Cabo Verde é uma terra de gente boa, com poucos recursos naturais demonstram um nível cívico elevado e um histórico de tranquilidade e convivência. De Cabo Verde sairam para o Sporting atletas e homens como Oceano e Nani e mais recentemente Jovane. E gostam de batucada.
Tal como a sardinha atrai tubarões, a gente boa atrai espertalhões, e houve um desses que resolveu inventar um protocolo com um tal clube chamado Batuque, com base em 7 nomes de jogadores mais ou menos desconhecidos e alguns em parte incerta, dias depois do assalto a Alcochete, e lá foram 330,000€ transferidos com as assinaturas de Bruno de Carvalho e Carlos Vieira destinados ao tal Batuque.
Dizem que o vinho melhora muito quando se leva a navegar pelos trópicos, parece que o "torna-viagem" esteve na origem do que é o vinho da Madeira.
O dinheiro também ? Mesmo com "marinheiros de primeira viagem", como dizia um empresário amigo do presidente do tal Batuque ?
Nem tudo muda na selecção nacional. Éder e Hugo Almeida continuam a ser convocados como adereços de grande área. Um conserva a sólida mobilidade de um pinheiro manso, o outro mantém incólume a virtuosa virgindade em matéria de golos que já lhe granjeou fama com o emblema das quinas ao peito.
Este cenário tão familiar é de algum modo aconchegante. A tal ponto que remete para nota de rodapé a inédita derrota da selecção portuguesa ocorrida esta noite frente à de Cabo Verde. Levámos tão à letra o facto de se tratar de uma partida amigável que abdicámos de pontas-de-lança. Ou antes: fizemos alinhar consecutivamente Hugo e Éder, o que vem a dar no mesmo.
Em 2005 fiz uma visita de trabalho a Cabo Verde quando faltavam poucas jornadas para o fim do campeonato. Como muitos de vós se recordam, esse foi um campeonato renhido quase até ao fim, com aquele clube de nome de bairro a roubar-nos a taça, depois de uma vitória sobre o Sporting (odiei o Luisão…) e, na última jornada, a empatar com o Boavista (fracos!), assegurando o título.
Durante a semana que passei naquele arquipélago africano senti-me em casa por vários motivos, entre os quais futebolísticos. Ouvi o relato Benfica-Sporting na ilha do Fogo, rodeado de diversas personalidades cabo-verdianas, onde pontuavam benfiquistas e sportinguistas. Fomos para um jantar oficial, que coincidiu com a hora do jogo, e confesso-vos que foi muito divertido ver a quantidade de vezes que os convivas (incluindo eu próprio) se levantavam para tentar saber como é que estava o derby. Tudo isto perante a surpresa da delegação chinesa presente, que estranhava ver membros do Governo cabo-verdiano a torcer e a sofrer por um clube estrangeiro.
O jogo lá terminou, com Luisão a marcar nos últimos minutos de jogo (raiva!!!), e o resto do jantar foi passado a discutir que hipótese teria ainda o Sporting de ganhar o campeonato, depois deste desaire. Foi surreal, por se passar num país estrangeiro, mas mostrou-me uma realidade que até então nunca me tinha apercebido. Mais do que a língua, a história comum, a herança cultural e o que se quiser, o que une Portugal e as suas ex-Províncias Ultramarinas são os clubes de futebol.
O Sporting liga portugueses e lusófonos. Torna-nos iguais. No sofrimento e nas alegrias que o Clube nos dá. Independentemente da nossa nacionalidade ou da nossa geografia. E isso vale mais do que anos e anos de diplomacia entre Estados e entre Governos. Fica o desafio: Para quando a inclusão dos jogadores de futebol nas comitivas oficiais do Estado Português para ajudarem a fechar negócios em África?
{ Blogue fundado em 2012. }
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.