Voltei a ir à bola, agora com familiares benfiquistas - um sobrinho cobrou-me uma promessa com 40 anos, alega ele, a de irmos juntos ao futebol. A terceira ou quarta vez dele num jogo, desportista nada dado a futebóis. Diverti-me. E muito com todo aquele ardor do petiz, sobrinho-neto lampião. Depois, lá pela segunda parte soltou-se a imunda ralé sportinguista, a turba das claques. Estava aquela gentalha algo perto, deu para lhes ver as caras, notar os esgares irracionais, ouvir-lhes os urros. São compatriotas, inenarráveis e arrebanhaveis. No futebol ou alhures. Urge a repressão.
O resto são pormenores: o Benfica ganhou bem, tem melhor equipa, melhores jogadores. A nossa equipa é fraca, alguns jogadores nada por aí além, outros parecendo apardalados. Aquilo não vai bem, decerto. O treinador não sei, leio agora que quando entrou a equipa estava a 7 pontos da liderança. Já vai a 19. Deslizar que não lhe augura longo futuro no clube. A direcção falhou rotundamente, o presidente é voluntarioso mas é notória a sua incompetência e a incapacidade em se rodear de bons conselheiros. O clube - que é um clube movido a futebol - tem que escolher outra direcção, e o quanto antes. Já o disse aqui, seria o mais elementar sportinguismo ceder o lugar a quem possa fazer melhor.
Mas isso são pormenores. O pormaior é fazer sobreviver o clube. Conheço sportinguistas medianamente inteligentes, até bloguistas, que julgam que todos os sportinguistas são o Sporting. Raciocinam como se isto fosse um partido político, a precisar de votos. Mas não é. Um clube é uma comunhão de princípios, algo fluidos, e de objectivos. Uma comunidade. Esta turba não tem objectivos, nem sequer consegue reflectir - e por isso não vale a pena tentar argumentar racionalmente, pois nada pode apreender. Apenas quer festa, poder urrar em vitórias. E clama a falta dessas vitórias-viagras de que precisa para julgar ser algo, sentir qualquer emoção. Haverá entre ela alguns mais mariolas que têm remunerações nessa "economia de claque". Mas a maioria não tem, apenas tem, deseja, necessita, a remuneração do êxtase colectivo que supra a merda de vida que tem.
Ou seja, sim, é absolutamente secundário que o Sporting tenha perdido com o Benfica, que esteja a não sei quantos pontos, que não vá ganhar qualquer título, que se calhar (pelo andar da carruagem) nem se apure para as competições europeias. O relevante é mesmo decidir o que se quer do clube. Se um patético conglomerado abarcando este lumpen imundo. Ou se uma associação desportiva congregando cidadãos. Esse será o primeiro passo para um dia, porventura longínquo, o Sporting nos dar a alegria de ser campeão. De futebol, que do resto se vai ganhando, e muito. E sabeis porque se ganha noutras modalidades o que não se ganha no futebol? Ok, por causa dos árbitros, do Vieira, do Papa, do não-sei-o-quê, da Cofina, do Jorge Mendes, etc. Mas, acima de tudo, ganha-se nas outras modalidades porque os seus plantéis e departamentos não foram devastados pelas claques e porque não são geridas directamente por Frederico Varandas.
Ou seja, ampute-se o clube deste lixo. E mude-se a direcção. E depois o caminho far-se-á caminhando ...
Sim, sei que nas últimas décadas tem ocorrido uma "reforma cultural", e também no mundo do espectáculo futebolístico. Ainda assim, isto de haver o verdadeiro Clássico (que não derby, que não derby) Sporting-Benfica em plena sexta-feira à noite, lembra-me este hino imorredouro "La partita di pallone", com que Rita Pavone nos avisou. A gente vai à bola (e, repito, na sexta à noite, ainda por cima ...), a gente vai à bola, e nunca se sabe o que pode acontecer, os custos que a rapaziada pode ter que pagar. Cumpre-nos sopesar, isso da verdadeira importância da "taça" ...
(Abaixo, para os menos dotados no italiano, fica a transcrição do aviso:
Perché perché / La domenica mi lasci sempre sola / Per andare a vedere la partita / Di pallone / Perché perché / Una volta non ci porti anche me. / Chissà, chissà / Se davvero vai a vedere la tua squadra / O se invece tu mi lasci con la scusa / Del pallone / Chissà, chissà / Se mi dici una bugia o la verità. / Ma un giorno ti seguirò / Perché ho dei dubbi / Che non mi fan dormir. / E se scoprir io potrò / Che mi vuoi imbrogliar / Da mamma ritornerò. / Perché perché / La domenica mi lasci sempre sola / Per andare a vedere la partita / Di pallone /Perché, perché / Una volta non ci porti anche me / Una volta non ci porti anche me )
A equipa inicial do Vitória de Setúbal para o jogo de hoje, agora mesmo divulgada pela comunicação social, mostra bem o estado actual do nosso futebol. Pois nela consta apenas um jogador português, o popular Panadol, o codicioso interior-esquerdo - julgo que oriundo das escolas do Palmelense Futebol Clube. O resto é o que se vê, uma verdadeira "sociedade das nações", com os custos inerentes de défice de vínculo à simpática agremiação sadina.
Entre o nosso terrível 18, o ano que vivi no estrangeiro e os altíssimos preços dos bilhetes da bola, há mais de dois anos que não ia ao estádio. E mesmo na tv não tenho visto os jogos - não assino canais desportivos e quando acorro a casas de amigos a pretexto dos jogos grandes logo nos distraímos entre vinhos e cozinhados, pois já quase longínquos vão os tempos das destiladas e dos petiscos, e conversas várias. Aqui entre nós, cada vez tenho menos paciência para o jogo, o da bola. Não por causa da roubalheira, coisa habitual desde há décadas - eu estava no estádio naquilo do Inácio de Almeida, já nada me pode surpreender. Nem as tropelias várias das jumentudes (na bela expressão do Pedro Correia). É mesmo este futebolismo que me cansa, os jornais cheios de tralhas disto, os canais de tv apinhados de mariolas mais ou menos engravatados a debitarem imbecilidades, e o povo, nós-próprios, numa infinita e insana ladainha sobre as futebolices. De facto, enjoei, desliguei-me e nem adepto de sofá vou. Mantenho-me fiel no café, o do bairro, onde todos os dias o sô João me deixa ler o Record durante a bica ou, se atrasado, na imperial pós-matinal (nunca antes das 12 horas, mandam as regras do cavalheirismo). E no qual vigoro em acaloradas e quási-diárias discussões sobre o(s) jogo(s), enfrentando com galhardia fanáticos lampiões e andrades e ombreando com magníficos adeptos do nosso Sporting Clube de Portugal. Todos nisto mais ou menos como eu, ainda que um ou outro ainda assine os canais de tv "da especialidade", dado o interesse nos campeonatos inglês, italiano e espanhol - e agora até no brasileiro. São diatribes que apimentam o dia-a-dia, rápidas introduções a outras coisas, num almanaque de temas bem mais relevantes ou, melhor dizendo, interessantes.
Enfim, ainda assim, ontem fui à bola. Um bom amigo recém-regressado de Moçambique tinha um par de bilhetes, desafiou-me a acompanhá-lo. Um lugar agradável, com uma televisão próxima, a permitir rever as situações mais interessantes ou polémicas. Foi simpático o convívio, ele acompanhado de gentis familiares, entre os quais um grande campeão do clube, meu ídolo de infância. Quanto ao jogo pouco a dizer, podia o Sporting ter ganho, mas perdeu. Outros farão análises mais conhecedoras. Do que percebi foi que os morcões das claques lá estavam, imundos. O jovem guarda-redes tem futuro, é óbvio. Doumbia não é, nem de perto nem de longe, tão mau como os intelectuais o dizem. Acuña pode ser, e é, um retardado emocional, mas é jogador. Vietto é uma boa contratação - mas isso já tinha percebido nos resumos que vou vendo. Bolasie é codicioso, como se dizia no meu tempo. E confirmei o que tão bem sei, que Coates é um verdadeiro substituto de Anderson Polga, mesmo sem ser brasileiro nem campeão do mundo. Há quem aprecie, que fazer?, quem sou eu para os desdizer? Quanto ao resto, também tenho uma análise táctica: a quinze minutos do fim (perspectivando o tempo extra), estando o Sporting a perder 1-2, o treinador fez duas substituições - depois ainda fez mais uma, metendo um balotteli de terceira - e esfrangalhou a equipa, que nunca mais fez nada de jeito. Não é por nada, nem para me armar em sábio, mas aquando das duas trocas logo comentei para o lado "estamos fodidos". E estávamos. Mas pronto, quem sou eu para contestar as opções de quem é profissional da poda?
O meu momento do jogo foi quando, lá na bancada, vi o lance que acima afixei. Pois logo pulei ululando "foda-se, caralho, é penalti". Um bocado constrangedor, a simpática senhora, sobrinha do meu amigo, ali mesmo ao lado. Certo que não será a primeira vez que vê reacções destas mas "não havia necessidade ...". Até porque, como logo pude comprovar, as leis do jogo do futebol actual dizem que isto não é pénalti. Já nem ninguém grita "gatuno" ao Xistra ou Sousa, ou lá como se chamava o sô árbitro.
Enfim, daqui a dois ou três anos voltarei a ir à bola. Quando me esquecer desta merda.
(Há algumas horas publiquei este postal. Pouco depois retirei-o. Recoloco-a aqui, agora já de manhã, depois de o ter reescrito, de facto censurado, amputando-o de letras. Faço-o porque o blog é colectivo e, de alguma forma, publicar algo é fazê-lo em nome de todos, ainda que a responsabilidade seja de cada um e não do colectivo. Fosse um blog individual e eu não retiraria qualquer letra ... Modifico-o ainda pois coloquei-lhe uma adenda, advinda da memória matinal.)
Fim de tarde junto ao Tejo, no belo Clube Naval, com casal amicíssimo. Um gin a abrir, Gordon´s, o básico sem essas mariquices d'agora, algumas imperiais, ostras deliciosas, uma salada de polvo basto aceitável, uma belíssima garrafa de vinho tinto, carpaccio de carne com florescente apresentação e condizente degustação, no final café e uísque novo. Excelente. Falou-se bastante, de amor (sim, de amor, do nosso amor entre nós e mulheres, entre ela e homens), de amizade, de felicidade, da Ilha de Moçambique (onde fui imensamente feliz, onde eles turistas foram felizes), da vida, de amigos, de amigos. No entrementes o dono, um tipo porreiro, assomou à mesa e, entre outras coisas, avisou que o Sporting-Rio Ave estava 1-1, e que seguia jogo entre solteiros e casados. A mesa de sportinguistas, e havíamos esquecido que havia jogo, sorriu e continuou a conversa - eu vivo "isto" menos que tantos outros, que encontram mérito pessoal em ir à bola, em "não perco um jogo desde 1964" e patacoadas dessas, mas cada um como cada qual pois, enfim, "ele" há os méritos que cada um pode ter. Continuámos, o tal carpaccio, as nossas conversas. Seguimos ao Cais do Sodré, foram-me mostrar o bar do Hernâni Miguel, eu ainda não o conhecera, veterano que sou das Noites Longas, do Lábios de Vinho, do já tardio Targus, até mesmo daquilo desta era da Fábrica de Lisboa que os patetas chamaram em inglês. Magnífico sítio, flippers e tudo - e eu conhecia a máquina, ainda que não tenha conseguido tirar bónus, tenho que voltar para reconquistar os trejeitos necessários -, umas imperiais. Voltámos para casa, que a idade já não está para mais.
E lembro-me do jogo, vou ver o resultado. O Rio Ave ganhou 3-2. Sorrio, foi o resultado que previ para o habitual postal de prognósticos do Pedro Correia. Mas não o coloquei, meti um glorioso 6-2 para o Sporting, auto-censurei-me, pois num ambiente de fanáticos supersticiosos (entenda-se, imbecis) prever uma derrota parece não apenas uma traição como um esforço para que ela aconteça. Googlo o resumo. E vejo-o.
Depois venho aqui, e vários dos prezados co-bloguistas - como decerto muitos dos sportinguistas - pedem a cabeça de Keizer devido à derrota e ao pobre futebol apresentado. Não me f....! Não vi o jogo, repito-o. Acredito que o Sporting não tenha jogado a ponta de um c....... Creio-o mesmo. Não me admira nada. Não gosto de Keizer, é o homem errado no lugar certo, tenho-o aqui escrito há quase um ano. Como não gosto de Varandas, o homem que nele insiste, escrevo-o aqui desde que veio com a patética rábula do herói do Afeganistão. E, tal como o Zé Navarro de Andrade não gosta do Bruno Fernandes, eu abomino, visceralmente, demencialmente até, o Coates, ainda que o Pedro Correia discorde de mim, o qual acho uma reencarnação de Anderson Polga, um dos poucos homens que odiei na vida, tamanho o desespero que durante anos me provocou.
Mas, f...-.., não me f...! Do jogo só vi este resumo. Repito, talvez o Sporting não tenha jogado a ponta de um c...... Mas, c......, nestas imagens - e se calhar dar-me-ão imensos outros ângulos para me mostrarem que estou errado - o primeiro pénalti não é pénalti, o segundo penálti não é penálti, e o terceiro penaltí ... muito dificilmente será penaltí, um choque de pernas apenas. Este jogo foi o maior roubo que me lembro em Alvalade, e já vi muita m...., nacional e internacional [Adenda: pensando bem, houve um jogo para a Liga dos Campeões há alguns anos onde o árbitro, que apitara a final do ano transacto, não assinalou 4 grandes penalidades ...]. Talvez o Rio Ave de Jorge Mendes e Carvalhal esteja muito bem estruturado mas, p... que pariu esta m.... toda, isto foi um roubo do c......, f............ E como tal este não é o momento de estar para aqui a guinchar contra o Keizer, o Varandas e o Coates e os outros todos. O Sporting está aflito, sem taco, a precisar de sucessos, e é f...... desta forma e viramo-nos uns contra os outros? F...-se, está tudo maluco?