Não há falta. Carlos Severino sente a mão do adversário e simula o desequilíbrio. Mas o impacto não tem intensidade suficiente para o afastar da jogada. Esteve bem o árbitro que mandou prosseguir. Ficou amarelo por simulação por mostrar.
Carlos Severino confirmava-se como o mais populista dos candidatos à presidência leonina. "Não vou ganhar um cêntimo, não vou ter vencimento, andarei no meu carro. Comigo, acabaram-se as mordomias, como o Conselho Leonino e os croquetes", declarou o antigo director de Comunicação do Sporting, que começava a habituar os adeptos a uma frase sonante todos os dias.
Esta esteve muito longe de ser uma das suas declarações mais felizes. Por um motivo que desde logo aqui apontei:
"Acho bem que acabem os croquetes, desde que não sejam substituídos por chamuças. Acho muito pior que o presidente do Sporting não seja remunerado e sinta a obrigação de usar o seu carro para deslocações de serviço, como sugere Carlos Severino. Deixando implícito que só alguém com fortuna pessoal está habilitado a liderar o nosso clube.
Mas o que não percebo de todo é o anúncio do candidato de que pretende pôr fim ao Conselho Leonino. Eu, se me chamasse Jorge Gabriel, não teria achado a mínima graça a esta declaração. Motivo? Jorge Gabriel encabeça a lista A - de Carlos Severino - ao Conselho Leonino. Precisamente um órgão a que o candidato pretende pôr fim."
"Estamos no Sporting a viver uma época que será obrigatoriamente de mudança. Todos esperamos que o próximo presidente nos traga a solução para o poço em que caímos. Que seja um presidente que olhe para o nosso passado e o honre, que se inspire naqueles que tudo deram ao nosso clube e que o levaram a ser um dos maiores clubes do mundo", escrevia por sua vez o Tiago Cabral, em jeito de carta ao futuro presidente leonino.
Nem de propósito. Naquele dia 12 de Março de 2013 o diário O Jogo revelava que havia trabalhadores com dois meses de salários em atraso no nosso clube. Isto enquanto o inefável Godinho Lopes - sempre ele - insistia em ser notícia ao anunciar no seu jornal preferido, o Record, que encontrara enfim uma solução para resolver urgentes problemas de tesouraria: vender mais um jogador. Mas adiantava que só podia ser um de três que contratara: Capel, Rojo ou Wolfswinkel.
O Sporting parecia de facto ter caído no fundo de um poço.
Vale tudo para captar as atenções dos sportinguistas numa campanha eleitoral que está a ser bastante mais morna do que muitos previam. Diz agora Carlos Severino estar disposto a abdicar de salário e viatura fornecida pelo Sporting caso vença o escrutínio do próximo dia 23. Mas diz mais: quer também pôr fim àquilo que chama "mordomias", incluindo "o Conselho Leonino e os croquetes".
Acho bem que acabem os croquetes, desde que não sejam substituídos por chamuças. Acho muito pior que o presidente do Sporting não seja remunerado e sinta a obrigação de usar o seu carro para deslocações de serviço, como sugere Carlos Severino. Deixando implícito que só alguém com fortuna pessoal está habilitado a liderar o nosso clube.
Mas o que não percebo de todo é o anúncio do candidato de que pretende pôr fim ao Conselho Leonino. Eu, se me chamasse Jorge Gabriel, não teria achado a mínima graça a esta declaração. Motivo? Jorge Gabriel encabeça a lista A - de Carlos Severino - ao Conselho Leonino. Precisamente um órgão a que o candidato pretende pôr fim.
«O Sporting precisa de ser salvo. O clube está em pura falência, está numa situação financeira completamente degradada pelo facto de nas últimas três décadas ter tido prejuízos de 150 milhões de euros e de esta época ir acumular mais 45 milhões de prejuízo.»
«O Sporting - não é o Sporting, são os seus dirigentes - é um moço que faz fretes ao sistema, por acordos que são incompreensíveis, como os jogadores do Sporting que foram para o FC Porto.»
«O Sporting é um clube subalterno. E o que é que tem ganho com isso? Estar em 10º lugar!»
«Quando aparecer outro Ronaldo, nós poderemos discutir. Não mandamos embora o Ronaldo, seguramo-lo.»
«O Sporting no final do ano arrecadou 12 milhões que ninguém me quis dizer de onde vieram, depois arrecadou mais 2,5 milhões. Não caíram do céu. Nobre Guedes disse-me que foram os fundos, que o Sporting vendeu passes aos fundos. Ele disse-me, palavras dele, que o Rui Patrício não está vendido. Eu acredito que não esteja vendido a um clube. Está vendido a um fundo. Esse é um dado adquirido.»
«Era de bom-tom que a actual direcção deixasse os salários todos pagos até ao final de Março.»
Carlos Severino, em entrevista à edição de hoje do Record.
Confesso: não gostei que Jesualdo Ferreira tivesse criticado Rui Patrício após o jogo disputado contra o Estoril. O nosso guarda-redes já evitou várias derrotas e já garantiu algumas vitórias com as suas excelentes prestações. E qualquer um tem direito a um dia mau. Até o próprio Jesualdo.
Eis o Sporting no seu pior, imitando a extrema-esquerda em 1975 à cata de pureza ideológica. Nessa altura, a obsessão era distinguir os "verdadeiros" socialistas ou comunistas dos restantes; agora, no SCP, a obsessão é andar de sportingómetro em punho, avaliando o grau de pureza clubística de cada um.
Não se vai longe por este caminho. É uma via estreita, pequenina, longe da grandeza que está na matriz genética do Sporting.
E tal como já me insurgi contra a intromissão de jogadores ou treinadores na condução dos destinos do clube, também quero aqui deixar bem claro que a equipa técnica e o plantel deverão ficar à margem da contenda eleitoral em curso.
Desde logo, por uma questão de princípio. E também para que as coisas não se agravem ainda mais.
{ Blogue fundado em 2012. }
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