Semana exemplificativa do que é desporto nacional por estes dias. Na sexta-feira, o Desportivo de Aves apanhou-se a vencer no Estádio da Luz. O árbitro, Carlos Xistra, conseguiu ver um penalty que permitiu o empate e catapultou o Benfica para a vitória.
Um par de horas depois, o Moreirense marca um golo contra o Porto e meia-dúzia de minutos depois prepara-se para fazer o 2-0 quando o árbitro, Artur Soares Dias, escolhe apitar antes da bola entrar, não dando hipótese ao VAR de averiguar se o golo seria legal ou não. O Porto apanha balanço e acaba por vencer o jogo.
Já no domingo, o futebol feminino deslocou-se ao Estádio da Tapadinha para defrontar o Benfica na primeira jornada da Taça da Liga em futsal. O Sporting vencia por 2-1, graças a um golo de levantar o estádio de Diana Silva, quando a árbitra, Catarina Campos, inventa um penalty de Carole Costa e acaba por expulsar a central Sportinguista. O Benfica acabou por empatar o jogo.
O domingo não fecharia sem mais um exemplo gritante. Na final da Taça da Liga, o Benfica atinge as cinco faltas a sete minutos do final. Um minuto depois, faz a sexta falta sobre Cardinal. Em qualquer outro lado do mundo seria livre direto para o Sporting. Mas no Pavilhão do Centro de Congressos de Matosinhos, o árbitro, Rúben Santos, assinalou a falta ao contrário. Na sequência do lance, o Benfica acaba por se adiantar no marcador e vencer a partida.
Terça-feira, mais um jogo onde o Benfica se encontra a perder em casa e o árbitro, Artur Soares Dias, a "mando" de Rui Costa perdoa a expulsão a Rúben Dias. Como nenhum outro resultado é permitido em Portugal, o Benfica acabou por vencer o jogo.
Amanhã joga-se o derby da cidade de Lisboa. Um jogo histórico do qual Coates foi afastado por um árbitro, Tiago Martins.
Ferran Soriano escreveu um livro chamado “A bola não entra por acaso” e é bem verdade. Infelizmente, em Portugal, o resultado não é ditado pelo mérito, nem pela sorte do jogo ou pela estrelinha de campeão. O resultado é o que o árbitro quiser!
Aos 20 minutos já o Desportivo das Aves, último classificado, vencia no Estádio da Luz o campeão em título e primeiro classificado da Liga Bordel Portuguesa. Weigl estava a fazer uma exibição cinzentona e o Benfica meteu em campo os seus verdadeiros reforços: Carlos Xistra e o VAR.
Xistra expulsa, e bem, André Almeida mas o VAR manda-o erradamente recuar na decisão.
Momentos depois, Xistra inventa esta grande penalidade a favor do Benfica. Grande penalidade que, por "motivos técnicos", o VAR não teve como validar ou contestar. A inexistente penalidade é assinalada por uma não-falta sobre Vinicius que devia ter sido expulso minutos antes por agredir o guarda-redes do Aves, algo que nem o Xistra nem o VAR viram.
Estava feito o empate. E, para piorar tudo, o golo que sela a reviravolta é por André Almeida, que havia sido expulso.
É este o campeonato português. O campeonato da mentira que nos enfiam pelos olhos semanalmente enquanto nos embalam com cânticos sobre constipações.
É neste futebol e neste país que vivemos. Triste, muito triste.
Podemos confiar nos "especialistas da arbitragem" para deslindar lances polémicos que ocorrem durante os jogos? Nem por isso.
Basta reparar naquilo que o País inteiro já viu, com base na repetição das imagens televisivas: o golo do Paços de Ferreira, na noite de quinta, foi marcado por um jogador chamado Tanque que confunde futebol com andebol. A tal ponto que usou o bracinho para introduzir a bola dentro da nossa baliza. Como as imagens elucidam para lá de qualquer dúvida recorrendo à câmara lenta de que eles (e o vídeo-árbitro) dispõem.
É verdade que o lance é muito rápido e algo confuso pois envolve a movimentação simultânea de vários jogadores dentro da grande área leonina, o que terá baralhado o árbitro Rui Costa. Mas os supostos especialistas são colaboradores remunerados dos jornais precisamente para mostrarem o que valem nestas ocasiões. E, valha a verdade, demonstraram valer muito pouco - ou quase nada.
Recapitulemos o que escreveram estes senhores nas folhas-de-couve onde costumam perorar.
Duarte Gomes:
«Douglas Tanque foi o autor do golo dos visitados, não de cabeça como pareceu à primeira, mas (aparentemente) com o ombro esquerdo. A bola não parece ter resvalado para o braço, o que tornaria o lance ilegal. Benefício da dúvida para Rui Costa.» (A Bola)
Fortunato Azevedo:
«Não há irregularidade, boa decisão da equipa de arbitragem em validar o golo. Houve dúvidas inicialmente, mas estas foram desfeitas depois.» (O Jogo)
Jorge Coroado:
«Apesar do braço fora do plano do corpo, a bola terá sido jogada pela parte superior do ombro. Nesta circunstância, não há infracção.» (O Jogo)
Jorge Faustino:
«Muitas dúvidas sobre se a bola bateu no braço, o que faria anular o golo, ou no ombro. As imagens não são esclarecedoras quanto ao local desse contacto. Assim, benefício da dúvida para a decisão de validar o golo.» (Record)
José Leirós:
«Não houve qualquer infracção em toda a jogada. Rui Costa, atento e com a confirmação do VAR, correctamente validou o golo.» (O Jogo)
Marco Ferreira:
«Golo do Paços levanta dúvidas no local onde a bola bate antes de entrar na baliza. Fica a dúvida: braço ou ombro. O árbitro valida o golo e sendo um lance em que as imagens não são claras, o VAR não deve intervir. Aceito a decisão.» (Record)
Ao contrário do que estas sumidades presumiam, o escândalo foi de tal ordem que o vídeo-árbitro Carlos Xistra vai ser castigado. E só não foi maior ainda devido ao segundo golo do Sporting, caso contrário deixaríamos dois pontos em Paços de Ferreira nesta Noite de Bruxas em memória do campeonato 2006/2007 que nos foi roubado pela famigerada mão de Ronny. Validada por um apitador chamado João Ferreira.
Quanto aos tais especialistas, ficamos definitivamente conversados sobre o mérito de todos eles: padecem de manifesta incompetência. Visual e anatómica.
Desta vez o palpite que prevaleceu foi, de longe, o 2-0 - vitória nossa. Como se muitos dos caros leitores não estivessem a par das fragilidades defensivas do Sporting: 11 golos sofridos em nove jornadas do campeonato. Neste caso, valha a verdade, o golo nunca devia ter sido validado pois o jogador do Paços de Ferreira marcou-o com o braço esquerdo sem que o vídeo-árbitro tivesse feito qualquer reparo. Tratando-se de Carlos Xistra, não causa qualquer surpresa.
Andaram lá perto, os que previram este resultado. Mas esteve melhor quem antecipou o 2-1 final na Mata Real: CAL, DGBR, Fernando Albuquerque, José Vieirae Luís Ferreira.
Aplicado o critério do desempate, relativo aos marcadores de golos, registou-se um triunfo tripartido: DGBR, Fernando Albuquerque e Luís Ferreira.
Do triunfo indiscutível do Sporting esta tarde em Portimão. Vitória concludente da nossa equipa num estádio sempre difícil. Vencemos a turma da casa por 3-1, com dois golos de Raphinha e um de Luiz Phellype - ambos em estreia a rematar com êxito às redes adversárias nesta Liga 2019/2020. Sem discussão, foi até agora a melhor exibição leonina nesta temporada.
Do excelente arranque leonino. A partida não podia ter começado melhor para as nossas cores. Aos 5' já vencíamos por 2-0 em consequência do dinâmico futebol de ataque desenvolvido pelo Sporting, claramente apostado em sair de Portimão com os três pontos. Chegou a pairar a sensação de que poderia registar-se uma goleada. Embora a equipa da casa tenha conseguido gerar equilíbrios no centro do terreno por volta da meia hora, a verdade é que praticamente teve escassas hipóteses de marcar. E só conseguiu marcar de penálti, aos 9'.
De Raphinha. Voto nele como o melhor em campo. Por ter bisado, desde logo, sendo a partir de agora o marcador mais destacado da nossa equipa. Mas sobretudo pela qualidade dos golos que marcou. Merece especial destaque o primeiro, com um remate muito forte desferido do bico da área, em arco, sem defesa possível para o guardião adversário. O segundo também justifica aplauso, pela impecável recepção a um passe longo de Bruno Fernandes, metendo-a lá dentro sem a deixar bater no chão - ainda por cima com o seu pior pé, que é o direito. Participou sem egoísmo no processo defensivo e podia ter marcado um terceiro golo ao isolar-se após soberbo passe de Vietto, aos 88', mas permitiu a intervenção do guarda-redes.
De Vietto. Exibição muito positiva do argentino contratado este Verão. Alternou com Bruno Fernandes entre a ala esquerda e o corredor central do nosso ataque, tendo ambos rubricado algumas das jogadas mais vistosas do desafio. O ex-Atlético de Madrid mostrou qualidades na leitura de jogo e na precisão de passe, com bom domínio de bola. Participou na construção dos três golos. E destacou-se a desenhar lances ofensivos para Bruno Fernandes (37' e 40') e Raphinha (88').
De Bruno Fernandes. Não tem apenas mérito individual: é também um caso muito sério enquanto jogador de equipa, como ficou demonstrado aos 5' quando, sem oposição na grande área, podia ter marcado mas preferiu oferecer o golo a Luiz Phellype, que se limitou a encostar o pé esquerdo, empurrando a bola para a baliza. Já tinha sido dele a assistência para o golo de Raphinha. E quase marcou, ele também, num "chapéu" aos 37' salvo in extremis por um defesa, com o guarda-redes já batido.
De Thierry. Boa exibição do jovem lateral direito, que confirmou a sua vocação para o futebol de ataque sem comprometer na dinâmica defensiva. Foi à frente cruzar bem. Destacou-se a lançar Bruno Fernandes aos 19'. Está a lutar pela titularidade na equipa principal após ter sido campeão europeu sub-17 e sub-19. Merece que o técnico continue a apostar nele.
Da ausência de Diaby. Não fez falta nenhuma.
Da nossa vingança. No campeonato 2018/2019 saímos derrotados de Portimão, por 2-4 - um desfecho que apressou a saída do treinador José Peseiro. É verdade que o Portimonense já não conta com o seu protagonista dessa partida, Nakajima, entretanto transferido para o FC Porto. Mas a desforra concretizou-se. E soube muito bem.
Do excelente relvado. Os bons espectáculos de futebol dependem em larga medida das condições proporcionadas pelos clubes aos profissionais deste desporto que apaixona multidões. O emblema de Portimão merece parabéns pela qualidade do seu tapete verde, que valorizou a circulação da bola e o desempenho dos jogadores.
Da inesperada subida ao primeiro lugar. No momento em que escrevo estas linhas, o Sporting acaba de ascender ao comando do campeonato, aproveitando os três pontos perdidos pelo anterior líder, o Benfica, ontem derrotado em sua casa pelo FC Porto. Na próxima jornada vamos receber o Rio Ave. Com a esperança de nos mantermos lá em cima.
Não gostei
Do golo que sofremos aos 9'. O Portimonense só foi capaz de marcar devido a uma grande penalidade que nasce de uma falta cometida sem necessidade por Mathieu em lance que estava controlado pelo nosso bloco defensivo. Renan, na linha de baliza, ainda chegou a tocar na bola, mas foi incapaz de detê-la devido à força do remate.
Do penálti que Carlos Xistra não assinalou. Luiz Phellype foi carregado claramente à margem da lei, aos 10', dentro da grande área. Espantosamente, o árbitro Xistra mandou marcar fora, ordenando livre directo. Alertado pelo VAR, Vasco Santos, reconsiderou. Alertado no entanto novamente pelo VAR, anulou tudo - por uma putativa falta de Thierry que não existiu. E, mesmo que existisse, teria sido cometida muito antes do lance em análise, com posterior posse de bola do Portimonense. Erro grosseiro, com dupla autoria. De Xistra e do vídeo-árbitro.
De Wendel. Remetido para uma posição mais recuada, em duplo pivô defensivo praticamente em linha com Idrissa Doumbia, o brasileiro esteve hoje muito longe do fulgor revelado há uma semana, em Alvalade, frente ao Braga. Rende claramente mais quando avança no terreno. É um desperdício confiar uma tarefa muito posicional a um jogador com os seus dotes criativos.
Que Keizer não tivesse esgotado as substituições. Vencíamos por 3-1 e vários jogadores davam sinais evidentes de extrema fadiga, mas o treinador só mexeu na equipa aos 79', trocando Wendel por Eduardo. Viria ainda a meter em jogo Borja, aos 87', por troca com Acuña. Podia - e talvez devesse - ter feito a terceira alteração de que acabou por prescindir.
De ver Plata e Camacho só no banco. Havia natural curiosidade em ver estes dois reforços mostrarem finalmente o que valem neste campeonato, ainda que jogando apenas alguns minutos. Mas ainda não foi desta.
Da nossa subida ao segundo lugar no campeonato. Consequência do empate 0-0 desta noite em Alvalade, frente ao Benfica. Num jogo em que a equipa visitante foi superior, sobretudo pelo que fez na primeira parte, quando teve três oportunidades soberanas de golo. Os encarnados precisavam de marcar pelo menos um golo para manterem o segundo posto: não conseguiram.
De Rui Patrício. O melhor jogador em campo, com uma excelente exibição - mais uma. Impediu golos aos 38' (a remate de Grimaldo), aos 43' (Samaris) e aos 44' (Pizzi). Devemos-lhe o ponto conquistado esta noite e a subida ao segundo lugar. Teve ainda a sorte de ver Rafa, aos 8', atirar a bola ao poste. O melhor guarda-redes português continua a ser um talismã do Sporting.
De Fábio Coentrão. Entrega total ao jogo, sem desistir de um lance. Controlou o seu corredor defensivo e subiu várias vezes com perigo. Numa dessas subidas, aos 40', podia ter marcado de cabeça: a bola passou ligeiramente ao lado. Recebeu merecida ovação ao ser substituído por Lumor, a poucos minutos do fim.
Da meia hora final. Único período do jogo em que conseguimos equilibrar a partida frente aos encarnados. Mesmo assim, o guarda-redes Bruno Varela não chegou a fazer uma defesa digna desse nome.
De termos chegado ao fim invictos em casa. Nem uma derrota nestes 17 desafios disputados no nosso estádio. E apenas quatro golos sofridos em Alvalade na Liga 2017/18. Números positivos, que em muito contrastam com a nossa prestação fora de portas.
Do apoio dos adeptos. Éramos 49.339 presentes nas bancadas de Alvalade - pelo menos 45 mil a torcer pelo Sporting. Ninguém pode queixar-se de falta de incentivo.
Não gostei
Da superioridade táctica do SLB. Mesmo sem Jonas, que só entrou a dez minutos do fim, Rui Vitória conseguiu imprimir maior acutîlância à sua equipa, que dominou o jogo no flanco esquerdo e em parte no corredor central. Jesus manteve Acuña no banco até ao minuto 62 e apostou em três jogadores recém-chegados de longas lesões e que estiveram muito abaixo daquilo a que nos habituaram: Mathieu, Piccini e William. Os dois últimos, sobretudo, com erros posicionais que podiam ter-nos custado muito caros. O italiano foi sucessivas vezes batido por Rafa em velocidade, enquanto o internacional português abria crateras no nosso meio-campo defensivo por onde os adversários se infiltravam.
De ver Bas Dost falhar na nossa única oportunidade clara de golo. Decorria o último minuto do tempo extra da primeira parte quando o artilheiro holandês, após uma boa recuperação de bola, encontra o guardião benfiquista pela frente e em vez de rematar decide lateralizar. Asneira evidente. E quase imperdoável num ponta-de-lança.
Das tochas lançadas para o relvado por um bando de imbecis. Elementos alegadamente pertencentes à Juve Leo decidiram brindar Rui Patrício com diversos engenhos incendiários, logo no primeiro minuto, forçando o árbitro a suspender a partida. Um gesto totalmente reprovável e que devia ser alvo de duras sanções internas por parte da estrutura leonina. Agravado por ter como destinatário o nosso guarda-redes. Que tem mais anos de Sporting do que alguns desses meninos irresponsáveis têm de vida.
Do desempenho do árbitro. Carlos Xistra permitiu jogo faltoso e até violento dos benfiquistas, deixando passar sem cartão uma entrada agressiva de Pizzi a Bryan Ruiz logo aos 14' e uma cotovelada de Rúben Dias na cara de Gelson Martins, aos 85' - esta última sem qualquer sanção. Também fez vista grossa a penáltis cometidos pelo mesmo Rúben: aos 15', sobre Mathieu, e aos 57', sobre Dost. Arbitragem para esquecer.
De pressentir que esta foi a última partida em Alvalade de alguns jogadores. Fábio Coentrão (muito aplaudido), Bryan Ruiz, William Carvalho e Rui Patrício, provavelmente, estarão quase a ser transferidos do Sporting. Teremos certamente saudades deles. Ainda espero, no entanto, que o melhor guarda-redes do Euro 2016 possa permanecer em Alvalade.
De chegarmos ao fim do campeonato sem termos ganho um clássico. Dois empates com o Benfica, um empate e uma derrota com o FC Porto. E também fomos incapazes de vencer o Braga. Tudo isto dá que pensar.
O celebrado árbitro Carlos Xistra - convocado para o Benfica-FCP de ontem porque Jorge Sousa, putativo "segundo melhor árbitro português", voltou a lesionar-se - honrou as melhores tradições dos seus pares, deixando Jonas e Pizzi por sancionar com cartões mais que merecidos.
O caso de Jonas é particularmente escandaloso, porque abalroou ostensivamente o treinador do FC Porto na sua área técnica, numa agressão grosseira que todo o país desportivo devia condenar. Nuno Espírito Santo, há que reconhecer, não possui os dotes histriónicos do seu colega Lito Vidigal, que ao mais leve encosto se teria atirado para o chão simulando uma síncope cardíaca ou lesões gravíssimas na caixa craniana. Forçaria assim Xistra a expulsar Jonas, que ontem fazia anos. Seria uma enorme chatice.
Assim só faltou o árbitro cantar-lhe os parabéns a você e ajudá-lo a soprar a vela.
O Correio da Manhã escreve hoje quatro vezes - repito: quatro vezes - sem o menor sobressalto de dúvida que o árbitro Carlos Xistra perdoou ontem uma grande penalidade ao Sporting.
Vem no texto em que relata o jogo: "Num dos poucos ataques do Rio Ave, João Pereira derrubou Vilas Boas na área. Carlos Xistra mandou seguir. Enganou-se. Era penálti."
Vem num destaque inserido neste mesmo texto: "Carlos Xistra errou ao não assinalar penálti contra o Sporting."
Vem numa caixa, ilustrada com um apito, na mesmíssima página: "Carlos Xistra errou ao não assinalar um penálti cometido por João Pereira por André Vilas Boas."
Vem noutra caixa, ilustrada com um lance do jogo, na página seguinte: "Penálti por assinalar a favor do Rio Ave por derrube de João Pereira a André Vilas Boas, na área."
Muito mais do que uma opinião multiplicada por quatro: é um grito amplificado com megafone.
Diz-se que uma mentira muitas vezes repetida se arrisca a tornar verdade. Nada melhor, portanto, do que tirar a limpo as eventuais ilusões de óptica que possam ter perturbado o autor deste implacável tiro-ao-Xistra enquanto assistia ao jogo.
Pego noutro diário do mesmo grupo editorial, o Record, e o que leio em prosa assinada pelo director do jornal, António Magalhães?
Isto:
"André Vilas Boas cai na área do Sporting depois de uma disputa com João Pereira e reclama-se penálti. Os dois jogadores chocam sem existir qualquer infracção."
Primeiro desmentido das "certezas" do Correio da Manhã.
Sigo depois para A Bola. Análise dos casos de arbitragem por uma das penas mais prestigiadas do diário da Travessa da Queimada: a do jornalista Rogério Azevedo.
O que escreve ele?
"Lance na área do Sporting, entre João Pereira e André Vilas Boas. O médio do Rio Ave acaba por cair, mas sem qualquer falta por parte do defesa do Sporting. Boa decisão por parte de Carlos Xistra."
Segundo desmentido.
Consulto enfim o incontornável tribunal da arbitragem do matutino O Jogo. Lá surgem as opiniões do trio habitual: Jorge Coroado, Pedro Henriques e José Leirós.
Veredicto unânime: nada de penálti.
Escreve Coroado: "Sem irregularidade. Contacto normal na tentativa de chegar à bola, não havendo motivo para intervenção do árbitro."
Escreve Henriques: "Lance legal, sem motivo para penálti. Ambos usaram o corpo na disputa de bola e o choque e a queda foram inevitáveis e normais."
Escreve Leirós: "Com convicção e determinação, Xistra viu bem: não houve carga nem empurrão, apenas disputa leal e vigorosa para recuperar a bola."
Terceiro, quarto e quinto desmentidos.
Fico definitivamente esclarecido.
Mas, no fim de tudo, assalta-me uma dúvida: o solitário opinador que anunciou ao País a existência de um penálti que só ele viu terá mesmo assistido ao jogo?
No dia anterior comemorara-se um feriado e esse dia 2 de Maio de 1981 poderia ter sido a continuação da festa.
Poderia...
Não aconteceu festa porque o árbitro desse Benfica vs. Sporting, Inácio de Almeida, anulou um golo limpo ao clube do leão rampante.
O guarda-redes Bento comete um erro e deixa a bola rolar até aos pés de Jordão, o nosso avançado faz aquilo que qualquer avançado faria; coloca a bola dentro das redes vermelhas.
O árbitro Inácio que estava de costas quando o lance se desenrola, anula o golo numa das decisões arbitrais mais disparatadas em toda a história dos "derbies".
Xistra, não sejas Inácio, esquece os telefonemas do Vítor e não beneficies ninguém.
«Xistra tem uma personalidade fraca. Dificilmente suportará a pressão do estádio sem cair no abismo do erro. Quem dera estar enganado e, para a semana, neste mesmo espaço poder deixar um rasgado elogio ao árbitro da Covilhã. Mas, para já, só posso dizer, em consciência, que Vítor Pereira dispõe de poucos árbitros de alto nível e, para um Benfica-Sporting, que marca o regresso de Jorge Jesus à Luz, conseguiu escolher um nome fora desse grupo tão restrito. No futebol, é preciso ter muita pontaria, mesmo quando se trata de errar o alvo.»
Jorge Coroado, O Jogo: «O golo do Tondela nasce de uma falta marcada ao contrário e o Luís Alberto, além de estar em fora de jogo, ajeitou a bola com o braço esquerdo antes de marcar.»
Bernardo Ribeiro, Record: «Luís Alberto está em posição irregular no momento em que marca o golo do empate. Além de fora-de-jogo, o brasileiro faz ainda o golo com o braço. E toca assim a bola em dois momentos. Xistra e o seu auxiliar nada viram.»
José Leirós, O Jogo: «Duplo erro. Após o cruzamento, há um toque para Luís Alberto, que estava em fora de jogo e ainda movimentou o braço para jogar a bola, beneficiando dessa acção.»
Nuno Raposo, A Bola: «Antes de o jogador do Tondela introduzir a bola na baliza leonina, depois de um toque com o braço, Bruno Nascimento também toca na bola e nessa altura Luís Alberto está fora de jogo.»
Pedro Henriques, O Jogo: «No momento do passe, Luís Alberto está adiantado em relação ao penúltimo adversário e, como tal, em posição de fora de jogo. Também domina e controla a bola com o braço.»
Álvaro Magalhães, Record: «Há um erro da equipa de arbitragem na validação do golo do Tondela, marcado com a ajuda do braço, mas aí a responsabilidade maior é do árbitro assistente, que está de frente para o lance e não dá o sinal devido a Carlos Xistra.»
Problema kantiano: teria eu gostado se um adversário directo ganhasse o seu primeiro jogo da época frente a um recém-promovido graças a um penálti nos descontos precedido de falta evidente? Claro que não, teria sido culpa do horrível Xistra e do "sistema". É também claro que o futebol (ou melhor, os clubes de futebol) são ilhas de irracionalidade que Kant não alcança, mas é preciso dizer estas coisas, parece-me, para não ficarmos completamente iguais aos outros.
Continuo com as minhas exigências de sócio de clube rico. Passando aos verdadeiramente difíceis, quero: João Capela, Bruno Paixão, Carlos Xistra e Jorge Sousa. Toma Benfica!!!
Aqui há uma semana, mais coisa, menos coisa, o Ricardo Roque tinha aventado uma fórmula para acertar nos prognósticos dos jogos, em post sempre lançado por Pedro Correia antes de cada jornada.
Ora eu, com boa fé, pensei para comigo: o árbitro é o Xistra, isto vai ser três para nós e um para eles, vou apostar 1-2!
Por motivos profissionais, não me foi possível ver nem ouvir o relato do jogo, mas segundo a análise de Pedro Correia, o Xistra desta vez até esteve bem!
O que me leva a pensar o seguinte: eles já começam a estar convencidos da nossa força e de que mais cedo o mais tarde, as coisas vão mudar no futebol português, mas enquanto não acontece, vão tramando a malta dos prognósticos! se lhe custava alguma coisa ter anulado aquele golo do Adrien, em claro fora-de-jogo...