Vou falar de jogadores, que é o que mais gosto de fazer. Para o bem ou para o mal.
O que define um bom jogador? Esta é uma pergunta infinitamente repetida e que, pela sua (aparente) simplicidade de resposta, bem podia figurar num exame do curso para treinador de futebol, no qual parece não haver reprovações.
Independente da ordem, Força, Técnica e Velocidade são alguns dos atributos mais comummente utilizados como resposta. Entrando um pouco mais em detalhe, "visão de jogo", "capacidade de passe", "facilidade, força e precisão no remate", "recepção orientada" (termo inventado na era pós-Gabriel Alves) são qualidades que definem a Técnica e que devem ser devidamente avaliadas antes de se avançar para a contratação de um jogador.
Ora bem, um jogador pode reunir todos estes atributos, mas se só fizer uso deles no "dia em que o rei faz anos" (para parafrasear uma canção de festival do José Cid) será que isso faz dele um bom jogador? Estamos todos de acordo que não.
Pois bem, existem muitos jogadores em que este pequeno grande pormenor acontece, o que, para além de ofuscar as suas qualidades, torna-os jogadores irritantes aos olhos da massa adepta. Existem muitos exemplos de jogadores que, pelo motivo de só jogarem quando o rei faz anos, são muito irritantes e fazem esgotar a paciência dos adeptos.
Vou dar apenas três exemplos.
Um num passado distante, um num passado recente e outro no presente.
Pedro Barbosa foi um jogador que às vezes me encheu as medidas e que, muitas vezes, esgotou a minha paciência.
Todos se lembram das jogadas incríveis que por vezes saíam daquela forma lânguida de jogar e dos golos que resultavam dos seus remates teleguiados a partir da esquina da área. Eu gostava de o ver jogar sempre assim. Mas não, tínhamos que esperar que o rei fizesse anos. Os adeptos desses tempos lembram-se que circulava aquela máxima que o Pedro Barbosa só jogava quando se aproximava o termo do contrato. Enfim, um jogador que podia ter sido muito maior do que foi, tivesse ele querido.
André Carrillo, jogador que chegou ao Sporting bastante jovem, de inegáveis qualidades inatas mas que esgotava a paciência dos adeptos. Também jogava quando o rei fazia anos, o que era profundamente irritante porque todos lhe reconhecíamos capacidade para mais.
Atingiu o auge em meia dúzia de jogos com o Jorge Jesus. Convenceu-se que era uma vedeta. Recusou assinar pelo Sporting e foi colocado de lado. O Benfica foi no engodo de o recrutar, à espera que jogasse bem, mesmo nos dias em que o rei não fizesse anos. Mas nada disso, Carrillo foi sempre igual a si próprio, e nunca aprendeu. Poderia ter tido uma brilhante carreira, tivesse ele querido.
Finalmente, chegamos ao presente e provavelmente já adivinharam o jogador que seleccionei: Gonzalo Plata.
Será pessimismo meu dizer que já não acredito neste jogador? Capaz das maiores fantasias e ao mesmo tempo das jogadas mais inconsequentes. O treinador tem-no colocado sempre a jogar, na esperança que chegue o dia em que o rei faz anos. Mas será que vale a pena insistir num jogador destes? Será que o Plata vai pelo mesmo caminho do Carrillo - passar de jovem a velho sem nada aprender?
Até agora, o que tem dado a ver tem mostrado que sim. Não sei se ainda vai a tempo de se modificar. Pode ser que aconteça um milagre.
Texto do leitor AHR, publicado originalmente aqui.
Há um ano exibiram-no como troféu de caça: parecia que levavam o Messi. Só porque, no eterno complexo de inferioridade que alimentam em relação a Alvalade, tinham sacado o "craque" ao Sporting. Fizeram-se títulos garrafais, traçaram-se gloriosos vaticínios, a maior picareta falante da TVI chegou a prognosticar que seria "titular absoluto" no pré-fabricado.
Afinal o rapaz, ao contrário do que previam, não pegou de estaca. Andou a enxotar moscas entre os suplentes e agora, no defeso, já querem aplicar-lhe um merecido pontapé nos fundilhos. Juravam que o tinham contratado a "custo zero": afinal, veio a saber-se, desarrolharam 6,6 milhões de euros para o ter como "opção de banco" (deliciosa expressão).
Ontem, na final da Taça, o Djaló peruano não jogou sequer um minutinho: o treinador do Benfica continua a não confiar nele, mesmo tendo custado 6,6 milhões de euros aos cofres encarnados.
Dinheiro deitado à rua: o putativo craque terminou a época com dois golitos marcados no campeonato ao serviço do seu actual emblema. E jogou 521 minutos na Liga 2016/17, o que deverá ter bastado para o fatigar imenso.
Talvez por isso, a sua posição preferida seja no banco. Onde até acompanhava com sorrisos rasgados os golos que as equipas adversárias marcavam ao "seu" Benfica.
Bem fez Rui Vitória ao tê-lo mantido de fora do onze no Jamor. Há dois anos, quando o Sporting ali conquistou a Taça de Portugal, Marco Silva mandou sair o peruano ao intervalo, substituindo-o por Carlos Mané. Com Cédric já expulso, não podíamos dar-nos ao luxo de ter nove em campo.
Quem deve andar tristonho, por estes dias, é o comentador da TVI 24 Rui Pedro Brás. Ele que se atravessou pelo brinca-na-areia peruano, que o pôs nos píncaros, que lhe entoou hossanas.
Ele que não hesitou em fazer-lhe estes rasgadíssimos elogios:
O Djaló peruano, um dos raros jogadores do Benfica capazes de sorrir quando a equipa sofre golos, dignou-se mandar "um abraço a Bruno de Carvalho" na hora dos festejos, única ocasião em que marca presença obrigatória.
Devia ter sido dispensado da festa. Porque foi o maior fiasco do SLB em 2016/17.
Digno sucessor de um Taarabt, valha a verdade. Mas mais caro ainda.
Ganhar bom dinheirinho sem fazer nenhum dá sempre vontade de sorrir. Mesmo que a equipa perca. Os totós que lhe pagam o salário devem estar eufóricos: conseguiram "roubar" este inútil ao Sporting.
O treinador do Benfica demonstrou ontem ser um treinador temerário: lançou em campo, como titular, o Djaló peruano para enfrentar o poderoso Real Massamá no estádio do Restelo, em eliminatória da Taça de Portugal.
O rapaz, talvez mais fadado para um concurso de bocejos, aguentou-se 45 minutos em campo e foi tomar mais cedo um duche quentinho, repetindo a façanha já ocorrida face ao 1.º de Dezembro, outra potência desportiva nacional. Desta vez deve-lhe ter dado ainda mais jeito pois a temperatura atmosférica estava muito mais baixa do que é habitual registar-se em Lima.
Enquanto esteve em campo, o turista mais bem remunerado de Portugal tocou três vezes na bola: uma para fazer um passe de belo efeito ao guarda-redes adversário, outra para se fintar a si próprio e outra ainda numa tentativa quase concretizada de rematar à bancada, que suscitou tímidos aplausos de cerca de quatro espectadores que procuravam aquecer as mãos demasiado frias.
Com este brinde natalício que Rui Vitória lhe concedeu, o Djaló peruano conseguiu superar a fantástica barreira dos 400 minutos jogados em cinco meses tendo vestida a camisola que o convida a embarcar num voo da Emirates sem mais demora. Valeu a pena ser "o reforço de Verão" da turma encarnada. Valeu a pena ser antevisto pelo comentador Rui Pedro Brás como "titular com relativa facilidade no Benfica". Quase cem minutos jogados por mês justificam certamente que Luís Filipe Vieira tenha aberto os cordões à bolsa: afinal o que são 6,6 milhões de euros para o SLB ter o privilégio de contar com semelhante artista?
Clube pequeno é aquele que põe o ódio a outros clubes à frente dos seus próprios interesses. O caso Carrillo - jogador que recebe salário milionário sem que o justifique minimamente - comprova bem isso. Estão a pagar-lhe no SLB não pelo que ele vale de concreto mas apenas por ter saído do Sporting. E não lhe pagam pouco: dois milhões e meio de "prémio de assinatura" e quatro milhões de salário anual, já sem falar do bónus de dois milhões de euros que passou para as mãos de um tal Canaletto, empresário do jogador. Espero ver em breve, nos programas televisivos e nas páginas dos jornais, jornalistas e comentadores porem em contraste o salário do Djaló peruano face às baixíssimas remunerações de outros elementos do plantel encarnado, nomeadamente dos jogadores da formação. A menos que gastem todas as energias a puxar o saco a Vieira, como faz este.
José Nunes, Antena 1: «Aquilo que Carrillo mostrou foi zero. E pior que isso foi a postura dele em campo: muito má, não mostrando nem vontade nem dinamismo. Foi um erro de casting total, absoluto. Um fiasco. Opção estranha de Rui Vitória.»
Jorge Baptista, SIC Notícias: «Carrillo foi um jogador inerte. Perdeu muita bola dividida, não conseguiu ganhar velocidade, não deu profundidade à ala do Benfica, não criou qualquer tipo de desequilíbrio. Quase um jogador a menos. Se as unidades não funcionam o colectivo vai ao ar.»
* O Benfica bateu-se bem no estádio de San Paolo, apontando dois golos e sofrendo apenas quatro frente ao Nápoles, que nunca tinha marcado tanto num só jogo da Liga dos Campeões
«Adoro a pirueta a 180.º que a maioria dos benfiquistas que conheço deram no momento exacto em que se soube que Carrillo assinou pelo seu clube. Um jogador que durante anos foi inconsistente, imaturo, fonte de problemas e desestabilizador de balneários rapidamente se tornou numa promessa quase certeza, génio ou um dos melhores jogadores da Liga portuguesa, quiçá da Europa.»
«Carrillo é um jogador para ser titular deste Benfica. Carrillo é jogador para ser titular em qualquer equipa portuguesa. Era um titular absoluto no Sporting Clube de Portugal, seria titular com facilidade no Futebol Clube do Porto e creio que vai ser titular com relativa facilidade no Benfica.»
«Carrillo foi o melhor jogador do Sporting orientado por Marco Silva. Mesmo com Nani no plantel foi Carrillo que se chegou à frente nos momentos mais importantes da época, foi ele quem transportou a equipa para a frente, eram dele os momentos de maior desequilibrio.»
«Carrillo tem características físicas que mais nenhum dos extremos do Benfica tem.»
Com a contratação de Carrillo, Luís Filipe Vieira desmente de uma assentada duas prioridades que anunciara para esta época: estancar a hemorragia financeira do Benfica e apostar na formação. O peruano nunca fez parte da escolinha do Seixal, tanto quanto sei. E os dois milhões de euros que empochará por época não prometem melhorar a saúde orçamental do clube situado na margem sul da Segunda Circular - até por já se antever uma espiral de "melhoramentos" salariais na equipa encarnada para prevenir manifestações de desagrado no balneário.
Tudo vale, portanto, para ajustar contas com o "renegado" - como se o ódio tivesse um preço. Desta vez Jorge Jesus respondeu-lhes com o silêncio. E fez muito bem.
Há quem diga que a história se repete. A frase veio-me à memória quando me lembrei do último jogador antes de Carrillo que migrou do Sporting para o Benfica: Yannick Djaló, na época 2011-12.
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