No futebol e na vida não aprecio o excesso de testosterona. Diria testosterona qb. Sem apertar o pescoço de um adversário, sem achar mais importante o individual que o colectivo. Perdendo o protagonismo individual para que o colectivo possa brilhar.
Apesar da imagem, este texto não é sobre Cristiano Ronaldo a apertar o gasganete a um Marcelo sem a juba encarapinhada. É sobre Pavlidis e sobre a atitude colectiva da equipa do Sporting.
Dois lances que mostram a cultura do "glorioso SLB" e do aristocrático (nas atitudes, na forma de estar, no desportivismo) Sporting Clube de Portugal.
No futebol e na vida não vale tudo, parabéns aos miúdos e aos outros que estavam em campo e que não continuaram com a jogada, que não protestaram a decisão do árbitro de interromper o jogo.
Há coisas mais importantes que um golo, Pavlidis ao partir em direcção à baliza sem olhar para trás, sem procurar saber se os dois jogadores do Barcelona estavam vivos ou mortos, mostrou aquilo que é, mostrou como é o clube do qual é um mero empregado.
Ter colh**s, big balls (em escocês) é importante, mais importante é tomar boas decisões.
Este fim de semana cumpri um ritual (ainda que recente de sete anos), desloquei-me mais uma vez à Virgen del Rocio.
Não professo qualquer religião, mas aquela mistura de Fátima com a Feira da Golegã, em ponto grande e em bom, fascina-me desde a primeira vez que por lá passei por mero acaso, mas não é disso que vos quero falar.
O que vos quero contar é que, no meio de um magote de gente que ultrapassa o milhão naqueles dias, não há internet móvel que se safe, de modo que no domingo resignei-me a não ver o jogo da selecção e a, no mínimo, vê-lo quando regressasse a casa, ontem ao final do dia. Então passeando pela aldeia, circulando entre a multidão de gente, olhei para uma peña rociera (mais ou menos o que designamos por tertúlia) e lá estava uma televisão a transmitir o jogo. Por azar já depois do golo, que não vi, mas como as portas estão abertas a quem queira entrar eu entrei e vi com muito agrado uma plateia de espanhóis vibrando com Portugal, desde miúdos a graúdos. E fomos convidados a sentar e convidados a beber e convidados a comer e tudo aceitámos, que não fica bem rejeitar uma tão calorosa hospitalidade. E no final festejaram connosco a vitória com o mesmo entusiasmo que nós. Confesso que me surpreendeu que os miúdos (entre 10/12 anos) conhecessem os jogadores da selecção, com predominância dos que jogam em Espanha, claro, e que, pasme-se, quando eu disse que era do Sporting, levantaram os polegares e começaram "Carvalho", "Ronaldo", "Patrício"... Até ali, na Andaluzia "profunda", o Sporting é reconhecido e admirado. Terminámos com um "Portugal, Portugal, Sporting, Sporting" que me encheu o coração. Não foi pela fé, foi pelo futebol e pelo Sporting que de lá vim com o coração cheio. Ou como os fins justificaram os meios, ou ainda como me é difícil imaginar um grupo de portugueses a torcer por Espanha num jogo de futebol.
Para o ano há mais.
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