Gostei muito do nosso apuramento para os oitavos-de-final da Liga Europa alcançado ao fim da tarde de hoje em Alvalade, com mais de 30 mil espectadores nas bancadas apesar de o jogo ter começado às 18 horas de um dia laboral. Objectivo facilitado pela vitória categórica na primeira mão, em Astana, no Cazaquistão, por 3-1. Em boa verdade, nunca esteve em causa a nossa passagem à fase seguinte, até porque o golo inaugural surgiu logo aos 3', por Bas Dost - o mais rápido golo leonino até agora marcado neste estádio para as competições europeias.
Gostei dos três golos que apontámos hoje, repetindo a dose da primeira mão, disputada há uma semana. Com Bas Dost a marcar o seu 27.º golo da temporada em todas as competições - do seu jeito preferido, de cabeça, na sequência de uma rapidíssima jogada pelo flanco esquerdo protagonizada por Coentrão e Bryan Ruiz, com o costarriquenho a centrar de forma perfeita. Os dois outros golos vieram assinados pelo melhor em campo: Bruno Fernandes. Aos 53', na sequência imediata de um pontapé de livre, com um disparo à distância de 30 metros, absolutamente indefensável e com direito a ser proclamado o rei dos golos desta jornada europeia. E aos 63', culminando uma tabelinha rápida com Bas Dost, cabendo a assistência ao holandês. Desta vez o sector mais eficaz do Sporting foi mesmo a sua linha avançada. Cereja em cima do bolo: a estreia de Rafael Leão numa competição da UEFA. Ainda júnior, o jovem da formação leonina recebeu forte ovação quando Jesus o mandou entrar aos 74'. Não marcou, mas protagonizou boas movimentações em campo, actuando sobretudo na ala esquerda do ataque.
Gostei pouco da falta de intensidade das nossas alas, que quase não existiram no primeiro tempo - exceptuando no lance do golo de Dost. Sem Gelson nem Acuña, os habituais titulares, Jesus optou por Bryan Ruiz à esquerda e Rúben Ribeiro à direita. Ambos foram flectindo para o eixo do terreno, desguarnecendo os flancos e comprometendo a manobra defensiva da equipa, abrindo espaço às incursões do Astana. O ex-Rio Ave, sobretudo, voltou a evidenciar-se pela negativa: sem capacidade de acelerar e esticar o jogo, enredou-se em toques curtos quase sempre lateralizados, perdeu com frequência os duelos individuais e passou a ser assobiado cada vez que tocava na bola. Jesus, sem surpresa, mandou-o tomar duche ao intervalo. No segundo tempo a equipa melhorou bastante logo com a entrada de Acuña e a partir do minuto 60 com a troca de Ruiz por William Carvalho, passando Bruno Fernandes a imprimir enfim acutilância ao flanco direito, onde Ristovski nunca combinou com Rúben nem fez esquecer o ausente Piccini.
Não gostei dos sucessivos lapsos defensivos que nos levaram a sofrer três golos - o primeiro aos 37', o segundo quase ao cair do pano, nesse fatídico minuto 80 que nos tem perseguido diversas vezes ao longo da temporada em curso, e o terceiro - fixando o resultado em 3-3 - na sequência de um canto cobrado na última jogada do desafio, já ultrapassados os três minutos concedidos pelo árbitro húngaro como tempo de compensação. E não podemos queixar-nos da ausência de sorte: no minuto inicial da partida e aos 36', o Astana levou a bola a embater nos nossos ferros. Falta de concentração, falta de marcações eficazes, lentidão de reflexos, incapacidade para prever as movimentações dos adversários: falhas que se pagam caras em alta competição. Hoje, via Sporting, custaram também pontos ao futebol português, que anda bem carecido deles no ranking dos países envolvidos em competições internacionais.
Não gostei nada de ver Bas Dost novamente magoado, no fim da partida. Erro de Jesus, que devia tê-lo tirado mais cedo, precisamente quando fez entrar Rafael Leão (Palhinha foi então o preterido), sabendo que o holandês esteve recentemente quase um mês afastado dos relvados devido a lesão. Já Coates, Gelson e Piccini ficaram de fora para prevenir excesso de fadiga muscular - precaução elementar nestes tempos em que o Sporting continua a cumprir dois jogos por semana em termos médios. Gostei menos ainda da falta de atitude competitiva de alguns jogadores, que pareceram desconcentrados e com alguma sobranceria no quarto de hora final da partida, quando vencíamos por 3-1. Como se estivessem a cumprir uma tarefa chata, denotando pouco respeito pelo público ali presente, de bilhete comprado e aplauso nunca regateado à equipa. Essa displicência ajudou a abrir caminho aos dois últimos golos sofridos. Espero que tenha servido de lição aos tais enfadados: um jogo só termina quando o árbitro apita para o fim.
Com VAR ou sem VAR, Doumbia arrisca-se a passar à história como o melhor marcador de golos mal anulados pelosárbitros, à semelhança do ocorrido com Montero na época 2013/14, em que o colombiano, depois de um início fulgurante, viu prolongada a seca de golos com 3 golos mal invalidados.
A envolvente ao jogo foi feita de diversas contradições: uma partida da Liga Europa disputada na Ásia Central(!); um frio glaciar num país que faz fronteira com outro cuja capital se chama Tashkent ("tás quente", Uzbequistão); um estádio fechado e climatizado com 13º positivos, quando a temperatura exterior apontava para os menos 20ºC; um relvado sintético aprovado pela UEFA para competições a este nível. Enfim, todo um cardápio de boas desculpas (a do vento não dá sempre), caso a coisa não tivesse corrido de feição...
Depois de uma primeira parte menos conseguida, com um golo muito consentido logo no começo, o Sporting, impulsionado pelo magnífico Bruno Fernandes, controlou o jogo a seu bel-prazer. É certo que durante muito tempo Acuña e Bryan Ruiz foram dois corpos estranhos, emperrando a movimentação leonina, mas a categoria do médio maiato foi permitindo que a equipa leonina fosse chegando com assiduidade à baliza do Astana. Aos 17, 23, 35 e 43 minutos, Bruno Fernandes protagonizou lances que, ou se perderam por má finalização dos seus colegas, ou suscitaram grandes paradas por parte do competente guardião Eric. Noutra ocasião, aos 40 minutos, após um canto marcado por si, Coates cabeceou e, na recarga, Doumbia marcou, com o árbitro francês a descortinar uma infração que mais ninguém viu.
Para o segundo tempo, Jorge Jesus deixou a táctica "à italiana" no balneário. Aos 48 minutos, após um centro de Gelson, um defensor cazaque meteu a mão à bola na sua área. "Penalty" convertido em golo por - quem havia de ser? - Bruno Fernandes. Dois minutos depois, Acuña foi à linha e centrou para Gelson finalizar com êxito. Mais 6 minutos e Bruno Fernandes, na esquerda, centrou de bandeja para Doumbia que desta vez não perdoou.
Com 3-1 no marcador, o caxineiro Coentrão, um peixe fora de água - ou não fosse o Cazaquistão o maior país do mundo sem costa marítima - foi rendido por Battaglia (recuou Acuña e Bryan Ruiz deslocou-se para a ala esquerda) e Montero, acabado de entrar para substituir Doumbia, na primeira vez que tocou na bola, arrancou a expulsão do defesa Logvinenko. Surpreendentemente, Ruiz, originário da Costa Rica, ficou em campo, o que lhe viria a permitir falhar a já habitual oportunidade de baliza aberta...
A jogarmos com mais um, entrámos em modo de poupança. O resto do jogo assemelhou-se a um "meinho", letargia só abanada pelas ocasionais arrancadas de Gelson ou de ... Bruno Fernandes.
Em resumo, uma vitória justa e que talvez só peque pela escassez dos números, embora Rui Patrício tenha sido providencial, durante a primeira parte, ao evitar um segundo golo cazaque que certamente tornaria a nossa missão mais difícil. Boas exibições também de Piccini, de William e Acuña (segundo tempo) e de Doumbia, para além de Gelson e Bruno, o melhor em campo.
Jorge Jesus não está isento de algumas decisões polémicas: a inclusão de Bryan Ruiz como "10" não resultou de todo, não se entendeu porque, com o jogo resolvido, não lançou Rafael Leão no lugar do costa-riquenho e, finalmente, perdeu uma excelente oportunidade de limpar o cadastro disciplinar de diversos jogadores (Bruno Fernandes incluido), não se compreendendo a razão porque não o fez.
Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes (Gelson seria a minha 2ª opção)
Gostei muito da vitória do Sporting frente ao Astana, na capital do Cazaquistão, em desafio disputado esta tarde, a mais de seis mil quilómetros de Lisboa. Vencemos por 3-1, com golos de Bruno Fernandes (de grande penalidade), Gelson Martins e Doumbia. Um resultado que abre todas as perspectivas de passagem à fase seguinte da Liga Europa: ninguém imagina a equipa adversária a marcar três golos sem resposta na segunda mão desta eliminatória, a disputar de hoje a uma semana em Alvalade.
Gostei da categórica exibição leonina na segunda parte após um início de jogo nada auspicioso. Nos primeiros dez minutos da etapa complementar conseguimos três golos. O primeiro aos 47', na conversão de um penálti, após uma eficaz e vistosa tabelinha na ala direita entre Piccini e Gelson Martins, com um defesa do Astana a meter mão à bola. O segundo aos 50', com Gelson (o melhor em campo) a receber de forma impecável e a dar o desfecho que se impunha a um cruzamento de Acuña a partir da esquerda. O terceiro aos 55', na melhor jogada colectiva do encontro, com a bola jogada ao primeiro toque por quatro jogadores: William, Acuña, Bruno Fernandes e Doumbia, que hoje apontou o seu 29.º golo em competições europeias - e o oitavo desta temporada em quatro competições ao serviço do Sporting. Nota importante: o marfinense marcou em todas as vitórias fora do Sporting nas competições europeias, repetindo agora o que já conseguira em Bucareste e Atenas.
Gostei pouco que Rui Patrício, no dia do seu 30.º aniversário, tivesse sofrido um golo logo aos 7' na sequência de um brinde da ala esquerda da nossa equipa, ultrapassada em velocidade, e dos centrais André Pinto e Coates, que pareciam adormecidos, chegando muito tarde às acções de cobertura. Mas o aniversariante fez questão de dar um par de prendas aos seus colegas: aos 32', fez duas enormes defesas consecutivas, evitando assim que o Astana chegasse aos 2-0. Funcionaram como o tónico psicológico de que o Sporting parecia necessitar: a partir daí, embalámos para uma grande exibição europeia no piso sintético do Astana, onde (felizmente) ninguém se lesionou.
Não gostei do primeiros vinte minutos da nossa equipa, batida em sucessivos lances pelos adversários. Houve várias falhas de posicionamento, sobretudo no corredor central e na ala esquerda. Bryan Ruiz, bem ao seu estilo, imprimia pouca intensidade e quase nenhuma velocidade enquanto segundo avançado, jogando atrás de Doumbia. Bruno Fernandes foi demasiado discreto. Coentrão esteve longe das suas tardes de glória nas competições da UEFA. E Acuña só começou a funcionar no segundo tempo, quando contribuiu para virar o resultado.
Não gostei nada do golo limpo anulado a Doumbia aos 40', na sequência de um canto marcado por Bruno Fernandes e de um remate inicial de Coates, com recarga bem executada pelo marfinense. O juiz da partida considerou que o ponta-de-lança leonino estava deslocado - tese que as imagens desmentem. É preciso ter azar: o mesmo jogador vê dois golos legais invalidados por apitadores em dois jogos seguidos para competições diferentes, repetindo-se hoje o que já havia acontecido no domingo em Alvalade.
Uma péssima abordagem a um livre contra e estamos a perder por um, num jogo bastante equilibrado, onde também já podíamos ter marcado. Boas prestações de Gelson, sempre ele, Bruno Fernandes e Piccini, sem esquecer Patrício, que já tirou uma "lá de dentro".
Pena estarmos a jogar com menos um, mas talvez o Jota perceba isso e faça qualquer coisa ao intervalo e a rapaziada dê a volta a isto.
(editado aos 61m) Entretanto já com a volta dada ao marcador, com um penalti claro e duas jogas excelentes (B. Fernandes/Gelson/Doumbia), um kasaque decidiu que já estavam há demasiado tempo a jogar com um a mais e fez-se expulsar. Curiosamente Bryan, talvez ofendido com o assunto, ensaiou um belo remate que por pouco não dava golo. Vamos lá ver como isto acaba, mas por enquanto o resultado é mais que justo!
(editado no final) Fim do jogo. Excelente resultado numa magnífica segunda parte. Mesmo com Ruíz...
Quando o Sporting entrar em campo na próxima quinta-feira, serão 22 horas no horário local (16 horas em Portugal Continental). A temperatura esperada à hora do jogo é de aproximadamente 19 grau negativos, o que, feitas as contas, nos leva para uma diferença superior a 30 graus face à temperatura a que se jogou ontem ou jogará em Tondela, na segunda-feira seguinte.
O estádio tem teto retrátil, esperemos que não avarie e que esteja mais quentinho lá dentro. A verdade é que não consigo imaginar o que será jogar com temperaturas negativas de -19 graus e vento de mais de 20 km/hora.
Adicionalmente, na viagem, entre ida e volta, vai-se perder quase um dia.
Bem sabemos que "não há desculpas" mas nestas condições creio que podemos prescindir da nota artística.
Ontem estivemos perto de nos conseguirem empurrar para uma genuína crise de resultados em vésperas de um dos períodos mais duros do nosso calendário para esta época, através daquele que será o primeiro grande erro grosseiro na utilização do VAR. Mas a verdade é que superámos a prova, fizemos descansar jogadores chave (uma consequência interessante de alguns castigos), ficámos com água na boca para ver mais minutos dos que se estrearam e vamos a jogo com ânimo vitaminado.
Esta aventura/prova não nos pedirá menos do que dita o nosso lema para ser superada com glória. Juntar-lhe-ia uns baldes de chá quente, pelo sim pelo não.
Imagem retirada do google na pesquisa "tempo astana".
No banco do Astana senta-se o búlgaro Stoilov. O agora treinador já estará a tremer. Em setembro de 1995 marcou em Alvalade, logo aos 8 minutos de jogo mas saiu vergado por uns claros 7-1. Amunike (2), Oceano (2), Pedro Barbosa, Sá Pinto e Paulo Alves fizeram os golos leoninos. Espera-se que o resultado se repita (nem que seja no agregado das duas mãos). É que nos relvados cazaques não há um jogador da qualidade de Stoilov.