Apesar do título sei bem que se cá ainda estivesse o grandíssimo Torga, da pena dele nada sairia sobre os ditos que este postal titulam e Famalicão conspurcaram. Simplesmente, porque nada acrescentam à nossa existência. E menos ainda ao Sporting e ao sportinguismo.
A rapaziada aqui do blogue e alguns dos leitores que fazem o favor de perder tempo com os meus escritos, sabem da minha costela de "agricultor". Pois este fim de semana foi tempo, já que o trabalho que muitas vezes também se mete pelo meio o permitiu, foi tempo dizia, de me agarrar às árvores e tratar de lhes fazer a poda. Poderá ainda ser cedo, mas vocês não fazem ideia dos contentores de folhas que eu tenho que varrer... Assim, matam-se dois coelhos com uma cajadada apenas (espero que o senhor do PAN não venha aqui...).
Portanto, dois dias a dar na tesoura e no serrote, subir e descer escada, emolhar os resíduos, que a lareira agradece e ensacar os restantes verdes para enviar para o sítio certo, depois do duche de hoje a tentação foi refastelar-me no sofá e ficar na sorna em frente à lareira e ver a final da Libertadores e o Sporting na televisão, à vez. Mas como anda por aqui um anónimo com vontade de marrar que diz que eu não vou a Alvalade desde que há nova direcção e o meu stock de cernelhas está esgotado até final do ano, lá resisti ao chamamento do calor e do sofá, vesti a jaqueta, perdão, o polar, tirei o carro da garagem e fiz a curta viagem de Caneças até ao Ricardo Jorge, que é onde costumo estacionar.
Eu tinha vaticinado no passatempo do Pedro Correia, nos "prognósticos antes do jogo", uma vitória por 4-0, portanto ia confiante, principalmente depois das indicações que tinham vindo a ser dadas pela equipa. Oitenta e nove degraus depois, lá me sentei no meu lugar. Eu já aqui falei do mau pressentimento que tenho quando a malta canta "O Mundo Sabe Que" num compasso mais acelerado que o normal e hoje isso voltou a acontecer, de tal modo que se acabou a cantiga ainda a letra ia a pouco mais de meio, passe o exagero.
E o Aves fez jus a este meu mau pressentimento, entrando muito bem no jogo e tomando o comando das operações, de tal forma que na primeira meia hora só deu Aves, que marcou uma vez e poderia ter repetido a dose por duas ocasiões, dominou o jogo e fez os nossos andar, literalmente, aos papeis, enredados numa teia de onde raramente conseguiram sair. Depois houve o penalti, que foi ali mesmo à minha frente, mas eu não vi nada; Não quer dizer que não fosse, eu é que confesso que não vi mas acredito no VAR. Dost foi chamado a fazer aquilo que bem sabe e a minha esperança e a de 35 mil e qualquer coisa que lá estivemos hoje renasceu e a força interior de tanta gente, deve ter-se transmitido para Nani, que decidiu fazer uma obra de arte e nos levou para o descanso com um resultado enganador.
Como para dar razão a Pimenta Machado, o que foi verdade na primeira parte, foi mentira na segunda e apareceu um Bruno Fernandes que sabe-se lá por onde andou na primeira parte, que ninguém o viu senão nos inúmeros passes para os adversários que desatou a jogar à bola de tal forma que fez dois naturales que se traduziram noutras tantas chicuelina e verónica uma de Bas Dost e outra de Diaby que sentenciaram a corrida, perdão a partida. Quem não chegou às cortesias foi Acuña, que resolveu pregar um par de coices em dois adversários, que o fizeram regressar mais cedo ao touril, perdão, ao balneário.
Em resumo, uma goleada que estava por mim prevista, mas que o Desportivo das Aves fez por não merecer, dominando até aos curtos, perdão, na primeira parte, mas sendo atraiçoado pela eficácia da colocação dos ferros, perdão, na colocação dos remates dos nossos, que em cinco marcaram quatro e todos na borboleta!
É assim, às vezes fazem-se pegas de levantar a praça, perdão, exibições de levantar o estádio, outras o resultado acaba por ser melhor que a exibição. Ou seja, vai-se lá de cernelha! O que, apesar de tudo, não impediu uma saída em ombros.
Na passada segunda-feira (28 maio) citei este poema retirado do livro «Silêncio» de Shusaku Endo. Confesso que será um pouco exagerado relacionar este poema com recente reportagem da Sic.
Do mesmo livro retirei:
«Até ao fim desse dia não largou a janela, observando o movimento das crianças. Uma delas, segurando o cordel de um papagaio, corria encosta acima, mas, sem vento, o papagaio tombou preguiçosamente no chão.»
De igual modo, é manifestamente exagerado relacionar esta referência do papagaio com a notícia de hoje.
Convém lembrar que Shusaku Endo escreveu este livro, Silêncio, em 1966…
(Confesso que gostei mais da experiência da leitura do livro do que a de ver o filme.)
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«Vamos caçar a toupeira,
Que bicho danado é.»
Será bom reter esta pequena passagem, do ponto de vista literário como é óbvio!
Andam em silêncio e recatados, envolvidos nas sombras nocturnas. Ninguém os vê por Alvalade: nunca frequentam o nosso estádio e jamais acompanham a equipa por esse país fora. Mantêm-se mudos quando há vitórias: são incapazes de compartilhar o espírito de celebração leonina.
Só saem das trevas quando soa a desaire: basta um resultado negativo para soltarem piados lúgubres, dando enfim sinal de vida. Contra o presidente, a equipa técnica, os jogadores. Emitem os piores presságios e torcem para que se concretizem. Para eles, quanto pior melhor.
Quando a esmagadora maioria dos sportinguistas está alegre, mal ocultam a frustração. Quando há tristeza em redor, exibem esgares de satisfação. Intitulam-se leões, mas se observarmos bem já perderam a juba há muito tempo. Se é que alguma vez a tiveram.
Em vez de boca têm bico e o pelo deu lugar às penas. Famintos de insucesso, sonham com desastres e carnificinas para poderem enfim banquetear-se.
O macaco Adriano conseguiu. Sim, o bilhete para a ver a derrota em Turim. É em Turim, não é? Perguntou-me o macaco Adriano enquanto empaturrava a mala com cachos de bananas para levar na viagem. Por norma não respondo aos macacos da Luz, mas o Adriano tem nome e isso conta alguma coisa. Respondi que sim e fui ajudá-lo a fechar a mala. O Adriano está muito feliz. Pediu um empréstimo no BPN para pagar a viagem, vendeu uma camisola do Benfica assinada pela equipa do Celta do Vigo para pagar a estadia e penhorou um dente de ouro. O Adriano está feliz e se o Adriano está feliz eu também estou. Mas espero ficar muito mais quando for buscar o Adriano à Portela.
Acordei há bocadinho com um telefonema intempestivo do macaco Adriano. Foda-se, pá, são 11 da manhã, é feriado e ainda não comprei os couratos para o petisco de logo à noite, respondi com pouca simpatia. Mas o macaco Adriano é meu amigo e estava nervoso, com a voz aceleradíssima, alguns gases também, por causa das toneladas bananas que come diariamente. Respirei fundo. Vamos lá a isso, então. Ouvi, ouvi, ouvi, mas demorei a perceber o motivo de tanto tremelique. O macaco Adriano só queria saber se logo à noite pode subir à estátua do marquês de Pombal. Que porra de pergunta, Deus, os macacos são para isso ou não? Os macacos trepam. Não, suspirou Adriano, o macaco, não era bem isso que queria saber, insistiu: é que hoje há jogo outra vez! Ah, bom!, reconheci. O importante era então saber se um macaco pode trepar novamente às costas do leão. Do leão?! Sim, do leão do marquês. Ah, bom, respondi outra vez, claro que sim Adriano, mais macaco menos macaco, ninguém se chateia. Vamos lá subir o marquês.