O Sporting perdeu com o Marítimo (ontem, 1-0), o Arouca, o Boavista, o Chaves e o FCP. Tem cinco derrotas em 15 jogos, o que não é aceitável e não augura nada de bom para o chamado "Projeto" que Frederico Varandas diz ter com a permanência de Rúben Amorim em Alvalade. E se o Sporting ficar fora da Champions? E se o Sporting for ultrapassado no quarto lugar?
Nada disto é impossível e o incrível é que o clube não se tenha reforçado, até ao momento, neste mercado de Inverno (que encerra a 31 de janeiro), para além da contratação a custo zero do médio defensivo argentino Tanlongo. Faltam avançados, e desde logo um ponta-de-lança alternativo a Paulinho, faltam alternativas para as laterais, para o miolo, para o eixo da defesa. Falta muita coisa.
Mas mesmo assim, faltando tanta coisa, não se percebe a opção de ontem por Arthur Gomes de início e as entradas de Jovane e de Rochinha quando estamos a perder e temos que dar a volta. Nuno Santos podia levar um amarelo e ficar fora do derby na Luz? Podia. Mas também Coates estava nessa situação e jogou. Jovane e Rochinha eram as únicas opções válidas? Não: Rodrigo Ribeiro viajou para a Madeira mas ficou fora da ficha de jogo. Sotiris foi contratado porquê? Não joga e nunca é opção prioritária, mesmo quando claramente Mateus Fernandes não tem ainda a intensidade necessária para 90 minutos de futebol da Primeira Liga e o grego era titular ou suplente utilizado num clube de topo na Grécia (e não em Chipre ou no Cazaquistão). Tal como Essugo cometeu antes um erro ao ser expulso por uma entrada violenta, ontem foi a vez deste Mateus fazer asneira ao cometer penálti numa altura crucial do jogo em que até já podíamos estar a ganhar se o árbitro tivesse visto o que todos vimos na falta sobre Pedro Porro.
Entrámos no jogo com medo, com a lateral esquerda desprevenida e sem soluções no banco, o que já vem sendo habitual. Mas, apesar disso, podíamos e devíamos ter feito muito melhor. Há jogadores que claramente não têm categoria para jogar neste clube, temos que assumir isso e promover mudanças. É preciso investimento, é preciso estratégia, são necessárias ideias novas. A aposta em Amorim não pode ser um fim em si mesmo. O Sporting Clube de Portugal está para além desta direção, destes dirigentes e colaboradores, deste treinador e até deste plantel sofrível. O SCP quer-se eterno, duradouro, intransponível. Para que isso seja possível não basta termos um clube "bonitinho", que faz umas vendas aqui e ali, que tem um estádio todo pintado de verde por dentro e agora um bom relvado, que tem uma direção que percebe de umas coisas (de outras nem por isso), etc, etc. É preciso mais. Ambição, arrojo e uma certa vertigem de risco positiva. Não acredito em teorias da conspiração, mas sei que o jogo de ontem era crucial para que esta época não fosse um desastre completo. Vai ser, pronto. Agora é preciso respirar fundo, pensar nos prós e nos contras de começar a mudar tudo em janeiro. Falta quase o mês todo. Se for no Verão é mais seguro, embora tarde de mais. O clube precisa de saúde financeira, pode ter que vender jogadores (Porro e Edwards), mas tem de começar a preparar a viragem decisiva. Sem resultados e sem troféus, nada faz sentido. O clube foi feito para vingar e não para estar "estacionado" à mercê seja de que interesses forem.
Jogamos o triplo de outras épocas - de todas que me lembre - e a coisa tem sido d'arrasar tudo e todos:
Velhos do Restelo
Inimigos que estão dentro e os que estão fora de portas
Pessimistas
Profetas da desgraça
Tristezas
Falta de ambição
Burrices
Incompetência
Ausência de sonho
O sistema de comentadeiros do sistema que falam com os olhos do e no passado, incapazes de enxergar a mudança e a transformação em curso à frente deles
A falta de fé na formação
A falta de coragem de apostar na formação
A má gestão de não apostar na formação
Brunices e brunecos
Previsões e projecções
Análises preconceituosas
Vencedores naturais
Tem sido assim JOGO A JOGO, essa postura arrasadora de tanta coisa má no futebol leonino ao longo de anos mas também no futebol português todos os anos. Um arraso de competência, ambição, humildade, compromisso, seriedade, sacrifício, lucidez, colectivo, equipa, amor à camisola, belíssimo e vitorioso futebol.
"Levantem-se como leões depois da letargia, num número que ninguém haverá de destruir. Vocês são muitos - eles são poucos" - Percy Shelley
"Levantem-se, oh leões, e abandonem a ilusão de que são ovelhas. (...) A matéria é vossa serva, e não vós, os servos da matéria" - Swami Vivekananda
Incomoda-me o estado de resignação que vejo nos meus consócios sportinguistas. É certo que vimos de um período traumático, que há feridas abertas e de difícil cicatrização, mas a nós coube transportar o facho de uma gesta gloriosa e fazer cumprir a missão expressa nestas palavras premonitórias do nosso fundador: "um grande clube, tão grande como os maiores da Europa". Por isso e para isso, temos de nos reerguer, de lutar, de ousar vencer. Só assim sobreviveremos. Um grande clube como o Sporting tem de ter uma cultura de exigência. Que começa na sua Direcção e tem um elo condutor que liga atletas, funcionários, sócios, adeptos ou simples simpatizantes. Como tal, ninguém pode estar satisfeito quando à sétima jornada estamos em quinto lugar no campeonato e temos apenas o sétimo melhor ataque e a oitava melhor defesa da competição. Particularmente, eu não quero que este seja o "novo normal", até porque o Sporting é um gigante e nada tem a ver com a mediania que caracteriza a maioria dos seus concorrentes. Por isso, que cesse o "ah", "mas" e o "porém" e que sejamos afirmativos com o legado que temos na mão.
A equipa de futebol joga muito pouco - isso é uma evidência. Algo tem de mudar. Em primeiro lugar, deve haver uma filosofia de jogo, que respeite os objectivos que são pedidos ao treinador. Não é romântico pensar que quem joga melhor está mais perto de vencer. O Manchester City, o Liverpool e o Chelsea são as equipas que praticam um futebol mais enleante e, concomitantemente, ocupam as primeiras posições da Premier League. Em oposição, o Manchester United, que especula mais com o jogo, está em oitavo lugar na mesma competição. Para além da crueza própria dos números, há um aspecto que deveríamos valorizar e que muito contribuiria para aproximar sócios e clube: um futebol mais vistoso, menos angustiante, levaria mais gente aos estádios e ajudaria a curar as nossas mazelas. Mais do que palavras, são os actos que determinam o destino das lideranças. Precisamos de estabilidade, mas para isso precisamos de a conquistar. Isso não se promove com slogans, muito menos por decreto. Há que criar uma ideia, um conceito, e depois trabalhá-la no dia-a-dia. Não vejo isso, não conheço os objectivos que foram pedidos ao treinador, não sei como ou com que actos concretos se pretende unir a grande familia sportinguista.
Uma coisa eu sei: com um orçamento de 60/65 milhões de euros em custos com pessoal, com os FSE nos níveis que estão (22M€) e com amortizações anuais de 28M€ não se pode ser resignado. Não estamos a falar dos tempos de Leonardo ou Marco, mas de uma realidade totalmente oposta. Gastamos muito, logo tem de haver ambição. Temos custos demasiadamente elevados para que se encarem as derrotas como uma fatalidade. Nem a insustentável leveza dos sportinguistas, nem o insustentável peso do Viviano, o Sporting tem de ser grande e actuar como tal, mais a mais quando começamos a época com um défice de exploração de 56M€ (antes de Europa e venda de jogadores) e vemos os nossos adversários encaixarem um mínimo de 50M€ na Champions, algo que a repetir-se no final da temporada criará uma "décalage" muito difícil de preencher no futuro. É, por isso, necessário que Direcção, técnicos e jogadores se aproximem, ajam como um só corpo e comecem a falar e a fazer Sporting. Nos gabinetes como no campo. Se isso acontecer, os sócios, adeptos e simpatizantes deste enorme clube irão aderir. Que ninguém dúvide disso.
{ Blogue fundado em 2012. }
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