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És a nossa Fé!

Voz(es)

Enquanto saio do posto de abastecimento olho o José Alvalade, atentamente, uma última vez. Conduzo agora ao seu encontro, à saída da Rotunda mergulho em direcção a casa.

É assim que gosto de deixá-lo. De luzes acesas. Talvez por conhecê-lo apenas e só, assim. Talvez por escolher guardá-lo assim. Fonte inesgotável de vida que se renova a cada visita. Que existe, apenas e só, para nos acolher. Imponente, intransponível, cheio de luz.

O palco dos sonhos, o confessionário de todas as amarguras, o purgatório de todos os dissabores. Aquele que, não nos conhecendo de lugar algum, acolhe todas as nossas idiossincrasias, por igual.

Conhece-nos… a voz. Mistura-a com mestria, devolve-nos a acção combinada de todas. Diz-nos quão alinhados estamos. Diz-nos, uma e outra vez, quão audíveis somos, quando somos um só.

A alegria que se exponencia, a desilusão que se dilui. A comunhão plena do que nos é comum. É a certeza da força comum.

É aqui que ao somarmo-nos, somos apenas e só, um. O um que se opõe verdadeiramente a quem e ao que defrontamos, muito para além dos atletas em campo. Muito para além do um que somos.

O um que é, afinal de contas, ilusório. Não existe, não pode existir. Somos Sporting. E o Sporting não é, nem foi nunca, um só. Dizem-mo. Di-lo, até e recentemente, quem se propôs fazê-lo. Torná-lo um só.

Desconcertante somatório de partes, aparentemente, inconciliáveis.

Desconcertantes palavras, as da voz de comando. Desconcertantes momentos, aqueles em que nos vimos… sem voz de comando.

Comanda-me, contudo, uma convicção pronfunda e inabalável. A voz de comando a que respondo, é aquela que habita em mim e que procuro pôr ao serviço do todo. O todo, que é somatório de todas as - aparentemente inconciliáveis - partes.

A minha voz, não é a de quem viu acabar-se-lhe a mama. A minha voz, não se calou quando obviou a existência do que parecia ser um conjunto de hienas apontadas às jugulares. Às jugulares, da voz de comando. A minha voz, não se calou, quando pedia uma aberta à vida, quando achou que havia uma improvável sucessão de azares, a dificultar a afimação da voz de comando. A minha voz, não se calou quando sugeriu que fosse dado devido enquadramento à voz de comando. Enquadramento amigo, familiar, que permitisse que a verdadeira voz de comando pudesse fazer-se ouvir. E afirmar-se, como voz de comando.

A minha voz calou-se há dias, no meio de muitas vozes. Escolhi calar a minha voz, no meio de muitas vozes, por desejar preservá-la como aquilo que é, a minha voz, coincidente com as de uns, diferente da de outros. Não me conhecem o timbre, seria muito fácil ser tomada por voz ao serviço de outra(s), que não a minha voz.

Fiquei sem voz, quando vi que a voz de comando, deu voz, àquele a quem tentei dar voz, a 8 de Setembro de 2018.

Ouvi-lhe a voz, compreendi-lhe o timbre.

Ouvi a voz daquele a quem, agora, gostaria de dar voz. Compreendo-lhe o timbre.

Oiço a voz, da voz de todos os sócios. Suspiro de alívio por constatar que não deu voz a quem queria tê-la, sem ter discernimento.

Peço, à voz de todos os sócios, que tenha discernimento e que estude, com a voz de comando, forma de nos ouvir a voz. A de todos. A de todos que faz o todo. O somatório de todas as vozes. Não só as que são abafadas pelos décibeis, ou pelas contra- vaias, mas as que, como eu, olham para o todo.

A minha voz, não se fez ouvir em Alvalade, no dia 9 de Fevereiro de 2020. A minha voz, acha, contudo, que é tempo de se assumir que a voz de comando não consegue, nem conseguirá, pôr-nos a uma só voz. Aquela que, soma da de cada um de nós, exponencia a alegria e dilui a tristeza.

Tem sido… uma tristeza.

Gostava que a imponência e intransponibilidade, fossem apenas as do betão que dá forma ao palco de todos os sonhos, confessionário de todas as amarguras, purgatório de todos os dissabores. Interessa, sim, a luz que lá dentro existe. A vida que lá existe e que quer renovar-se a cada quinze dias. Não agastar-se e desgastar-se a cada nova visita.

Às vozes que querem ser de comando, saibam que compreendo-vos o timbre. Mas que não serei voz de quem quer ser chamado a sê-lo, em vez de convictamente apresentar-se voz, no meio de todo o sofrível ruído. De ser convictamente voz, em detrimento de ser publicamente reconhecido enquanto possível voz de comando. A convicção, terá de ser vossa e à margem de todas as vozes. A vontade de ser interruptor, que nos devolve a luz, terá de ser afirmativamente vossa.

Enquanto saio do posto de abastecimento olho o José Alvalade, atentamente, uma última vez. Conduzo agora ao seu encontro. À saída da Rotunda do Leão, mergulho em direcção a casa.

É assim que gosto de lembrá-lo. É assim que gosto de vê-lo. De luzes acesas e a uma só voz.

Matriz - parte VI

parte I

parte II

parte III

parte IV

parte V

A história que aqui vos trago?

Terá sempre um (infinito) final feliz. Por garantia conferida pela nossa matriz, que todos aceita, todos recebe, sem reserva de proveniência, ascendência ou militância. Obedece, a não outro, que ao princípio da existência. Na sua base, e espero que para sempre, Esforço. É, orgulhosamente, a base da nossa matriz.

No príncipio, foi e será sempre (espero), Esforço. Esforcemo-nos, pois, por ser ‘cal viva’ em contacto com água.

O infinito final da história que aqui vos trago? Depende não só de cada um dos que cá está, como de todos os que estarão para chegar.

O verdadeiro Sporting Clube de Portugal, é o do Johnny. O de Pedro Santana Lopes. O dos Leõezinhos EAS asiático e caucasiano. O do Senhor Felicidades. O dos sapatos Gucci, Sebago, e do chinelo de praia. O da cal. Da cal que se dilui, para absorver e assim conseguir aglomerar.

Ei-lo, na extraordinária – porque plural – A9. O verdadeiro Sporting Clube de Portugal.

Esforço, Dedicação, Devoção e Glória? Todos aceita. Todos recebe. Agrega. É a nossa argamassa.

Quiseram-nos, não circunscritos à sua realidade, económico-social e geográfica, mas mobilizados por todo o país e, sempre, com os olhos postos bem lá no alto. Ditaram, os nossos fundadores, os deveres fundamentais que se sobrepõem a qualquer direito natural, e que asseguram Glória terrena, ponte última para a eternidade.

Esforço, Dedicação, Devoção e Glória

Voltarei – sei agora – muitas vezes, à A9. Voltarei, não apenas para (tentar) estender a mão direita ao Senhor Felicidades. Voltarei de todas as vezes que precisar ou quiser sentir-me ‘cal viva’ em contacto com água. Ou, e se preferirem, arrebatada nano peça desta maravilhosa engrenagem. Desta tão grande engrenagem, que é afinal de contas, peça de uma engrenagem maior.

Interrogo-me muitas vezes como, ou por que razão, chegámos ao ponto a que chegámos. Sei que a massa de que somos feitos resiste incólume à erosão violenta de existências madrastas. Sei que o verdadeiro Amor, o nosso amor, é paciente, bondoso, tudo perdoa, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, nunca perece. Sei que já soubemos ser ‘cal viva’, misturada com água, quando nos sentimos perigosamente reféns. Sei que no princípio, está Esforço. E Dedicação. Devoção e Glória.

Interrogo-me muitas vezes como, ou por que razão, chegámos ao ponto a que chegámos. Nada se perde, tudo se transforma. Se calhar, transformações há que requerem o contributo da peça que somos.

Se calhar, Sabe, de que massa somos feitos. Se calhar, Sabe que somos importante peça da engrenagem maior.

Porque filhos de Amor. O de um avô pelo seu neto. Porque espelhamos a Vida tal como ela é, heterógenea. É na complementaridade dessa heterogeneidade, que a vida se cumpre. Outono, Inverno, Primavera, Verão. Porque a nossa matriz todos recebe, todos aceita, agrega. Porque nos Sabe visceralmente comprometidos com Esforço. Com Dedicação. Com Devoção. Porque Sabe - que sabemos - que no final virá a Glória, ponte última para a eternidade. Porque Sabe - que sabemos -, que nada se perde, tudo se transforma (eterna e única condição). Porque Sabe  - que sabemos -, que com Esforço, e tempo, todas as peças caem no lugar certo. Porque Sabe - que sabemos - que somos importante peça, de uma engrenagem maior. Porque Sabe, que assumimos e honramos a nossa condição de importante peça de uma engrenagem maior. Que, necessária e inevitavelmente, se transforma. Porque nos Sabe visceralmente comprometidos com a criação de uma versão melhorada de quem somos, na nossa engrenagem, e enquanto peça de uma engrenagem ainda maior. Porque Sabe que soubemos ver, desde o primeiro momento, que a riqueza, está na diversidade que não exclui, mas que se complementa. Porque Sabe que nos forjámos na sua aceitação plena, sobreposta a qualquer direito natural. Porque Sabe, que sabemos, que ao forjarmo-nos na sua aceitação plena, garantimos a nossa perpétua renovação.

Porque Sabe que somos da raça que nunca vergará.

Não sei a que credo responderá Sabe. Não me importo de desconhecer-lhe a proveniência. Sou, afinal de contas, Sportinguista.

A história que aqui vos trago? É real, acontece ainda agora e terá sempre, um final feliz. 

Fim

Matriz - parte V

parte I

parte II

parte III

parte IV

Saio da A9, enxotada pela temível (e odiosa) coluna de seguranças. Zarpam por ali acima à velocidade da luz, raios(partam). Persistem, sem esfarelar, perante os olhares mortíferos que lhes lanço. Verdadeiramente? São raios laser verdes que me saem pelos olhos. Começo por olhá-los de cima para baixo, na vertical, imaginando-os, qual fole desconchavado, a caírem às finas fatias, para os lados. Exaspero-me perante a constatação do meu falhanço, ziguezagueio o olhar, na esperança de lhes apanhar qualquer ponto nevrálgico com sucesso. Desço – invariavelmente – as escadas, (in)conformada, olhos semicerrados, extremidade do lábio superior esquerdo ligeiramente arqueada, a deixar ver o canino brilhante. Da próxima vez? Trago o Dodi. Quero ver só se se aproximam, ó carro vassoura do meu descontentamento. 

Cruzo-me com muitas caras ao sair. Sorrio. Sorrio sempre. Desvio-me, desviam-se. Não me vêem – nunca me vêem – mas observo-vos. Carreirinhos de formigas apressadas, em todas as direcções. Não me vêem – nunca me vêem – mas vimo-nos há instantes. Somos as caras por detrás das luzes de telemóvel que se acenderam e que acenámos. Cruzo-me, sem saber quem é quem. Sei, contudo, o essencial: são Sportinguistas. Sabê-lo, é quanto basta para fazer-me sorrir(-vos).

Até à Rotunda do Leão, tento ainda perceber, sem sucesso, se seriam eslovacos ou eslovenos, alguns dos Leões de Ocasião. Os que nos devolvem a (prova empírica da) Glória (também além fronteiras) que somos. Viro à esquerda, passo pelo PJR, Loja Verde de luzes acesas e aquele Olha mãe! Está aberta! que me fez estremecer e enterneceu. Desejo, em silêncio, que a Mãe possa comprar-te o bocadinho de Sporting (físico) que a alegria da tua voz transporta já, pequenino. Chegou-te à alma, estou certa. Desejo, em silêncio, que a Mãe possa comprar-te o bocadinho de Sporting físico, que dará forma visível ao que te percorre a alma.

Enquanto saio do posto de abastecimento olho o José Alvalade atentamente, uma última vez. Conduzo agora ao seu encontro, à saída da Rotunda mergulho em direcção a casa, não sem antes passar pela casinha. Recuso-lhe maiúscula e olhá-la de frente. É na minha direita, colada à casa de todos nós, que concentro atenções. Constato-a menos povoada por capacetes, bastões e fardas azuis. Com o passar do tempo, todas as peças voltam ao seu lugar. Em retrospectiva, é sempre mais fácil perceber que somos todos peças de uma, e desta, engrenagem. E que todas as peças fazem parte da engrenagem maior. Volto à tona, recupero o sorriso momentaneamente perdido.

Voltámos à tona.

Faço a viagem de regresso à minha (outra) casa, sem a mais pequena suspeita de que dali a mais ou menos 12 horas, o João Carlos, vai (também ele) entrar a pés juntos ao meu coração. Sim, se o Senhor Felicidades no final do jogo pôs a mão no meu ombro direito e, sorridente, disparou um extraordinariamente doce Felicidades! que me deixou (dolorosamente) pregada à cadeira - quase sem reacção -, o João Carlos esmaga-me, ajuda-me a cada interacção (e sem sabê-lo) a colar os cacos em que todos ficámos. João Carlos. Ou JC. Ou Johnny. Prefere Johnny.

Prefiro JC. Talvez por sentir que Cristos terrenos, serão sempre a expressão mais fiel e digna, do Divino.

Interrogo-me muitas vezes como, ou por que razão, chegámos ao ponto a que chegámos. Sei, contudo, que o verdadeiro Amor, é paciente, bondoso, tudo perdoa, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, nunca perece. Sei, também, que a massa de que somos feitos resiste incólume à violenta erosão de existências madrastas.

A cal, também chamada cal viva, ou óxido de cálcio, em condições ambientes, é um sólido branco e alcalino.

O principal uso da cal viva é a produção de cal hidratada (hidróxido de cálcio). Para isto, dissolve-se a cal em água. A utilização da cal hidratada é difundida, principalmente em argamassas para alvenaria. Assim como o cimento, tem características aglomerantes. O endurecimento da cal ocorre pela absorção do dióxido de carbono presente no ar. Essa reação transforma a cal hidratada de volta em carbonato de cálcio (principal componente de rochas como os calcários).

[in Wikipedia]

Não sei o que diria de Carvalho (Galopim) mas creio que talvez tenhamos que ser todos – Sportinguistas –, um bocadinho ‘cal viva’ que se mistura com água. Parece que ao misturá-la com água (diluí-la?), absorve o dióxido de carbono presente no ar, o que, pasme-se, lhe confere características aglomerantes, tais como as do cimento.

Então e… se nos diluirmos um bocadinho? E se absorvermos um bocadinho (a parte útil d) o que nos envolve? Será que nos unimos? Talvez só assim consigamos ser argamassa que liga os tijolos da nossa comum edificação.

A nossa casa, Senhor Visconde de Alvalade, será sempre, primeiro, sua.

Disse-nos, no princípio, que queria que nos esforçássemos. Que nos dedicássemos. Que vivêssemos com Devoção. Seriam os passos para, enfim, alcançarmos Glória e sermos tão grandes como os maiores da Europa.

Pôs os olhos lá no alto, o Senhor Visconde. Pôs os olhos na eternidade.

Quis-nos, quiseram-nos na verdade, não circunscritos à sua realidade económico-social e geográfica, mas mobilizados por todo o país e, sempre, com os olhos postos bem lá no alto. Ditaram, fundadores do Sporting Clube de Portugal, os seus deveres fundamentais e que se sobrepõem a qualquer direito natural: Esforço, Dedicação, Devoção e Glória. É a nossa matriz.

A história que aqui vos trago? É real, acontece ainda agora, escrita pela mão de cada um de nós.

A história que aqui vos trago?

[continua]

Matriz - parte III

parte I

parte II

Contei-lhe que estive na Loja Verde, que toquei nas camisolas desta época. Enquanto o faço, espreito-lhe o rosto com redobrada atenção na expectativa de vislumbrar sinal de preferência por qualquer das actuais camisolas. Mostrei-lhas dois ou três dias depois do lançamento. Aquelas que têm os Xis? As desta época, têm a data da fundação em numeração romana, sim, JC.

Suspiro, confesso, já que a ideia de empregar 80€ numa camisola que acabará rapidamente roubada do estendal do acampamento onde mora (já aconteceu), me aborrece. Aborrecem-me, preço e o mais que expectável (novo) roubo.

Tem, não se pense, uma camisola preferida: época 2017/2018. A alternativa. A preta e verde néon. Adora o verde néon. Engoli em seco, há aqui semanas, quando partilhou a inusitada preferência. Procurei, em vão, a bendita camisola, agora, que sei que faz 50+3 dia 19 de Julho – é exactamente assim que comunica a sua idade, 50+3.

Macron.com, macron.pt, Loja Verde online, telefonema para o Porto – sede portuguesa da Macron –, telefonema para o Sporting, a pedir resposta ao e-mail enviado para a Loja Verde.

Nada.

Tenho imensa pena JC, mas essa, já só encontro em tamanho muito pequeno para criança, em Itália (de onde a Macron é), e nem sequer expedem para Portugal. Então mas do Benfica há aí por todo o lado. Ah! É que os Sportinguistas esgotam logo as camisolas não são como as galinhas! Ahahah!

Acaba-se-lhe o riso e acrescenta: Eu ainda pensei comprar uma na feira, mas depois, não estava a ajudar o Clube.

Não chegou a receber a camisola que diz ter conquistado numa (arriscada) aposta. Ganhou-a e não foi varrer a rua envergando uma saia. 8, Bruno Fernandes, nas costas, mas só se ele não sair. E acredita que nem o próprio Bruno quer sair, acredita que ele é Sportinguista e que quer ser campeão pelo Sporting. Perguntei-lhe porque não o seu nome e um número que seja importante para ele. Dia, ano de nascimento, por exemplo.

O meu nome!? Sousa? Ou Johnny? Naaaã, just leave it Bruno Fernandes.

O JC, que me corrige – zangado – sempre que o trato por senhor, educadíssimo, que nunca me pediu moedas ou cigarros, todo ele pudores na hora de perguntar quanto me custaram as peças de vestuário Sporting que visto, vive as minhas (poucas) idas a Alvalade com uma alegria à qual é impossível ficar indiferente. E, sim, está atento e informado. Sabe as medalhas que os atletas leoninos conquistam; acompanha as movimentações das janelas de transferências, comenta-as e estava, ao contrário de mim, absolutamente confiante de que íamos (Portugal) ganhar a Taça das Nações.

Não sei em que momento ou por que razão o João Carlos passou a viver, pelo menos parcialmente, à margem da sociedade.

Olho para o JC, e concluo o que as sucessivas conversas tidas ao longo destes dois meses deixam claro. A massa de que somos feitos? Resiste à erosão violenta de vidas madrastas. E fá-lo, com brio.

Interrogo-me muitas vezes como, ou por que razão, chegámos ao ponto a que chegámos. Não esqueço a indiferença que passou a marcar cruzares entre Sportinguistas, outrora alegremente cúmplices, na estação de serviço de Almodôvar. Não esqueço comentários, atrás de comentários, atrás de comentários, carregadinhos de fel, nas caixas de comentários por essa blogosfera fora. Sim, fel. Veneno endógeno que todos, sem excepção, carregamos.

Como é que o nosso grande Amor, nos trouxe tanto desamor? Uns pelos outros e ao ponto de a convivência tornar-se insuportável. Para não dizer insustentável. Foi a Senhora – consócia com 35 anos de vida associativa – que se apartou, ao conhecer-nos a orientação de voto. A minha e a de outra Senhora, conhecida também ali na fila de acesso ao PJR, favorável à expulsão mas assumida tia de um Sportinguista de 26 anos contrário à expulsão. Entreolhamo-nos, desconcertadas.

Pergunto-me se alguma vez voltaremos a conviver pacificamente.

[continua]

Matriz - parte II

parte I

Repete, ali, na nossa rua, uma e outra vez, que o Presidente, este, o Frederico Varandas, é mesmo doutor, daqueles que nos tiram as dores, não dos que n[o-l]as dão, já disse que o Bruno Fernandes não sai por 35 milhões. É, por estes dias, a sua grande e recorrente aflição, a iminente saída do nosso capitão. E o outro afinal é doutor de quê? Eu ainda gostava de saber do que é que o outro é doutor. Palavra de honra que me passou pela cabeça que o Johnny seria leitor do És a Nossa Fé e que o seu telemóvel não serviria, afinal, só para dar uso aos auscultadores, para tirar fotografias ao autocarro do Sporting, de cima do viaduto – mesmo ao lado do Continente – onde esperou horas, e à chuva, para vê-lo passar a caminho do Municipal de Portimão; afasto a ideia, mas não esqueço a possibilidade.

Ainda está muito zangado, o Johnny. Zangado, com o outro. Culpa-o pela saída de Rui Patrício, que – claramente – idolatra. Um rosário de elogios é o que lhe oiço. Acha-o, ao outro, culpado pelo desencontro com o Coentrão, que é mesmo dos nossos, é que é mesmo Sportinguista, o Fábio. Sinto-lhe a zanga na voz, muda de tom, sobrepõe-se a exaltação que se avoluma exponencialmente quando fala de Alcochete. Diz-me que no dia seguinte se apresentou ao serviço, de camisola preta. Que estávamos de luto e que os colegas não têm nada com isso, que isto são dores só nossas. Bateram nos nossos jogadores… voz embargada, zangado e de dedo em riste, convicto de que há um culpado que ainda vai pagar pelo que nos fez. Acha que a Judiciária - que anda em cima dele, ai anda, anda! - ainda vai encontrar provas inequívocas que dêem forma indesmentível aos seus sentires. E uma correspondência punitiva que, dificilmente, arrisco eu, serviria para atenuar-lhe a(s) dor(es).

Dificilmente, serviria, sei eu, para diminuir a que fui sentindo ao longo de tanto tempo.

Interrompe-me, quando lhe conto a interacção que tive, na fila, à espera para entrar no Pavilhão João Rocha, com a consócia - 35 anos de vida associativa - que ancorou a decisão de se opor à expulsão de sócio do anterior presidente, à convicção de que, ao contrário de todos os outros, este, não nos roubou.

Não nos roubou!? Não nos roubou!? Roubou!, roubou! Roubou-me andar com a cara limpa à frente dos andrades [um dos colegas é fervoroso adepto do clube nortenho mais popular em Portugal] e dos lampiões. Eu, quero ganhar de forma limpa! Eu, não quero cá troféus que não ganhámos de forma limpa. Eu, tive que os aturar dias a fio. E tenho que os aturar, que ainda me jogam isso à cara. E agora, vão jogar isso à nossa cara para sempre. Ainda pensei que tinha de lá ir eu que ele não desagarrava o lugar. Era uma força que a gente tinha, dizer que o Sporting, só joga e ganha limpo. E envergonhou-me. E ele é que diz que tem vergonha da gente!? E os milhões que a gente perdeu com as transferências, com as rescisões?

Digo-lhe que, por agora, temos de dar tempo à Justiça, que o que havia a fazer, dentro do Clube, já foi feito. Pergunta-me se ouvi o discurso da consócia irmã do ex-presidente (sempre bem informado, o JC), digo-lhe que não, que entrei depois. Eu pensei logo que ia lá votar – diz-me, contente. E que depois me contava. Eu não posso ir lá votar, - encolhe os ombros - não sou sócio.

E conto, JC. Só (ainda) não lhe contei que me apresentei – inadvertidamente – de tesoura de escolinha primária na carteira, mas de resto, conto-lhe os pormenores todos de que me lembrar.

[continua]

Matriz - parte I

Manda a regra que chegados a um qualquer espaço, nos apresentemos. Adiarei no tempo essa obrigação por confessa dificuldade actual em alinhavar ideias e traduzi-las em palavras. Impõe-se honrar a generosidade do convite, dar-lhe corpo sem demoras, por isso, enquanto organizo ideias, pensei deixar-vos um texto escrito a pedido, originalmente publicado na íntegra em LadosAB, o blogue de José da Xã. Não revela quem sou (identidade civil), mas parte substantiva dos alicerces do meu Sportinguismo, está ali espelhada. Poderá não parecer claro no início, mas é do Sporting, do meu Sporting, que o texto trata.

Dada a extensão do texto original, optei por segmentá-lo na expectativa de que facilite a leitura. Nos próximos dias, às 19:06, estarei por aqui. Deste outro lado. 

Ao caríssimo, que muito admiro, Pedro Correia, o meu agradecimento sincero e comovido.

Ao gentil José da Xã, renovado agradecimento pelo incentivo.

A todos quantos estão por aí, e com quem tenho tanto gosto em interagir, deixo o convite à partilha alargada.

Concordaremos, creio, que precisamos de PAz. Nas caixas de comentários destas publicações, acolherei contraditório. Proponho, contudo, exigência na hora de diferenciá-lo de enxovalho. 

Até já, Saudações Leoninas e... Sporting Sempre. 

 

Haverá dois anos? Três? Descobri-lhe o cartão de cidadão no meio de um relvado. Reconheci-lhe o rosto, registei - mentalmente - o seu nome e pedi aos colegas que o guardassem até que pudessem devolvê-lo ao titular.

Não mais me esqueci do seu nome. Não mais com ele falei, após confirmar que recebera o que lhe pertence, excepto, nos costumeiros cumprimentos de circunstância, enquanto deposito o lixo ou passeio o Dodi. Sei que, normalmente, aparece pelo Carnaval, Páscoa e Verão. Foi num Verão que o conheci.

João Carlos. Ou Johnny. Ou JC.

Fui eu quem o convocou, pelo nome, para uma reunião de improviso entre moradores do prédio e patrulha da PSP, ali mesmo, na rua em que o encontro em modo (eficaz) sinaleiro de lugares disponíveis para estacionamento. Era preciso encontrar uma solução, idealmente pacífica, para o cão sem trela de um dos seus colegas. Reagiu com muita surpresa e indisfarçável medo. Tratei-o pelo nome, sei, afinal de contas, o seu nome. É fácil detectar-lhe "medo’'. Aproxima-se cabisbaixo e de mãos atrás das costas. Participa activamente na troca de impressões, mas de olhos predominantemente no chão. Revelou proactividade e, falo por todos, deu-se por concluída a mini assembleia de ocasião, com a certeza de que o problema seria resolvido sem transtorno de maior e, claro, com a pronta e activa colaboração do João Carlos.

Vestia (ainda) a alternativa 2018/2019. Tenho sempre dificuldade em desligar-me de elementos visíveis de Sportinguismo, depois de ir a Alvalade. Algumas horas antes aplaudira aquele que, desconfio, foi (terá sido?) o último golo do capitão Fernandes, Bruno Fernandes, em Alvalade. Estreei-me em grande na A9.

Mentiria se dissesse que lhe vi alguma reacção que denunciasse que partilhamos amor clubístico. Mentiria se dissesse que sequer supunha que estava mesmo ali ao lado, quem mais revisse mentalmente golos de Bruno Fernandes, com a tristeza própria de quem antecipa que tão cedo não o verá repetir – uma e outra vez – tão maravilhosos movimentos, de verde e branca do Leão Rampante.

Ao final da tarde? Foi ele que me chamou. Senhora. A medo. E o medo, não me pareceu ser (só) do Dodi, ou, se preferirmos, dos 38kgs de puro charme canino e caninos, todos eles prontos a atestar (instinto de) protecção, defesa e contra-ataque. Mãos atrás das costas, outra vez, o branco dos olhos mais vermelho do que lho vira de manhã. Desculpou-se, a medo, pelo interpelo e explicou que de manhã não fora capaz de me dizer uma coisa que queria muito partilhar.

Ali? Na presença da polícia? É melhor nãoA sua camisola é tão bonita! É a mais bonita..! Já tive uma do Figo. E já apertei a mão ao Oceano.

Isto tudo, enquanto refugia, uma vez mais, os olhos no chão. A intensidade da luz dispensava ainda o uso dos óculos escuros com que, agora, se protege quase todos os dias.

Depois deste dia, a larga maioria dos passeios do Dodi e das idas à ilha ecológica, deixaram de se pautar por meros cumprimentos de circunstância. São agora acompanhados pela partilha de pontos de vista, alegrias e carpires de mágoas verde e brancos. Tem umas quantas, o João Carlos. Ou Johnny. Prefere Johnny. Reage com fúria se me ouve tratá-lo por senhor. Eu, não sou senhor [danado, que intriga]. Sou o Johnny. Luso-americano. And, yes, his accent quite proves it. Sentiu a sagração do campeão da época passada, com redobrado pesar, porque frente ao Santa Clara que o faz luso. É que eu, não vi só as galinhas sagrarem-se campeãs, foi logo frente ao Santa Clara… Sempre ouvi dizer que um azar não vem só, JC, toda a razão.

Diz-me, desde que se conhece a data do jogo para a Taça Cândido de Oliveira, que dia 4 de Agosto, vamos depenar a galinha, e comer arroz de cabidela! Ahahaha

Ri-se, e rimo-nos.

Conta-me como o patrão lhe refreava os ânimos, sempre que tentava interpelar os jogadores. Estás aqui para trabalhar, rapaz, não podes ir com essa fome toda aos homens. Jogava-se ainda no antigo José Alvalade, o único que conhece, e o JC participava na construção das piscinas. Mas eles estavam mesmo ali...

[continua]

{ Blogue fundado em 2012. }

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