Treinador de bancada - Novo sistema táctico?
Desde que Rúben Amorim chegou ao Sporting o 3-4-3 passou a ser o sistema táctico: três defesas, dois alas, dois médios e três avançados. O modelo de jogo sempre incluiu construção desde atrás, convite à pressão dos adversários para alargar o campo, circulação de bola sempre a procurar o lado contrário, mobilidade dos avançados. Depois diferentes jogadores nas posições deram coisas diferentes à equipa, umas vezes jogou-se melhor, outras pior, mas sempre mais ou mesmo da mesma forma. Excepto no final dalguns jogos que importava ganhar e em que imperou a anarquia deliberada, com melhores resultados na época passada do que nesta.
Jogos houve em que o 3-4-3 não funcionou de todo, a começar pelo Sporting-Ajax. A grande questão deste sistema é a permamente inferioridade numérica dos dois médios que necessitam de ajuda permanente de alas e avançados para darem conta do recado e não rebentarem por exaustão.
Se o adversário consegue vantagem no marcador e parte o jogo, com extremos a prender os alas, o 3-4-3 transforma-se num 5-2-3 em que os avançados apenas atacam e os dois médios abandonados à sua sorte são presa fácil para o meio-campo contrário. O Famalicão-Sporting e o Santa Clara-Sporting também demonstraram a dificuldade da equipa quando deixa partir o jogo: quer atacar depressa sem a equipa junta, convidando ao contra-ataque adversário. Então por mais duma vez se falou da necessidade do terceiro médio, num sistema alternativo 3-5-2 onde Daniel Bragança ou Pedro Gonçalves ocupassem o vértice avançado do triângulo do meio-campo. Ao que Rúben Amorim sempre resistiu, se calhar lembrando-se das poucas vezes na época passada em que o tentou e não resultou de todo.
Vem agora na imprensa que Amorim está a equacionar um novo sistema táctico. Já ouvi até falar num 4-4-2, como sistema alternativo ou até principal. Ainda agora lhe foi perguntado na conferência de imprensa e ele fugiu um pouco à questão respondendo que muito tem trabalhado em variantes para o 3-4-3.
Sendo assim, há aqui alguns aspectos interessantes para comentar:
1. Se os ataques ganham jogos, e as defesas ganham campeonatos, e o Sporting tem a melhor defesa de Portugal, não estou a ver muito bem Amorim desmanchar o trio de defesas, até pelas dificuldades de Coates quando joga mais exposto. O único defesa lateral que defende e ataca bem é Matheus Reis. Porro e Esgaio atacam melhor do que defendem, quanto a Vinagre nem vale a pena comentar. E perde-se a possibilidade de ter Nuno Santos na ala em determinado tipo de jogos. Se calhar vamos apenas assistir à substituição do Feddal canhoto por um dextro. Por falar em dextros, ainda ontem vi um pouco do Paços-Tondela, com um Quaresma a fazer aquele tipo de disparates que o levaram a ser emprestado. Ainda tem muito que amadurecer para voltar.
2. Se de facto os dois "cavalões" do meio-campo saírem, Palhinha e Matheus Nunes, e vier o Morita, ficando Ugarte, Daniel Bragança, Tabata e Pedro Gonçalves como outras opções, realmente vai ser complicado jogar apenas com dois médios. É tudo mais levezinho e pé no pé.
3. Com a saída de Slimani perdeu-se a oportunidade de rotinar uma dupla de pontas de lança possantes no ataque. Sarabia está de saída também. Edwards e Pedro Gonçalves são avançados de entre-linhas, o que Tabata também sabe fazer, o único extremo do plantel é Nuno Santos. Paulinho é Paulinho, assunto já por demais aqui debatido. Jovane, Plata, Sporar e TT parecem cartas fora do baralho, quanto muito serão "jokers" para lançar pontualmente. Rodrigo Ribeiro, como Essugo, é para ir crescendo entrando aqui e ali. Faltam claramente dois ou três avançados. Resta saber em que tipo de avançados está a pensar Amorim.
Concluindo, deixo aqui a seguinte questão à consideração de todos:
De acordo com os objectivos para a próxima época e o plantel existente ou previsível, deve Rúben Amorim pensar seriamente em pôr a equipa do Sporting a jogar num sistema táctico diferente do actual?
SL