Portugal goleia Bósnia: oito vitórias seguidas, proeza inédita. CR7 ultrapassa Haaland nos artilheiros do ano
A selecção nacional - já qualificada para o Euro-2024 que vai disputar-se na Alemanha - deu ontem mais uma lição de bom futebol. Desta vez na Bósnia-Herzegovina: fomos lá vencer por cinco golos sem resposta. Triunfo arrasador, demonstrando como está a equipa das quinas: absolutamente imparável. Oito vitórias seguidas, proeza inédita.
E Cristiano Ronaldo? Mais um par de golos para a colecção. Foram dele os dois primeiros - de penálti, aos 5', e em lance corrido, aos 20'. Soma e segue, com o brilhantismo de sempre, ridicularizando aqueles imbecis que lhe chamam velho. Regista agora 127 golos em 203 internacionalizações, marca nunca antes alcançada no desporto-rei. Já marcou nove nos sete desafios em que participou na campanha de apuramento para o Europeu. Média de sonho para qualquer jogador, sobretudo para um avançado com 38 anos.
Melhor ainda: CR7 acaba de ultrapassar Haaland como goleador europeu de 2023. Com 40 golos apontados este ano, até agora. Extraordinário.
Destaque também para as exibições de Bruno Fernandes (grande golo, o terceiro, aos 25'), João Cancelo (marcou o quarto, com assistência de Bruno, aos 32') e João Félix (autor do quinto, aos 41'). Presença obrigatória neste quadro de honra: o nosso Gonçalo Inácio, titular como central à esquerda. É ele quem inicia a jogada do segundo e assiste no terceiro, com um espectacular passe de 40 metros. Não custa vaticinar - como já aqui escrevi - que muito em breve terá lugar cativo naquela posição.
Números esmagadores, confirmando a competência do seleccionador Roberto Martínez.
Todos de parabéns, portanto. Noite de júbilo para quase todos os portugueses. Também noite de pesadelo para os poucos que se proclamam divorciados da selecção. Fazem birra, batem o pé e mudam de canal quando a equipa das quinas joga.
Foi a figura do jogo, com grande exibições também de Diogo Costa (de longe o melhor guarda-redes português actual, salvou dois golos com monumentais defesas, aos 22' e aos 89'), Danilo na defesa, Palhinha no meio-campo e Bernardo na ponta direita (o primeiro golo é dele, aos 44', com assistência de Bruno, o melhor em campo em noite de sonho).
Mas hoje apetece-me realçar Cristiano Ronaldo, que jogou a partida inteira, foi elemento fulcral na manobra ofensiva da equipa e até recuperou bolas, com notável trabalho táctico. Participa em dois dos golos, iniciando o lance do primeiro e arrastando defesas para Bruno cabecear à vontade no segundo. Oferece dois de bandeja: aos 37', a João Félix (defesa apertada do guarda-redes bósnio para canto); aos 88, a Diogo Jota (desperdiçando excelente oportunidade só com o guardião pela frente). E ainda viu um grande golo dele, a centro de Cancelo, anulado por fora-de-jogo milimétrico (23').
Aos 38 anos, diziam que estava "acabado" - andam a zurrar isto pelo menos desde 2015. Ele insiste em demonstrar que essas vozes agoirentas voltam a estar erradas. Fechou a temporada com mais 17 golos no seu currículo - número escasso para o que nos habituámos nele, mas no Sporting, em toda a temporada, só Pedro Gonçalves conseguiu fazer melhor.
Uma palavra final para o seleccionador Roberto Martínez. Concluiu uma série de três partidas à frente da selecção com folha limpa: três jogos, três vitórias, 13 golos marcados, nenhum sofrido. Prossegue em bom ritmo o nosso apuramento para o Europeu de 2024. E até já fala um excelente português, desmentindo aquela ideia absurda de que os espanhóis «não conseguem» exprimir-se noutras línguas.
Fica a lição também para os jogadores de fala castelhana residentes há anos em Portugal e que continuam sem a menor vontade de proferir três ou quatro frases no nosso idioma. Ponham os olhos em Martínez.
Os limites óbvios da excelência individual num desporto colectivo ficaram esta noite bem patentes ao minuto 65 do Argentina-Bósnia-Hergezovina. Um jogo em que a teia colectiva - de ambos os lados - prevaleceu sobre o génio individual, excepto no lance que originou o golo da vitória tangencial dos argentinos, protagonizado pelo suspeito do costume: Lionel Messi. Conduzindo a bola para onde quis, em fracções quase milimétricas de terreno, por uma vez o astro do Barcelona conseguiu libertar-se da marcação cerrada e rematar com o seu magnífico pé esquerdo para o buraco da agulha.
Houve duas partidas numa só. Na primeira parte, em que abdicou dos laterais para formar um tridente defensivo como parece estar a tornar-se moda neste Mundial, o seleccionador argentino sofreu diversos calafrios ao reparar nos bósnios demasiadas vezes em zonas de perigo. Nunca me lembro de ter visto o nosso Marcos Rojo tão adiantado: jogou como médio ala, funcionando por vezes quase como um extremo.
O alarme soou cedo, mas as alterações tácticas só surgiram no segundo tempo, já com o quarteto defensivo recomposto, o que aliviou a pressão bósnia, e o ataque refrescado (uma selecção que se dá ao luxo de ter Higuaín 45 minutos no banco e nem pôs Enzo Pérez a fazer exercícios de aquecimento tem tudo para ser temível).
As mudanças operadas pelo seleccionador Alejandro Sabella produziram efeito: a Argentina, mais precatada e calculista, tomou as rédeas da partida e não voltou a largá-las, mesmo após ter sofrido o golo bósnio. Um golo caricato, que Romero revisitará a partir de agora nos seus piores pesadelos cada vez que recordar a bola a passar-lhe debaixo das pernas e a dirigir-se tranquilamente para a linha de golo sob o olhar impotente do infeliz guardião.
Rojo foi uma das figuras da partida, com as virtudes e defeitos que bem lhe conhecemos. Partiu dele o remate que originou o primeiro golo argentino, após tabela num defesa bósnio, Kolasinac, iam decorridos apenas três minutos. E foi também ele o único argentino contemplado com um cartão amarelo - castigo que o levou a ser menos impetuoso. É ainda muito jovem, tem tempo de sobra para adequar os nervos ao talento e tornar-se um futebolista de primeiríssimo plano. Jogue em que posição jogar.
Tendo como palco o espectacular Maracanã reconstruído para o Campeonato do Mundo, este desafio deixou igualmente bem evidentes os condicionalismos climáticos do torneio: mesmo realizado já ao cair da noite (a partir das 23 horas em Portugal), o jogo deixou de disputar-se com a intensidade física anterior quando faltavam ainda vinte minutos para chegar ao fim.
Demasiado calor, demasiada humidade, demasiada tensão. Questiono-me como ocorrerá o embate desta tarde, em Salvador, entre portugueses e alemães a partir das 13 horas locais...
Argentina, 2 - Bósnia-Herzegovina, 1
Messi na jogada do golo contra a Bósnia-Herzegovina
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