A derrota contra o Rio Ave de Carlos Carvalhal chocou-me: em cinco jogos disputados nesta temporada, já vamos na segunda derrota (uma das quais por goleada) e um empate. Balanço negativo entre golos marcados e sofridos (oito-onze). Cinco pontos perdidos no campeonato, em doze possíveis. As nossas redes maculadas em todos os jogos.
Isto já seria mais que suficiente para me preocupar - ao contrário do presidente Frederico Varandas, que se confessou despreocupado na última vez em que o ouvimos, já decorreu quase um mês, após o naufrágio da equipa no estádio do Algarve.
Mas chocou-me ainda mais a notícia - de que só esta noite tomei conhecimento - da saída de Bruno Gaspar para o Olympiacos. Então o Sporting reconhece como interlocutor válido um clube que nos surripia um jogador internacional (Daniel Podence) à margem de toda a ética desportiva, esquecendo que estamos há 14 meses em litígio com a agremiação grega, contra a qual apresentámos queixa formal junto da FIFA?
O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre BRUNO GASPAR:
- António de Almeida: «Está alguns furos abaixo do exigível para ser titular.» (17 de Dezembro)
- Eu: «É cada vez mais evidente que não tem categoria para ser titular da equipa do Sporting. Desastrado a defender, inofensivo a atacar: na ala dele, os centros perigosos partiram dos pés de Raphinha e Bruno Fernandes. Só.» (7 de Janeiro)
- Luís Lisboa: «Foi por falta de atitude que Bruno Gaspar abriu a porta ao avançado do Tondela no primeiro golo? Aliás esse golo, que foi mesmo à minha frente, estava na terceira fila da bancada a uns cinco metros do Bruno Gaspar, devia ser passado 50 vezes por Marcel Keizer para mostrar tudo aquilo que não se deve fazer, desde a perda de bola a meio campo, à passagem tranquila pelo Gaspar, ao posicionamento da defesa e à cobertura ao avançado que marcou o golo.» (8 de Janeiro)
- Pedro Azevedo: «Os laterais deixaram de fazer costa-a-costa e Gaspar trocou o incenso pelo "insonso" (insosso).» (8 de Janeiro)
- Francisco Almeida Leite: «Jefferson e Bruno Gaspar não têm categoria para estar onde estão.» (3 de Fevereiro)
- Francisco Chaveiro Reis: «Eu preferia aumentar Montero e não pagar sequer um ordenado mínimo a Gaspar, Pinto ou Petrovic.» (15 de Fevereiro)
- Francisco Vasconcelos: «Jefferson e Bruno Gaspar são do pior que já vi com a verde e branca.» (8 de Março)
- Leonardo Ralha: «Merecem respeito, pois não duvido por um instante que ambos dão o melhor que podem e que conseguem, mas acredito que me lembrarei desta Taça de Portugal como aquela que o Sporting conquistou com Bruno Gaspar e Diaby no onze titular. Mérito a Marcel Keizer por ter desviado o maliano para a esquerda, impedindo que uma ala inteira ficasse entregue a dois profissionais tão dignos de respeito quanto de qualidade técnica manifestamente inferior ao que se deve exigir de um futebolista leonino.» (25 de Maio)
- José Navarro de Andrade: «Bruno Gaspar, Borja e André Pinto (este depois da atitude miserável no jogo contra o benfas): a porta da rua é serventia da casa - são maus demais.» (28 de Maio)
Merecem respeito, pois não duvido por um instante que ambos dão o melhor que podem e que conseguem, mas acredito que me lembrarei desta Taça de Portugal como aquela que o Sporting conquistou com Bruno Gaspar e Diaby no onze titular. Mérito a Marcel Keizer por ter desviado o maliano para a esquerda, impedindo que uma ala inteira ficasse entregue a dois profissionais tão dignos de respeito quanto de qualidade técnica manifestamente inferior ao que se deve exigir de um futebolista leonino.
Sempre que o Sporting perde ou tem algum resultado menos bom lá vem a ladainha da falta de atitude, que varia desde a versão soft, "não correm, não se empenham", até à versão hard/ultra, "palhaços joguem à bola, que a camisola é para suar". Ainda no último jogo em casa, tive que gramar com alguém nas costas que invectivava tudo e todos pela falta de atitude, especialmente o Bas Dost, aquele que pelos vistos estava a jogar com um traumatismo craniano.
Ora, se atitude só por si ganhasse jogos, não valia a pena formar jogadores, ou contratá-los a peso de ouro, bastava jogar com a equipa dos Comandos da Amadora, ou então com a do Canelas, essa até com atitude dentro e fora do campo. E com tanta conversa de atitude, queixam-se depois que alguns alucinados assumam a questão e invadam a academia para ensinar os jogadores a ter atitude à cacetada.
O que efectivamente ganha jogos é a competência, desde logo a do treinador em montar, treinar e liderar a equipa e depois a dos jogadores em campo.
E contra o Tondela o que não houve mesmo foi essa competência. Desde logo em Marcel Keizer e na sua equipa técnica porque mandou para o terreno uma equipa às cegas das características do adversário, e dos jogadores, todos eles, uns mais que outros, a acumular erros dificeis de aceitar. Competência a concluir jogadas de golo, competência a rematar de longe, competência a marcar cantos, competência nos duelos individuais. Foi por falta de atitude que Diaby falhou dois ou três golos feitos ? Que B. Fernandes não acertou na baliza de livre quando o do Tondela obrigou o Renan a uma grande defesa ? Ou que B. Gaspar abriu a porta ao avançado do Tondela no primeiro golo ? Aliás esse golo, que foi mesmo à minha frente, estava na terceira fila da bancada a uns 5 metros do B. Gaspar, devia ser passado 50 vezes por Marcel Keizer para mostrar tudo aquilo que não se deve fazer, desde a perda de bola a meio campo, à passagem tranquila pelo Gaspar, ao posicionamento da defesa e à cobertura ao avançado que marcou o golo.
Mas voltando a Marcel Keizer, a verdade é que como já tinha dito anteriormente o seu estado de graça acabou, foi o tempo em que pode trabalhar tranquilamente e colocar a equipa a jogar num modelo de jogo diferente, obter rendimentos inesperados dos jogadores, enfim, ser inovador para a realidade da nossa liga. Passados dois meses, os outros treinadores já estudaram, analisaram e perceberam os pontos fortes e fracos, e cada um deles vai montar um esquema para combater os fortes e explorar os fracos.
E onde estão os principais pontos fracos do Sporting para este modelo 4-3-3 ofensivo que Keizer veio implantar ?
Estão aos olhos de qualquer um:
1. Não temos um trinco digno desse nome, ninguém com envergadura física que possa constituir um tampão efectivo da defesa e que tenha capacidade de passe a curta e longa distância, para lançar a equipa desde trás e obstar aos bloqueios do meio campo contrário. Tínhamos William, os rivais têm Fejsa ou Danilo, nós temos um 8 adaptado que deixa muito a desejar. Aliás os adversários já nem se incomodam em marcá-lo, poupam recursos para usar noutro lado.
2. Não temos defesas laterais em condições. Temos um extremo adaptado que enche o corredor mas que tem falhas de posicionamento, o resto são jogadores medianos, que atacam mal e defendem pior.
3. Não temos substituto para o Bas Dost. Como também não temos substituto à altura dos dois centrais titulares. Mas com Bas Dost é bem pior. Não há Bas Dost, os centros são invariavelmente condenados ao insucesso, não há penaltis causados pelo nervosismo dos defesas contrários, não há Sporting a lutar pelos primeiros lugares.
Concluindo, "quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita", o Sporting não conseguiu organizar a temporada em condições, o plantel é muito curto em quantidade e qualidade e com os pontos fracos atrás referidos. Precisam-se reforços que sejam reforços, ao nível dos melhores do plantel actual e para as posições carenciadas. E de alguém que explique a Keizer o futebol português também.
Dito isto, vem aí o líder, vem aí o Porto, se calhar o melhor que poderia acontecer para os nossos pontos fortes, que também os temos, terem ocasião de vir ao de cima e embalarmos para um resto de temporada compensador.
Tenho que vos confessar um segredo: sou um mestre da telepatia. Sempre que na bancada começo a ralhar com um jogador, mesmo nas raras vezes em que de voz baixa, ele ouve-me e num rasgo de brio trata de me desmentir. Suspeito mesmo que nalgumas celebrações de golo os "toma!" são para mim.
Ontem confirmei, de vez, este meu dom.
Tendo chegado atrasado, entrei pela porta mais imediata e durante a primeira parte fiquei num canto junto ao terreno, subordinado a uma perspectiva semelhante à que se tem do banco, ou seja, sem perceber nada das posições dos jogadores. Mas quase lhes via o branco dos olhos. Diante de mim, andava para trás e para a frente Bruno Gaspar e por ele passava quem quisesse, sobretudo com tabelas que o deixavam de pés trocados. Com frequência Coates dava-lhe indicações mais ou menos ríspidas, Diaby fazia leves gestos de impaciência em face de tanto desentendimento, e os jogadores do Belenenses, ou lá o que era aquela equipa anónima que ontem nos visitou, abeiravam-se ou desviam-se dele com algum descaso. Na pose de Gaspar, assim vista de perto, era perceptível uma certa consumição à beira do desânimo. Sentia-se evidentemente abandonado à sua sorte, sobretudo quando da bancada se levantava aquele bruaá de desagrado de cada vez que o jogo passava - literalmente - por ele.
"Que nulidade!" desabafei em voz alta, com a concordância dos outros espectadores a meu lado.
Bruno Gaspar de certeza que me ouviu e na segunda parte, estando já eu no meu posto natural de observação, tratou de me obrigar a meter a viola no saco. Marcado o golo, bem o vi virar-se na minha direcção claramente com um "toma!" e a fazer-me um manguito mental.
O desconsolo que exteriorizou ao sofrer o golo da praxe, desta vez à beira do fim do jogo, é compreensível. O brasileiro emprestado pelo Estoril ainda defendeu o primeiro remate de um adversário que lhe surgiu isolado à frente, mas a recarga selou mais um dos momentos “you can’t win, Charlie Brown” que vão pautando a sua passagem por Alvalade. No resto do jogo viu remates com selo de golo passarem a rasar um poste, passarem a rasar o outro, embaterem violentamente nesse mesmo poste, mas parece que os jogos só acabam quando uma bola se anicha nas redes. Mesmo sem culpa alguma de um guarda-redes que, muitas vezes instado a repor a bola em jogo, distinguiu-se pela elevada percentagem de passes para zonas do relvado desabitadas por colegas de equipa.
Bruno Gaspar (3,5)
Pouco importa que o golo com que inaugurou o marcador pareça dever-se quase por inteiro ao desvio na cabeça de um jogador da Belenenses SAD. Num jogo vespertino em que ficou patente a falta que o castigado Bruno Fernandes faz ao Sporting, o lateral-direito contratado à Fiorentina foi um dos raríssimos jogadores que pôde sair verdadeiramente satisfeito aquando do apito final. Muito forte nas missões defensivas quando o Sporting estava a ser sufocado pelos visitantes, Bruno Gaspar soltou-se na segunda parte e foi à luta como nunca antes se tinha visto, permitindo que pelo menos numa tarde de 2019 não fosse preciso recordar César Prates, Abel, Cédric Soares, João Pereira ou Piccini com os olhos marejados.
Coates (2,0)
Quis o impiedoso destino que o central uruguaio terminasse um dos seus piores jogos envergando a braçadeira de capitão que lhe foi entregue após a saída de Nani. Incapaz de alcançar Freddy na cavalgada que só terminou com um remate ao poste na primeira parte (optando por não cometer uma falta que valeria o cartão vermelho), Coates é o principal responsável pelo golo da Belenenses ML, numa jogada que só deixou de acompanhar com os olhos quando viu dois adversários a correrem para a grande área. Claro que cumpriu a quota de cortes antiaéreos, mas a alguém com a qualidade de Coates exige-se sempre mais.
Mathieu (3,0)
A ausência de Bruno Fernandes e a incapacidade de Gudelj e Miguel Luís levaram a que lhe fosse entregue a missão de iniciar a maioria das jogadas leoninas. Assim sucedeu sobretudo na primeira parte, na qual o francês procurou servir de antídoto para o desnorte colectivo, mas a qualidade de sempre manteve-se até ao fim, com mais uma série de cortes providenciais e uma nova tentativa de marcar de livre directo.
Acuña (2,5)
Esteve quase a inaugurar o marcador, com um remate rasteiro junto ao poste que foi defendido pelo irmão do guarda-redes mais valioso do Mundo, mas logo a seguir teve um “momento Secretário” que esteve quase a resultar num golo da Belenenses (R) ou na expulsão de Coates. Muito porfiou ao longo de todo o jogo, a atacar e a defender, mas sem o acerto habitual, vendo-se incapaz de resolver a inércia do uruguaio no lance do 2-1, após o que conseguiu somar mais um daqueles cartões amarelos por motivos disciplinares que levarão, mais tarde ou mais cedo, a interromper as férias pagas de Jefferson.
Gudelj (2,5)
Incapaz de conduzir jogo, por vezes pouco criterioso na escolha entre dureza e macieza ao enfrentar adversários, e nada convincente na hora de rematar. Assim foi o sérvio, ligeiramente melhor quando subiu no terreno devido à entrada do compatriota Petrovic.
Miguel Luís (3,0)
O magnífico golo que acabou por revelar-se decisivo para a conquista dos três pontos resgata uma exibição titubeante, retrato de um meio-campo que não sabe carburar sem combustível BF. Muito lutou o jovem “made in Alcochete”, claro está, mas raramente lutou bem.
Wendel (3,5)
Regressou à equipa em boa hora, dedicando-se a tentar suprir a falta do melhor jogador do Sporting. Esteve em todo o lado, acelerou o que tendia para a lentidão, combinou bem com os colegas e saiu cansado, mas com a satisfação do dever cumprido.
Nani (3,0)
A assistência para Acuña e o remate ao poste foram pedradas no charco de uma primeira parte em que o Sporting de Keizer parecia repetir a lição que lhe fora dada pelo Vitória de Guimarães. Mesmo sendo excruciantemente lento na execução, demonstrou que quem sabe nunca esquece, procurando rendilhar lances de ataque que acabaram por abrir brechas na muralha dos assaz talentosos SADicos do Jamor.
Diaby (3,0)
Ineficaz na cara do golo, nomeadamente na jogada em que procurou fintar o irmão do guarda-redes mais valioso do Mundo, serviu-se da velocidade e do voluntarismo para meter os adversários em sentido. E fez uma assistência para Bruno Gaspar que deveria valer golo mesmo sem intervenção inadvertida de um adversário.
Bas Dost (2,0)
Muitos sentiram falta de Bruno Fernandes, mas ninguém sentiu tanta falta quanto o avançado holandês. Teve uma oportunidade de golo, logo na primeira parte, procurou ajudar na luta no meio-campo, viu um adversário roubar-lhe o 1-0, mas... deu-se mal com a solidão e com a falta de bolas à medida das suas capacidades. O Sporting recuperou o segundo lugar, e passou a ter o melhor ataque da Liga NOS, mas desta vez não foi graças a Bas Dost.
Raphinha (1,5)
Entrou tarde e para a esquerda, onde não engatou. Quando finalmente passou para a direita também não engatou e pouco ajudou Bruno Gaspar. Melhores dias virão.
Petrovic (2,5)
Já habituado aos aplausos que as bancadas lhe dedicam sempre que faz algo supostamente inesperado, como uma finta de corpo ou um passe bem medido, o sérvio cumpriu com o papel de barreira às iniciativas contrárias que Keizer lhe destinou. Em tempos de entradas e de saídas de Inverno, será aconselhável manter quem tanto se dedica a fazer aquilo que sabe.
Jovane Cabral (-)
Teve poucos minutos para ser talismã, até porque o final do jogo foi dedicado sobretudo a golos do adversário e a sururus.
Marcel Keizer (2,5)
Retirou oxigénio às chamas ao reconhecer que o Sporting fez um mau jogo. Diagnóstico certeiro, tendo em conta o domínio exercido pelo adversário nos primeiros minutos, a falta de acerto nas movimentações da equipa, as falhas que poderiam ter saído caras. Traído por más exibições individuais de alguns dos seus melhores jogadores, acabou por virar a tendência do jogo mesmo sem atingir o brilhantismo de jogos transactos. Na segunda-feira volta a contar com Bruno Fernandes na ida a Tondela, mas há que aperfeiçoar a equipa para que o Sporting-FC Porto possa trazer verdadeira emoção à Liga NOS.
{ Blogue fundado em 2012. }
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