A camisola n.º 7 parecia amaldiçoada no Sporting desde a saída de Luís Figo. Provocando doenças graves, lesões irreparáveis, gritantes incapacidades para singrar na equipa e até preocupantes problemas do foro psicológico. Arriscaram vesti-la jogadores como Ricardo Sá Pinto, Iordanov, Leandro Machado, Delfim, Niculae, Izmailov, Bojinov, Jeffrén, Shikabala, Joel Campbell, Rúben Ribeiro, Rafael Camacho...
Mas a maldição parece ultrapassada desde que ficou entregue a Bruno Tabata, um dos melhores reforços leoninos na temporada em curso. Há tradições que bem merecem ser quebradas - esta é uma delas. Antes tarde que nunca.
Não foi preciso esperar muito. O primeiro teste da nossa equipa em campo desde o encerramento do atribulado mercado de transferências vai ocorrer amanhã, no difícil estádio do Bessa, provavelmente sem termos ponta-de-lança no onze titular. Luiz Phellype lesionou-se num treino, sofrendo uma lesão traumática no tornozelo esquerdo.
Azar? Claro. Mas os maiores azares acontecem quando a planificação do plantel é deficiente. E desta vez não foi por falta de advertência.
Nós que já temos uns anos disto, percebemos claramente que aquele belo segundo golo de ontem, uma bela acrobacia do Montero, jamais entraria caso fosse num jogo decisivo contra o Benfica, Porto ou noutro qualquer de importantes decisões europeias. Mais, imagino aquela bola a bater no poste, cruzar a linha toda da baliza sul de Alvalade aos 87' de um grande jogo, até aí empatado. Já aconteceu inúmeras vezes. Ontem, os astros alinharam-se e bem, pese a não-extrema-necessidade-de-tal. Viver este clube é também equacionar estas coisas que, invariavelmente, nos calham no destino.
Pois é Edmundo, foi azar outra vez. Este é que era o Real bom para apanhar. Foram estes mesmos cromos do Schalke a quem o Sporting deu um bailarico aqui em Lisboa e contra quem, lá na Alemanha, recuperou de 3-1 para 3-3 apenas com dez em campo. Não há muitas oportunidades como esta.
Perdidos dois objectivos (campeonato e Europa - a taça lucílio nunca foi objectivo verdadeiro), vem a rezinguice tradicional sobre o treinador, este e aquele jogador, o planeamento, o mercado de Inverno, a pré-época, etc., etc. Mas eu gostava de chamar a atenção para o azar. Na Champions, era natural que ficássemos num grupo relativamente difícil (uma vez que vínhamos do pote 3), mas mesmo assim houve o azar de o Jonathan abrir o braço na Alemanha, dando origem a um palmanço que acabou por nos impedir de continuar. Se tivéssemos continuado, provavelmente levávamos um cabaz do Real Madrid, mas a derrota (de tão esperada) não teria custos anímicos e não tínhamos jogado três dias antes do jogo no Porto. Foi azar. Acabámos como cabeça-de-série para a Liga Europa, mas, por grande azar, calhou-nos uma equipa melhor do que muitas que andam na Champions - certamente melhor do que o Porto e do que todas aquelas com que o Porto jogou até agora, e já vai nos quartos-de-final. Se tivéssemos chegado ao Porto sem o jogo do Wolfsburgo nas pernas, outro galo cantaria - até podíamos perder, mas não daquela maneira. Foi azar. Houvesse dinheiro para duplicar jogadores e o azar não se faria sentir tanto. Quando andamos a contar tostões, fez e muito.
Este filme já se repetiu demasiadas vezes para ser só azar: domínio completo do jogo do meio-campo para a frente, sem soluções de finalização; grande susceptibilidade ao contra-ataque adversário; erros infantis dos centrais, que resultam em golo adversário. Bem se pode, e bem se deve, gozar com o alívio ridículo dos dois centrais, mas se a bola tivesse entrado mais uma vez na outra baliza, como devia, o dito alívio de anedota não tinha tido tanta importância.
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