonato com equipas miseráveis e a uns imbecis que lhe querem deturpar a personalidade.
Realmente é bem estranho ver na mesma semana diferentes equipas do Sporting a alinhar de camisola cor de rosa (ou no caso magenta ?) associada ao género feminino e consequentemente a uma das mais terríveis doenças associadas ao género.
Para mim foi assim duas vezes a cores e ao vivo em Alvalade e duas vezes pela TV. O Sporting acabou por ganhar 3 dos 4 jogos, o único que perdeu foi com o Benfica em futebol feminino no jogo de despedida da Mariana Cabral a quem tenho de agradecer todo o esforço e dedicação que demonstrou nos oito anos que passou como treinadora pelo Sporting e as taças que deixou no museu, e as vitórias nos dérbis. Poucas ou muitas, não interessa. O resto é o resto, e tem mais a ver com o futuro do que com o passado, fica aqui a reparação mais que devida.
Mas voltando à camisola e a julgar pelo que vi nas redondezas do estádio, foi uma campanha a que muitos aderiram e que fez todo o sentido. Se surgirem outras para causas assim tão nobres terão todo o meu apoio também.
Quanto ao jogo em si, se calhar foi o mais traiçoeiro de todos os desta época. Um adversário em 6-4-0, todos atrás da linha da bola, extremos transformados em defesas laterais e defesas laterais em centrais, muito difícil criar espaço no meio de tantas pernas. E logo um susto a abrir o jogo por fífia de Quaresma bem salvo por Israel.
Também o lado esquerdo não ajudou, Maxi muito metido para o meio, encostando Harder a Gyokeres e facilitando ainda mais a vida ao Casa Pia. Valeu o lado direito com Catamo e Trincão sempre tentando entrar embalados da linha para o meio, com cruzamentos perigosos de pé trocado, e incursões em drible que podiam dar penáltis ou cruzamentos atrasados como o que deu o golo. Mas o golo foi quase a única oportunidade clara que o Sporting teve no primeiro tempo.
O Rúben viu bem o problema ao intervalo. Saiu Harder, Morita foi fazer de Pote, muito mais difícil de marcar, e com isso complicou muito a vida do adversário. As oportunidades começaram a surgir. Morita primeiro, Trincão a seguir, falta clara sobre Gyokeres depois e golo de penálti. No entretanto, Inácio e Quaresma tinham chegado ao fim, e o trio defensivo com Fresneda-Debast-Esgaio assustava qualquer um. Mas nada de pior aconteceu, a equipa manteve-se sempre competente e o adversário de tanto defender com tantos nunca conseguiu atacar em condições.
Assim conquistámos a oitava vitória sucessiva no arranque da Liga. A última vez que isso tinha acontecido foi em 90/91 com Marinho Peres como treinador e depois foi o que se viu na altura e que não se quer repetir. Isto não é como começa, é como acaba, e o que importa agora é recuperar os lesionados no período das selecções de forma a enfrentar um novo ciclo de jogos muito exigente, e todos vão ser poucos para o efeito.
Melhor em campo? Israel, Debast, Bragança, Trincão, um qualquer deles.
Arbitragem? Deixou jogar, coerente no critério, nada a dizer.
E agora? Descansar, recuperar, descansar, recuperar. A lição está bem estudada.
PS: Em Arouca Chico Lamba, agora em Alvalade João Goulart e Nuno Moreira, é sempre bom ver alguns jogadores que passaram pela nossa equipa B singrarem profissionalmente. Um ou outro ainda se destacarão e terão transferências que beneficiarão o Sporting através das cláusulas e dos direitos de formação. Mas independentemente disso é sinal que houve trabalho bem feito em Alcochete.
O treinador do Casa Pia avisou na colectiva, como dizem os brasileiros, que o seu grupo poderia ser o primeiro a roubar pontos ao Sporting.
Viu-se desde o primeiro minuto como pensou o senhor dar conta do recado: Onze jogadores atrás da linha da bola.
Pensava eu que os tempos de jogar para o pontinho, os tempos do todos fechadinhos cá atrás e numa jogada de sorte tentar o golito que pode dar uma vitória ou um empatezito, já estavam ultrapassados, mas ontem o fantasma do futebolzinho da treta voltou a Alvalade. A negação ao jogo imperou no "jogo" do Casa Pia. Eu sei que a lembrança do jogo e do resultado da época passada estaria ainda na memória do treinador, mas havia necessidade de trazer a Alvalade um ferrolho que não abria nem pela parte de dentro? Nem eles próprios o conseguiriam abrir, se eventualmente o quisessem fazer, coisa que esteve sempre arredada da sua vontade.
E mesmo depois de ter sofrido o primeiro golo, a coisa não se modificou muito.
Estava eu convencido que com o anúncio de uma distribuição mais equitativa dos direitos das transmissões, a lufada de ar fresco que se tem visto desde o início do campeonato, com os treinadores a quererem mostrar que também eles estão com outra vontade, fosse o mote para que essa nova mentalidade, da qual o futebol português no seu todo só beneficiará, nos trouxesse outra emoção e outra vontade de disputar os jogos, mas hoje a minha costela de S. Tomé veio ao de cima.
Futebolzinho medíocre, foi o que ofereceu hoje o Casa Pia aos pagantes do espectáculo de que foram parte integrante. Assim não vamos lá.
De mais uma vitória. E vão oito, no campeonato. Invictos, só com triunfos em cada partida disputada. Há 34 anos que não tínhamos um início tão dominante e tão competente. Ontem derrotámos o Casa Pia por 2-0, com um golo em cada parte. Já levamos 27 marcados, com apenas dois sofridos.
Do nosso domínio total. Acabou por ser uma vitória num jogo de paciência perante a turma visitante que alinhou em 6-3-1, fechando quase todos os espaços para a baliza, em atitude passiva, à espera que o tempo passasse. Resultou durante 39 minutos, até conseguirmos romper o cerco. Ao intervalo, tínhamos 85% de posse de bola - é quanto basta para se perceber o desequilibrio em campo. Exemplo evidente do péssimo futebol português que se pratica na metade de baixo da tabela classificativa.
De Trincão.Melhor em campo. Não marcou, mas deu a marcar. Furou a muralha defensiva da turma adversária em movimento de ruptura: slalom magnífico em que driblou três defesas, foi à linha de fundo e deixou a bola muito bem colocada para o centro da área, faltando só alguém empurrar. Assim construiu o nosso primeiro golo, pondo fim à expectativa algo ansiosa dos adeptos. Fez a bola roçar a trave num tiro de meia-distância aos 66'. E participou em missões defensivas, bem integrado no colectivo, sem vedetismo de espécie alguma.
De Daniel Bragança. Terceiro jogo seguido a marcar, nesta que já é a sua melhor temporada de sempre. Finalizou com classe aos 39', à ponta-de-lança, dando o melhor caminho à bola que Trincão lhe servira de bandeja. Ofereceu golo a Gyökeres aos 64' num lance em que o internacional sueco rematou à figura.
Do regresso de Gyökeres aos golos. Parecia pouco confiante quando Nuno Santos lhe ofereceu a bola para marcar um penálti que ele próprio havia conseguido ao ser derrubado por Kluivert (68'). Mas meteu-a no fundo das redes, dois jogos do campeonato depois. Era o minuto 80: confirmava-se a vitória leonina, ninguém já tinha dúvidas. Reforça a posição como rei dos artilheiros na Liga 2024/2025: onze golos.
De Israel. Teve pouco trabalho, mas quando foi necessário mostrou serviço. Ao evitar o golo do Casa Pia por Svensson, logo aos 2'. Mostrou igualmente excelentes reflexos aos 65' numa defesa aparatosa: o lance viria a ser anulado por fora-de-jogo milimétrico, mas o guardião leonino confirma a sua importância no onze titular. Continua invicto em desafios do campeonato.
De termos disputado 29 jogos em sequência sem perder na Liga. Marca extraordinária: a nossa última derrota (1-2) aconteceu na distante jornada 13 do campeonato anterior, em Guimarães, a 9 de Dezembro. E vamos com 17 triunfos nas últimas 18 partidas disputadas para a maior competição do futebol português.
De ver o Sporting marcar há 50 jogos seguidos. Sem falhar um, para desafios do campeonato, desde Abril de 2023, perante o Gil Vicente (0-0). Números impressionantes, próprios de um campeão em toda a linha.
Do árbitro. Miguel Nogueira deixou jogar. Não complicou, não abusou do apito, mostrou entender a dinâmica do futebol sem confundir contacto físico com jogo faltoso. Merece elogio.
De ver o estádio quase cheio. Cerca de 43.800 nas bancadas: a festa do futebol, no José Alvalade, começa ainda antes do início do jogo. E prolonga-se depois dele. Em clima de euforia entre a massa adepta.
Do nosso espírito solidário. Um quarto desta receita de bilheteira, por decisão da SAD leonina, destina-se à Liga Portuguesa Contra o Cancro. Daí os jogadores terem alinhado com equipamento cor-de-rosa.
Do balanço após mais de um quinto da prova. Melhor ataque, melhor defesa. Desde 1950/1951 que não facturávamos tanto nas primeiras oito rondas. Ainda não vencemos, até agora, por menos de dois golos de diferença. Temos a equipa mais forte do campeonato português, como até muitos benfiquistas e portistas admitem. É «um Sporting de outro planeta», na conclusão insuspeita de Miguel Sousa Tavares.
Não gostei
Do resultado. Em comparação com a goleada por 8-0 do Sporting-Casa Pia da época anterior, este 2-0 acabou por saber a pouco. Assim como o 1-0 registado ao intervalo.
Do autocarro casapiano. Manter seis jogadores estacionados à frente da baliza e três outros logo à frente desses foi a "táctica" da equipa visitante. Não serviu para nada, como se viu. Excepto para estragar a qualidade do espectáculo. Péssimo cartão-de-visita para a modalidade.
Da nossa asa esquerda inicial. Rúben Amorim lançou Maxi Araújo como ala e Harder como interior no onze. Mas o plano não resultou: durante grande parte do primeiro tempo o Sporting parecia ter só corredor direito. O dinamarquês saiu logo ao intervalo, comprovando-se que aquela não é a posição mais propícia para demonstrar o que vale.
De ver Gonçalo Inácio e Eduardo Quaresma condicionados. Ambos estão longe da melhor forma física e tiveram de ser substituídos: Gonçalo por Fresneda aos 68', Eduardo por Esgaio aos 76'. Confirma-se: temos uma defesa presa por arames neste Outubro com sete jogos em agenda. Ainda faltam disputar cinco.
De ver dois ex-Sporting a jogar contra nós. Desta vez foram João Goulart, que alinhou de início como central, e Nuno Moreira, que saltou do banco, como ala esquerdo.
Os golos foram apontados por Gyökeres (2), Coates (2), Trincão (2), Pedro Gonçalves e Geny.
Como será agora?
ADENDA: Como amanhã, 5 de Outubro, é feriado nacional os leitores podem deixar aqui dois prognósticos em vez de um. Faz de conta que também são autores do blogue.
Era de esperar. Se há meio século não havia um jogo do Sporting que terminasse 8-0 para o campeonato nacional de futebol, nenhum dos nossos leitores e comentadores foi capaz de antecipar este desfecho do Sporting-Casa Pia.
A manter-se este ritmo, agora o próximo só será em 2074...
Momento de celebração em Alvalade: acabava de marcar-se um dos oito golos contra o Casa Pia
Foto: Rodrigo Antunes / Lusa
Foi um jogo histórico. Basta olhar para o resultado: há meio século que não se registava um desfecho destes, em nossa casa para o campeonato. Temos de recuar a Fevereiro de 1974 para encontrar outro 8-0 como o de anteontem: nessa altura cilindrámos o Oriental, com cinco golos de Yazalde, já mítico craque argentino que no final dessa época se sagrou melhor artilheiro dos campeonatos europeus, tendo apontado 46 com a Verde e Branca nessa inesquecível competição em que a festa leonina se confundiu com a Festa da Liberdade. Recebeu justamente a Bota de Ouro pela proeza.
Desta vez não temos um argentino, mas um sueco. Craque também. De longe o astro maior desta Liga 2023/2024, que o Sporting comanda isolado há várias jornadas. Anteontem foi ele o melhor em campo, já sem surpresa. Surpreendente foi a amplitude do nosso triunfo face a um Casa Pia a que não demos a menor hipótese, do primeiro ao último momento da partida. A mais volumosa goleada desta Liga.
O vitorioso Viktor Gyökeres faz jus ao nome próprio: leva já 24 golos marcados nesta temporada - 15 só no campeonato. Mais dois do que a sua melhor marca anterior na carreira, ao serviço do Coventry, da segunda divisão inglesa. Agora marcou mais dois: novo bis de Leão ao peito. Primeiro aos 23', correspondendo da melhor maneira a um cruzamento milimétrico de Pedro Gonçalves; depois de penálti, aos 32', punindo falta cometida sobre ele próprio, numa das suas numerosas incursões na grande área casapiana.
Numa antítese clara do desafio anterior, frente ao Braga para a Taça da Liga, em que tivemos sete ou oito oportunidades de golo sem concretizar nenhuma, desta vez transformámos em golos quase todas quantas construímos. Tal como Viktor, também Coates (13' e 81') e Trincão (43' e 90'+4) bisaram, provocando saudáveis explosões de euforia nos mais de 32 mil espectadores presentes nas bancadas. Pedro Gonçalves (25') e Geny (64') completaram a contagem.
Selando o desfecho deste encontro de sentido único, autêntico hino ao futebol. Valorizado também pelo desempenho do jovem árbitro Helder Carvalho.
Uma cabazada, como se dizia antigamente. E pode continuar a dizer-se, sem problema algum. É expressão que faz todo o sentido perante o que se passou no tapete verde de Alvalade.
Com este triunfo, o Sporting mantém-se invicto no plano doméstico: dez desafios para a Liga 2023/2024 terminados da melhor maneira, todos com vitórias em casa. Continuamos no topo, com Benfica um ponto atrás e FC Porto já cinco ponto abaixo de nós. Reforçamos a liderança isolada também do nosso ataque, de longe o mais concretizador da prova: 53 golos já convertidos. Mais 11 do que o Braga, já num distante segundo posto.
Outro dado relevante: temos um índice médio de 2,71 golos por jogo após 31 partidas oficiais já realizadas nesta época para quatro competições. Muito acima - vale a pena notar - do que ficou registado em 2020/2021, quando fomos campeões: 1,96 golos por jogo no conjunto das provas então disputadas. Números que revelam muito bem a grande evolução registada de então para cá sob o comando de Rúben Amorim. Já hoje um dos melhores treinadores de sempre do Sporting.
Quem ainda não percebeu isto, nada percebe de futebol. Ou padece de miopia talvez irreversível. No primeiro caso, poderá registar progressos. No segundo, infelizmente, talvez já não.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Foi uma das jornadas mais tranquilas, até agora, para o guardião espanhol. Quase se limitou a uma defesa fácil aos 49'. Manteve as nossas redes intactas: ninguém o perturbou.
Eduardo Quaresma - De repente, o miúdo ficou adulto. E de que maneira. Outra exibição segura, cheio de confiança. Ao minuto 25 já tinha protagonizado quatro cortes e recuperações.
Coates - Tornou-se o segundo defesa mais goleador da história leonina. Ao bisar contra o Casa Pia soma já 35 golos no seu currículo português. Iniciou a cabazada com golpe de cabeça certeiro.
Gonçalo Inácio - Vai-se especializando no início da construção lançando Gyökeres com passes longos, explorando a desmarcação do sueco. Interveio assim no golo 2. Dobrou bem Coates.
Esgaio - Tinha Eduardo Quaresma a resguardar-lhe a retaguarda. Mas nem assim o nazareno foi muito afoito no ataque. Pecou por défice ofensivo. Não interveio em qualquer dos golos.
Morten - Protagonizou um dos melhores momentos da partida ao fazer sobrevoar a bola, com classe, sobre a defesa casapiana, oferecendo o golo a Pedro Gonçalves. Cada vez mais influente.
Pedro Gonçalves - Ainda com queixas físicas, só fez a primeira parte. Exibição de luxo: marcou, deu a marcar (no segundo) e fez pré-assistência (no quinto). Com ele o nosso jogo é mais fluido.
Nuno Santos - Assistiu Coates no primeiro, marcando livre. Aos 30', recuperou uma bola em lance que daria penálti, fazendo túnel a Lameiras. Cobrou o canto que gerou o golo 6. Incansável.
Edwards - Mais discreto do que noutras partidas, ofereceu golo a Morten (38') que só o guardião Baptista impediu. Uma incursão sua, aos 43', esteve na origem do 5-0. Resultado ao intervalo.
Trincão - Uma das suas melhores exibições no Sporting. Bisou, marcando o nosso melhor golo do mês à beira do apito final. Foi ele a recuperar a bola no segundo golo. Útil de várias formas.
Gyökeres - Um espectáculo. Bisou, ultrapassando Banza como artilheiro-mor da Liga. Aos 90'+1 ainda ofereceu um golo a Paulinho e logo a seguir esteve quase a marcar ele próprio outra vez.
Daniel Bragança - Fez toda a segunda parte, substituindo Pedro Gonçalves. Quando a equipa já geria o resultado. Explorou com eficácia o espaço entre linhas. Ajudou a construir o golo 7.
Geny - Substituiu Esgaio (57'). Ausente durante um mês, voltou em forma. Sete minutos após entrar já assinava um golão - estreia a marcar em casa. E assistiu o capitão no penúltimo golo.
Paulinho - Rendeu Edwards aos 57'. Muito apagado. Falhou emenda, com a baliza à frente, aos 59'. Dominou mal a bola que Gyökeres lhe ofereceu já no tempo extra. Devia ter feito mais.
Matheus Reis - Entrou aos 81', rendendo Gonçalo. Tempo para protagonizar um grande cruzamento, sentando o defesa adversário e assistindo Trincão a fechar a contagem.
Dário - Substituiu Morten aos 86'. Entrou sobretudo para se despedir do público leonino antes do empréstimo ao Chaves no resto da temporada. Mas vai com bilhete de regresso.
Era eu um puto que começava a frequentar as bancadas de Alvalade, na circunstância fazendo o caminho a pé desde a Estefânia e pedindo a um sócio mais bondoso que me deixasse entrar com ele (isto para os completos idiotas que passam por aqui a falar em Campo Grande Futebol Club e que nunca precisaram de passar por essas e outras coisas para ir ver o seu Sporting), quando em 17/02/1974 assisti aos 8-0 que o Sporting de Yazalde inflingiu ao Oriental "vinho tinto". Foram 5 golos dele, 1 do Nelson, e 2 do Baltasar, não vale a pena comparar com os actuais. Nessa mesma época tinha já ocorrido um 8-0 ao Montijo algum tempo antes.
Mas entre esse jogo com o Oriental e este com o Casa Pia não me recordo de nenhum outro para o campeonato que terminasse com 8 ou mais golos de diferença. Se calhar existiu, mas não me recordo, quem se recordar está à vontade para dizer. Recordo-me apenas do 8-1 no Jamor há quase 5 anos do Marcel Keizer contra o BSAD de Silas, onde por acaso também estive, mal sabendo eu que um ano depois seria treinador do Sporting. Mesmo que tenha ocorrido, assistimos ontem a um feito histórico do Sporting, que vai demorar muito tempo a repetir-se, se calhar eu e a grande maioria dos que lerem este texto não estaremos já no mundo dos vivos. Há que celebrar então.
Na base desta goleada esteve a decisão de Rúben Amorim (e dele não seria de esperar outra coisa) de apostar na equipa que jogando excelentemente tinha conseguido perder a Taça da Liga. Tirando o guarda-redes, o onze inicial foi exactamente o mesmo, a forma de jogar também, um 3-1-1-2-1 em que Pedro Gonçalves era o "joker" com liberdade total em campo, e depois era pressionar, recuperar e lançar Gyökeres em profundidade. Mas para que isso fosse possível, o adversário tinha de querer jogar e nisso o primeiro golo de Coates foi determinante.
Ao intervalo o então melhor em campo foi descansar o pé, veio um rotativo Bragança e o jogo continuou no mesmo registo: bola recuperada era bola lançada para o sueco, as substituições mantiveram o ritmo, os belos remates de Catamo e Trincão fizeram o resto.
Exibição de luxo para fazer esquecer a enorme injustiça que foi a derrota com o Sp. Braga, exibição de luxo para fazer lembrar que Amorim é o melhor treinador do Sporting desde há muitos, muitos anos e que não tem nada que sair nem ninguém (menos meia dúzia de burros com palas nas redes sociais) vai exigir isso se os títulos por alguma razão acabarem por não aparecer.
Melhor em campo? Gyökeres, a locomotiva sueca, mas depois Coates, Hjulmand e Pedro Gonçalves. Aliás todos excelentes, talvez só Edwards e Paulinho tenham tido uma noite mais negativa.
Arbitragem? Excelente, humilde, dialogante, sem complicar o fácil, a envergonhar o Pinheiro.
E agora? Ir ganhar a Famalicão, em 5 minutos os bilhetes voaram da plataforma de vendas e não sobrou nenhum para mim. O meu protesto. Ainda liguei para lá, mas a menina destruiu qualquer esperança. São os custos... da onda verde.
Da histórica goleada ao Casa Pia. Não vencíamos há meio século uma equipa para o campeonato nacional de futebol por 8-0. Tinha sido na excepcional época 1973/1974, quando conquistámos a dobradinha para assinalar o Ano Zero da liberdade em Portugal. Derrubámos então o Oriental (cinco golos de Yazalde, dois de Baltasar, um de Nelson, a 17 de Fevereiro de 1974). Ontem vencemos o Casa Pia pela mesma marca. Extraordinária marca, fantástico jogo, incrível superioridade leonina do primeiro ao último segundo da partida, que se prolongou até aos 90'+5. Com três jogadores a bisarem (Gyökeres, Coates, Trincão). Pedro Gonçalves e Geny também fizeram o gosto ao pé. Empolgando por completo os adeptos do Sporting, em maioria absoluta entre os 32.869 espectadores que tiveram o privilégio de ver esta partida ao vivo. Foi noite de festa em Alvalade.
De Gyökeres. Figura do jogo, sem sombra de dúvida. Excepcional jogador: não apenas (de longe) o melhor deste campeonato, mas também um dos melhores de sempre que já vestiram a Verde e Branca. Ontem passou a liderar isolado a lista dos artilheiros da Liga 2023/2024, ultrapassando Banza. Marcou o segundo, aos 23', solto de marcação defronte da baliza, e o quarto, aos 32', na conversão de um penálti que ele mesmo havia sofrido dois minutos antes. Mas não fez só isso: é ele quem saca o livre que gera o primeiro golo. Com pulmão gigante, aos 90'+1 ainda ofereceu de bandeja um golo que Paulinho desperdiçou e aos 90'+2 ainda tentou marcar mais um, inviabilizado por enorme defesa do guardião Ricardo Baptista.
De Trincão. O "patinho feio" anda a virar cisne. Quarto jogo seguido no campeonato a marcar (Estoril, Chaves, Vizela e agora este), correspondendo da melhor maneira à confiança que o treinador nunca deixou de depositar nele. Marcou o quinto, aos 43', e encerrou a conta já no tempo extra, aos 90'+4, assinando o mais belo golo da noite - talvez o melhor do Sporting no mês que chega agora ao fim. Tem garantida a titularidade.
De Coates. Nota elevadíssima para o nosso capitão. Foi ele a abrir o activo, cabeceando como mandam as regras na sequência de um livre muito bem convertido por Nuno Santos (14'). E marcou o sétimo, à ponta-de-lança (81'), correspondendo da melhor maneira a uma boa assistência de Geny. Há três anos que não bisava na Liga.
De Pedro Gonçalves. Só jogou a primeira parte - com 5-0 ao intervalo, Rúben Amorim decidiu poupá-lo, trocando-o por Daniel Bragança. Mas correspondeu às expectativas. Esteve envolvido em três golos: marcou o terceiro (25'), após Morten picar a bola sobre a defesa adversária, assistiu o internacional sueco no segundo e foi dele uma pré-assistência, para o quinto golo, num soberbo passe vertical para Edwards antes de a bola sobrar para Trincão. Segue com 11 golos e sete assistências na temporada. Merece aplauso.
Do regresso de Geny. Em boa hora voltou após a sua participação no Campeonato Africano das Nações, ao serviço da selecção de Moçambique, prematuramente afastada. Substituiu Esgaio aos 57' e deu finalmente vida ao corredor direito, fazendo a diferença. Marcou o sexto golos, aos 64', num soberbo remate em arco na sequência de um canto. E assistiu no sétimo. Missão cumprida: deu forte contributo para encostar o Casa Pia às cordas.
De ter visto cinco jogadores da nossa formação nesta partida. Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio e Esgaio foram titulares. Depois ainda entraram Daniel Bragança (fez toda a segunda parte) e Dário (rendeu Morten aos 86'). É outra aposta que vai sendo ganha: estamos no rumo certo.
Desta nossa quarta goleada em 2024. Sporting-Estoril: 5-1. Sporting-Tondela para a Taça de Portugal: 4-0. Vizela-Sporting: 2-5. E agora esta. Vinte e dois golos marcados, apenas três sofridos nestes quatro encontros. Vamos em marcha acelerada para a conquista do campeonato. E - espero - também para vencermos a Taça de Portugal com esta veia goleadora.
De ver o Sporting reforçar a posição como melhor ataque da Liga. Números extraordinários: 53 golos marcados em 19 rondas, enquanto o Benfica tem apenas 41 e o FC Porto está muito mais abaixo, só com 33. Há 39 anos que não tínhamos mais de 50 golos à 19.ª jornada, de longe a nossa melhor marca deste século. Serve para moralizar ainda mais a equipa. E também os adeptos.
De não termos sofrido nenhum. Outro aspecto muito positivo deste jogo que rondou a perfeição. Adán mal chegou a fazer uma defesa digna desse nome.
Da nossa liderança cada vez mais consolidade. Mantemos o comando da Liga 2023/2024, agora com 49 pontos. Pressionando todos os outros, que seguem há várias rondas atrás de nós. Está cada vez mais perto o objectivo final.
De Rúben Amorim. Após a derrota contra o Braga - por manifesto azar - para a Taça da Liga, o treinador incutiu aos jogadores mentalidade ganhadora, sem permitir dúvidas existenciais ou angústia competitiva de espécie alguma. Daí termos cumprido o décimo jogo desta época para a Liga em casa sempre a somar vitórias. Equipa campeã é mesmo assim. Por isso atingimos um marco que permanecia há 50 anos sem igualar, nesta que é apenas a terceira época do século XXI em que lideramos isolados o campeonato em Janeiro - as duas anteriores foram com Laszlo Bölöni em 2002 e com o próprio Rúben em 2021.
Não gostei
De não ver sequer St. Juste no banco. Parece que o holandês contraiu nova lesão. É tempo de a estrutura leonina reflectir sobre o futuro deste jogador, que vai passando ao lado de outra época desportiva.
Do cartão amarelo a Morten. Por falta fora de tempo, aos 38', quando já vencíamos por 4-0. Não havia necessidade.
Do corredor direito na primeira parte. Esgaio com muito menor dinâmica do que o titular da ala oposta, Nuno Santos. Melhorou com Geny em campo.
Das ausências de Diomande e Morita. Continuam ao serviço das respectivas selecções: são dois titulares a menos. Mas Eduardo Quaresma e Daniel Bragança vão dando boa conta do recado.
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