1. Bas Dost e Bruno Fernandes, por esta ordem, foram os dois jogadores ontem mais aplaudidos em Alvalade. Era o que faltava para se fechar de vez um contencioso que nunca devia ter existido. Nós, os adeptos que estivemos no estádio, tratámos disso. Por maioria esmagadora.
2.O golo solitário do Marselha deveu-se a um frango de Viviano. Pode acontecer ao melhor guarda-redes. Gostei de ver José Peseiro a incentivar o italiano - dando o mote às bancadas, que foram aplaudindo cada intervenção do dono da baliza. Atitude correcta: é assim que se moralizam os jogadores.
Suada - e de que maneira. Com o equipamento Stromp - o mais antigo e que em boa hora foi retomado. Contra um adversário que merecia respeito, desde logo por ter eliminado o Benfica. Mas foi mais saborosa por isso mesmo.
A pressão.
Houve pressão alta neste jogo. O presidente deixou isso bem claro - para escândalo de algumas donzelas mediáticas e dos jarretas habituais. Mas equipa que jogue sem pressão não é digna de conquistar troféus.
A emoção.
Foi um jogo de emoções fortes. Disputado com garra e determinação. E com resultado incerto até ao fim.
A crença.
Nunca baixámos os braços. Nunca desistimos. Nunca demos a derrota como inevitável mesmo quando estávamos a perder 0-2 a sete minutos do fim. Dois símbolos: Nani no limite das forças em entrega total ao jogo e Rui Patrício como baluarte na baliza mesmo com músculos a claudicar.
A arte.
Revejam lances capitais do jogo - em particular o nosso primeiro golo. Reparem na simulação de Slimani: como ele desposiciona o defesa e controla a bola antes do disparo fatal. E diziam alguns que ele tinha tijolos nos pés...
A coesão.
Marco Silva fez um grande trabalho a este nível que tem sido pouco realçado: o Sporting funciona em campo como uma verdadeira equipa. Ver hoje Carlos Mané em constantes missões defensivas foi uma excelente prova disso.
A ousadia.
O treinador, mesmo a jogar só com dez desde o minuto 9, ampliou a frente de ataque, alterando rotinas e posições. Opção arriscada mas era aquela que as circunstâncias impunham. E resultou.
A competência.
É fundamental não falhar nos momentos decisivos. Na primeira Taça de Portugal decidida por grandes penalidades, marcámos as três que nos couberam (por Adrien, Nani e Slimani) e Rui Patrício defendeu uma.
A verdade.
Vencer a Taça verdadeira implica haver verdade desportiva em campo. Ninguém pode acusar-nos do contrário. Vencemos sem ajudas, sem colinho, sem piscadelas de olho cúmplices do árbitro. Só assim sabe bem vencer.
A alma.
Não basta ter o Leão no símbolo: é preciso transportá-lo também no coração, nos nervos, nos músculos, no cérebro, no instinto, no carácter. Na alma.
Somos a todo o momento assediados por lugares-comuns. Relativamente ao nosso clube, vou tomando nota de alguns. Um deles é este: "o Sporting tem um plantel curto".
A dado momento, o lugar-comum torna-se um axioma inquestionável. O problema é que a realidade se vai encarregando de contrariar esta pseudo-evidência. Porque apesar do "plantel curto", a verdade é que o Sporting prossegue isolado na segunda posição do campeonato, com mais quatro pontos do que o tricampeão FC Porto, equipa que dispõe de um plantel muito "longo". Há um ano, por esta altura, mais de 30 pontos separavam as duas equipas, com os Leões a afundarem-se na tabela classificativa. Isso apesar de termos então um plantel nada "curto".
Convém andarmos precavidos contra as falácias dos lugares-comuns.
Como o Rui Cerdeira Branco já aqui assinalou, e muito bem, pela primeira vez em muitos anos o Sporting está a subir a ladeira enquanto outros aceleram ladeira abaixo. A leitura comparativa dos relatórios e contas das três principais agremiações desportivas portuguesas, referentes ao primeiro trimestre de 2014, não permite outra conclusão. Pela nossa parte, registo com agrado que o Sporting liderado pelo "péssimo gestor" (na opinião de alguns) Bruno de Carvalho inverteu a preocupante situação de há um ano, quando ainda estava em funções o "excelente gestor" (na opinião de alguns) Godinho Lopes. Em linguagem perceptível, passámos de 7,7 milhões de euros de prejuízo para 7,2 milhões de lucro. Enquanto o Benfica atingia os 9,2 milhões de euros em resultados negativos e o FC Porto - paradoxalmente com as contas a vermelho - via os prejuízos ascenderem a 12,4 milhões.
Dirão alguns cínicos que os bons resultados do Sporting se deveram essencialmente às transferências de Ilori e Bruma. Sem repararem que, com isso, estão a prestar a melhor homenagem ao talento negocial de Bruno de Carvalho.
Não vale a pena perder muito tempo a discutir as convocatórias de Paulo Bento para o jogo "amigável" de amanhã contra os Camarões. Basta a ausência de Rui Patrício da lista dos seleccionados para se concluir que estamos muito longe de um ensaio geral para o Mundial do Brasil.
Mas convém ficarmos atentos ao critério do seleccionador. Não quero crer que Paulo Bento deixará de fora três dos jogadores portugueses que mais se têm destacado neste Sporting, equipa-revelação do campeonato nacional 2013/14. Refiro-me não só a William Carvalho, a quem o técnico já deu oportunidade de actuar no play off contra a Suécia (e William cumpriu, como todos esperávamos), mas também a Adrien e Cédric, que continuam ausentes das convocatórias.
Ninguém esqueceu ainda a escandalosa ausência de João Moutinho do Mundial da África do Sul, por razões que o seleccionador Carlos Queiroz saberá mas que a própria razão desconhece.
Os mesmos de sempre criticam Leonardo Jardim. São aqueles que no Sporting dão constantes provas de vida pela via da crítica permanente. O mais insólito é que criticam por vezes com maior vigor quem ganha do que quem perde.
Vale a pena comparar. Alguns dos que há um ano entoavam hossanas a Jesualdo Ferreira - que entretanto optou por trocar Alvalade pelo Braga, onde não foi feliz - enquanto o ex-treinador portista ia acumulando empates e derrotas são os mesmos que procuram desvalorizar cada vitória leonina com a equipa sob o comando do seu sucessor. Chegam a criticar o técnico madeirense por não "fazer a gestão" dos cartões amarelos (algo que já mereceu o meu aplauso a Leonardo Jardim) enquanto alertam que até ao fim do campeonato todos os jogos serão importantes e até mesmo decisivos.
Nem sequer reparam na flagrante contradição em que caem enquanto dizem e escrevem uma coisa e outra.
E regresso ao tema do início: desde a época 2001/02, em que fomos campeões, nunca o Sporting tinha quatro pontos de vantagem sobre o FCP à 21ª jornada. Ninguém previa isto. Nunca como neste campeonato, no que toca ao Sporting, haverá tanta discrepância entre as previsões e os resultados. Anotei muito do que se disse antes do arranque da Liga 2013/14, pelos "especialistas" do costume, e vou-me divertindo ao revisitar esporadicamente esses prognósticos falhados. No final do campeonato tenciono partilhar convosco alguns destes recuerdos.
Para não ficar a sorrir sozinho...
{ Blogue fundado em 2012. }
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