Certo dia numa tasca da Baixa e entre algumas imperiais alguém perguntou a outro: entre a tua mulher e o Sporting qual escolherias? O Sporting claro! Porquê? Porque conheço e amo há mais tempo.
No passado dia 16, aquando do empate em casa com aquele colosso dinamarquês, fiquei tão bravo, tão furibundo que decidi não voltar esta época a Alvalade.
Gosto muito de futebol, porém aquilo que fui assistindo nos últimos tempos no nosso estádio, deixou-me fora de mim. Completamente.
Tenho muitos anos de sócio e sei que tudo é passageiro. Relembro a este respeito que tivemos uma das piores épocas em 2019/2020 para sermos campeões na época seguinte...
Mas quando no Domingo:
- Vamos amanhã à bola?
Respondi quase sem pensar:
- Claro!
Ora toda aquela ira contra o clube que eu sentira nas semanas anteriores havia-se desvanecido completamente. Como é possível passarmos do 8 ao 88, assim quase de um momento para o outro?
Ou questionado de outra forma: que amor é este que um dia nos leva às profundezas da quase depressão, para no dia de jogo estarmos uma vez mais lá de cachecol e voz potente a gritar Sporting é o nosso grande amor?
Há dias a caríssima Marta Spínola abria a caixa de Pandora, se calhar, sem saber. Tocou o sempre delicado tópico 'superstições'. Comecei por participar, não por (actualmente) tê-las mas por ter artefacto que gostaria de baptizar, recuperando assim, e em grande estilo, o que foi uma adolescência muito activa nesse departamento. Ou de como o Sporting teve sempre o condão pessoal e intransmissível de me mostrar a magia que há em tudo o que é fruto de amor.
É magia, é 'Amor In' que Amorim nos tem trazido. Nos devolveu. E é essa magia, esse Amor In, que ao longo da estrada que liga Alcochete a Alvalade muitos iguais a nós querem devolver, querem que as equipas sintam.
Enquanto a equipa aqui de casa não se organiza (Camarada Coordenador é que disse, não m'aborreçam!) e escolhe a forma mais suave de (não) se envergonhar (muito), ocorreu-me partilhar esta fotografia.
Não é superstição, mas gostaria que fosse talismã.
É, como alguns perceberão, a equipa vencedora da taça de Portugal na época 1999/2000*. É, aqui, uma fotografia de fotografia que me tem acompanhado como preciosa jóia que é, nas muitas casas onde já vivi. Compõe, a par da suprema Queijo Castelões (também há-de cá vir dizer 'Olá') e do primeiro cartão de sócia (a fotografia com a indescritível franja!? jamais!), a Santíssima Trindade do Orgulho Leonino desta que vos escreve.
A todos os que, à sua maneira, na estrada, em casa, em Portugal Continental e Insular, na soalheira Califórnia, em Inglaterra, na Alemanha e onde mais houver centelha verde e branca a vibrar, o meu emocionado: estamos todos invisivelmente ligados. E que bem ligados, diga-se.
Amorim? Estamos todos completamente In!
Vamos embora, equipas!
É pra ganhar, é pra ganhar!!! 💪🏻🦁💚
*Correcção de época
P.S. Estimados JMA e Filipe Moura, nada temam, diria que há potencial para se sentirem muito acompanhados.
P.S.2. Obrigada João e Ricardo Fernandes pelo inestimável duplo presente que guardarei eternamente.
Amar o Sporting é cultivar alguns dos valores que mais prezo. Ser fiel às origens, às tradições, à devoção clubística – antónimo de clubite. Praticar a lealdade em campo e fora dele, rejeitando golpes baixos. Gostar muito de vencer, sim – mas sem batota. Recusar ódios tribais a pretexto da glória desportiva. Nunca confundir um adversário com um inimigo, sabendo de antemão que o futebol (só para invocar o desporto que entre nós mobiliza mais paixões) é a coisa mais importante das coisas menos importantes, como Jorge Valdano nos ensinou.
Amo o Sporting pela marca inconfundível do seu ecletismo.
Os meus primeiros heróis leoninos, ainda em criança, eram Leões de corpo inteiro sem jogarem futebol. Foi o Joaquim Agostinho a brilhar nos Alpes e a vencer etapas na Volta à França depois de ter sido o maior campeão de ciclismo de todos os tempos em Portugal. Foi o António Livramento, artista exímio com um stick nas mãos, campeão europeu de verde e branco, além de campeão mundial a nível de selecções. Foi o Carlos Lopes, recordista absoluto do corta-mato europeu, brioso herói da estrada, medalha de prata nos 10 mil metros em Montreal, primeiro português a subir ao pódio olímpico, de ouro ao peito, naquela inesquecível maratona de 1984 em Los Angeles.
Amar o Sporting é abraçar o universalismo que fez este nosso centenário clube transbordar os limites físicos do País e galgar fronteiras. Conheci fervorosos sportinguistas nas mais diversas paragens do planeta. Nos confins de Timor, no bulício de Macau, na placidez de Goa – lá estão, com a nossa marca inconfundível, sedes leoninas que funcionam como agregador social naqueles países e territórios, assumindo em simultâneo uma ligação perene a este recanto mais ocidental da Europa.
Amar o Sporting é cultivar a tenacidade de quem nos soube ensinar, de legado em legado, que nunca se vira a cara à luta.
João Azevedo a jogar lesionado entre os postes, só com um braço disponível, enfrentando o Benfica num dos clássicos cuja memória perdurou através das gerações. Fernando Mendes, um dos esteios do onze que conquistou a Taça das Taças em 1964, alvo de uma lesão no ano seguinte que o afastou para a prática do futebol, mas capaz de conduzir a equipa, já como treinador, ao título de 1980. Francis Obikwelu, nigeriano naturalizado português e brioso atleta leonino que saltou da construção civil onde modestamente ganhava a vida para o ouro nas pistas europeias em 2002, 2006 e 2011.
Campeões com talento, campeões com garra, campeões inquebrantáveis – mas também campeões humildes, conscientes de que nenhum homem é uma ilha e um desportista, por mais aplausos momentâneos que suscite, é apenas uma parcela de um vasto arquipélago já existente quando surgiu e destinado a perdurar muito para além dele. Na Academia de Alcochete, no Estádio José Alvalade, no Pavilhão João Rocha, somos conscientes disto: ninguém ganha sozinho. Antes de Cristiano Ronaldo havia um Aurélio Pereira, antes de Livramento havia um Torcato Ferreira, antes de Carlos Lopes havia um Mário Moniz Pereira.
O desporto com a genuína marca leonina não cava trincheiras: estende pontes, transmitindo a pedagogia da tolerância e cultivando a convivência entre mulheres e homens de diferentes culturas, ideologias, crenças e gerações.
É também por isto que amo o Sporting: fez-me sempre descobrir mais pontes que trincheiras. O que assume relevância não apenas no desporto: é igualmente uma singular lição de vida.
Publicado originalmente no blogue Castigo Máximo, por amável convite do Pedro Azevedo.
Esta semana, esta dura semana, fez-me reflectir sobre a minha ligação ao Sporting. Vejo nas caixas de comentários desabafos no sentido de que as desilusões são mais do que muitas, que não compensa, que vão rasgar o cartão de sócio, que se sentem tristes, ofendidos, vexados, humilhados. Entendo perfeitamente esse sentimento, mais a mais dado o momento particularmente quente que vivemos. Mas peço a todos para reflectirem. Afinal, qual é a verdadeira natureza do amor? Como um dia disse o poeta, o amor é ferida que dói e não se sente, um contentamento descontente, fogo que arde sem se ver, um não querer mais do que bem querer. Por vezes, também, desilusão que "converte em noite o claro dia". É neste último estádio do amor que estamos presentemente. Tudo nos parece cinzento e, a cada novo amanhecer, receamos que o Céu nos caia em cima da cabeça. Vivemos numa angústia permanente. O paladar não é o mesmo, o sono é perturbado, estamos em choque. É nestes momentos que o nosso amor é posto em xeque. Por motivos que os sociólogos um dia explicarão, na esmagadora maioria dos casos, a natureza do amor a um clube de futebol é incorruptível. Mudamos de emprego, de cidade, de país, de casa, de carro, até de mulher ou de marido, mas não mudamos de clube.
Só pode ser por amor. Quantos fins-de-semana calendarizados ao milímetro para neles caber um joguito? Quantas alvoradas precoces no emprego a fim de conseguir despachar o trabalho e sair a tempo do jogo europeu? Quantas discussões com a cara-metade pelo controlo do comando da TV? Quantos jantares arruinados pela ansiedade? Voltando ao início, é claro que compensa. Afinal, o amor é entrega sem esperar nada em troca e, quer queiramos quer não, apesar de tudo, o nosso Sporting dá-nos muito, a começar pela resiliência, perseverança, FÉ inabalável, atitudes comportamentais que nos ficam para a vida.
"No dia em que fiz 30 anos, houve um Sporting-Benfica, inicialmente previsto para outra data. Ora... celebrar entre amigos, ou percorrer 300km (+300km) e ver a nossa equipa? Claro que a minha decisão foi ir para o estádio, acompanhada por amiga sportinguista.
Joguei futebol na década de 90, jogos informais inter municípios durante o Verão.
Aos 10 anos, primeiro teste feito, de Francês... fotografia do Ruud Gullit!!! Única menina na sala que sabia de quem se tratava. (risos)
Presentemente, já não acompanho o nosso campeonato e os europeus como fazia (queira crer... já fui um pequeno poço de inesperado conhecimento futebolístico).
Ainda assim, vi-me perante a inevitabilidade de 'aflorar a memória' a um sportinguista do sexo oposto quanto àquele que foi o nosso desempenho frente ao Tondela... este ano. (sorriso)
O ambiente no nosso Estádio é... como sabe. :) Fico de sorriso nos lábios só de me lembrar e quase me arrepio. Não estranho o comportamento da senhora que refere (nota do redactor: história por mim contada de senhora adepta do Barcelona, presente no jogo da Champions contra a equipa catalã, que gostou tanto do ambiente do estádio que se fez sócia do Sporting).
De resto, o universo feminino do nosso clube também é de elevadíssima qualidade (cof cof cof). Sem bigode e a vibrar (verdadeiramente) mantendo classe sem confundir intensidade com ausência de... 'qualquer coisa'.
Os senhores... cavalheiros. Os últimos, de resto!"
(*) inicio hoje mais uma rubrica, a sexta - Feito de Sporting - que pretende recuperar pequenas estórias de envolvimento, de amor, de estoicismo e de resiliência dos nossos adeptos com o clube, relatadas nas nossas caixas de comentários. Para começar, "noblesse oblige", nada melhor do que uma senhora: CAL.
Convidaram-me para este blogue. Mas eu sou do Sporting sem saber porquê. Fui sempre, sempre. Sou sócio, tenho as quotas em dia e sofro. Mas nunca pus a hipótese de ser de outro clube ou agremiação. A ideia, aliás arrepia-me. Fui do Sporting a ganhar, a perder e a desesperar 17 anos por um campeonato (e já lá vão mais 12). Fui do Sporting quando os dirigentes eram cavalheiros distintos e quando os dirigentes não o eram. Fui com raiva, com alegria, com pena, com tristeza, com amor. Mas, como todos os sportinguistas, fui sempre com fé. Eis porque aceitei o convite simpático do José Navarro e do Pedro Correia para aqui estar. E aqui estou sem perceber quase nada de futebol, mas assumindo no futebol e no clubismo o saudável lado não racional da minha existência. Muito sofre quem ama. Mas tenho fé que este amor há de ser correspondido.
… mas este post do Tiago Cabral, sobre esta notícia, deixou-me sentimental. Na verdade, amizades leão/humanos são mais que possíveis, o que prova que o leão é um animal inteligente, sensível e agradecido (tem sentimentos, não há dúvida). E ter um leão por amigo deve ser uma coisa fantástica!
A amizade de John Rendall e Anthony Bourke pelo leão Christian, que adotaram em bebé, nos finais de 1960, deixa-me de rastos. Quando o bicho ficou grande demais para manter na cidade (eles viviam em Londres com o “gatinho”!), conseguiram, depois de muitos esforços e ainda mais burocracia, integrá-lo na selva queniana. Mas Christian nunca os esqueceu e, sempre que os dois o visitavam, ele, já leão adulto, alegrava-se como uma criança traquina. Vejo os vídeos e choro baba e ranho!
Quem estiver interessado em mais pormenores, pode ler a história aqui.
Por isso, saber que os leões africanos estão em vias de extinção deixa-me, novamente, à beira das lágrimas.
Mas acabei de saber que Jesualdo se estreou com uma vitória.
Parece que ainda há esperança para a humanidade!
{ Blogue fundado em 2012. }
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