Com João Bonzinho ao leme, A Bola perdeu o último resquício de pudor e tornou-se descarada folha-propaganda do Benfica. Bem visível, por exemplo, na capa-póster da edição de ontem. Pondo o alemão que treina o SLB e é incapaz de dizer uma frase em português posando como herói da pátria, numa primeira página integral com a cara do senhor.
Motivo? O clube da águia ia disputar em casa uma partida dos quartos-de-final da Liga dos Campeões.
Afinal de nada valeu a pose heróica, o lambebotismo militante, o jornalismo travestido em câmara de ressonância dos porta-vozes encarnados: o «pujante Benfica» foi ao tapete, derrotado 0-2 por um «Inter mergulhado em crise», que não vencia há seis jogos. «Olhar em frente!», rezava a manchete garrafal, com ponto de exclamação e tudo (marca estilística do director que sucedeu a Vítor Serpa), em beata devoção pelo clube da Luz.
A Bola atribuiu a nota máxima, 10, a Adán e Pedro Gonçalves, pelas suas fabulosas exibições de ontem. Mesmo sendo conotada com outra cor clubística, a publicação reconheceu o óbvio e atribuiu uma nota rara na sua história. Assim de repente, só me lembro de um 10 a Coates, há cerca de dois anos e um a João Vieira Pinto, quando ainda estava no lado errado da cidade, num jogo que não interessa aqui recordar. Nuno Pinto, também recebeu esta nota, mas de forma simbólica, no regresso ao futebol após recuperar de um grave problema de saúde.
Todos sabemos que o jornal desportivo sofre de uma doença grave (não, não estou a falar dos subsídios de Natal que terão ficado em atraso) – esta já é bastante grave, mas falo de outra doença tão grave e mais visível a todos: a benfiquite.
… alguém, de uma geração mais nova, que não conheça esta lenda do hóquei em patins mundial, ao ver a foto que ilustra a notícia fica com que ideia: Chana é o jogador que conduz a bola ou o que o observa?
Já todos sabemos que A Bola é o jornal oficioso do Benfica. Tendência ainda mais reforçada agora, após a substituição de Vítor Serpa (o jornalista português que usa mais vírgulas nos textos) por João Bonzinho (o jornalista português que utiliza mais pontos de exclamação, aliás como ilustram várias capas mais recentes).
Apesar de tudo, há uma diferença entre ambos: Serpa sempre se confessou adepto do Belenenses, enquanto Bonzinho não esconde a alma benfiquista, com a Luz a iluminar-lhe a prosa.
Com um fervoroso admirador de Rui Costa no posto de comando, não admira que a redacção do matutino da Queimada fervilhe de papoilas saltitantes, numa espécie de disputa interna para ver quem consegue exibir mais credenciais encarnadas.
Nesta competição parece destacar-se António Simões, que ao analisar o desempenho dos jogadores do Benfica na recentíssima derrota por 0-3 em Braga consegue dar nota positiva a nove dos titulares. Facto insólito, até para o padrão a que A Bola nos habituou.
Este jornalista não permitiu que o vendaval na Pedreira influenciasse a cotação do onze benfiquista: Vlachodimos, Enzo Fernández e Rafa são brindados com nota 6, António Silva, Otamendi, Grimaldo, João Mário, Aursnes e Gonçalo Ramos recebem nota 5. Tudo positivo, portanto.
Só o Bah e o Florentino, coitados, não ultrapassam a cotação equivalente a "medíocre +": levam 4. Isto apesar de o primeiro ter oferecido o terceiro golo ao Braga (e «não foi essa única mancha no seu negrume») e o segundo ter protagonizado uma «noite negra».
Ninguém diria, a avaliar pela relativa generosidade das notas.
O mais espantoso é verificar como o guarda-redes recebe nota 6 mesmo encaixando três golos, num dos quais transmitindo a sensação de que «as mãos pareciam de papel a rasgar-se».
O argentino agora oxigenado integra igualmente o pelotão da frente por ter sido visto a «tentar abrir linhas de horizonte», seja lá o que isto for.
E o "desertor" da selecção nacional é igualmente contemplado com 6 por ter conseguido, vejam bem, «um remate sorrateiro ao poste».
Imaginem que o rapaz marcava um golito, reduzindo para 1-3. Ainda rebentava a escala.
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", mudam os governos e mudam os ministros e os secretários de Estado, mudam até os presidentes da República, mas neste rectângulozinho de que tanto gosto mas que me "enzocrina" a cabeça, há coisaas que nunca mudam. Uma delas é esta, a da entrevista à nação benfiquista do chefe do clã das toupeiras. Antes com o réu Vieira, agora com o distraído e consumidor compulsivo de queijo colocado no poleiro do outro, há quem diga que pelo outro, outro. Honra seja feita à borla, pela coerência e por se substituir sem pudores, ao jornal da agremiação da freguesia de São Domingos de Benfica. Resta sabermos com quanto tempo de antecedência foram enviadas as (muito dífíceis e intrincadas) perguntas ao "homem do ano". Com tanto padre a gravitar na órbitra da "instituição", só me resta orar: Ouvi-nos senhor...
O jornalista encarregado de acompanhar o jogo Sporting-Marítimo, da Taça da Liga, "viu" Nuno Santos entrar em campo e até lhe atribuiu nota. Acontece que Nuno Santos esteve no banco e não calçou nesta partida. «Conferiu velocidade na ala», opinou o tal repórter, com argúcia visual digna de uma toupeira.
Ontem, no jornal A Bola:
O jornalista encarregado de acompanhar o mesmo jogo realçou que Rúben Amorim fez entrar Esgaio para o lugar de Porro, a poucos minutos do fim, com uma intenção muito precisa: para que o espanhol pudesse receber aplausos. Acontece que as bancadas estavam vazias, o jogo foi disputado à porta fechada. Só A Bola parece não ter topado.
Mais palavras para quê? Assim vai o jornalismo desportivo em Portugal.
As pessoas mais atentas à realidade jornalística ter-se-ão apercebido que ontem foi o último dia de Vítor Serpa como director d' A Bola.
O lampião João Bonzinho não podia ter começado pior como novo director. Viu a distância do Benfica para o Porto e Sporting encurtar-se para dois pontos*; é a vida, João.
* A distância pontual para o Sporting é de oito pontos mas com duas vitórias do Sporting nos jogos com o Benfica serão, apenas, dois.
Custa imaginar porque anda Sérgio Conceição sempre tão zangado, se tem prodígios destes no seu plantel. A notícia surgiu ontem em primeira mão no inefável jornal A Bola, onde noutros tempos não faltava quem soubesse escrever.
É com tristeza que escrevo sobre este assunto, Pedro Correia, jpt e Cal já dissecaram, bem dissecadinho, o tema.
O postal de jpt é, especialmente, rico, faz um enquadramento do tema, fugindo à lógica do jogo de matraquilhos, dum lado está o Benfica do outro o Sporting, faz-nos pensar de uma forma mais abrangente nas leis e nos regulamentos. Nesse postal, jpt, alude, também às conquistas de Leonardo Jardim e de Abel.
A "Libertadores" conquistada por Jesus fez o pleno nos desportivos, parecia que um português tinha sido o primeiro a colocar o pé em Marte.
Abel, ontem, conquistou a segunda "Libertadores" consecutiva, de verde e branco vestido e parece que não se passou nada, é, apenas, uma pequena nota de rodapé.
Quanto ao acontecido ontem no Jamor, atentemos ao seguinte, Seferovic, Darwin e outros marcaram golos que serão somados e entrarão num total do qual se apurará o melhor marcador do campeonato, fará sentido?
Lembremos a choraminguice de Jesus na época passada, Seferovic é que merecia ser o melhor marcador, felizmente, para a verdade desportiva, o melhor marcador foi Pedro Gonçalves (na imagem acima a levitar acima dos meros humanos que se arrastam no relvado) e este ano como será?
Se o Benfica estiver de boa fé (como eu acredito que não está) pedirá para os golos obtidos no jogo de ontem não entrarem na contabilização final.
Rúben Amorim tem vindo a fazer um trabalho superlativo. E a sua pertinência técnica é acompanhada - de modo que entendo até glorioso - pela total perspicácia das suas declarações. Algo tão notório após a grande vitória de ontem - ainda mais preciosa pois seguindo-se a anos tão convulsos no clube -, com a sua extraordinária, de rara e exemplar, conferência de imprensa final (já aqui colocada).
Se Gouveia e Melo - com o seu rigor, competência, ponderação e elevação - marcou este acabrunhado país durante 2021, este rumo magnífico de inteligente do nosso treinador torna-o o "nosso" Vice-Almirante.
Devemos fruir e apoiar o seu trabalho, claro. Mas também por ele ser algo influenciados, coligir e fazer actuar as "lições aprendidas" que o nosso Vice-Almirante nos vem dando. Pelo menos nesta vertente de desdramatizar e de não "embandeirar em arco", pólos opostos tão comuns na mentalidade colectiva - e, em particular, no Universo Sporting.
Por isso também será desta forma desdramatizada que deveremos acolher esta notícia do jornal "A Bola". Não com enraivecidas invectivas ao periódico do nosso rival. Mas com um enorme sorriso, até carinhoso, animado pela iluminada postura de Rúben Amorim. Pois às 00.17 desta quinta-feira, 25.11.21, o jornal desportivo "A Bola" noticiava os apurados para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões (notícia inalterada pelo menos até às 9.13):
A página "Mentalidade Leonina" chama a atenção para a dualidade de critérios na capa do "Dia seguinte" d'A Bola.
Por acaso, até acho que estas capas estão adequadas e retratam muito bem a realidade.
Vejamos:
1. 15 de maio de 2018 foi efectivamente o dia mais negro da história do Sporting. Nunca nada semelhante se tinha verificado e nenhum Sportinguista quer ou admite a hipótese de algo tão negro voltar a ocorrer.
2. No outro lado da segunda circular está tudo tranquilo, preferem jogar rapidamente o lixo para debaixo do tapete e até aplaudem o novo gestor que, como diz Ricardo Araújo Pereira, faz parte da direcção que acompanhou LFV e logo, "há as hipóteses de [ser] cúmplice, conivente e a menos grave: a de totó".
Eu prefiro encarar a verdade. Foi mau, foi horrível, foi o dia mais negro e desejei muito que a justiça actuasse e fosse célere para podermos recomeçar. Jamais perdoarei o que fizeram ao Sporting.
Se do outro lado assobiam para o lado e batem palmas ao líder cumplice/conivente/totó, é lá com eles. Amanhem-se e boa sorte.
Os que medem os penaltys pela bitola Rafa e pela bitola Taremi pensam que sim. Para esses cada vez que o avançado tropeça, propositalmente, no defesa é penalty.
Enquanto Porto, Braga e Benfica estão entretidos a potenciar concentração para conseguirem os lugares na Champions, espero que o Sporting consiga conquistar aquilo a que António Oliveira designa como: "título", assim em letra minúscula, em caixa baixa.
Fiquem lá com a Taça (a outra, a da Liga foi nossa) com os lugares da Champions e deixem-nos o título, o titulozinho se preferirem.
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