O 28 de Maio e a ditamole
Hoje é um dia especial para o FC Porto.
Jorge Nuno Pinto da Costa vai embora, finalmente, presidiu o clube durante mais tempo que o seu amigo António Salazar presidiu o conselho de ministros.
A inauguração do estádio das Antas ocorreu neste dia, completam-se hoje 72 anos.
Foi um dia feliz, o FC Porto convidou o clube de Salazar em Lisboa, o Sport Lisboa e Benfica, os benficas viajaram, todos contentes, para norte, com o braço direito esticado a saudarem um César imaginário e lá foram para a inauguração.
Era um dia de amigos, um dia entre amigos e o resultado, provavelmente, nada teve a ver com a verdade desportiva [no futuro os dois clubes martelariam muitas vezes os resultados] tratava-se de homenagear o número 28 e assim se fez; 2-8.
O 28 de Maio de 1926 fez-se para inaugurar o estádio das Antas e o estádio Nacional (e muitos, muitos estádios de futebol por todo o país).
O 26 de Maio de 2024 fez-se para homenagear o FC Porto, abrilhantar as despedidas de Pinto da Costa e de Marceneiro da Conceição e para honrar as escolhas de Roberto Martinez.
O cenário estava montado no tal estádio nacional sonhado por Salazar, a equipa de arbitragem e a equipa de VARagem escolhidas a dedo estava tudo preparado.
Começa o jogo e o Sporting Clube de Portugal marca golo.
Pára tudo.
Será que o autor do golo teria de ser expulso pela ousadia?
Será que a bola entraria dentro da baliza do FC Porto mas seria assinalado um fora-de-jogo fantasma para abafar a situação?
Será que um tal Varela começaria um festival de porrada mas sem ser expulso?
Será que Otávio faz um movimento com o braço na direcção da bola mas coitado foi sem querer, foi uma estupidez, ele não queria fazer aquilo, pois não?
Será que Diomonde é empurrado dentro da área, as costas comprimidas por duas mãos que lhe esmagam as costeletas mas não foi nada?
Será que o treinador do FC Porto foi expulso mas ficou, alegremente, a dar instruções ao rebanho azul e branco?
Felizmente nada do que escrevi acima aconteceu.
Felizmente que eu não queria estar com queixinhas e a fazer-me de pintainho coberto de lama antes de ser lavado com o sabão AVA (AVA, VAR os produtos branqueadores têm siglas parecidas).
Felizmente o FC Porto fez um jogo brilhante, maravilhoso, parecia que estávamos em 1982, um misto do encanto da selecção brasileira com o pragmatismo e a eficácia da selecção italiana.
Já o Sporting, enfim, erros nossos, má fortuna e bola ardente (parecia que queimava)
Pronto, parece que apesar dos receios iniciais, a convocatória da selecção não teve influência, os árbitros não tiveram influência, o VAR não teve influência, os jogadores do FC Porto foram briosos e leais, não queimaram tempo, jogaram sempre o jogo pelo jogo, o treinador do FC Porto foi um miminho, viu vermelho e desapareceu, ninguém mais o viu no estádio; enfim correu tudo, maravilhosamente, excepto os erros próprios do Sporting que nos fizeram perder o jogo.