Chama-se João Paulo Correia e era até agora deputado do PS, tendo chegado a vice-presidente da bancada socialista em São Bento. Foi ontem empossado no cargo de secretário de Estado da Juventude e Desporto.
Trata-se de alguém «simples e acessível», diz quem o conhece. O que não é o meu caso.
Substitui João Paulo Rebelo, incompreendido génio que concebeu o abortado «cartão do adepto». A tal ponto que arrisco este prognóstico: o novo titular irá mostrar melhor trabalho que o antecessor.
Em Maio de 2019, questionei aqui, a propósito de Rebelo: «Está no Governo a fazer o quê?» A resposta surgiu agora, ao ser afastado do Executivo: não estava a fazer nada.
Hoje, na última sessão desta legislatura antes da dissolução do parlamento, os deputados enterraram de vez o famigerado "cartão do adepto", agora em votação final global. Por unanimidade.
Em Junho do ano passado, com o País assolado pela pandemia e o futebol sem público nas bancadas apos três meses de paralisação total, o Governo lembrou-se de tirar da cartola o chamado «cartão do adepto». Coisa para armar ao modernaço, apanhando boleia do ar do tempo. Pretendia-se "combater a violência nos recintos desportivos" - quando eles estavam mais vazios que nunca - e travar «o racismo, a xenofobia e a intolerância».
Belos princípios, péssima maneira de legislar. Na bolha do gabinete do secretário de Estado do Desporto, manifestamente incompetente para exercer tal função.
A portaria de João Paulo Rebelo, como sabemos, não serviu para nada. Nenhum adepto passou cartão ao tal «cartão do adepto», mera tontice burocrática condenada ao fracasso desde o vagido inicial. De tal maneira que acaba de falecer, envergonhadamente, em estado virginal. Revogado na Assembleia da República, por proposta da Iniciativa Liberal, sem sequer um voto a defendê-lo no hemiciclo.
Finou-se com a tenra idade de 16 meses de existência virtual. Estava escrito nas estrelas, logo no primeiro dia, que só podia mesmo terminar assim.
Calhou ontem a transmissão da InácioTV ter transmitido, passe a redundância, a SportTV lusa.
Em regra, quando isso acontece, desligo o som à pantalha e vou acompanhando as imagens, mas ontem deixei correr o marfim.
Os comentários foram de Vítor Paneira, conhecido apoiante da lampionagem, no entanto a minha alma foi ficando parva ao longo do jogo com os elogios do ex-futebolista encarnado para com a equipa do Sporting. Não que não fossem merecidos, que o foram, no entanto registo o facto não pelo óbvio, mas como um sinal de que o Sporting conta, reconhecendo o bom trabalho do comentador.
Não foi por isso que aqui vim.
Parafraseando Pedro Oliveira, vim aqui para dizer mal, mais uma vez!
Na mesma transmissão, dizia o papagaio de serviço que a zona reservada aos espectadores com o cartão de adepto, estava completamente vazia. Isto, para quem vai escondendo a cabeça na areia como o secretário de estado do desporto e juventude, deveria ser matéria de reflexão, tal o fracasso da medida e a quase nula adesão.
Sei que há uma proposta na AR para terminar com esta medida sem sentido, mas se aí não for votada com tino, esperemos que o próximo governo saia ele de onde sair, olhe com olhos de ver para esta aberração e se for do mesmo partido, que ofereça uns patins ao senhor secretário de estado, que tão incompetente tem sido, benza-o Deus...
O início desta época ficou marcado pelo surgimento do que tem sido conhecido como o cartão do adepto. A surpresa foi generalizada (poucos eram os que sabiam algo sobre este novo instrumento), embora as suas origens legislativas em Portugal remontem à Lei n.º 113/2019, de 11 de Setembro e à sua regulamentação através da Portaria 159/2020, de 26 de Junho, esta última assinada pelo Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo.
Na Portaria afirma-se que a criação do cartão de adepto visa promover a segurança, o combate ao racismo e à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos. Na Lei, refere-se que «As zonas com condições especiais de acesso e permanência de adeptos devem ter entrada exclusiva, não permitindo fisicamente a passagem dos espetadores para outras zonas e setores, e garantir o acesso a instalações sanitárias e serviços de bar» (artigo 16.º-A, n.º 4), ou seja, o que se visa é a total guetização daqueles que utilizarem as zonas destinadas aos titulares de cartões de adepto.
Embora se afirme que o objectivo passa por promover a segurança, o combate ao racismo e à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos, só os mais distraídos podem ter alguma dúvida de que o cartão de adepto é uma tentativa (absolutamente absurda e ridícula) de acabar ou disciplinar as claques. No entanto, por incrível que possa parecer, ao contrário do que se deseja, o efeito da criação do cartão de adepto será exactamente o contrário, uma vez que, ao invés de se concentrarem os adeptos pertencentes a esses grupos de apoio em determinados sectores dos recintos desportivos e de sobre eles se exercer o controlo possível, estes acabarão por se concentrar noutras zonas dos estádios e pavilhões. É o que se tem verificado nos poucos jogos que tivemos nesta nova época. No nosso estádio de Alvalade, as claques, ao invés de utilizarem os sectores da bancada Sul-A, passaram a utilizar os sectores da bancada Sul-B. Do mesmo modo, os mais atentos poderão confirmar que também na bancada Norte-A existe agora um grupo organizado, também ele fora das malhas de qualquer controlo específico.
O cartão de adepto é o produto alucinado de governantes voluntaristas e totalmente incapazes de compreender as dinâmicas próprias, não apenas do desporto, mas da sociedade em geral. Em Portugal, a generalidade dos adeptos está totalmente contra a existência deste cartão (o número de cartões emitidos é absolutamente residual), pese embora a insistência absurda do Secretário de Estado e a conduta aquiescente do Presidente da Liga.
Por último, infelizmente, do Sporting não conheço qualquer posição sobre o cartão, pese embora o facto de ter reservado largos milhares de lugares para o efeito. No mínimo, a equipa directiva deveria informar os sócios se quer estar ao lado dos adeptos, ou das regras totalmente absurdas que apenas contribuirão para a continuação da destruição do futebol.
Francamente não vejo qualquer vantagem no Cartão de Adepto, que me parece apenas vir mascarar a inacção das polícias, dos tribunais e dos próprios clubes face à delinquência no interior dos estádios. Quantas vezes em Alvalade, onde existem câmaras de vigilância, spotters da PSP a vigiar de frente as claques, polícia de intervenção para actuar, não vimos petardos a explodir e tochas a voar sem que ninguém fosse logo detido?
Este problema não se resolve com mais um cartão, resolve-se com penas pesadas para os infractores em processos sumários, que incluam a inibição de frequentarem estádios e da parte dos clubes a imediata expulsão de sócio dos condenados. Se calhar foi apenas uma forma deste governo ultrapassar a incompetência dos responsáveis políticos do sector, do ministro da Administração Interna (vide comemorações do título) e do secretário de Estado do Desporto.
Dito isto, vamos ao tema deste post.
Muitas vezes critiquei aqui a utilização da expressão "falta de atitude" para justificar algum resultado desfavorável da equipa do Sporting. Num jogador ou numa equipa de futebol, o fundamental é a competência, não é a atitude. Muitas vezes o excesso de atitude apenas destrói a competência. Ou por uma entrada mais destemida dum defensor que conduz à expulsão, como o caso de Diogo Gonçalves em Moreira de Cónegos, ou por um penálti marcado com ganas que vai à barra, que o diga Jovane. O valor dum jogador não se mede pela sujidade dos calções. O fundamental é mesmo a competência, quer a defender quer a atacar, como a de Pedro Gonçalves que anda por ali sem ninguém dar por ele, até que resolve o jogo com dois golos com a melhor competência do mundo.
Mas quando falamos duma claque ou GOA, cuja razão de ser é apoiar incondicionalmente as equipas do clube, então a atitude é fundamental para desempenharem cabalmente o seu papel, numa bancada dum estádio ou dum pavilhão, obviamente temperada com o amor ao clube, com os valores do esforço, dedicação, devoção, e também da irmandade, do companheirismo e do espírito de corpo.
Enquanto a nossa equipa de futebol começou a época de forma magnífica, conquistando a Supertaça e a liderança da Liga, as claques do Sporting começaram a época como meninos amuados. Tudo começou pela Torcida Verde a justificar a ausência de Aveiro com um estranho comunicado onde dizia:
"Para nós, ultras, estar numa curva com uma máscara, com distanciamento social, confinado a uma cadeira, qual cliente de um teatro, é contrário à nossa identidade ... Neste contexto torna-se impensável a nossa presença no jogo de Aveiro. Estaríamos a contribuir para a 'normalização' de um jogo de futebol disputado num ambiente 'anómalo', onde aos 'adeptos escolhidos' está destinado um papel meramente decorativo".
E baldaram-se...
Agora na recepção ao Vizela parece que o sector reservado para as claques do Sporting, de acordo com os novos regulamentos do Cartão de Adepto a que o clube está obrigado, ficou vazio, mas não deixaram de se concentrar noutro sector, deflagrar petardos e tochas, e fazer o Sporting pagar mais 10 mil euros de multa.
Entretanto vi o resumo do Porto. Os SuperDragões no lugar do costume com a grande tarja na vedação, e um comunicado em que diziam:
"O próximo fim de semana representa o regresso ao único local onde somos felizes e nos sentimos realizados: as bancadas dos estádios e pavilhões onde o FC Porto marca presença! A Ansiedade e Alegria deste momento contrasta com a Revolta e Indignação pela entrada em vigor de uma lei que inibe a liberdade de circulação de cidadãos cujo único crime que cometem é fazerem parte de uma claque e gostarem de ver o jogo de pé a apoiar o seu clube do coração. Os Super Dragões estão desde a primeira hora contra a introdução do Cartão de Adepto. Estamos, e estaremos sempre, fortemente empenhados em combater uma lei persecutória, cuja constitucionalidade e eficácia são altamente questionáveis. Quando tanto se apela ao regresso das famílias ao futebol, criar espaços que impedem a entrada a menores de 16 anos faz transparecer que se pretendem criar verdadeiros guetos onde a repressão policial estará validada. Estaremos naturalmente atentos e denunciaremos qualquer espécie de abuso que venha a verificar-se! Nesta luta, todos estamos unidos! Não existem os "a favor" e os "contra" o Cartão de Adepto. Todos somos contra! No entanto, o princípio da fundação da claque em 1986, foi o de apoio incondicional ás nossas equipas, independentemente de quaisquer adversidades. Esta é, por isso, apenas mais uma das muitas adversidades que nos foram sendo colocadas neste caminho de quase 35 anos de história. Estarmos fora de um estádio é a mesma sensação de um peixe fora da água: não come, não respira...acaba por morrer! Nós não vamos morrer, nós não vamos deixar de apoiar o nosso FC Porto por causa da prepotência de um conjunto de governantes que apenas se serve do futebol para ganhar notoriedade e visibilidade num qualquer camarote. Para nós, o futebol e a paixão que temos pelo nosso clube, é tão simplesmente a nossa razão de existir....e ninguém abdica da sua razão de existir! Só os mais fortes sobrevivem, nós seremos Eternos A DIREÇÃO"
E a esposa (e vice?) do grande lider, Sandra Madureira, veio logo acrescentar no Facebook da claque:
"Era preciso que as pessoas se informassem e percebessem as razões de fundo da implementação deste cartão. Eles querem apenas ACABAR COM AS CLAQUES !!! E quem se recusar a ir ao estádio, para o seu setor, está a contribuir para o objetivo dos burros que tomaram esta medida. Iludam-se aqueles que acham que fora do estádio, no sofá, ou no tasco vão ser ouvidos ou levados a sério…inocentes, iludidos! Só juntos, de dentro da curva, onde podemos exprimir-nos através da nossa comunicação é que podemos chamar a atenção para uma medida que todos queremos reverter! Mas cada um sabe de si e faz a sua escolha!"
Mas afinal onde é que está a atitude e a falta dela?
Nos jogadores do Sporting Clube de Portugal que ganharam em três anos em competição directa com o Porto um Campeonato Nacional, uma Taça de Portugal e duas Taças da Liga, para grande azia de Pinto da Costa? No presidente do Sporting e da sua equipa, que tornaram isso possível?
Ou nas claques do Sporting Clube de Portugal que muitas vezes se insurgiram contra a falta de atitude dos jogadores, que os insultaram das bancadas de Alvalade ou de Alverca com "palhaços joguem à bola", que invadiram Alcochete para ajustar contas com alguns deles, que os insultaram nas escadarias do Jamor poucos dias depois, que continuam a fazer o clube incorrer em multas pesadas e que agora recebem estas lições do que é uma claque do... "Macaco"?
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