Apesar do trauma que foi a temporada 2012/2013, por muitos considerada a pior época de sempre do Sporting, pessoalmente, houve uma época que me deixou ainda mais marcas. Falo da temporada de 1993/1994.
Tinha 10 anos, e do meu grupo de amigos e colegas de escola, era o único que ainda não tinha visto o seu clube campeão. «O Sporting nunca chega ao Natal», era sentença que gostavam de me atirar à cara com frequência.
Até que, de repente, um senhor inglês com ar de avôzinho simpático, e que falava um português muito engraçado, pôs a "jogar à bola" aquela que, na opinião de muitos, e na minha também, foi a melhor equipa do Sporting dos últimos 20 anos: dos campeões mundiais sub-21 Nélson, Paulo Torres, Capucho, Luís Figo e Peixe, bem como o melhor marcador desse mundial Cherbakov, passando por Paulo Sousa, Cadete, Valckx, Balakov, Iordanov e Juskowiak. Que equipa!
O Sporting nessa temporada chegou ao 1.º lugar, a jogar o melhor futebol, e era uma equipa imbatível. O mito do Natal mostrava-se, manifestamente, exagerado.
Pela primeira vez na vida, deparava-me com um Sporting que vencia e convencia, e que se revelava a equipa melhor preparada para conquistar o tão desejado título que lhe fugia para mais de 10 anos.
Até que um jogo mal conseguido na Áustria, onde de uma situação de 2-0 na 1ª mão, o Sporting vê-se eliminado da taça UEFA, origina o impensável: a demissão do treinador! José Eduardo Bettencourt não o poderia ter descrito melhor: foi uma precipitação à Sporting!
Com treinador despedido, que o rival nortenho, rapidamente, trataria de aproveitar a seu favor (com as consequências que se conhecem...), e ainda a digerir uma eliminatória perdida de forma incrível, eis que somos surpreendidos com mais um acto da tragédia que se apoderara de Alvalade: um brutal acidente de viação atira Cherbakov para uma cadeira de rodas!!!
“Cherba” era um dos meus jogadores favoritos da equipa. Não só jogava muito à bola, como tinha uma forma especial de marcar os golos: saíam sempre "golaços". Era um jogador que prometia muito na equipa do Sporting.
O trágico final da sua carreira, no espaço de poucos dias em que o Sporting é eliminado das competições europeias e o treinador despedido, constituiu um duro golpe para a equipa e para o trajecto que vinha fazendo, e que não mais voltou a ser o mesmo.
Ontem assinalaram-se 20 anos desde o horrível acidente que interrompeu, de forma definitiva, a promissora carreira de Cherbakov. Perdeu-se um grande talento, um grande jogador, e um campeonato. Salvou-se a sua vida, no que é o mais importante, afinal de contas.
Mas ninguém me tira da cabeça o que teria sido o Sporting nesse campeonato, e nas épocas seguintes também, se Bobby Robson não tivesse sido despedido precipitadamente, e Cherba não tivesse tido o acidente…