Como é sinistro o futebol em Portugal
O futebol em tempos foi um desporto, há muito tempo que é um espectáculo, agora, dominado pelas SAD não é mais do que uma operação financeira, se não for contabilística, if you know what I mean.
A boa notícia é que aquele aborto do BSAD, que usurpara a legítima posição do autêntico e histórico "Os Belenenses", perdeu o playoff e foi baldado da Liga 2, isto é, do futebol profissional. Más notícias são duas: a primeira é que quem o venceu foi uma "coisa" chamada Länk Vilaverdense. Ou seja, um fundo de direitos desportivos canadiano apoderou-se do clube local de Vila Verde e do lugar que ocupava na tabela competitiva, trocou-lhe o emblema pelo seu logotipo e acrescentou ao nome original o seu. A segunda má notícia é que o tal BSAD, isto é, os obscuros financiadores dessa coisa, vai deitar a unha ao Cova da Piedade. Mais um clube histórico que se descaracteriza.
O mesmo, aliás, se passa com este doppelgänger do antigo e popular Estrela da Amadora, falido em 2011. Os tais fundos compraram o emblema e as cores originais, ou sacaram-nos do domínio público, deram-lhe o nome Clube Desportivo Estrela e como acharam uma inconveniência voltar a percorrer os escalões, fizeram o takeover ao Cintra, e de repente estavam 3 divisões acima do chão. Voltaram a mudar o nome para Clube Football Estrela da Amadora e tendo derrotado nos playoffs o pobre do Marítimo sobem à 1.ª liga. Não há aqui regresso nenhum, este Estrela só tem as vestes do anterior e legítimo clube, porque de clube, tal como deve ser entendido, não tem nada. É uma mera operação financeira.
Entretanto o desaparecido Aves diz que ressuscitou. É também toda uma história. O antigo União Desportiva Vilafranquense foi, também ele, objecto de interesse de um fundo e de vela enfunada chegou à Liga 2. Tão grande é a sua popularidade e forte a relação com a cidade de Vila Franca de Xira, que fez das instalações municipais de Rio Maior o seu terreno de jogo, porque "Infelizmente, não deu para ficar lá." Por outras palavras a Câmara de VFX, que não é tola, escusou-se em abriu os cordões à bolsa na construção de um novo estádio. Solução? A óbvia: fazer uma fusão com o Aves, com o qual as afinidades devem ser muitas pois só distam 400km... Com um topete extraordinário, o presidente desta caranguejola, ou o testa de ferro, sabe-se lá, vem afirmar que fica tudo na mesma... ou quase: "Vamos mudar de nome, que passará a ser Aves Futebol Clube SAD, e de símbolo, mas as cores vermelha e branca do nosso equipamento mantêm-se."
Estes supostos clubes, esvaziados do sentido que lhes dava a ligação às comunidades donde emergiam, nada têm de desportivo e patenteiam um nulo interesse pelo futebol e pelos adeptos. Os quais, aliás, tudo indica que sejam vistos como um estorvo. Estas SADs são puras operações financeiras no negócio dos direitos "desportivos". Há quem diga que há mais coisas por detrás disto, mas isso fia mais fino. Surpreende, contudo, a falta de curiosidade das polícias perante tanta e tão pública desfaçatez.
A impunidade com que estas traficâncias são feitas revela que são do agrado dos dirigentes do futebol em Portugal e que a dita informação desportiva ou alinha no circo porque os palhaços sempre fazem falta, ou, coitada, é mesmo ceguinha.
Depois admiram-se que os estádios estejam às moscas. Também é verdade que isso não lhes interessa nada ao negócio.