Quente & frio
Gostei muito do bis de Harder, ontem à noite, no estadio de Portimão. São exibições como esta que definem a qualidade de um jogador. O jovem dinamarquês, internacional sub-21, fez a diferença perante o conjunto que regista mais golos sofridos da Liga 2 ao marcar duas vezes, ambas em momentos decisivos: primeiro aos 40', com Nuno Santos a assistir de trivela, desbloqueando o empate a zero que persistia perante a dupla muralha do onze anfitrião; depois a três segundos do fim do tempo extra, aos 90'+4, dando a melhor sequência a um passe de Gyökeres. Assim fixou o resultado (1-2), conduzindo o Sporting à quarta eliminatória da Taça de Portugal e evitando um desgastante prolongamento de meia hora com desfecho imprevisivel. Seguimos em frente graças a ele, o melhor em campo.
Gostei da aposta de Rúben Amorim em mais dois jovens da formação lançados na equipa principal, embora só possa pronunciar-me sobre um. Refiro-me ao brasileiro Bruno Ramos, de 19 anos, que apenas com 2 minutos de actuação no Sporting B foi ontem titular como central à direita (com Debast ao meio e Gonçalo Inácio à esquerda). Sem inventar, cumpriu. Sem brilhar, foi útil. Sem dar muito nas vistas, transmitiu segurança à equipa. O outro foi o galego Lucas Taibo, também defesa, que aos 18 anos tem-se destacado na B. Este entrou após o segundo golo, trocando com Debast só para queimar tempo: nem chegou a tocar na bola.
Gostei pouco das dificuldades registadas para derrubarmos o autocarro estacionado nos 25 metros defronte da baliza da turma algarvia - que mais parece escola de samba de série B. Incapacidade de penetrar nas linhas (saudades do lesionado Pedro Gonçalves...) e de criar movimentos de ruptura. A lentidão de processos, a falta de domínio no jogo aéreo e a incapacidade de aproveitar cantos e livres ajudaram pouco ou nada. Quando finalmente conseguimos criar perigo, o guardião portimonense, Vinicius, resolveu com um par de boas defesas, negando golos a Harder (3') e Morten (30'). Valha a verdade que vários jogadores vinham de desgastantes participações em desafios das respectivas selecções - de tal maneira que alguns, como Geny e Gyökeres, começaram no banco, e outros, como Morita e Maxi Araújo, nem entraram. Foram poupados pelo treinador - ou foram poupando esforços por livre iniciativa - já a pensar no confronto da próxima terça-feira contra o Sturm Graz, na Áustria, para a Liga dos Campeões.
Não gostei de algumas exibições. Sobretudo de Gonçalo Inácio, muito intranquilo, perdendo a bola e falhando passes: anda irreconhecível. Também de Esgaio, em estreia como titular esta época: ala direito, nunca fez a diferença em missão ofensiva, preferindo tocar para o lado ou para trás. Sem esquecer Vladan, que ontem regressou à baliza após lesão. Num jogo em que teve pouco trabalho, atrapalhou-se numa reposição de bola, aos 83', desmentindo aquele que diziam ser o seu principal atributo: jogar com os pés. E voltou a encaixar mais um golo (o terceiro de leão ao peito), embora obtido de forma irregular.
Não gostei nada de confirmar que nesta fase da Taça de Portugal a vídeo-arbitragem continua ausente dos estádios. Com ela, nunca o golo algarvio validado por Helder Malheiro e o seu árbitro auxiliar aos 87', teria sido considerado legal. Chico Banza está em fora-de-jogo posicional interferindo claramente na jogada. Por aqui se percebe, ainda com maior nitidez, como a introdução do VAR foi uma conquista imprescindível para a verdade desportiva nos estádios de futebol.