Festa verde e branca no relvado quando Coates marcou o golo que fixou o resultado
Foto: Tiago Petinga / Lusa
Jogo de loucos. Houve quem lhe chamasse «épico», mas nada teve de épico: foi mais uma farsa. Com a equipa forasteira a marcar nem sabe como na única oportunidade conseguida na partida de sábado, logo aos 10', o Sporting a arrastar-se em campo na hora seguinte, Rúben Amorim falhando na formação do onze inicial e a emoção descontrolada a apoderar-se das bancadas em Alvalade nos 20 minutos finais, marcado pelo assalto total à baliza dos insulares no desafio em que conseguimos mais "posse de bola".
O nosso central actuando como avançado e o nosso ponta-de-lança à baliza.
Antes de cair o pano, lá para os 90'+114, houve tempo para tudo.
Para o treinador voltar a investir o capitão Coates da missão de ponta-de-lança, plantado na grande área como se Bas Dost estivesse de regresso. Para o Marítimo marcar um autogolo (o sétimo de que beneficiamos nesta época, cinco dos quais na Liga). Para Coates esticar o pé e entrar com a bola na baliza, operando a reviravolta (90'+3). Para o Marítimo fingir que empatava 2-2 (90'+6) num pseudo-golo precedido de falta grosseira sobre Nuno Santos que o árbitro auxiliar logo invalidou levantando a bandeirola, gesto a que Tiago Martins, de cabeça perdida, não fez caso, apontando para o centro do terreno. Para Adán, com os nervos em franja, protestar de tal maneira que acabou por ver o segundo amarelo três minutos depois de ter visto o primeiro, o que o afasta da recepção ao Benfica do próximo domingo. Para o vídeo-árbitro André Narciso insistir com o apitador para que visse as imagens. Para que Martins, tendo-as visto, desse o dito por não dito, com vários minutos de atraso. Para que, estando o Sporting reduzido a dez e com as substituições esgotadas desde o minuto 64, Paulinho se assumisse como improvisado guarda-redes, colocando-se entre os postes. Para que, logo a seguir, segurasse uma bola com o estádio inteiro a aplaudi-lo - o mesmo estádio onde tinham começado a ecoar assobios bem sonoros aos 36', dirigidos primeiro a Diomande e depois a todos os nossos jogadores. Para que, ainda antes do fim, houvesse uma chuva de cartões amarelos, com Martins a confirmar a sua imensa incompetência: espero que tenha sido a última vez que o vimos em jogos profissionais de futebol.
Tudo está bem quando acaba bem. Os 27 mil espectadores que compareceram em Alvalade tiveram direito a tudo, num vendaval de emoções que se prolongou por quase duas horas de morna pasmaceira seguida de imensa agitação no relvado.
Isto faz parte da magia do futebol.
Foi o nosso 12.º jogo seguido do campeonato 2022/2023 sem derrotas - a melhor série em ano e meio. Há três meses que permanecemos invictos na Liga. Mas de nada nos serve, pois a duas jornadas do fim todos os adversários à nossa frente superaram os respectivos desafios. Mantém-se a distância de quatro pontos face ao Braga, que tem calendário mais favorável nas duas rondas que restam.
Se não formos à próxima Liga dos Campeões, como tudo indica, só temos de queixar-nos de nós próprios. Aquela medíocre primeira volta conduziu-nos a isto.
Pelo menos vencemos o Marítimo. Que nos tinha vencido (1-0) no Funchal. Como esses três pontos lá desperdiçados nos faziam falta agora...
Breve análise dos jogadores:
Adán - Nem uma defesa, mas dois cartões vistos em três minutos, no tempo extra. Por retardar a bola e por protestos. Fica fora do clássico de domingo.
Diomande - Atrasou duas vezes a bola ao guarda-redes, quase a partir da linha do meio-campo, e ouviu sonoras vaias no estádio. Afectou-o, visivelmente. Saiu aos 64'.
Coates - Esteve no pior e no melhor. Falha individual, oferecendo o golo ao Marítimo (10'). Mas como avançado protagonizou o 2-1 da reviravolta. Homem do jogo, melhor em campo.
Matheus Reis - Amorim teima em fazer dele central. Voltou a incluí-lo nos três da retaguarda, deixando Gonçalo Inácio no banco. Não resultou: o brasileiro é lateral. Saiu ao intervalo.
Bellerín - Tentou mostrar serviço, mas não se esforçou muito. Ele e Edwards funcionam como a água e o azeite: não combinam. Inoperante, já não regressou do intervalo.
Ugarte - Quando se fala muito dele para rumar a Inglaterra, mostrou neste jogo a maior das suas limitações: o remate. Atirou duas vezes a bola para a bancada (66' e 76') quando tentava o golo.
Pedro Gonçalves - Dele esperamos sempre um toque de magia. Andou perto disso no lance individual em que se envolveu na grande área e forçou o autogolo madeirense (85').
Arthur - Amorim insiste em jogar com alas de pés trocados. Eis um caso. O brasileiro tem bom toque de bola, mas centrar sem linhas de passe é um desperdício. Saiu ao intervalo.
Edwards - Vai acendendo e apagando. Apático em largos momentos, esteve a centímetros de marcar um golo espectacular (74'). No segundo golo, o passe de ruptura saiu dos pés dele.
Trincão - Voltou a pecar por clamorosa falta de intensidade: mal perde uma bola, desinteressa-se do lance. Fez três posições, sem render em nenhuma. Substituído aos 57'.
Paulinho - Cabeceou ao lado (14'), tentou o golo mas saiu passe ao guarda-redes (30'). Assistiu no segundo e brilhou ao oferecer-se como guarda-redes quando Adán foi expulso.
Gonçalo Inácio - Entrou aos 46', substituindo Matheus Reis. Deu mais consistência à defesa, mas não era necessário: o Marítimo quase não saía. Corte muito oportuno aos 61'.
Nuno Santos - Estava inquieto no banco: entrou aos 46', rendendo Arthur. Não fez muito melhor. Tentou o golo, mas atirou por cima (90'+2). Carregado em falta no lance que deu sururu (90'+6).
Morita - Substituiu Bellerín aos 46'. Bom a distribuir jogo, arriscou o amarelo que o poria fora do clássico. Acabou por não ter a utilidade já revelada noutros desafios.
Fatawu - Entrou aos 57', para render Trincão. Muito mais dinâmico, nos confrontos individuais, pôs a defesa madeirense em sentido. Também tentou o golo, mas rematou para a bancada (80').
Esgaio - Substituiu Diomande aos 64'. Foi ele a iniciar a jogada do lance que culminaria no segundo golo leonino - e os consequentes três pontos desta vitória tão suada.
Da boa atmosfera em Alvalade. Os 31.603 que nos deslocámos ao nosso estádio, na noite de sábado, não demos o tempo por mal empregue. Ambiente ameno, apesar de algum chuvisco que caiu durante o jogo, famílias nas bancadas, muitas adeptas leoninas, alegria generalizada do princípio ao fim. O que se explica devido ao golo ter acontecido cedo, ainda no quarto de hora inicial, e por o desfecho estar decidido ao intervalo (quando havia 2-0), ao contrário do que aconteceu em diversas outras ocasiões.
Do nosso domínio total.Vencemos o Santa Clara por 3-0. Com golos de Paulinho (14'), Trincão (22') e Edwards (52'). Vitória tranquila, inequívoca, categórica num embate em que atacámos com cinco unidades em simultâneo - por vezes com seis, quando Pedro Gonçalves também aparecia lá na frente. As alas funcionaram sempre como nossos corredores ofensivos. A turma visitante fez o primeiro remate aos 61'. E só teve uma oportunidade de golo aos 90+1'. Nem parecia a mesma equipa que vencemos com extrema dificuldade (1-2) na partida da primeira volta.
Da primeira parte. Dois golos marcados, pelo menos mais dois podiam ter sido concretizados (aos 33', por Gonçalo; e aos 41', por Paulinho). Os 45 minutos iniciais desenrolaram-se quase sempre no meio-campo defensivo do clube açoriano que usa o mesmo emblema do Benfica - e que mais parece uma "escola de samba", condenada a descer de divisão.
De Edwards. Melhor em campo: joga cada vez mais para o colectivo, com disciplina táctica, movimenta-se muito bem não apenas quando transporta a bola mas também quando está sem ela. Saldo positivo: um golo (o terceiro, marcado com o pé direito) e uma assistência (para o segundo). Ainda ofereceu outro, de bandeja, que Paulinho desperdiçou (18'). Esteve quase a marcar, aos 27'.
De Pedro Gonçalves. Jogou no meio-campo, onde funcionou como verdadeiro patrão leonino. Está com os níveis de concentração e de confiança muito elevados desde aquele golaço no estádio Emirates, contra o Arsenal - isto reflecte-se bem no desempenho colectivo da equipa. Exímio a marcar livres - de um deles nasceu o nosso primeiro golo: foi a sua nona assistência desta temporada. De outro, aos 33', ia surgindo outro - quando Gonçalo Inácio atirou à barra.
De Diomande. Voltou a ser titular, como central à direita (Matheus Reis à esquerda e Gonçalo ao meio), no onze inicial. Exibiu classe em Alvalade: é o reforço de que necessitávamos para aquela posição. Espectacular recuperação logo aos 3', dando nas vistas. Seguro, sereno, concentrado: parece jogar há anos no Sporting, não apenas há poucas semanas. E polivalente também: actuou como central ao meio a partir dos 46' e como central à esquerda a partir dos 69'.
De Arthur. Com Bellerín ainda lesionado e Esgaio ausente por castigo, Rúben Amorim confiou-lhe a posição de ala direito titular. O brasileiro que veio do Estoril cumpriu com distinção, não apenas no plano defensivo (grande corte dentro da área aos 17'), mas sobretudo no ofensivo, com cruzamentos tensos e bem medidos. Confirma-se: é mesmo reforço, seja qual for a posição em que actua.
Do regresso de Luís Neto. Apesar dos três golos, foi este o instante alto da noite: quando uma calorosa ovação sublinhou o regresso do veterano Neto, aos 34 anos, após longa ausência por lesão. Aconteceu aos 69', quando substituiu Matheus Reis - e, simbolicamente, a braçadeira de capitão passou de Adán para ele, que não jogava desde 3 de Setembro. Outro momento festivo.
De ver Afonso Moreira no banco. O jovem extremo (18 anos) não calçou, mas é assim que se começa. Outro elemento da formação que promete ser aposta do treinador.
Do árbitro André Narciso. Actuação impecável: não estragou, não propiciou momentos mortos, não passou o tempo a interromper o jogo, não alinhou com o teatro ocasional de certos jogadores. Se fossem todos como ele, o futebol português estava muito mais valorizado.
De Rúben Amorim. Cumpriu o jogo 120.º do campeonato nacional de futebol. Com 84 vitórias no currículo. Números extremamente positivos, que são um excelente cartão de visita. Talvez o melhor treinador do Sporting neste século.
De mantermos as aspirações à Champions. Com 24 pontos ainda em disputa (estamos com 53, mas com um jogo em atraso), registámos a quinta vitória seguida no campeonato e estamos há nove jogos sem perder. Atravessamos o melhor momento da época, o que ajuda muito. Precisamos de aceder à próxima Liga dos Campeões, o que nos trará enormes vantagens desportivas e financeiras.
Não gostei
Da ausência de Coates. Mas compreendeu-se: o nosso capitão assistiu ao jogo da tribuna. Deu para descansar após a recentíssima participação em dois jogos pela selecção do Uruguai, sendo titular absoluto e até marcando um golo (contra a Coreia do Sul). Descanso merecido, já a pensar nas partidas contra o Gil Vicente (depois de amanhã) e o Casa Pia (no domingo). Três desafios em nove dias antes do jogo em Turim contra a Juventus.
Do desperdício de Paulinho. Finalizou bem, concluindo com golo o impecável livre directo marcado por Pedro Gonçalves aos 14'. E é ele quem faz o passe lateral para Edwards sentenciar a partida, aos 52'. Mas falhou um golo de baliza aberta, à Bryan Ruiz (aos 41'), e desperdiçou duas outras grandes oportunidades. Apenas cinco golos à 25.ª jornada: continua a ser muito pouco para um ponta-de-lança.
Do Santa Clara. O que dizer de uma equipa que beneficia do primeiro canto só aos 50', faz o primeiro remate à baliza aos 61' e deixa concluir o tempo regulamentar sem uma única ocasião de golo? Que não merece integrar o primeiro escalão do futebol português. Faria bem em mudar o símbolo, antes de mais nada.
Da conquista de mais três pontos, desta vez em Alvalade. Vencemos o Paços de Ferreira, equipa que muitos comentadores da bola apontam como "a sensação" deste campeonato. Uma vitória que nada se deveu ao acaso: foi a terceira vez que defrontámos o onze de Paços nesta temporada, repetindo agora o triunfo por 2-0 da primeira volta. Somados ao 3-0 da nossa vitória contra a mesma equipa para a Taça de Portugal, estes jogos têm um balanço totalmente favorável às nossas cores: sete golos marcados e nenhum sofrido.
Da nossa eficácia. Quatro oportunidades de golo, duas concretizadas. Aos 20', na conversão de um penálti, por João Mário - que apontou muito bem o castigo máximo. E aos 48', por Palhinha, naquele que é desde já um dos melhores golos deste campeonato. Na sequência de um canto, o que merece ser assinalado: foi a primeira vez que aproveitámos da melhor maneira um pontapé de canto nesta Liga 2020/2021.
De Palhinha. O melhor em campo. Não apenas pelo grande golo que marcou, com um remate em vólei - estreando-se como goleador no campeonato em curso - mas, uma vez mais, pela extrema competência que revelou no bloqueio da manobra ofensiva do Paços, cobrindo sempre muito bem o espaço. É um jogador que merece, sem qualquer favor, ser convocado para o Campeonato da Europa. À atenção do seleccionador Fernando Santos.
De Porro. Outra grande exibição do nosso ala direito, internacional sub-21 espanhol. Os melhores cruzamentos saíram dos pés dele, os lances de maior perigo conduzidos junto às linhas laterais também foram dele, com destreza técnica rara nesta posição. E foi ainda ele a marcar o canto de que resultou o segundo golo.
De Feddal. Brindado injustamente com um cartão amarelo logo no início da partida, não se deixou condicionar. Esteve ligado aos dois golos da equipa: no primeiro, aos 19, fazendo o passe vertical a grande distância para Pedro Gonçalves que seria derrubado dentro da área; no segundo, ao assistir de cabeça para Palhinha na sequência da marcação do canto. É um dos baluartes da nossa defesa, de longe a menos batida do campeonato.
De Adán. Muito atento e de reflexos rápidos, fez uma grande defesa aos 42', impedindo o golo de Luther Singh. Controlou todo o jogo pelo ar, transmitindo sempre tranquilidade e segurança à equipa.
Do nosso reduto defensivo. Os números dizem tudo: apenas dez golos sofridos à jornada 19. Voltámos a terminar uma partida mantendo as nossas redes invioladas. O que já tinha acontecido em dez outros desafios deste campeonato. Somos ainda a única equipa sem derrotas: é um dos melhores desempenhos até a nível europeu.
Da maturidade da equipa em campo. Construída a vitória aos 48', fizemos a partir daí uma gestão tranquila dessa vantagem. Sem nervosismo, sem ansiedade, sem desorganização. As substituições efectuadas pelo treinador destinaram-se essencialmente a refrescar o onze: trocou Paulinho por Nuno Santos (62'), João Mário por Matheus Nunes (73'), Tiago Tomás por Jovane (73'), Pedro Gonçalves por Tabata (73') e Nuno Mendes por Matheus Reis (85'). Mantendo intocável o sistema de jogo.
Da contínua aposta na formação leonina. Rúben Amorim destacou Nuno Mendes (18 anos), Tiago Tomás (18 anos) e Gonçalo Inácio (19 anos) para o onze inicial. Que tinha mais dois jogadores formados na Academia de Alcochete (Palhinha e João Mário). E que incluía dois outros portugueses (Pedro Gonçalves e Paulinho). Um contraste cada vez mais gritante com os nossos principais rivais.
De termos consolidado a nossa liderança à 19.ª jornada. Somamos agora 51 pontos - mais dez do que o FC Porto, mais onze do que o Braga, mais treze do que o Benfica. Estamos num ciclo (inédito esta época) de sete triunfos consecutivos - cinco para o campeonato e dois para a Taça da Liga, que conquistámos. Com eficácia de 89,5%. Desde a remota temporada 1950/1951 que não tínhamos uma vantagem tão dilatada face ao segundo classificado na principal prova do futebol português.
Da esperança cada vez mais reforçada. Ninguém duvida: somos neste momento a equipa favorita para vencer o campeonato nacional de futebol, que lideramos há 13 jornadas. Faltam-nos 12 vitórias em campo para conquistar o título. Todos esperamos que a próxima seja já sábado que vem, novamente em Alvalade, frente ao Portimonense.
Não gostei
Que Paulinho continue sem marcar de verde e branco. Titular na frente do nosso ataque, o ex-bracarense esteve quase a inaugurar o marcador, de calcanhar, logo aos 10' após tabelinha com Pedro Gonçalves. Mas o guarda-redes impediu-lhe o golo com uma defesa por instinto. Ainda não foi desta.
Da inflação de cartões amarelos. Nada menos de oito: cinco para o Sporting, três para o Paços. Aos 22' já tínhamos dois jogadores amarelados: Nuno Mendes (8') e Feddal (14'). Depois chegou a vez de Porro (54'), Adán (75') e Jovane (88'). Critério absurdo de André Narciso, um árbitro que apita a propósito de tudo e de nada: graças a ele houve 47 interrupções de jogo ocasionadas por faltas e faltinhas (27 para o Sporting, 20 para o Paços) - algumas das quais ninguém mais além dele conseguiu descortinar. Árbitros como este fazem mal ao futebol enquanto espectáculo. É assim que se valoriza o desporto em Portugal?
De ver o nosso estádio ainda vazio. Mais de meia época foi disputada e as bancadas em Alvalade permanecem interditadas aos sócios e adeptos por imposição estatal. Há compreensíveis razões de confinamento sanitário na origem desta interdição, mas nem por isso deixa de ser muito triste. Logo num ano como este, em que a nossa equipa tem um dos melhores desempenhos de sempre.
Como escrevi aqui, o árbitro Nuno Almeida e o vídeo-árbitro André Narciso funcionaram ontem como 12.º e 13.º jogadores do FC Porto. Não evitando, mesmo assim, a derrota dos portistas frente ao Paços de Ferreira.
A coisa foi tão evidente e tão escandalosa que os especialistas de arbitragem - deixando por uma vez de lado os corporativismos reinantes no sector - deixaram de reconhecer. Incluindo os mais conotados com os azuis-e-brancos.
Aqui ficam as opiniões hoje publicadas no jornal O Jogo (a azul) e no jornal A Bola (a vermelho).
Sobre a expulsão a que foi poupado Uribe, por agressão a Luther Singh (minuto 15):
Fortunato Azevedo- «Uribe, de forma ostensiva, atingiu com o cotovelo a cara de Bruno Costa. Falta grosseira merecedora de cartão vermelho.»
Jorge Coroado - «O movimento do braço de Uribe não foi para ajudar a elevação. Foi para afastar o adversário. Conduta violenta merecedora de cartão vermelho.»
José Leirós - «Não assinalou falta, era livre directo e cartão vermelho. Uribe atingiu deliberadamente o rosto do adversário.»
Sobre a invalidação de um golo ao Paços por hipotética falta de Dor Jan sobre Mbemba (minuto 37):
Fortunato Azevedo- «Dor Jan faz um corte de forma legal, só depois de tocar na bola é que se dá o contacto com Mbemba. O golo foi mal invalidado.»
José Leirós - «Surreal. Dor Jan chegou primeiro e claramente jogou a bola. O contacto é inevitável em futebol. O golo foi mal anulado. Não culpem o VAR.»
Duarte Gomes - «Dor Jan toca na bola e, de forma inevitável e natural, choca com Mbemba, lance que o VAR entenderia, muito mal, como falta, dessa forma invalidando golo legal ao Paços.»
Sobre um penálti favorável ao FCP por suposta mão de Eustáquio na bola (minuto 45+5):
Fortunato Azevedo- «Quando Eustáquio estava em queda e de costas, a bola bateu-lhe involuntariamente no braço. Penálti mal assinalado.»
Jorge Coroado - «Eustáquio, de costas para o lance e a fazer a recepção ao solo, viu a bola embater-lhe no braço. Não houve motivo para penálti, a lei é clara.»
José Leirós - «Eustáquio virou o corpo à bola e, quando ia em queda, a apoiar as mãos no relvado, a bola acertou-lhe no braço. Errou [o árbitro]. Não era penálti.»
Duarte Gomes - «No penálti a favor do FCP, a bola toca no braço direito de Eustáquio quando este está em apoio natural no solo. Lance legal, que devia ter merecido intervenção do VAR.»
Já poucas coisas me surpreendem. Mesmo assim, confesso: abri a boca de espanto ao ver ontem o Paços de Ferreira-FC Porto, jogo dominado do princípio ao fim pela turma da casa. Não havia público, visto não se tratar de uma competição de fórmula 1, mas a equipa de arbitragem funcionou como "12.º jogador" dos portistas, puxando de forma inequívoca pelo onze visitante. Que mesmo assim saiu derrotado.
Valha a verdade: o desaire dos azuis-e-brancos - que já perderam oito pontos à sexta jornada - não aconteceu por culpa do árbitro. Nem do vídeo-árbitro. Ambos fizeram o que podiam para que o FCP saísse vitorioso da Capital do Móvel. O primeiro, assinalando um penálti contra o Paços que nunca existiu. O segundo, mandando o primeiro invalidar um golo limpo quando os da casa já venciam por 1-0.
Mesmo assim, com um penálti sofrido sem qualquer base legal e tendo visto anulado um golo marcado de forma irrepreensível, o Paços de Ferreira conquistou os três pontos. Merece parabéns redobrados.
Em qualquer outro país supostamente civilizado, estes dois senhores não voltariam a apitar jogo algum.
Refiro-me ao nosso velho conhecido árbitro Nuno Almeida, mais conhecido por Ferrari Vermelho (e que a partir de agora pode ficar a ser conhecido também por Porsche Azul), e ao vídeo-árbitro André Narciso, um alegado "jovem promissor" do apito que há três dias, em Alvalade, amarelou Palhinha aos 36 segundos e exibiu cartões a Feddal sem que o defesa leonino tivesse sequer tocado no adversário e a Sporar por hipotética "simulação" que nunca existiu.
Mas de uma coisa podemos estar certos: estes dois continuarão a andar por aí. Cometendo atentados à verdade desportiva.
Nestas ocasiões, em tempos mais recuados, sentia a tentação de atribuir tudo isto à pura incompetência. Mas quando verifico que o FCP, em seis jornadas, foi escandalosamente favorecido em quatro (contra Sporting, Braga, Marítimo e Paços) e que metade desses seis desafios terminou com treinadores adversários expulsos (Rúben Amorim, Lito Vidigal e agora Pepa), tenho de concluir que se trata de algo mais. Não pode ser só incompetência.
De ver o Sporting somar mais três pontos no campeonato. A vitória foi difícil, mas foi nossa. Derrotámos o Gil Vicente em Alvalade por 3-1 num jogo em que só marcámos o primeiro golo aos 82'. Até ao apito final, 14 minutos depois, surgiram mais dois. O triunfo mais expressivo da nossa equipa até agora na Liga 2020/2021. Nesta partida, a turma de Barcelos sofreu mais golos do que nas quatro jornadas anteriores.
De Sporar. Merece ser designado como melhor em campo. Porque soube fazer a diferença desde que entrou, aos 61': arrastou marcações, abriu linhas de passe, movimentou-se bem dentro da área - e pôs fim ao seu prolongado jejum de golos, acorrendo ao segundo poste para a meter lá dentro. E teve ainda uma intervenção decisiva no segundo, ao temporizar e endossar a bola a Daniel Bragança, autor da assistência para Tiago Tomás. Terá reconquistado a titularidade que vira fugir-lhe desde o início da temporada.
Da forma como o técnico mexeu na equipa. Vendo-se a perder, na sequência de um livre directo aos 52' (que acabou por ser a única oportunidade do Gil Vicente em todo o jogo), Rúben Amorim não perdeu tempo nas substituições: mandou sair Neto e Matheus Nunes, trocando-os por Tiago Tomás e Sporar. Dez minutos depois, aos 71', substituiu Porro por Daniel Bragança. Aos 86', trocou Jovane por Gonçalo Inácio. Alterações que foram decisivas para virar o jogo, transformando o 0-1 no 3-1 final.
Daqueles dois preciosos minutos. Aos 82', o avançado esloveno marcou. Aos 84', ainda estávamos a festejar o golo anterior, Tiago Tomás ampliou a vantagem - correspondendo da melhor maneira a um belo passe vertical de Daniel Bragança a solicitar-lhe a deslocação, ludibriando o guardião adversário com um toque subtil que alterou a trajectória da bola. Consumava-se a reviravolta.
De Nuno Santos. Muito batalhador, foi sempre um dos jogadores mais inconformados na primeira parte, período em que o Sporting mal conseguiu ultrapassar a teia defensiva urdida pelos de Barcelos. Com as alterações efectuadas no segundo tempo, Amorim pediu-lhe que recuasse junto ao flanco esquerdo, transitando de extremo para médio-ala. Mas foi então que o ex-rioavista mais sobressaiu, com duas assistências para golo - o primeiro e o terceiro. Consolidando assim a sua influência no onze titular leonino.
De Pedro Gonçalves. Soma e segue: já tem três golos marcados na Liga, onde é o melhor artilheiro da nossa equipa. O terceiro foi o último desta noite, apontado mesmo ao cair do pano, num disparo fulminante após entrega de Nuno Santos. E foi dele o cruzamento bem calibrado que esteve na origem do golo inicial. Balanço positivo numa partida em que teve fraco desempenho na primeira parte, aliás à semelhança de todos os seus colegas.
Da nossa formação. Voltou a fazer a diferença, como esteve à vista no golo que nos deu três pontos, articulado entre Daniel Bragança e Tiago Tomás - dois dos seis jogadores formados na Academia de Alcochete que ontem actuaram em Alvalade.
Do resultado. Muito melhor do que a exibição perante um adversário que pusera o FC Porto em sentido na jornada anterior e que defendeu sempre com os onze jogadores atrás da linha da bola. Só no quarto de hora final, apostando na velocidade e na antecipação, fomos claramente dominantes.
De ver um Sporting superior ao da época passada. No Liga anterior, à quinta jornada, só tínhamos amealhado oito pontos. Agora somamos 13, tendo já defrontado o FC Porto e disputado mais jogos fora do que em casa.
Do balanço até ao momento. Quatro vitórias, um empate. Continuamos invictos, com apenas quatro golos sofridos. Estamos a escassos dois pontos do Benfica, com mais três do que o FCP e quatro acima do Braga. Isolados na segunda posição do campeonato.
Não gostei
Da hora do jogo. Este Sporting-Gil Vicente, correspondente à primeira jornada do campeonato, acabou por decorrer mais de um mês após a data inicialmente prevista. O apertado calendário das competições futebolísticas não permitiu alternativa a esta quarta-feira, dia em que se disputaram desafios da Champions, forçando a partida a começar às 21.45 e a terminar quase à meia-noite. Mesmo sem público no estádio, é um horário impróprio - sobretudo a meio de uma semana de trabalho.
Da falta de um ponta-de-lança. Amorim até tinha três no banco (Sporar, o jovem Tiago Tomás e Pedro Marques, que vem actuando na equipa B e já justificava a convocatória, apesar de não ter chegado a calçar nesta partida), mas preferiu apostar de novo num onze sem avançado posicional. Porro, Pedro Gonçalves e Nuno Santos desperdiçavam cruzamentos sem haver nenhuma figura de referência na grande área. Esta carência só foi suprida quase a meio do segundo tempo com a entrada de Sporar. Como obteve sucesso talvez ajude o técnico a mudar de ideias.
De Jovane. Amorim voltou a confiar nele como avançado-centro, deixando Sporar no banco. Mas o luso-caboverdiano não parece talhado para esta posição em que o técnico insiste em colocá-lo. Passou ao lado do jogo: falhando passes, chegando atrasado a um cruzamento perfeito de Porro aos 30' em que bastaria encostar o pé e perdendo sucessivos lances de bola dividida. Saiu só aos 86', demasiado tarde para tão fraca prestação.
De Coates. Preso de movimentos, lento, duro de rins, o capitão leonino atravessa um mau momento. O golo do Gil Vicente resulta de uma falha posicional: é ele quem coloca Mineiro em jogo, repetindo um erro já cometido frente ao FC Porto. Abusou do pontapé sem nexo para a frente, despejando bolas que eram recebidas pelo guardião adversário. Crise de confiança? Se for o caso, esperemos que passe depressa.
Do árbitro. Chama-se André Narciso e apitou pela primeira vez um jogo com a participação de um clube grande. Esteve mal: aos 36 segundos(!) já amarelava Palhinha numa disputa de bola a meio-campo sem qualquer intensidade especial. Aos 6' e aos 12' viu um dos seus assistentes assinalar fora-de-jogo a Pedro Gonçalves e a Nuno Santos quando as imagens confirmam que estavam ambos em posição legal. Aos 64', mostrou o amarelo a Feddal num lance em que o marroquino nem tocou no adversário. Aos 68', amarelou Sporar por suposta "simulação" impossível de provar. Má estreia, portanto.
{ Blogue fundado em 2012. }
Siga o blog por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.