A família vivia à custa da prima pobre. Todos roubavam a prima pobre. É assim: a pobreza é muito rica, a pobreza é riqueza, as almas caridosas que o digam.»
In: LOPES, Adília - Estar em casa. 1ª ed. [Lisboa] : Assírio e Alvim, 2018. p 45
Tenho por método e forma de estar na vida, ser em tudo prudente. Não sou negociante, mas nos poucos negócios que faço peso várias vezes os prós e os contras até me decidir.
Com este tema da auditoria forense estava mais ou menos assim, esperar para ver e depois retirar as minhas conclusões, sem ser preciso que alguém me assobiasse, o que é também meu timbre.
Às vezes esta minha atitude prudente pode ser-me prejudicial, mas a minha consciência fica de bem com ela própria e comigo também. Foi assim com o anterior presidente, até não poder mais apoiá-lo.
Este intróito vem a propósito do post do meu colega de blog António de Almeida. Legítimo e até oportuno, dando a conhecer aos sportinguistas uma matéria que nos interessa a todos. O que me leva portanto a falar sobre um assunto sobre o qual tinha feito a mim próprio a promessa de apenas falar lá mais para a frente, quando a água ficasse límpida. Não é António de Almeida culpado de coisa nenhuma, claro está, ele apenas nos indica um caminho para a informação, legitimamente como já escrevi, mas sendo um assunto que diz apenas e só respeito aos sportinguistas e mais concretamente aos associados, por que carga de água está um relatório que é um documento interno de uma colectividade, alvo até de denúncia às autoridades de investigação criminal, escarrapachado num jornal diário para que todos os que queiram a ele tenham acesso?
Sendo que há até juristas com créditos, nos corpos sociais do clube, faz-me muita confusão que se forneça informação relevante para a vida do clube, fora dos circuitos normais de informação do Sporting. Que diabo, bastava um e-mail para os sócios (sim, nem todos têm, mas pelo menos a esses chegava) um dia antes, pelo menos cumpriam-se os mínimos exigíveis, mas não, optou o CD por divulgar um documento tão importante como este, parecendo-me que o presidente e demais membros do órgão não estiveram presentes no último jogo em Alvalade, onde pela primeira vez se viveu um clima de apaziguamento (não sei se real, se aparente, mas ele existiu).
Lá na minha terra diz-se que com atitudes destas se está a apagar fogos com gasolina. Só espero que não volte outro bombeiro...
Durante as três temporadas em que orientou o Sporting, Jorge Jesus tornou-se o terceiro treinador de futebol mais bem pago do mundo na proporção do peso do seu salário (mais de 20 milhões de euros) face ao total das receitas da SAD.
Jesus recebia 6% das verbas disponíveis na SAD, sendo ultrapassado apenas por Diego Simeone no Atlético de Madrid e por Carlo Ancelotti no Nápoles (ambos com percentagens de 8%).
Por contraste, o peso dos salários de Rui Vitória no Benfica e de Sérgio Conceição no FC Porto, relativamente às receitas das respectivas sociedades anónimas desportivas, não ultrapassava 1%.
Durante a sua passagem pelo Sporting, entre 2015 e 2018, Jorge Jesus embolsou mais de 20 milhões de euros. No último ano, recebeu quase o dobro do que Sérgio Conceição e Rui Vitória juntos - sem ter conseguido sagrar-se campeão nacional de futebol, ao contrário destes seus colegas de profissão.
Jesus e a sua equipa técnica custaram, nas três épocas em que permaneceram sob contrato com a SAD leonina, cerca de 25 milhões de euros. Muito acima do que haviam custado Leonardo Jardim e os respectivos adjuntos, que auferiram 844 mil euros em Alvalade na época 2013/2014, ou Marco Silva e a sua técnica, que receberam conjuntamente 872 mil euros pelo desempenho na época 2014/2015.
De salientar que tanto Sérgio Conceição, no FC Porto, como Rui Vitória, no Benfica, não ultrapassaram 2 milhões de euros por temporada. Apesar de ambos se terem sagrado campeões nacionais, enquanto Jorge Jesus apenas conquistou uma Supertaça e uma Taça da Liga nas três épocas em que orientou o Sporting.
Dados hoje divulgados pelo jornal Record, que agora, sob a direcção de Bernardo Ribeiro, revela crescente dinamismo e capacidade de superar a concorrência.
Muito se tem falado sobre a diferença entre o valor que o Wolverampton paga ao Sporting pela transferência de Rui Patrício e o valor que o clube recebe. Se existe uma dívida reconhecida pela Sporting SAD à Gestifute ou qualquer outra entidade, é bom que a mesma seja regularizada o quanto antes, sem manobras dilatórias ou chico-espertices tipo “Marcos Rojo/Doyen”, que acabam sempre por serem pagas, acrescidas de juros. Afirmar que dos supostos 18 milhões o clube recebe apenas 11, é intelectualmente desonesto, porque existe encontro de contas.
Mas desonestidade é algo a que nos habituámos durante 5 anos, sempre em defesa dos superiores interesses do Sporting, está bom de ver, acabando sempre por perder os processos em sede própria, só não viu quem não quis, ou quem de forma acéfala seguiu o conselho do guru espiritual e apenas sintonizou a Sporting TV, que foi, como sabemos até aqui, uma verdadeira fonte de informação ao serviço do deposto querido líder. É que, não tendo nada a ver com a vida dos outros, ainda me lembro quando um presidente de clube rival desbaratou o bom nome na praça, coleccionando dívidas e rasgando contratos. As consequências duram anos.
É pois com alguma surpresa e receio que ouço rumores que algumas transferências estão por pagar, que existem dívidas a fornecedores no valor de 40 milhões de euros. A ser verdade, tal poderia explicar algum desnorte e fuga à realidade que fizeram perigar nos últimos meses a existência do Sporting Clube de Portugal. Mas ninguém tenha dúvidas que, apesar do coro de viúvas carpideiras saudosistas do passado recente, o clube está a ser reerguido. Esperemos pelo resultado da auditoria forense e retiremos da mesma todas as consequências.
Perdoem o meu mau francês, mas se descortinarem aqui algum pingo de credibilidade (ou de vergonha na cara), avancem se fazem o favor. Eu por mim, estou esclarecido.
"O Conselho Fiscal e a Comissão Executiva da Sporting, SAD tinham agendada para hoje, às 10h30, uma reunião a pedido do accionista João Paiva dos Santos.
Observa-se que o accionista João Paiva dos Santos se fez acompanhar, nomeadamente, pelo senhor Paulo Pereira Cristóvão.
Tendo em conta o processo disciplinar interno em curso, e os processos criminais em que este é arguido, entendeu o Conselho Fiscal da Sporting, SAD e a Comissão Executiva não estarem criadas condições objectivas para a prossecução da mesma.
Para esta tomada de decisão, foi realizada uma reunião de emergência, tendo sido contactados os presidentes da Mesa da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal do Clube, respectivamente, Comendador Jaime Marta Soares e Prof. Jorge Bacelar Gouveia, assim como, o presidente da Mesa da Assembleia Geral da Sporting, SAD, Dr. João Sampaio, que corroboraram a decisão.
Contudo, ultrapassados os constrangimentos que implicaram a não realização desta reunião, estão os órgãos de governo da sociedade disponíveis para o seu reagendamento.
O Conselho Fiscal pretendia entregar este comunicado, pessoalmente, ao accionista João Paiva dos Santos, contudo este ausentou-se de Alvalade sem dar conhecimento ao Conselho Fiscal.
Como a memória de alguns é muito curta, vamos lá avivá-la. A respeito de auditorias, por exemplo.
Em Fevereiro de 2012, Luís Godinho Lopes abalava o universo leonino ao anunciar o resultado de uma "auditoria independente" às gestões anteriores solicitada pela sua equipa directiva logo no início do mandato.
O Sporting entrara em "falência técnica", proclamou o então presidente do Sporting, apontando o dedo acusador a quem o precedeu.
A auditoria examinara com minúcia 13 anos de gestão leonina - entre 1998 e 2011 - abrangendo os mandatos de José Roquette, Dias da Cunha, Soares Franco e José Eduardo Bettencour. E as conclusões foram devastadoras.
Houve "resultados líquidos negativos consolidados em quase todas as épocas". Acumulara-se um "défice crónico de tesouraria", de "quase 20 milhões de euros por ano", forçando o consequente "recurso a empréstimos" que contribuíram para o "agravamento do passivo" em 230 milhões, fixando-se então nos 276 milhões.
Na altura, isto provocou compreensíveis reacções de desagrado. Dias da Cunha, por exemplo, veio a público garantir que tinha deixado o Sporting "equlibrado financeiramente".
O que aquela auditoria não podia prever era o descomunal aumento do passivo que viria a ser ampliado durante a gestão de Godinho Lopes. Cem milhões, a somar ao resto.
Não deixa entretanto de ser irónico que seja hoje ele apontado a dedo, do mesmíssimo modo como procedeu em relação a outros. Não consta que na altura se tivesse arrependido de ter agido como agiu.
«As duas últimas décadas foram as que faliram o clube. O Sporting, transformado em empresa e dirigido por gestores profissionais, era afinal clube de amigos. Está tudo na auditoria. Contratos não escritos, pagamentos sem justificação, bonificações sem enquadramento legal, serviços externos garantidos por funcionários, dirigentes que trabalhavam para empresas contratadas, comissões exageradas com fundos e agentes. E, claro, o caso dos custos do estádio, de que ficará sempre qualquer coisa por contar. O Sporting perdeu muito dinheiro com a gestão profissional de tipo empresarial. Nuns casos foi incompetência, noutros foi mais grave do que isso. É por isso que, não sendo fã de expulsões, tenho de concordar com quem se quer ver livre da fina flor do entulho. A expulsão de Godinho Lopes é um acto de justiça. Para com o clube e até para com alguns dos auditados. Podem ter gerido mal o clube. Mas faça-se a justiça de dizer que nem todos são da estirpe de Godinho Lopes.»
Daniel Oliveira, hoje, no Record
ADENDA: A ilustração surge por sugestão de um leitor, que naturalmente acolhi. É sempre bom lermos clássicos da literatura portuguesa
"Há muito sportinguista de conveniência a achar que o ideal seria deixar tudo como estava: bem fechado nas gavetas de Alvalade.
Devo dizer que o meu interesse nesta auditoria ultrapassa em muito o meu sportinguismo. Ultrapassa até o meu interesse pelo fenómeno desportivo. Ele é cívico. Porque sei, sabemos todos, como se cruzam no futebol os interesses da banca, do imobiliário e da política. E como esses interesses trabalham na sombra, muitas vezes à margem da lei. A auditoria pode vir a ser, espero que seja, um abanão. Não apenas no Sporting. Mas também no futebol e, já agora, no País. É-me por isso impossível olhar para o cerco que foi feito a Bruno de Carvalho, por causa do caso Marco Silva, sem me recordar que o relógio está em contagem decrescente para dia 28. E por isso, apesar de todo os erros, não me engano quando distingo quem erra e quem, pelo contrário, foi sabendo acertar no que lhe convinha.»
Com o ar esgaseado que se lhe conhece, este volta à carga. Não sei porquê, mas cheira-me a que alguém o informou de alguma coisa que o chamusca na auditoria à sua gestão, só pode.
Começam a ser conhecidos os primeiros factos apurados pela auditoria às anteriores administrações do Sporting. Com a transparência e o desassombro que se impõem. Aos poucos, vai-se percebendo, por exemplo, o que esteve na origem dos 90 milhões de euros de prejuízo declarado em dois anos de gestão.