Rúben Amorim não tem demonstrado só mérito enquanto cérebro táctico da equipa principal de futebol do Sporting: revela qualidades também como comunicador. Num discurso claro, conciso e compreensível, com palavras que todos entendem, sem gaguejar nem deixar frases a meio. Consegue ser inspirador e mobilizador, transformando cada conferência de imprensa numa sessão de robustez anímica - tanto para jogadores como para adeptos.
Aconteceu naquele dia 5 de Dezembro, após o empate (2-2) em Famalicão, num jogo que merecíamos ter vencido, quando o árbitro Luís Godinho anulou um golo limpo a Coates e expulsou o nosso treinador pela segunda vez. Reagindo com sangue-frio após essa partida em que fomos espoliados, Amorim soltou a frase que funciona como novo lema leonino: «Para onde vai um vão todos».
Não tardou a pegar como palavra de ordem. Três dias depois já encontrava eco nas redes sociais. tornando-se no mais recente elo de ligação entre a massa adepta. E até treinadores de outros clubes passaram a usá-la também, com a devida vénia ao jovem técnico que reconduziu o Sporting ao primeiro lugar do futebol português.
«O nosso clube, os adeptos, o plantel, tal como o Sporting, nós também: onde vai um vão todos», declarou a 19 de Dezembro o treinador do Farense, Sérgio Vieira. Comprovando assim o sucesso da fórmula, patenteada por Rúben Amorim.
Tudo terá acontecido de forma espontânea. «Não foi nada pensado», esclareceu o técnico leonino, ainda em Dezembro, quando a sua frase já circulava de boca em boca. Veio para ficar. E promete servir-nos de aperitivo para novos triunfos.
Foi um ano atípico no Sporting. Um ano em que estivemos impedidos de comparecer no nosso estádio desde a primeira quinzena de Março. Um ano em que passámos da depressão à quase-euforia com poucos meses de intervalo. Um ano em que a nossa equipa principal de futebol começou a ser reconstruída com alicerces da formação, somando boas exibições e acumulando pontos - de tal maneira que lideramos agora o campeonato há seis jornadas consecutivas e somos o único onze da Liga ainda invicto à 12.ª jornada.
Foi um ano em que não faltaram belos golos. Nada fácil escolher, portanto, o melhor do ano - o que é sempre um excelente dilema. Acabei por seleccionar o golo de Nuno Mendes ao Portimonense, a 4 de Outubro. Pelo seu virtuosismo técnico e pelo seu impacto visual: o jogador dribla três adversários antes de levar a melhor frente ao guarda-redes, atirando-a lá para dentro, estavam decorridos 4'. Mas também pelo seu significado que transcende o desafio do Algarve, que vencemos por 2-0: o belo golo do jovem ala leonino é um símbolo perfeito deste renovado Sporting orientado por Rúben Amorim.
Como referi, a escolha não foi fácil. Daí destacar aqui quatro menções honrosas, todas dignas de rasgado elogio:
Por vezes não é necessário irmos à ópera para assistir a bons espectáculos: no futebol também há disso. Pena continuarmos impedidos de ver golos como estes ao vivo. E que os nossos jogadores não oiçam as ovações que bem merecem.
Mais saboroso ainda por termos vencido na final aquela que vários especialistas consideram geralmente a melhor equipa portuguesa da modalidade: o FC Porto, anterior detentor da Taça. Cumpre referir que este título respeita à temporada 2019/2020: a final a quatro devia ter decorrido em Março, mas foi adiada por cinco meses devido às interdições sanitárias decorrentes da pandemia.
Foi uma final emocionante, no pavilhão multiusos de Odivelas, com o Sporting a virar o resultado na segunda parte. Ao intervalo a turma portista vencia 44-42, mas ao soar o apito final os números eram bem diferentes: 87-78 a nosso favor. Num jogo sempre muito disputado em que revelámos garra leonina. Tal como já sucedera na meia-final frente ao V. Guimarães - partida que vencemos por 85-71. Notável desempenho, no conjunto desta campanha, de jogadores como Diogo Ventura, James Ellisor, John Fields, Travante Williams, João Fernandes, Pedro Catarino e Francisco Amiel.
Confirma-se assim a boa decisão de Frederico Varandas, anunciada na campanha eleitoral de 2018 para a presidência, de reintroduzir no clube o basquetebol sénior masculino, inexistente desde 1995. E também o acerto na contratação de Luís Magalhães, o melhor técnico português de básquete, há dois anos ao serviço do Sporting. Trazer para Alvalade um treinador com 17 títulos nacionais no currículo foi aposta coroada de sucesso.
«É importante trabalhar todos os dias com afinco para atingir o que queremos. Como costumo dizer, eu sonho de noite e trabalho de dia.» Frase embemática de Magalhães, dita no momento da chegada.
O sonho começa a ser cumprido. Para alegria de todos nós.
Os profetas da desgraça, que nunca escasseiam por Alvalade, já tinham avisado: tudo iria começar da pior maneira. E começou mesmo, com uma derrota em casa frente ao Lask Linz, actual terceiro classificado do campeonato austríaco. Derrota amarga, frustrante, inaceitável, que nos colocou fora da Liga Europa ainda na fase das pré-eliminatórias.
Aconteceu a 1 de Outubro, com o nosso estádio despido de público: quase sete meses antes fora emitida pelas autoridades sanitárias a ordem geral de evacuação de recintos desportivos. Que ainda hoje vigora, em contramão com o que sucede na quase generalidade de todos os outros espectáculos, configurando uma inaceitável discriminação do futebol.
Conhecíamos bem a equipa adversária, que havíamos vencido um ano também antes em casa, na fase de grupos da Liga Europa, por tangencial 2-1 (golos de Luiz Phellype e Bruno Fernandes). Num jogo pautado pela mediocridade da nossa exibição, muito inferior ao resultado, e pelos contínuos assobios dos adeptos aos jogadores - o que viria a ser uma das mais lamentáveis características do público presente nas partidas em Alvalade.
Naquele frustrante Outubro de 2020 não houve assobios. Mas eles teriam sido merecidos, no final do jogo: perdemos por 1-4 numa partida em que apenas Tiago Tomás - marcador do golo solitário, após assistência de Nuno Santos - mereceu nota positiva. Com naufrágio colectivo na segunda parte, quando ao intervalo se registava 1-1.
«Adán orientou uma barreira como se estivesse num interturmas. Neto viu o clássico cartão amarelo que o condiciona para o resto do jogo. Sporar, apesar de ter entrado tarde, ainda conseguiu falhar dois golos fáceis», reclamou o José Cruz num texto deste blogue intitulado Imaturidade total.
«A equipa tentava sair a jogar, perdia a bola e levava com os contra-ataques do adversário. O individualismo veio ao de cima, e Wendel fazia piscinas até perder a bola num choque qualquer e deixar a equipa descompensada atrás. O segundo golo do Lask surgiu assim, o desarme de risco de Coates que levou ao terceiro também, o quarto a mesma coisa, e o quinto e o sexto não apareceram porque não calhou», desabafou o Luís Lisboa, sob o título Uma derrota humilhante.
Naquela quinta-feira de má memória falhávamos o acesso à Liga Europa. Os profetas da desgraça exultaram, as nossas caixas de comentários encheram-se de anónimos a rasgar as vestes, Rúben Amorim foi insultado de "lampião" para baixo, choveram pedidos de destituição imediata dos órgãos sociais leoninos.
E a equipa? Passou a concentrar-se em exclusivo nas competições internas. Acabou por ser um daqueles males que vêm por bem: no final do ano comandávamos isolados o campeonato nacional de futebol, algo que não acontecia desde a época 2001/2002.
Há jogadores assim. Costumo chamar-lhes os jogadores do quase. Porque quase conseguem ser influentes, quase conseguem ser decisivos, quase conseguem protagonizar grandes exibições, quase conseguem empolgar a massa adepta.
Luciano Vietto é um desses jogadores. Chegou contratado por bom preço (7,5 milhões de euros ao Atlético de Madrid), bom currículo e até uma fugaz passagem pela selecção argentina. Na época passada teve papel determinante em jogos contra o V. Guimarães, o Belenenses SAD e o Basaksehir (Liga Europa), por exemplo. Após o primeiro daqueles encontros, em que o médio criativo fez a assistência para dois golos, cheguei a questionar aqui se estaria encontrado o eventual substituto de Bruno Fernandes no onze titular leonino.
Pura ilusão: Vietto prometeu muito e ofereceu pouco. Em momentos decisivos dos jogos, apagava-se: parecia não estar ali. Como ao minuto 26 do Sporting-Lask Linz (1 de Outubro), quando falhou excelente ocasião para marcar, num frente-a-frente com o guardião austríaco.
Dava a sensação de se pôr demasiadas vezes fora de posição. Fugia do choque. Lesionava-se com frequência. Pior que tudo: denotava fragilidades de ordem física e uma certa intranquilidade emocional que por vezes pareciam perturbá-lo perto da linha de golo. Mesmo assim, em 2019/2020 marcou oito. O melhor dessa triste época foi dele, em nossa casa, aos de Belém. Já esta temporada, marcou ao FC Porto, em partida que terminou empatada (2-2) mas que merecíamos ter vencido.
Soube-nos sempre a pouco. Rúben Amorim deve ter sentido o mesmo quando chegou ao Sporting. Daí ter dado luz verde à transferência do argentino, por 7 milhões de euros (divididos a meias entre o nosso clube e os madrilenos), em 24 de Outubro, para o Al-Hilal. Onde o seu desempenho, sem surpresa, está a ser decepcionante.
Ficará para sempre a sensação de que podia ter sido craque entre nós. Mas não foi. Limitou-se a ser um jogador quase. Mais um, entre tantos que passaram por Alvalade.
Foi a mais elevada transferência de sempre de um jogador do Sporting. Aconteceu vai fazer um ano, a 29 de Janeiro: Bruno Fernandes, o melhor elemento do plantel leonino, abandonava Alvalade no mercado de Inverno rumo a Inglaterra, onde estava destinado a brilhar ao serviço do Manchester United. Para desgosto de muitos de nós, trocava a camisola verde e branca por um equipamento vermelho.
Saía tarde de mais, na opinião de alguns - aqueles que o foram insultando, vezes sem conta, nas redes sociais desde que Sousa Cintra o trouxe de volta, ainda mal refeito do susto que uns letais encapuzados lhe provocaram na Academia de Alcochete. Saía cedo de mais, na opinião de outros, que anteviam o final da temporada 2019/2020 como o melhor momento para a transferência pois essa época deveria culminar com o Campeonato da Europa. Que afinal não se realizou, como sabemos.
A saída ocorreu portanto no melhor momento. Para os depauperados cofres leoninos, que viam assim entrar 55 milhões de euros acrescidos de outros 15 milhões em objectivos - parte dos quais já concretizados. Um mês depois declarava-se a pandemia em território europeu, o futebol parava, os recintos desportivos ficavam interditos ao público. No meio do azar, neste aspecto, a sorte sorriu-nos.
O United beneficiou - e de que maneira - deste reforço. Transferido aos 25 anos, Bruno não tardou a brilhar em Old Trafford assim que as competições foram retomadas. Tornou-se titular indiscutível, ascendeu a capitão da equipa, e em Dezembro foi eleito pela terceira vez no ano melhor jogador da Premier League, algo que não sucedia a nenhum outro desde 2017. Nesta temporada leva 16 jogos cumpridos, com onze golos e sete assistências. Já facturou tanto como Son, do Tottenham.
A esta distância, continuamos a desejar-lhe o melhor. E até aqueles que antes o insultavam fingem agora ser seus admiradores, queixando-se de que voou de Lisboa a Manchester por preço demasiado baixo. A verdade é que o seu valor actual de mercado já ronda os 90 milhões, com tendência para continuar a subir.
Só é pena que Rúben Amorim não tenha contado com ele. Quando um chegou, o outro acabara de sair. Algum dia se encontrarão no mesmo clube?
Em boa hora ele se fixou em Alvalade, o que até esteve para não acontecer: ia a preparação da nova época muito adiantada e nós, adeptos, víamos com indignação o melhor médio defensivo que actua no futebol português a treinar à parte, longe dos companheiros. Dizia-se que a SAD queria ganhar uns cobres com ele, despachando-o para a Rússia ou transferindo-o para Inglaterra.
Caso um destes cenários se confirmasse, seria um acto de péssima gestão e de lesa-Sporting. Porque João Maria Lobo Alves Palhinha Gonçalves é fundamental nesta equipa leonina da época 2020/2021. E estaria certamente nos planos do treinador Rúben Amorim, que já trabalhara com ele no Braga entre Dezembro e Março - com proveito para ambos e sucesso para a equipa minhota, vencedora de uma Taça da Liga.
Nesse contexto, à medida que se avolumavam os rumores sobre a sua iminente saída, escrevi aqui a 28 de Julho: «Palhinha - que fez duas épocas de alto nível no Braga, como emprestado - preenche uma das mais gritantes lacunas do actual onze titular: a de médio defensivo posicional. Despachá-lo já constitui um duplo risco: prescindimos de mais um profissional formado na Academia de Alcochete e continuamos a precisar com urgência de alguém para aquela posição, que pode vir a ser preenchida por outro perna-de-pau importado (lembremos os maus precedentes de Idrissa e Eduardo).»
E voltei ao tema a 2 de Setembro, perplexo perante a opção que continuava a desenhar-se, com ecos diários na comunicação social: «Para quê dispensar um jogador que mantém ligação contratual com o Sporting até 2023 se logo a seguir, para compensar esta saída, teremos de ir a correr arranjar alguém para o mesmo lugar? Tudo isto até pode ter lógica, mas eu não a descortino. Agradeço desde já a quem souber esclarecer-me.»
Felizmente as críticas foram ouvidas. Felizmente Amorim fez prevalecer a sua posição, reivindicando para o onze titular este médio de 25 anos formado em Alcochete e que andou demasido tempo a exibir talento longe do Sporting, de empréstimo em empréstimo, ao serviço do Moreirense, do Belenenses e da turma bracarense. Como era fácil prever, ele agarrou a posição e já não a largou. Tem sido peça fundamental na dinâmica leonina, preenchendo um lugar que permanecia sem titular à altura desde a saída de William Carvalho.
Se o Sporting segue em primeiro no campeonato, com 29 pontos conquistados em 11 jornadas, muito a ele se deve. Porque Palhinha assegura consistência defensiva, acrescenta robustez física ao meio-campo e protagoniza o transporte ofensivo com critério e classe. É o rei das recuperações, é o campeão dos desarmes. Um elemento nuclear.
Em boa hora o filho pródigo regressou à casa que o formou. Em boa hora a SAD reconsiderou na decisão de o dispensar. Agora espero que já não tarde o ansiado regresso do público aos estádios. Para podermos enfim ovacionar João Palhinha ao vivo, como ele tanto merece. Já vai sendo tempo de escutar os nossos aplausos.
Tem apenas 18 anos mas joga como gente grande. E é hoje o segundo melhor artilheiro da nossa equipa principal. Já marcou em desafios de três competições diferentes: Liga Europa (Aberdeen e Lask Linz), campeonato nacional (Gil Vicente e B SAD) e Taça de Portugal (Paços de Ferreira). Cumprindo sempre a principal missão que lhe é confiada pelo técnico: visar sem temor a baliza adversária.
É algo que Tiago Barreiros de Melo Tomás - nascido em Cascais sob o signo Gémeos em Junho de 2002 - assegura sem angústias existenciais. Vendo as redes mais como aliadas do que adversárias. Já era assim nos escalões juniores, quando começou a distinguir-se entre os talentos forjados na Academia de Alcochete. Marcou sete golos pelos sub-15, 28 pelos sub-17 e 13 pelos sub-19. Agitou a chamada Liga Revelação, no melhor dos sentidos. Havia forçosamente de dar nas vistas.
Também teve sorte ao encontrar Rúben Amorim, treinador sem medo de trabalhar com jogadores jovens e dar-lhes a projecção que merecem. Daí à estreia de Tiago Tomás na equipa principal foi um curto passo: aconteceu em dia de aniversário do Sporting, a 1 de Julho. Uma data de bom augúrio.
Entrou com o pé direito, na vitória leonina contra o Gil Vicente, num estádio José Alvalade então já sem público devido à pandemia. A estreia a marcar ocorreu também em casa, na qualificação para a Liga Europa, a 24 de Setembro. E foi de tal maneira bem-sucedida que lhe valeu menção quase unânime na imprensa desportiva, como melhor em campo. Poucos podem gabar-se do mesmo.
Se há valor seguro, entre os jovens que despontaram para o primeiro plano do futebol profissional neste ano em que as autoridades sanitárias mantiveram os espectadores à distância, é precisamente o jovem Tiago. Promessa já tornada realidade. Irá muito longe? Tudo depende dele, mas não custa vaticinar que sim.
Não têm faltado, felizmente, bons treinadores ao Sporting nas mais diversas modalidades. Basta mencionar Luís Magalhães, com excelente folha de serviço no basquetebol, ou Nuno Dias, que segue imparável à frente do futsal, já para não mencionar Paulo Freitas, intocável no comando do nosso hóquei em patins.
Mas este ano o destaque tem mesmo de ser para o técnico que lidera o futebol leonino. Rúben Amorim, que se estreou no Sporting no início de Março, substituindo o decepcionante Silas, confirma que os valores individuais contam - e de que maneira - neste desporto colectivo. Um homem pode fazer a diferença.
No caso dele, fez. Como logo se viu naquele desafio inicial, o último em que estivemos no nosso estádio enquanto espectadores antes de sermos remetidos a "prisão domiciliária" devido ao novo coronavírus. Mesmo com início titubeante, e com o primeiro golo marcado já quando ia decorrida mais de uma hora de jogo, o Sporting venceu o Aves - que 22 meses antes nos derrotara na final de uma tristíssima Taça de Portugal. A equipa fez tudo para sacudir o marasmo. A vitória foi difícil mas foi nossa.
Esse era ainda um tempo em que o Sporting estava inundado de pinos chegados sem critério a Alvalade: Bruno Gaspar, Ilori, Rosier, Borja, Lumor, Eduardo Henrique, Doumbia, Mattheus Oliveira, Diaby...
Com Amorim, a política de contratações mudou muito. E para melhor. Vieram Pedro Gonçalves, Pedro Porro, Nuno Santos, Bruno Tabata, Antonio Adán, Feddal - todos titulares ou em vias disso. Mais importante ainda: passou a haver um aproveitamento real dos talentos da nossa formação. Com a ascensão à equipa principal de Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio, Nuno Mendes, Daniel Bragança e Tiago Tomás. Além do regresso de Palhinha, que se comprovou ser decisivo.
Amorim foi contratado ao Braga, e por preço exorbitante, o que causou natural polémica. Mas acabou por ser uma aposta decisiva da SAD leonina, apesar do quarto lugar alcançado nesse campeonato, com plantel desequilibrado e deficiente do qual só Coates e Neto sobreviveriam como titulares. O jovem técnico de 35 anos promoveu uma profunda alteração ao nível dos métodos de trabalho, do sistema táctico, dos índices de motivação e do próprio discurso, com resultados hoje à vista, dez meses depois: com ele no comando, só perdemos dois dos 21 jogos disputados e ascendemos à sétima jornada à liderança do campeonato, que mantemos na ronda 11. Dobrámos o Natal em primeiro, o que não sucedia desde a época 2001/2002, última em que fomos campeões.
Rúben Amorim devolveu aos sportinguistas a capacidade de sonhar com a conquista de títulos verdadeiros, não com vitórias morais. E começa a pagar um preço bem elevado por isso: ele, que nunca antes vira o cartão vermelho em toda a carreira, enquanto jogador e treinador, já foi expulso duas vezes como técnico do Sporting. Experimenta na pele como o campo se inclina, no futebol, contra quem traz o Leão ao peito.
Mas, mesmo com um sorriso nos lábios, ele é um osso muito duro de roer. O que produz um efeito contagioso: agora para onde vai um, vão todos. E nós com eles.
Quando Bruno Fernandes saiu rumo ao Manchester United, em Janeiro de 2020, instalou-se um vazio no plantel verde-e-branco. E compreende-se porquê: era não apenas o melhor jogador do Sporting, mas o melhor do futebol português. Não faltou quem dissesse, com aparente razão, que essa lacuna seria muito difícil de preencher.
Felizmente a realidade encarregou-se de contrariar os piores vaticínios, sempre férteis no universo leonino. Devido à contratação de Pedro Gonçalves, médio-centro natural de Chaves que se destacara em 2019/2020 ao serviço do Famalicão - equipa que nos derrotou duasvezes nessa temporada. Não por acaso, o jovem transmontano foi considerado o melhor jogador sub-21 desse campeonato.
Pedro Gonçalves - a quem o jornal Record insiste em chamar sempre "Pote", tratando-o por uma alcunha de infância, como se o jogador não merecesse nome próprio - não tardou a distinguir-se de Leão ao peito. Fundamental no nosso jogo ofensivo, actuando entre linhas com grande mobilidade e uma destreza técnica muito acima da média, o jovem flaviense cedo se tornou ídolo da massa adepta.
Os números confirmam: marcou dez golos em dez jogos do campeonato, além de fazer uma assistência, liderando a lista de artilheiros da Liga 2020/2021. Ninguém como ele tem sido tão decisivo para que o Sporting comande há cinco jornadas consecutivas, desde a ronda n.º 7, a prova máxima do futebol português.
Com apenas 22 anos, Pedro já foi chamado à selecção sub-21, tendo apontado dois golos frente a Gibraltar. É notória, aliás, a sua capacidade de bisar quando tem as redes por alvo: marcou dois golos também nas partidas do campeonato contra Moreirense, V. Guimarães, Tondela e Santa Clara. Na memória de todos está o magnífico golo com a sua assinatura, já em Dezembro, no desafio contra o Famalicão, fuzilando a baliza minhota num remate colocadíssimo após tirar três adversários do caminho. Numa partida em que foi injustamente expulso pelo árbitro Luís Godinho.
É fácil vaticinar um percurso brilhante a este médio criativo com faro de golo e que não pede licença para rematar à baliza. Não fará esquecer Bruno Fernandes. Mas é, desde já, um seu digno sucessor neste Sporting que volta a sonhar com o título de campeão.
Já é tradição: elejo sempre aqui o melhor golo de cada ano que vai passando.
Por exemplo, o de 2019 foi este de Bruno Fernandes, marcado em Abril, na segunda mão da meia-final da Taça de Portugal, contra o Benfica. E o de 2018 foi este de Jovane, marcado em Dezembro, num confronto com o Rio Ave no estádio dos Arcos.
Desta vez, com vista a uma pré-selecção, venho perguntar-vos que golo (ou golos) do Sporting elegem como melhor do ano que está prestes a terminar. Todas as respostas não anónimas serão bem-vindas.
Bem sei que os comentadores do costume, nas jornais e nas TV, estão a todo o gás a inculcar a mensagem de que o Sporting está no caminho certo e que temos de aceitar a direcção que temos, porque somos um clubezinho que já não se compara ao SLB e FCP.
Bem sei da grande influência que esta gente tem sobre os adeptos/ sócios do Sporting e de outros clubes.
Bem sei que, de tão fraquinhos que somos, é suposto aplaudir o facto de não termos perdido com o Porto em casa, no passado Sábado (foi o VAR... apesar dos dois golos infantis sofridos).
( e bem sei que isto é como lutar contra moinhos de vento...)
Ainda assim, e porque me preocupa que se instale no Clube uma espécie de conformismo derrotista, em que vamos alegremente deslizando de ano para ano rumo ao meio da tabela, gostaria de vincar aqui alguns pontos:
1. A última época foi das piores, desportivamente, da história do Clube; os resultados são directamente imputáveis a uma direcção que vendeu todos os bons jogadores do plantel e não foi capaz de fazer uma única contratação à altura (e que agora tem de pagar X milhões por ano a jogadores que ninguém quer);
2. A julgar pelas decisões da direcção, os únicos responsáveis pela desastrosa época 2019-2020 foram os treinadores e Beto - aliás, Viana parece ter saído reforçado;
3. Ao longo de toda a época, elementos da direcção não pararam de contribuir para a instabilidade no Clube, classificando quem os critica de "anormais", "escumalha" e afins.
4. Esta época começou com uma eliminação da Liga Europa pelo 5º classificado do campeonato austríaco, ainda por cima com uma goleada em casa; esta época estamos ao nível do Rio Ave e do Famalicão, já nem do Braga;
5. Apesar de a época de 2019 ter terminado em Fevereiro do ano passado, dando 6 meses de preparação da nova época, o plantel do Sporting revela lacunas enormes, sobretudo na defesa (6 golos sofridos em 2 jogos em casa) e no ataque, não tendo opções para jogo dentro da área adversária (apenas Luiz Phellype); daquilo que vi até agora, o Sporting não tem jogadores para o sistema que o treinador quer implementar.
6. Ao longo de 3 anos, esta direcção fez zero (repito: ZERO) para contrariar o domínio das instituições de arbitragem pelos dois principais clubes; estava mais concentrada em atacar as claques do Clube e os sócios que criticavam a direcção; agora, indigna-se com decisões do VAR.
7. Com esta direcção o desrespeito pelo Clube atingiu limites inimagináveis, devido aos resultados desportivos e às peripécias de não pagamento de contratações ao Braga, ou de supostas tentativas de contratar metade do plantel do Braga - que este clube explora mediaticamente a seu favor, apresentando o Sporting como uma estrutura de tontos.
A maioria das críticas foram no sentido de "isto não é de agora, há muito tempo que é tudo uma porcaria". As últimas décadas não são famosas, é um facto, mas não foi assim há tanto tempo que disputamos taco-a-taco o último campeonato e demos 3-0 na Luz... ou ganhamos a SuperTaça ao SLB. No desporto, às vezes ganha-se e outras perde-se. Mas perder tantas vezes seguidas como nos últimos anos (várias de goleada...) não é aceitável para um sportinguista que se preze.
Um dos últimos comentários ao meu post, deixou-me pasmo, mas diz tudo: é preciso "enaltecer o trabalho que se está a tentar fazer". Sim, temos de de nos dar por contentes por não termos perdido com o Porto em casa e "enaltecer" a direcção. Isto de um adepto do Sporting, não do Marítimo ou do Farense.
O problema está aqui: muita gente no Sporting, começa a pensar como adepto de Clube de meio da tabela. E os verdadeiros sportinguistas não podem aceitar esse miserabilismo. Não podem aceitar ver o clube definhar de ano para ano, em apenas 4 anos ir de golear na Luz a festejar não perder em casa com o Porto.
Bem sei que estas opiniões são minoritárias, mas diz bem do que é a lavagem cerebral a que os sportinguistas estão hoje sujeitos, numa das fases mais negras da existência do Clube - que já nem europeu é - e em que nos prometem "alegrias". Todos os dias, promessas de alegrias. Mas só se "enaltecermos" a direcção. Se não, somos "anormais".
É meu dever de consciência, enquanto sportinguista, não deixar que este pensamento medíocre tome conta do Clube, tornando irremediável a pronunciada trajectória descendente em que nos encontramos. E a primeira coisa a fazer é remover quem, por total e manifesta incompetência, colocou o Clube nessa espiral para fora da Europa e dos topos das tabelas.
Antes do arranque do campeonato nacional de futebol 2020/2021, relembro os prognósticos sobre a prestação do Sporting em cada jornada da Liga anterior feitos no És a Nossa Fé.
É um passatempo que aqui recomeçará, pelo sétimo ano consecutivo, mal soe o apito de saída da próxima Liga.
A vitória, desta vez, coube a uma senhora - o que acontece, isoladamente, pela primeira vez. A feliz contemplada é a nossa prezada colega de blogue CRISTINA TORRÃO, que revelou persistência ao longo da época, sem desfalecimentos e uma intuição digna de louvor. Com pontaria certeira no desfecho de quatro jogos: Sporting-Braga; Sporting-Belenenses SAD, Sporting-Portimonense e Sporting-Aves.
Na segunda posição ficou um quarteto de apostadores. Formado por dois homens cá da casa, o ANTÓNIO DE ALMEIDA e o EDMUNDO GONÇALVES, e os leitores LEÃO DO FUNDÃO e VERDE PROTECTOR, já veteranos nestas lides. O Edmundo foi co-vencedor em 2013/2014 e o caro Leão do Fundão, meu patrício, ganhou isolado na temporada seguinte.
Foi pena que ninguém tenha acertado em 12 dos 34 jogos. Incluindo em três partidas que o Sporting venceu, o que não deixa de ser estranho.
Esperemos que a pontaria se revele ainda mais afinada na Liga 2020/2021. Não apenas a nossa, mas sobretudo a dos nossos jogadores.
Aproveito para recordar que na Liga 2013/2014 houve por cá sete vencedores: Bruno Cardoso, Edmundo Gonçalves, João Paulo Palha, João Torres, José da Xã, Lina Martins e Octávio.
No campeonato 2014/2015, apenas um: Leão do Fundão.
Em jeito de balanço, aqui fica a lista dos jogadores que receberam a menção de melhores em campo no último campeonato, em resultado da soma das classificações atribuídas pelos diários desportivos após cada jornada.
De salientar que Bruno Fernandes liderou as três classificações, pelo terceiro ano consecutivo, mesmo só tendo cumprido de verde-e-branco pouco mais de metade da Liga 2019/2020.
Jovane e Vietto compartilharam desta vez o pódio com o actual jogador do Manchester United, apesar de nenhum deles ter sido também titular absoluto ao longo do campeonato. Na época anterior o segundo e o terceiro posto haviam sido ocupados por Raphinha e Nani.
Quanto aos jogadores que já integravam o plantel do Sporting na temporada 2018/2019, verifica-se o seguinte: Jovane desta vez subiu muito (de 4 para 15 pontos), Wendel subiu ligeiramente (de 1 para 4) e Mathieu registou uma ligeira progressão (de 4 para 6).
Acuña e Luiz Phellype mantiveram a pontuação.
Coates, que ficara excluído há um ano, desta vez recebeu dois pontos.
Em relação aos reforços, e para além de Vietto, merece destaque a boa posição de Plata, sem esquecer que também Bolasie aqui figura, apesar da sua fugaz passagem por Alvalade, onde foi sempre mal-amado. Sporar, que só começou a jogar em Fevereiro, ultrapassa Luiz Phellype à tangente. Rafael Camacho (3 pontos) e Neto (2) não são esquecidos.
No confronto de guarda-redes, Max supera Renan por escassa margem.
Dos jovens da formação leonina lançados por Rúben Amorim na recta final do campeonato, o maior destaque vai para Nuno Mendes, que chegou a ser considerado melhor em campo pelos três diários desportivos. Com entrada directa nos dez mais.
Finalmente, pequenas curiosidades. A Bola entendeu mencionar Joelson, apesar de o extremo ainda júnior ter actuado menos de 45 minutos nesta Liga. Borja e Francisco Geraldes apenas surgem destacados no Record. E O Jogo tem aquela que é talvez a escolha mais polémica da temporada: conseguiu eleger Eduardo Henrique como melhor sportinguista em campo numa partida. Difícil entender porquê.
Bruno Fernandes: 19
Jovane: 15
Vietto: 12
Plata: 8
Acuña: 6
Mathieu: 6
Bolasie: 4
Max: 4
Wendel: 4
Nuno Mendes: 3
Sporar: 3
Rafael Camacho: 3
Renan: 3
Raphinha: 2
Luiz Phellype: 2
Coates: 2
Neto: 2
Joelson: 1
Francisco Geraldes: 1
Eduardo Henrique: 1
A Bola: Bruno Fernandes (7), Jovane (5), Vietto (4), Plata (3), Mathieu (2), Acuña (2), Bolasie, Coates, Renan, Luiz Phellype, Rafael Camacho, Max, Neto, Wendel, Sporar, Joelson, Nuno Mendes.
Record: Bruno Fernandes (7), Jovane (5), Vietto (3), Bolasie (2), Plata (2), Acuña (2), Wendel (2), Renan, Raphinha, Mathieu, Rafael Camacho, Borja, Max, Neto, Sporar, Coates, Francisco Geraldes, Nuno Mendes.
O Jogo: Bruno Fernandes (5), Jovane (5), Vietto (5), Plata (3), Mathieu (3), Max (2), Acuña (2), Renan, Raphinha, Bolasie, Eduardo Henrique, Luiz Phellype, Rafael Camacho, Wendel, Nuno Mendes, Sporar.
Antes do arranque do campeonato nacional de futebol 2018/2019, relembro os meus apontamentos da época passada. Para recordar os jogadores que se evidenciaram mais em cada desafio.
Antes do arranque do campeonato nacional de futebol 2019/2020, relembro os meus apontamentos da época passada. Para recordar os jogadores que se evidenciaram mais em cada desafio.
11 de Agosto (Marítimo, 1 - Sporting, 1): BRUNO FERNANDES
Jovane já tinha sido crucial na jornada anterior, com uma assistência para golo e ao sofrer uma falta que fez expulsar um adversário. Desta vez não teve rival em campo: foi mesmo ele o melhor, fazendo a diferença. Marcou um golão, de livre directo, aos 65': a bola embateu na barra, cheia de colocação e força, entrando de seguida.
O brasileiro entrou aos 64' e seis minutos depois marcava o golo decisivo, que nos valeu três pontos. Um golo de belo efeito, à ponta-de-lança, com forte cabeceamento (a fazer recordar Mário Jardel). Foi o melhor momento deste jogo, que praticamente só nos deu este motivo de alegria.
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